TAL DO COTIO
O QUE FOR
Escolha
um número aleatório entre 671 e 850 inclusive.
Descubra
o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.
671 – Tal do cotio o que for
Tal do cotio o que for
Em cantos mil celebrado,
Em quadras meras vou pôr
Aqui quanto tem valor,
Que ao acaso for topado.
Retratar o dia a dia
No modelo mais comum
Da popular quadra guia
Quem ouvido quer algum.
São lemas de cada hora,
De roteiros o resumo
Em que a vida se demora,
No termo breve eis o sumo
Que vida fora consumo.
672 – Metade |
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Se metade eu fora |
Do que julgo ser, |
Era o dobro agora |
Do que era quenquer. |
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673 – Consistente |
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Ser consistente nos actos |
Ao educar, isto ensina: |
Faz a criança, ante os factos, |
Ganhar auto-disciplina. |
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674 – Lembra-te |
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Lembra-te de que o respeito |
É rua com dois sentidos: |
Recebemos, neste pleito, |
O que damos, comedidos. |
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675 – Menos |
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Aquele que for capaz |
De resolver o problema |
Sempre é menos eficaz |
Que o que o evita por lema. |
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676 – Mostram |
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Serão as nossas escolhas, |
Mais que as nossas aptidões, |
Que mostram, entre as recolhas, |
O que somos, sem senões. |
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677 – Requerido |
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Para ter conhecimento |
É requerido estudar; |
Se a sabedoria tento, |
Então terei de observar. |
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678 – Silêncio |
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O silêncio é de oiro quando, |
Apesar de toda a aposta, |
Não nos ocorre, pensando, |
Nenhuma boa resposta. |
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679 – Verdade |
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A verdade nunca vem |
Bater à porta do tolo, |
A verdade sempre tem |
De cair em fértil solo. |
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680 – Poder |
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O poder do jornalista |
Não é de pôr a pergunta |
Mas o de a resposta em vista |
Exigir que nela assunta. |
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681 – Poesia |
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É na admiração completa |
Que as dúvidas se consomem: |
Prova a poesia, repleta, |
Toda a existência do Homem. |
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682 – Livre |
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O que fatal se impuser |
Acolhe sereno, admite-o. |
Livre é o mar de se mover, |
Mas não de mudar de sítio. |
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683 – Cidadania |
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No canto a que pertencermos |
A cidadania é o que há-de |
Dar-nos a oportunidade |
De a diferença fazermos. |
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684 – Tentando |
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Mais vale o mundo enfrentar |
Em nome da consciência |
Que esta enfrentar em carência |
Tentando ao mundo agradar. |
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685 – Sabe |
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Nada é mais frustrante |
Do que argumentar |
Com quem sabe, instante, |
Do que está a falar. |
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686 – Ocasião |
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Sempre que estiver no escuro, |
Oportunidades reais |
De excelência configuro |
Para que a luz brilhe mais. |
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687 – Enérgica |
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Uma enérgica vontade |
É garantia, de entrada, |
Da esperança que me invade |
Já meio realizada. |
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688 – Sorte |
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Uma sorte de momento |
Vai ao fantástico alçar-nos. |
De anos o desbastamento |
Em úteis vai transformar-nos. |
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689 – Tempo |
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Sempre o tempo é como o vento, |
Tudo o que é leve ele faz |
Varrer da frente a contento, |
Deixa o consistente atrás. |
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690 – Privado |
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Ser menos privado às vezes |
É ter mais privacidade: |
É sermos nós nos reveses |
Com toda a autenticidade. |
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691 – Conquista |
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Do grande homem um favor, |
Se não conquista um amigo, |
Pode estar certo e supor |
Que arranja muito inimigo. |
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692 – Lábio |
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Com vícios mui refinados |
Decerto o lábio se apraz, |
Mas tais cafés bem tirados |
Deixam sempre borra atrás. |
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693 – Segundo |
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Quando alguém persiste, insiste |
Contra qualquer argumento, |
Muitas vezes não resiste |
A um igual segundo intento. |
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694 – Multiplicas |
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Estás-me a fazer feliz |
E a felicidade incides |
No mistério que me diz: |
- Multiplicas se divides! |
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695 – Descobre |
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Descobre o que te demora |
Tanto e que te põe de pé: |
A verdade apenas mora |
No lugar onde houver fé. |
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696 – Entusiasma |
|
Quando com alguém converso |
E me entusiasma o assunto, |
Falo até do que nem verso: |
- Alguém fala em mim por junto! |
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697 – Esconde |
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Dele na sabedoria, |
Deus ao Inferno, conciso, |
Esconde, para vigia, |
No meio do Paraíso. |
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698 – Escravos |
|
Doutrem não busques abonos. |
Somos, arroteando as lavras, |
De nosso silêncio donos |
Como escravos das palavras. |
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699 – Perigosa |
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Quando a verdade delira, |
Se mentes, olha os extremos: |
É perigosa a mentira |
Que a nós próprios nos dizemos. |
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700 – Integridade |
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Integridade é fazer |
Aquilo que estiver certo |
Mesmo sem ninguém a ver |
Nem de longe nem de perto. |
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701 – Política |
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A política melhor |
É a melhor sinceridade |
Mas ficar calado um ror |
Às vezes mais persuade. |
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702 – Etiqueta |
|
Em etiqueta quenquer |
Não ter teme o que convém. |
A sério classe é fazer |
Os outros sentir que a têm. |
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703 – Igual |
|
Àquele que honre e respeite |
Os outros alguém convoca. |
- Mas vai dar-lhe igual aceite, |
Paga-lhe este o mesmo em troca? |
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704 – Ligar |
|
Ser nesta vida feliz |
É com o porvir demais |
Não me ocupar e ao que fiz |
Outrora não ligar mais. |
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705 – Vulcão |
|
Do vulcão do mundo |
Não temas as fissuras, |
Quem não bate no fundo |
Não trepa às alturas. |
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706 – Finjo |
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Eu finjo que me conheço |
E, depois de fingir tanto, |
Conheço que não conheço, |
Do que conheço me espanto. |
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707 – Sombra |
|
Nós da sombra precisamos, |
Da treva que, em contraluz, |
Mostre a espessura dos ramos, |
Dê relevo à nossa luz. |
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708 – Essencial |
|
Das coisas a natureza |
Essencial que poucos gabam: |
Têm começo, de certeza, |
E, por isso, um dia acabam. |
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709 – Sensações |
|
Caim e Abel todos conhecem, |
De Seth ninguém irá falar: |
Só sensações, pois, apetecem |
Ao homem desde o madrugar. |
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710 – Furto |
|
Se o pensamento condensa, |
A furto, nossa matriz, |
Não diga tudo o que pensa |
Mas pense tudo o que diz. |
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711 – Meia |
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Se for meia liberdade |
Quanto propugnar, em suma, |
Acabo, em qualquer idade, |
Sem liberdade nenhuma. |
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712 – Apure |
|
Apure bem o que diz, |
O que oferta na embalagem. |
Oiça o cliente infeliz, |
É a fonte da aprendizagem. |
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713 – Destrói |
|
Mais atrás, mais adiante |
De novo a questão se assunta, |
A resposta interessante |
É a que destrói a pergunta. |
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714 – Fama |
|
A fama tem quatro letras, |
Par de fita, cara ou vida. |
De quanto nelas soletras |
Dentro importa é o que em ti lida. |
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715 – Tu |
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És tu teu melhor amigo, |
Teu mais próximo aliado, |
Comparsa teu, leal abrigo, |
E o consultor mais chegado. |
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716 – Tradições |
|
As tradições são balizas |
Instaladas dentro e fundo. |
Mais poderosas as gizas |
Se as nem suspeitas no mundo. |
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717 – Criança |
|
A criança uma energia |
Tem muito mais poderosa |
Após brincar todo o dia |
Que após o sono que goza. |
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718 – Portas |
|
Na vida, quanto fizer |
São portas que fecho ou abro, |
Tudo só para conter |
Tudo o que for descalabro. |
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719 – Escola |
|
Todos nós matriculados |
Na escola andamos da vida |
Onde o tempo, em anos dados |
De aula, é o mestre que em nós lida. |
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720 – Treina |
|
Carácter é o que requeres |
Da vida para os intentos. |
Contrata então caracteres |
Mas treina depois talentos. |
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721 – Génio |
|
Um génio sempre contém |
As próprias limitações. |
Quanto à estupidez, porém, |
Não sofre de tais senões. |
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722 – Acorrentada |
|
Qualquer preocupação |
Mora bem longe, afinal, |
Acorrentada à emoção, |
Da lógica racional. |
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723 – Garrafa |
|
Garrafa meio vazia |
Também fica meio cheia. |
Mentira nunca seria, |
Contudo, verdade meia. |
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724 – Recifes |
|
A pobreza e a riqueza |
São dois recifes no estreito. |
Feliz de quem remar preza |
Entre ambas no fundo leito! |
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725 – Algo |
|
O que algo torna especial |
Não é o que houver a ganhar |
Mas também e por igual |
O que a perder se arriscar. |
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726 – Atentar |
|
A vida como depressa |
Corre se não dou por ela |
E quão devagar tropeça |
Se lhe atentar na sequela! |
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727 – Esquecerem |
|
Importa a funda memória |
No bem e mal que perfila: |
Aos que esquecerem a história |
O fado é de repeti-la. |
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728 – Liberdade |
|
Nunca saberá, nos cantos |
Dos resignados assente, |
Da liberdade os encantos |
O escravo, mesmo contente. |
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729 – Precede |
|
O instante delicioso |
Precede a felicidade. |
Felicidade que gozo |
Não o alcança de verdade. |
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730 – Depressa |
|
Quando vivo entre os pequenos |
O que depressa me toca |
É que dos grandes os trenos |
São o que ao fim me sufoca. |
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731 – Fere |
|
Não sinto o peso à grilheta |
Se o carrasco a bem seguir, |
Mas como fere, indiscreta, |
Se eu resisto e vou fugir! |
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732 – Século |
|
Vive teu século, vive, |
Mas repara em que figura, |
Não sejas só quem convive, |
Dele apenas criatura. |
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733 – Naufrágios |
|
A falta de rumo teme, |
Que dali naufrágios colho, |
Se à barca não rege o leme, |
Então é que a rege o escolho. |
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734 – Promessas |
|
As promessas custam menos |
Que um presente e valem mais: |
Jamais bens dareis mais plenos |
Que quando esperança dais. |
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735 – Cultivada |
|
Rapariga ajuizada, |
Cultivada na ignorância, |
É a que nunca sabe nada, |
Sábia só da eterna infância. |
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736 – Olhando |
|
Olhando o que fica em frente |
Durante tempo demais |
Já não vejo o que apresente. |
Quem me dá dele sinais? |
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737 – Respirar |
|
A boa conversação, |
O ar fresco do pensamento, |
É que vale a pena, são, |
Respirar cada momento. |
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738 – Perigo |
|
Sempre o perigo atraiu, |
É vida que vale a pena. |
A segurança é fastio, |
À morte imbecil condena. |
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739 – Guerra |
|
A guerra é sempre uma cobra |
Que usa nossos próprios dentes, |
À medida que se dobra, |
A nos morder, entrementes. |
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740 – Inveja |
|
Quem não tem nada não chama |
Nunca a inveja de ninguém. |
Melhor sentinela – clama – |
É nem portas ter também. |
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741 – Ideias |
|
As ideias pouco nascem |
Na cabeça inteligente. |
Rodam, fumos soltos, pascem, |
Buscam sua própria mente. |
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742 – Pedra |
|
Esta pedra em que me sento |
Parece morta, mas não. |
Vive escusa, lento e lento, |
Tal qual eu no coração. |
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743 – Dor |
|
A dor singela revela |
A fundura da maleita: |
A dor é aquela janela |
Donde a morte nos espreita. |
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744 – Escoar |
|
Vamo-nos chegando à morte, |
Rio a se escoar no mar: |
Ainda um nada nasce à sorte, |
Já o resto ei-lo a se findar. |
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745 – Costura |
|
Nenhum rio nos separa, |
Antes costura os destinos |
Dos vivos que alimentara |
De fios de água cristalinos. |
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746 – Esperto |
|
À esperteza não me liga |
A fúria de nenhum credo. |
Esperto é o mar, que não briga, |
Antes abraça o rochedo. |
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747 – Nada |
|
Numa terra de miséria |
Um nada faz muita inveja, |
Pois ao coxo inveja à séria |
Quem paralítico seja. |
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748 – Riqueza |
|
A riqueza é como o sal |
A vida humana ao cruzar, |
Não é por si bem nem mal, |
Serve para temperar. |
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749 – Recomeçara |
|
Se eu recomeçara a vida, |
Queria-a tal como foi, |
Mas abriria à medida |
Os olhos ao que me rói. |
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750 – Lançado |
|
Um termo lançado ao vento |
Pode mudar uma vida. |
Sei lá que poder invento |
A influir noutro em seguida! |
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751 – Agnóstico |
|
Um agnóstico concorre |
A aclarar o que demande: |
Quando um agnóstico morre |
Vai para a dúvida grande? |
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752 – Raiva |
|
Por dentro muito há quem arda. |
Controlo a raiva por fora, |
Mas tenho de pôr-me em guarda, |
Que por dentro é que demora. |
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753 – Máscara |
|
Não há máscara que gizes |
Que não doa quando grade: |
Há mentiras com raízes |
Mais fundas do que a verdade. |
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754 – Pior |
|
O que há de pior no mundo |
É não haver outra vida |
E passar esta, no fundo, |
A arremedá-la em seguida. |
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|
755 – Tentação |
|
O poder mata, real, |
Mesmo aquilo que o não quer: |
Das igrejas todo o mal |
É a tentação do poder. |
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756 – Brade |
|
Sobre os homens não há um erro |
Profundo, que brade aos céus, |
Que não se ligue, no aterro, |
A um erro igual sobre Deus. |
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757 – Contrários |
|
Não pode uma ocasião |
Conter contrários sentidos: |
Igreja que é de excluídos |
Não pode ser de exclusão. |
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758 – Vivam |
|
Que os homens vivam é glória |
De Deus (são dele os exemplos), |
Não que em perpétua memória |
Lhe prestem culto nos templos. |
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759 – Luxo |
|
Ninguém consegue impedir |
Que ao luxo do rico veja |
O pobre que há-de sentir |
Que o rico ao lixo o despeja. |
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760 – Ateu |
|
Um ateu de nobre exemplo |
Liberta Deus das igrejas, |
Da religião, do templo, |
- Fica Deus tal como o almejas. |
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761 – Contraditor |
|
Há o contraditor levado |
A apagar a luz, a ver |
Se não vai ser avistado |
O que sombra lhe fizer. |
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762 – Sempre |
|
Um poeta é sempre paz, |
Como o pão é de farinha, |
E sempre o lobo, tenaz, |
A morder nele amarinha. |
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763 – Partem |
|
Os que partem quando estamos |
Do lugar longe onde morrem, |
Morrem menos: continuamos |
Tais quais a ver que em nós correm. |
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|
764 – Humildade |
|
Nunca aprendemos bastante |
A humildade, que o orgulho |
Se nos encastela diante, |
Na humana dor não mergulho. |
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765 – Cientista |
|
Dum cientista os anelos |
Não são o real mas funções: |
Deve construir modelos |
Que expliquem observações. |
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766 – Precisas |
|
Quanto mais coisas tiveres |
Mais precisas, insaciável, |
Para te crer, ao te veres, |
Por inteiro confortável. |
|
|
767 – Gerir |
|
Gerir o tempo é fazer |
Poucas coisas importantes |
Em vez de muitas correr |
Em menos, menos instantes. |
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768 – Dúvida |
|
A verdadeira tragédia |
É nunca termos certeza: |
Cumpra a lei, tenha-me à rédea, |
Sempre a dúvida ao fim lesa. |
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|
769 – Juncos |
|
Como juncos nos vergamos |
Ao vento que então soprar. |
Travado o vento, voltamos |
Logo a nos endireitar. |
|
|
770 – Cura |
|
Começa a sentir saudade, |
A entender tudo por ti: |
- A cura começa aí, |
Sofrer traz-te sanidade. |
|
|
771 – Passado |
|
O passado foi melhor, |
Não de menos coisas más |
Mas de o tempo lhe antepor |
O esquecimento que traz. |
|
|
772 – Claro |
|
O que me é claro, evidente |
(Mostram-no dias constantes), |
Nunca o é, já que o não sente |
Nenhum de meus semelhantes. |
|
|
773 – Realça |
|
Aquele que é original |
Realça a mediocridade |
Dos outros que, bem ou mal, |
Repetem sem novidade. |
|
|
774 – Enrodilhada |
|
Cuidar um lado é vaidade, |
O mundo é muito maior. |
Sempre anda a felicidade |
Enrodilhada na dor. |
|
|
775 – Missiva |
|
Guarda ao menos por um dia |
Qualquer missiva importante, |
Até ver se se prenuncia |
O efeito que ateie adiante. |
|
|
776 – Trabalho |
|
O trabalho, por momentos, |
Livra das inquietações, |
Sobrecargas e tormentos, |
Do quotidiano os senões. |
|
|
777 – Errado |
|
Como é errado ambicionar |
Coisas que nos outros lermos |
Mas que não são, se calhar, |
As certas para nós termos! |
|
|
778 – Voz |
|
Já nascemos a saber |
Muita coisa que leveda, |
Não sabemos é aprender |
O que esta voz nos segreda. |
|
|
779 – Desfazer |
|
Urge desfazer os nós, |
Não atar outros em cima: |
A vida é tranquila após |
E os bons momentos, em rima. |
|
|
780 – Atropelo |
|
Atropelo o sentimento |
De consciência por falta: |
À medida que a alimento, |
Outra via acolho em alta. |
|
|
781 – Culpa |
|
Ai aquele mal-estar, |
A culpa que nos invade, |
A tirania ao ditar |
O que for normalidade! |
|
|
782 – Usar |
|
Não deixes de usar um ror |
Tuas asas, só por teres |
Um tapete voador, |
Ou perdes os dois haveres. |
|
|
783 – Basilar |
|
Quem o mundo há-de prover |
Do basilar testemunho: |
Viver a sério, viver |
É um permanente rascunho? |
|
|
784 – Delicada |
|
Delicada, a consciência, |
Que fácil é sufocá-la! |
Mas é tão pura de essência |
Que ninguém logra ignorá-la. |
|
|
785 – Não |
|
Dizer não a qualquer coisa |
Tem muito mais força, ao fim, |
Seja onde for que tal poisa, |
Mais força que dizer sim. |
|
|
786 – Feito |
|
Não de átomos mas de histórias |
É feito todo o Universo. |
Aqueles são as memórias |
De cada feito diverso. |
|
|
787 – Leitores |
|
Glória e fama de poeta |
Vêm do fogo ou da apatia |
Que em gerações despoleta |
De leitores dia a dia. |
|
|
788 – Impotência |
|
Nunca tentes controlar |
O que não te esteja à mão. |
A impotência ao constatar |
É que stressa o coração. |
|
|
789 – Língua |
|
Não se fixa a língua nunca, |
Evolui sempre da seiva |
Da raiz que o povo junca |
E do meio onde ara a leiva. |
|
|
790 – Cabeça |
|
Na vida qualquer combate |
Provocar sem ser viável |
Vencer, que louco dislate |
Do calcanhar vulnerável! |
|
|
791 – Sono |
|
O sono, na encruzilhada |
Variegada das tensões, |
O sono desata a meada |
De nós das preocupações. |
|
|
792 – Verdades |
|
Todas as religiões |
São verdades incompletas, |
O brilhante tem clarões |
De numerosas facetas. |
|
|
793 – Governar |
|
Governar com perfeição, |
Mais que olhar a cada dia, |
Há-de antes requerer não |
Governar em demasia. |
|
|
794 – Passeios |
|
Passeios ao pôr-do-sol… |
- Como sou tão grão de areia |
Da terra na imensa mole |
Que infinda ali se incendeia! |
|
|
795 – Revolução |
|
Da revolução a frágua |
Não molda quem acorrer, |
Que pedra debaixo de água |
Não sabe que está a chover. |
|
|
796 – Importante |
|
É o homem tão ignorante |
Como da criança o desnorte |
Para o que é mesmo importante |
Que respeita à vida e à morte. |
|
|
797 – Caro |
|
O mais caro a quem é esperto |
Decerto é fazer de ignaro |
Quando o ignaro, de olho aberto, |
De esperto se faz e caro. |
|
|
798 – Custas |
|
Força as custas a pagar |
Do curso a ser navegado, |
Que recurso por pagar |
É sempre desperdiçado. |
|
|
799 – Grita |
|
Aquilo que o ditador |
Grita que é uma subversão |
É da denúncia o rumor |
Do Estado de podridão. |
|
|
800 – Dói |
|
Menos dói ser mesmo vil |
Que vil ser considerado |
Se, o não sendo, ao lado há mil |
Que de o ser te hão acusado. |
|
|
801 – Rir |
|
É difícil para o guarda |
Não ter por alguém respeito |
Que lograr rir quando aguarda |
Das mãos dele o fim do pleito. |
|
|
802 – Termo |
|
Um termo, quando é inventado, |
Cria então novos sentidos. |
Logo, porém, é gerado |
Outro uso aos inatendidos. |
|
|
803 – Tente |
|
Se algo não logra entender |
Do que alguém vive ou que fala, |
Se a via não lhe acolher, |
Tente ao menos respeitá-la. |
|
|
804 – Riso |
|
A vida tem muita cor, |
Luz, sol e céu nebuloso |
E não há nada melhor |
Que o riso contagioso. |
|
|
805 – Gastar |
|
Decide as prioridades |
E o tempo a gastar com elas. |
Se a tal te não persuades, |
Alguém o faz com sequelas. |
|
|
806 – Problema |
|
Problema sem solução |
Já não é problema, é facto: |
Não de ter resolução, |
De com tempo ser transacto. |
|
|
807 – Corrupção |
|
À corrupção, ao favor, |
Compadrios infamantes, |
A luz do sol é o melhor, |
Melhor dos desinfectantes. |
|
|
808 – Mentir |
|
Mentir não é falsidade |
Calçar em pé que a não calça, |
É contar como verdade |
Nota que sabemos falsa. |
|
|
809 – Acolhe |
|
Bom e mau são de acolher: |
De si quem acolhe a sorte, |
Mais feliz do que quenquer, |
É feliz até na morte. |
|
|
810 – Lágrimas |
|
As lágrimas que alguém chora |
E não lê na fronte calma |
São as melhores de agora: |
Caem sempre a regar alma. |
|
|
811 – Riqueza |
|
A riqueza não é inútil, |
Questão é ser bem empregue: |
Para o feliz nada fútil, |
Depende de aonde a legue. |
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812 – Lâmpada |
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Como a lâmpada esmorece |
Contraposta à luz do Sol, |
O saber desaparece |
De Deus ante o sábio rol. |
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813 – Fixidez |
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Nunca a imutabilidade |
É fixidez por inteiro, |
Muda por propriedade, |
É só dum momento argueiro. |
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814 – Escolha |
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Se a escolha for alterável, |
Foco a mente nos defeitos. |
Se, porém, é irreformável, |
Nos ganhos me centro e aceito-os. |
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815 – Pesca |
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Não é o que convinha, |
Mas o que sucede: |
Pesca Deus à linha, |
O diabo, à rede. |
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816 – Forma |
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Pensa de forma positiva, |
Não penses:”nunca sou capaz, |
Nunca serei, por mais que viva”, |
Que isto é o que a vida então te traz. |
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817 – Teia |
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Na vida, a teia armada, |
No fundo, é o que se quer: |
Ninguém ao fim faz nada |
Que não queira fazer. |
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818 – Inferno |
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Deus jamais nos punirá, |
Mas nós podemos punir-nos |
A nós próprios, desde já, |
O inferno aqui ao servir-nos. |
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819 – Questionar |
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Vive as respostas que tens |
E a questionar não te esquives, |
Ao bem dar conta dos bens, |
Estas respostas que vives. |
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820 – Jamais |
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Ao nível das evidências |
Em que agem tuas acções, |
Deus jamais faz exigências, |
Deus só faz observações. |
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821 – Precisa |
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Não há nada que não seja |
E o que não é não existe. |
Deus, assim, nada deseja |
Nem precisa, só persiste. |
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822 – Externo |
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De nada externo precisas |
Para ser feliz a sério, |
Mas crês que sim, nem divisas |
Do erro quão te prende o império. |
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823 – Encara-o |
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Se ficas desapontado, |
Encara-o como um presente: |
Abre-o lá, para encontrado |
O tesoiro ser que invente. |
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824 – Convosco |
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Não vim exercer poder |
Sobre vocês, não me embosco, |
Meu poder é de exercer |
Mas como poder convosco. |
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825 – Lema |
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O que quiseres viver |
(É um lema fundamental |
Naquele que é racional) |
Oferta a um outro qualquer. |
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826 – Pressão |
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A pressão de ir à frente, |
Manter-se à tona de água, |
É só medo premente, |
Do insuficiente a mágoa! |
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827 – Ataque |
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Se te atacam ou condenam, |
Vê que um ataque sofrido, |
Da parte dos que o encenam, |
Sempre é de ajuda um pedido. |
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828 – Símiles |
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Deus aos homens os criou |
Símiles à sua imagem. |
A religião Deus dotou |
Dos homens com a paisagem. |
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829 – Fala |
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Como é que Deus fala e a quem? |
Toda a gente a toda a hora |
Novidades dEle tem. |
- Quem O ouça é que demora! |
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830 – Divino |
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Divino é o sublime pensamento, |
A palavra clara e mais distinta, |
O teu mais grandioso sentimento; |
O inferior é a fonte que to pinta. |
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831 – Vivenciar |
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O que queres, ter não podes nunca, |
Mas aquilo que tiveres deves |
Vivenciar, como a semente junca |
A lavoira nas regueiras breves. |
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832 – Salvação |
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Na acção dum outro não é |
Mas na forma como reages |
Que a salvação pões de pé |
Com que de vez te encorages. |
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833 – Pedido |
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É bom que a fúria se aplaque, |
Vê quem dispara do morro: |
Todo o ataque, todo o ataque |
É um pedido de socorro. |
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834 – Falar |
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Há muito falar gratuito |
E o que diz nada garante. |
Quando não se falar muito, |
Fala-se o mais importante. |
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835 – Esperança |
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A esperança, como o sal, |
Não nos alimenta, não, |
Mas um sabor dá real, |
Um melhor sabor ao pão. |
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836 – Remorso |
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Remorso do que não fiz, |
Que permiti se fizesse, |
É o pior, toca a matriz |
Onde alguém de ser se esquece. |
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837 – Próximo |
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Quem demais próximo fica |
Dos centros de decisão |
De miopia se complica, |
O alcance encurta à visão. |
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838 – Ridículo |
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Pode arruinar um instante |
De ridículo a carreira |
Que se projectava diante |
De toda uma vida inteira. |
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839 – Engano |
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A riqueza pessoal |
Ou meio donde provém |
É o engano principal |
De alguém ao julgar alguém. |
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840 – Atirado |
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Se foste atirado ao chão, |
Ergue-te, vê bem o clima, |
Sacode o pó do torrão |
E a volta após dá por cima. |
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841 – Entusiasta |
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Entusiasta a educar, |
Todo criatividade, |
É o que é bem preciso, a par |
De aos mais dar esta verdade. |
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842 – Cérebros |
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Tal e qual os corações, |
Cérebros iluminados |
Vão ter sempre às regiões |
Onde são apreciados. |
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843 – Cima |
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É proibido pisar |
Alguém para lhe ir à frente, |
Posso por cima saltar |
Se em meu trilho se apresente. |
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844 – Artes |
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Nas artes vira e revira |
Qualquer dado a identidade, |
Qualquer arte é uma mentira |
Que nos faz ver a verdade. |
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845 – Nascemos |
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Nascemos com a beleza |
Que Deus nos dá mas morremos, |
Não com a que ali se preza, |
Mas com a que merecemos. |
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846 – Inchar |
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Que quer dizer a vaidade |
Não é inchar meu peito a esmo, |
Alterações de verdade |
É proibir em mim mesmo. |
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847 – Mar |
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Anda o mar, o mar sem fim |
Fundo em memórias que atraia… |
- Se houver um céu para mim, |
Tem de certeza uma praia. |
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848 – Sem |
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Não basta, se me proponho, |
Ver e agir sem qualquer elo. |
Ver sem agir era sonho, |
Agir sem ver, pesadelo. |
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849 – Vira |
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Luz ou sombra, no teu rol, |
Qual maior conta te faz? |
Vira a cara para o sol, |
Deixa as sombras para trás! |
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850 – Lista |
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Quanto mais bens alguém tem |
Maior a lista que quer. |
E ser feliz se mantém |
Fora de
alcance, até ver. |