DÉCIMO  TERCEIRO  TROVÁRIO

 

 

SOU  TUDO  NÃO  SEI  COMO  NEM  SEI  QUANDO

 

 

 

 

 

 

Escolha aleatoriamente um número entre 1481 e 1592, inclusive.

Leia o poema correspondente como uma mensagem particular para o seu dia de hoje.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1481 - Sou tudo não sei como nem sei quando

 

Sou tudo não sei como nem sei quando,

É o que o trovário me insinua

Em qualquer métrica vogando,

Nos poemas em que mando

Flechas de prata varejando a Lua.

 

Sou o ser

E sou o amor

E do dever

Sou o valor

 

E sou tudo amalgamado ao infinito,

No Infinito que viso

E não concito.

 

No trovário me encontro tendo siso

E me projecto para além de qualquer juízo.

 

 


1482 - Condenados

 

Estamos condenados ao significado,

Condenados a criar valores e julgamentos.

Não basta saber o que me dói aqui de lado,

Não basta a patologia ter um nome dado,

Mas também por que é que sofro tais tormentos.

 

Eu, por quê? E, sendo eu, que significa?

Que fiz de errado?

Como é que isto se me aplica?

- Vinculo à patologia um significado.

 

Para alcançá-lo,

Dependo primeiro da sociedade,

De histórias e sentidos com que daquilo falo.

 

E então nova doença junto, minha enfermidade

Lendo menos por mim e mais pela comunidade.

 

 

1483 - Encontrar

 

Terei de encontrar formas de melhor contactar

Minha psique profunda,

O germe íntimo de crescimento contínuo basilar,

Que é tão perto quanto logro chegar

Do Deus dentro de mim que dentro de mim me inunda.

 

Aprender a compreender isto e a segui-lo

É ouvir e obedecer

À vontade de Deus, firme e tranquilo.

Em nós entrar e contacto estabelecer

 

Com nossa parte mais profunda e verdadeira,

Alimentá-la, deixar que amadureça,

Investi-la do poder de sementeira,

 

Mesmo quando contra a mente racional tropeça,

É onde o verdadeiro dia começa.

 

 

1484 - Mutuamente

 

Todo e parte não são mutuamente exclusivos,

O místico sente dor, fome, riso e alegria…

Ser parte dum todo torna-nos mais vivos,

Não evapora a parte em becos esquivos,

Dá-lhe o fundamento, o significado que anuncia.

 

És um indivíduo e, contudo,

És parte da família, unidade mais vasta,

Que noutra maior, a comunidade, se engasta…

Já sentes isto tudo,

 

És parte de vários todos maiores que tu mesmo

E todos dão valor e significado à tua vida.

E assim é que em mim não me ensimesmo

 

E, ao ser parte íntima do Cosmos, isto convida

Ao sentido e valor maior que com o Todo lida.

 

 

1485 - Caminho

 

Ao meditar,

O cristão, budista, hindu, judeu ou muçulmano

Trilha um caminho de alma, ao se aventurar

Para o interior onde venha encontrar

A identidade suma com o Deus de que emano.

 

O reino dos céus mora dentro de ti

E a meditação é, desde o início,

A via régia de captar até o menor indício

Deste reino que mora aí.

 

Independentemente doutros efeitos

Benéficos e numerosos, em corrente a se impor,

A que findaremos afeitos,

 

Meditar aquece as mãos ao calor

De teu Deus interior.

 

 

1486 - Prática

 

Meditar é espiritual

Mais do que religioso.

Enquanto prática visceral

Não tem a ver com crenças, dogmas, ritual,

Mas com Deus, fundura do ser que gozo.

 

É despertar para o Eu verdadeiro,

Não orar pelo meu pequeno eu;

Disciplinar a consciência no mundo que é o meu,

Não impor morais de igreja em cada canteiro.

 

É do espírito que habita no coração

De todos nós, enfim,

Não do que nesta ou naquela igreja é feito ou não.

 

Tem a ver com o autêntico de mim,

Não com sinais da rota de chegar a tal confim.

 

 

1487 - Consciência

 

A consciência dominada por auto-contracção,

Pelo dualismo sujeito-objecto,

Do real será incapaz de percepção,

Da realidade como totalização,

Enquanto Identidade Suma, sumo tecto.

 

O pecado

É a auto-contracção,

O sentido do eu separado,

É o ego, não do que faz mas do que é no coração.

 

Isolado, distinto do Todo,

Sente o eu aguda privação, carência, fragmentação:

O eu nasce caído, o sofrimento é dele o modo.

 

A dor não lhe acontece, é-lhe inerente ao chão:

Eu, pecado e dor, vários nomes de igual nome são.

 

 

1488 - Interior

 

O espírito existe

E no interior de cada um pode ser encontrado.

A maioria, contudo, não logra dele o despiste

Porque num mundo persiste

De separação, dualidade, pecado.

 

Sofremos, pois, uma queda,

Vivemos num estado ilusório.

Da ilusão e queda há um portão que nos conceda

A libertação de tão triste envoltório.

 

Se a Via trilhar até ao termo,

Ganho um Renascimento, Iluminação,

Experiência directa do imo, já não enfermo,

 

Mas livre de pecado e dor:

Vivo na afeição,

Com misericórdia por todos, todo eu compaixão.

 

 

1489 - Identidade

 

Perceber não posso a identidade minha

Una com o Espírito, que a mente vive

Sempre obnubilada na voraz gavinha

Duma actividade e, absorto nesta vinha,

Nela me envolvi sem que o demais arquive.

 

É uma actividade contrair, focar

A minha consciência no meu eu pessoal.

Jamais fica aberta, em Deus centrada, a par,

Fica auto-centrada, contraída, irreal.

 

E é precisamente ao contracção manter,

Excluindo o resto, que encontrar não vou

Minha identidade ao vero Todo, ao Ser.

 

Minha natureza individual baqueou,

A queda sofreu e tal pecado sou.

 

 

1490 - Separado

 

Em pecado vivo, separado, alheio

Ao Todo, Universo, tal do mundo ao resto.

Estou exilado, separado, a meio

Do mundo lá fora que percebo cheio

Do que, a mim externo, é estranho, hostil apresto.

 

E o meu próprio ser não me parece unido,

Uno com o Todo, uno com quanto existe

Nem com o Infinito a que andarei fundido:

Membro decepado a se reunir resiste.

 

Pareço estar antes por inteiro armado

Contra tudo o mais a defender, letal,

Meu canto vazio, meu quintal fanado.

 

Sou um prisioneiro no torreão fatal,

Muralha isolada em corpo meu mortal.

 

 

1491 - Crença

 

Predomina a crença de que o mundo actual

Eurocêntrico é, patriarcal, sexista,

Todo a se embeber duma razão total,

E então, por contraste, vai querer a actual

Sempre igualitária e pluralista pista

 

Que nega a qualquer visão do mundo ser

Melhor que qualquer outra visão ao lado.

Liberal parece, que melhor quenquer

Nem mais elevado pode ser sagrado.

 

Porém, se melhor nada há-de ser, então

Como propugnar que melhor é uma via

Que não empecilhe o que é melhor versão?

 

Só uma integradora visão não adia

Toda a liberdade por que alguém porfia.

 

 

1492 - Ouvir

 

Preciso de ouvir esta interior voz minha,

Esta orientação que com fulgor impele.

Vou fortalecê-la, alimentá-la, linha

Para contactar contra o que em mim definha,

A fim de investi-la dum poder que apele.

 

Lograrei ouvi-la direcção a dar-me,

Linha de rumar que impetro em minha vida,

Expande-me o peito num viável carme,

Logro dimensão com invulgar medida.

 

Em germe primeiro e aprofundada após,

Há-de extravasar em atenção cuidada

Por qualquer problema que nos toque a nós,

 

Esta humanidade, a deusa aqui fanada,

E do eu separado livrar-me-ei de entrada.

 

 

1493 - Provas

 

São sempre experienciais

As provas que me baseiam.

A ciência como o mais

São só vivências finais

Que, no fundo, me rodeiam.

 

Da consciência não posso

Deveras desconfiar,

Que, ao desconfiar, emposso

Minha consciência a par.

 

Quer na prova exterior,

Quer na vivência em meu imo,

Tudo é da mente fulgor.

 

Pedra ou mística experiência,

Como o mais, tudo é vivência.

 

 

1494 - Miséria

 

A miséria humana já infeliz se encontra

No hiato cavado entre sujeito e objecto.

O ego nem sequer será sujeito em montra,

São séries de objectos, a favor e contra,

E uma identidade só deslindas, recto,

 

Começando a olhá-lo, testemunha externa:

Como testemunha, já não és um ego,

Olha-lo de fora e a quanto nele hiberna,

Não te identificas mais com dele o pego.

 

Como podes ver teu pensamento, imagem,

Então não são eles quem observa e que és,

Tua identidade muda nesta viagem.

 

Uno a todo o espaço que se te abre aos pés,

És uno com tudo, Deus de lés a lés.

 

 

1495 - Sofrimento

 

Dum eu o desejo o sofrimento causa

E, para acabá-lo, só acabando o eu.

Tal não significa, após de luz a pausa,

Que já não sintamos dor, angústia, a causa

Do medo de outrora que senti por meu.

 

Só não me ameaçam a existência agora,

Não me identifico já com eles nunca,

Não os energizo, nem perigo mora

Onde em mim não sinto disso a garra adunca.

 

Um eu separado já não há que ataquem

E o grande eu que é Tudo já não pode ser

De fora atacado: a que outro cais atraquem?

 

Um relaxamento o coração vai ter,

Já nada o afecta, verdadeiro ao ser.

 

 

1496 - Testemunha

 

Não é a Testemunha nunca igual ao ego

Nem a qualquer outro objecto que haja em mente,

Limita-se a olhar com imparcial sossego.

Mas a Testemunha, assim alheia a apego,

Separado ainda todo o objecto sente,

 

Subsiste uma forma de subtil dualismo.

Sendo já um enorme passo em frente dado,

Ainda não é definitivo fado:

Deve a Testemunha ser em tudo o abismo,

 

Dissolver-se em tudo é o testemunho adiado.

A dualidade aqui findou de vez,

Não-dual consciência atinge o fim visado:

 

Só, naquilo que olhas, é quem vê que vês,

Olhador e olhado o mesmo são de vez.

 

 

1497 - Transcendente

 

Ver o eu transcendente não o vê ninguém,

Que jamais consegue um olho a si se ver.

O que é requerido é eliminar alguém

Falsa identidade, pelo corpo além,

Com mente, moções ou ideais quaisquer.

 

O que conseguimos ver não pode ser

Um observador que observa o que haja em frente.

O que sei de mim meu eu não é qualquer,

Pois qualquer objecto é um outro, dele ausente.

 

Quando eu em meu imo este meu eu contacto,

O que quer que seja deixo então de ver,

No imo fico livre, desprendido, em acto.

 

O verdadeiro eu é uma abertura a haver,

Não sendo uma coisa, livre passo a ser.

 

 

1498 - Interna

 

Religião interna é a de não crer em nada,

Crítico é não crer em dogma algum que houver,

Antes experiências pessoais, de entrada,

Quer que nós tenhamos, o que à mente agrada,

O laboratório que nos tria o ser.

 

Por crenças, desejos, quer trocar vivências

Que verificadas por quenquer ser podem

Que execute em si, correcto, iguais valências

Que em meditação a qualquer um acodem.

 

Privada não é tal religião interna,

Como matemática se prova inteira

Na emoção que a vive e saboreia, terna.

 

É um saber interno a validar-se à leira

Do meditador que lhe quer ir na esteira.

 

 

1499 - Ansiedades

 

Quando percebemos que jamais seremos

Nossas ansiedades, já nos não ameaçam.

Presentes embora, à mão seguro os remos,

Já não me submergem, laços meus supremos

Com elas somente nunca mais se enlaçam.

 

Então a ansiedade é plenamente aceite,

Tal como ela for já espanejar-se pode,

Olho-a como a nuvem, bolha em céu de azeite

Que um sopro de vento ao discorrer sacode.

 

O que nos perturbe, uma emoção, memória,

É simplesmente algo com que troco acaso

Minha identidade, a me iludir sem glória.

 

Curo o que perturba ao desligar-me, a prazo,

De tal confusão que me acalcanha raso.

 

 

1500 - Cair

 

Vou deixar cair quanto não fora eu

Ao compreender que não sou eu aquilo:

Como o posso ver, será do mundo meu,

Mas jamais eu próprio que sou quem o leu,

Como observador, fora eu me a mim perfilo.

 

Como não sou eu, não há qualquer razão

De identificar-me ou me prender a tal,

Nem de submeter-me nunca a tal prisão,

Pois testemunhar é a transcender igual.

 

Já não se apodera de quenquer por trás

Porque reparamos nele ali de frente.

Por dentro liberto, ficarei em paz,

 

Mergulhei das ondas do mar bravo, ingente,

Às braças profundas donde nele atente.

 

 

1501 - Rotas

 

Não houve, em todas as vidas,

No tempo certos momentos

Que transtornam as medidas,

Alteram rotas batidas,

Tudo ruma a outros ventos?

 

Rota não imaginada,

Direcção que é fantasia,

Ou que custa a mais de entrada

Para crer que antes se via.

 

Podem vir da mão do acaso

Ou quando menos se espera

Ou no mais difícil prazo…

 

Dum passarinho são mera

Asa a abrir-nos à quimera.

 

 

1502 - Pardais

 

Os pardais que no caminho

Me trocam o rumo à vida

Têm destino sozinho:

Não mais retornam ao ninho,

De vez é a rota seguida.

 

Pode ser tique dum rosto,

Leitura duma palavra

- E a vida salta do posto,

Lavra agora noutra lavra.

 

É um instante inamovível,

Fixo num fatal momento,

Irremediável, terrível:

 

De nada me vale o intento

De escapar do fado ao vento.

 

 

1503 - Décadas

 

Muitos filhos com os pais

Durante décadas vivem,

Admiram-nos como tais,

Porém no mundo que arquivem

Não penetrarão jamais.

 

Não lhes conhecem os sonhos,

Angústias, páginas do imo,

O instante alegre, os tristonhos,

A história da base ao cimo.

 

Valorizarão os pais

Quando perderem o arrimo,

Quando os perderem, sem mais.

 

Descobri-los desejarem,

Só quando silenciarem.

 

 

1504 - Mestre

 

Mestre que não surpreende

Os discípulos em frente,

Que histórias não lhes acende

E os afectos lhes não prende,

Pode um saber excelente,

 

A eloquência brilhante

Ter que nunca brilhará

Nos solos que arar avante

Nas pessoas que tem lá.

 

Pode ser um transmissor

De informações à medida

De cada sede e sabor

 

Mas jamais será na lida,

Jamais, um mestre da vida.

 

 

1505 - Sistema

 

O sistema social

Pode entorpecer-nos tanto

De drogas quanto o estendal

Da química marginal

Do crime, furto e do pranto.

 

Pode controlar a nossa

Maneira de ser e agir,

De ver a cara e a bossa

Da vida que em nós bulir.

 

Não sejas, pois, previsível,

Surpreende a ti, aos mais,

A rotina supre, horrível.

 

Liberta, em dias que tais,

Teus criativos sinais.

 

 

1506 - Libertar

 

Nossa criatividade

Libertar impõe gerar

Na vida que nos invade

Uma aventura que agrade,

Maravilha lapidar.

 

Colhe possibilidades,

É ter prazer no que é novo,

Descobre novas idades,

Desafios choca em ovo.

 

E tudo quanto aprecio

Vem a reger minha sina

De fio então a pavio.

 

- Libertas-te de oiro a mina

Ou refechas-te em rotina?

 

 

1507 - Contra

 

A nossa maior vingança

Contra quem decepcionou

Entender-lhe é a frágil dança

Com que ante nós se aprestou

E perdoar-lhe o que alcança.

 

Se lhe perdoas, acabas

Por ficar livre de vez

De quem nunca menoscabas,

Por mais vil, por mais soez.

 

Se odeias, ele então dorme

Contigo e em teu abono

Nada mais terás conforme.

 

Ao te perturbar o sono

Acaba feito teu dono.

 

 

1508 - Trás

 

Por trás dum autoritário,

Um frágil sempre se esconde;

Dum agressivo primário,

Um infeliz que, sumário,

Nem voz tem que nos responde.

 

Surpreenda-os, então,

E os elogie também,

Perdoe-lhes o senão

Em nome do mais que têm.

 

Dentro dos mais complicados,

Na fundura que adivinho,

Há gestos inesperados

 

De criança, num cadinho

Que atenção quer e carinho.

 

 

1509 - Professor

 

Qualquer professor descobre,

Embora não veja a causa,

Que o jovem de hoje se encobre

Duma agitação que sobre,

Frenética, até sem pausa.

 

Vivem sem concentração,

Inquietos sempre demais,

Sem respeito ou comunhão

Com ninguém, com ninguém mais.

 

Curiosidade, se houver,

Têm-na tão transviada

Como o prazer de aprender.

 

- Finda a vida destroçada

Só dum pouco acelerada.

 

 

1510 - Mesa

 

Não duvides nem critiques

Apenas tempo a entreter

Em torno à mesa em que fiques

Praticando o que pratiques,

Em vez de agir e de ser.

 

Determina ser alegre,

Seguro, forte e não servo

Do conflito que te integre,

Dobra-lhe o músculo, o nervo.

 

Encanta-te pela vida,

Frui do belo iridescente,

Por sonhos luta em seguida.

 

E proclama, convincente,

Isto em palco a toda a gente.

 

 

1511 - Vítima

 

Todo o que vítima for

Duma ideia negativa

Vive do mar no furor,

De longe acena ao fulgor

Da tranquilidade esquiva,

 

Não lhe logrará sentir

O perfume divinal.

Quem controlado se vir

Por negativo estendal

 

É uma folha desprendida

Ao vento das circunstâncias,

Sem direcção assumida.

 

Não tem, prisioneiro de ânsias,

Âncora em quaisquer instâncias.

 

 

1512 - Emoção

 

A emoção pode gerar

A liberdade mais rica

Ou a prisão celular

Mais drástica a atazanar:

Prisão de emoção que fica

 

A pontificar cá dentro.

Muitos vivem na prisão,

Prisioneiros bem no centro

Da mente e do coração.

 

A emoção administrada

Deverá ser, que é premente

Bem conduzir pela estrada.

 

Mas impossível é assente

Domá-la completamente.

 

 

1513 - Manifesta

 

Um pensamento de morte

Manifesta, enfim, a vida,

Pois vivo pensa, de sorte

Que é vida que pensa a morte,

Não morte que pensa a vida.

 

Olhando, pois, de través,

É vida que se ensimesma,

Jamais, portanto, ao invés,

Morte pensando em si mesma.

 

Possível não é consciência

(Somos nós sempre a nos vermos)

Do que for inexistência.

 

Da contradição nos termos,

De razão muitos são ermos.

 

 

1514 - Administrar

 

Administrar a emoção

É ser livre de sentir,

Não ter algemada a mão

Por sentimentos que irão

Aprisioná-lo a seguir.

 

É capacitar o eu

Para dissipar o medo,

As ânsias com que tremeu

Reciclar em novo credo,

 

Superar a insegurança.

Veja que emoção esquiva

No peito lhe espeta a lança.

 

Domada a fronte impulsiva,

Então paciente viva.

 

 

1515 - Enfrenta

 

Não fujas de tua dor,

Enfrenta, encara, repensa.

Se tu foges, sofredor,

Torna-se ela em ti maior,

Monstro à espreita na despensa.

 

Ao enfrentá-la, porém,

Ela será superada,

Reciclada logo além

E, por fim, domesticada.

 

Irás dominá-la então,

Mesmo que doa é um doer

Com a rédea tida à mão

 

De quem impor-se-lhe quer

Como a uma fera qualquer.

 

 

1516 - Entendes

 

Quando tua pequenez

Entendes, entendes mais:

A dos outros toma vez,

Que à tua igual é na tez,

Tem de ti próprio os sinais.

 

Se, porém, num pedestal

Te colocas fácil é

Julgar do bem e do mal,

Outrem condenar até.

 

A grandeza de ser homem

É de se fazer pequeno:

Que em si doutrem gestos somem.

 

E entender que este é o terreno

Por detrás de cada aceno.

 

 

1517 - Sujidade

 

Todos são contraditórios:

Da sujidade exterior

Livram-se dos envoltórios;

À interior genuflexórios

Erguem de si em louvor.

 

Da alimentação se ocupam

Física correctamente,

Mas jamais se preocupam

Do que lhes ocupa a mente.

 

A qualidade de ideias

E de emoções que os invade

É deixada em mãos alheias.

 

Nutrem personalidade

Do acaso que acaso a grade.

 

 

1518 - Tímido

 

O tímido é sempre alguém

Que óptimo é para os demais

Mas não para si também.

A todos requer, porém,

Agradar, sem cuidar mais

 

Da vida que lhe convier.

As palavras policia,

Molda os gestos que tiver,

Perde o à-vontade em tal via.

 

Fala pouco, pensa muito,

Gasta demais energia,

De ansiedade que há no intuito.

 

Nunca mais tarde este guia

Consigo conversa um dia.

 

 

1519 - Reino

 

Do reino ideal a via

Há-de ser tão elevada

Que nunca dominaria

Nem os mais controlaria

O maior que tem lá entrada.

 

Há-de ser quem mais servir,

Quem mais der, o que emprestar

Coração e dom de ouvir

A quenquer que precisar.

 

E nunca, em contrapartida,

Cobra juros em retorno

De ninguém, todos convida.

 

O maior tem por adorno

Ser de toda a aldeia o forno.

 

 

1520 - Constantes

 

Os pais como os professores

Deveriam ser de sonhos

Os constantes vendedores.

Deviam nos interiores

Dos jovens, por mais bisonhos,

 

Plantar as belas sementes,

As mais ricas e diversas,

Para os tornar, entrementes,

Mesmo em condições adversas,

 

Livres intelectualmente

E a brilharem de emoção

Na noite mais renitente.

 

Quanto mais sonham no chão

Mais os jovens voarão.

 

 

1521 - Registado

 

Cada ideia, pensamento,

Ansiosa reacção,

De insegurança momento,

De solidão elemento,

Registado é logo então

 

Na memória imediata

E fará parte da manta

De retalhos que retrata

A história que a vida planta,

 

É um filme inteiro em seguida.

Diariamente, portanto,

Flores semeia da lida

 

Ou lixo recicla ao canto

Da memória o chão de encanto.

 

 

1522 - Alegrar

 

Muitos têm bons motivos

De se alegrar e são tristes,

Ansiosos e furtivos.

Às privações sempre esquivos,

Família têm que alistes,

 

Bons amigos e dinheiro,

Mas especialistas são

Em reclamar o ano inteiro.

Não governam a emoção,

 

São governados por ela.

A emoção insatisfeita

Quer muito e pouco dá dela,

 

A saudável muito ajeita

Do nada a que for sujeita.

 

 

1523 - Muro

 

Como é que em muro rachado

Pode haver qualquer beleza?

Além vê do que é mostrado:

Quem o quis alevantado,

Que sonhos prezou e preza,

 

Como há-de ele agora estar,

O que é que andará sentindo

Neste outro tempo e lugar,

Que brechas outras abrindo…

 

As fendas no muro vão

Falando discretamente

Num inaudível refrão.

 

À orelha que ali atente

Lendas contam brandamente.

 

 

1524 - Trabalhólicos

 

A energia inteira investem

Muitos na empresa e labor,

Trabalhólicos que vestem

Máquinas de que os revestem

Empreitadas de suor.

 

Na paz de espírito não

Investem nem no prazer

De viver, na relação

Que com íntimos houver.

 

Admirados socialmente,

Têm um teor de vida

Péssimo no que se sente.

 

Empobrecem na mentida

Ribalta da teia haurida.

 

 

1525 - Teatro

 

No teatro de nossa mente

Somos todos nós iguais,

Judeu não é nenhum ente,

Árabe, africana gente,

Nem de chinês há sinais…

 

Somos por igual humanos,

À única pertencentes

Espécie, sem mais enganos,

De que somos descendentes.

 

Há lonjuras culturais

Mas duma mente a cadeia

É igual à dos outros mais.

 

Discriminar não alteia,

Sopra os incêndios que ateia.

 

 

1526 - Regras

 

Aprendem informações,

Regras da língua e sociais

E de experiências noções,

Não de vivência aluviões

Que de imagens mil mentais

 

Serão sempre elaboradas:

Pôr-se doutrem no lugar,

Tolerâncias partilhadas,

Sabedoria a apurar…

 

Vai falir a educação

Na sociedade moderna

Por tal falta de atenção.

 

O mundo em egoísmo hiberna

E é dele a campa superna.

 

 

1527 - Qualidade

 

Sem qualidade de vida

Fica o rico miserável,

O forte bem frágil lida,

O famoso uma iludida

Farsa vive indisfarçável.

 

Não cuidamos com cuidado

De nossa vida o teor.

Quem é perito encartado

Da emoção e seu fulgor?

 

Há quem controle países

Mas de emoções doentias

Que lhe prendem as raízes.

 

De lesões há tais razias

Que algumas nem as verias!

 

 

1528 - Aprendemos

 

A prendemos a explorar

Átomos em pormenor,

Forças do Cosmos, a par,

E que o regem, singular,

Porém, o mundo interior

 

Explorar jamais sabemos.

Tal nenhuma geração,

Muita informação detemos,

Todavia pensar não

 

Sabemos nem transmudar

De repente, num momento,

A informação que chegar

 

Em novo conhecimento

Da vivência em que me invento.

 

 

1529 - Normal

 

O normal é ser ansioso,

Stressado, em desequilíbrio

E anormal, o quieto gozo,

Descontraído, gostoso,

Duma vida sem ludíbrio.

 

Temos privilegiado

O tratamento à doença

Pondo a prevenção de lado,

Sem lugar para sentença.

 

Ora, nada é tão injusto

Como gerar o doente

E depois tratá-lo a custo,

 

Lágrima a mentir, fervente,

De aliviá-lo após contente.

 

 

1530 - Breve

 

Vivemos como infindável

Toda a vida, todavia,

É tão breve e tão quebrável!

Entre a infância interminável

E a velhice é um parco dia.

 

Os anos que já viveste

Não passaram de repente,

Com rapidez tão agreste

Que é mais veloz do que a mente?

 

A vida é o raio de sol

De manhã mui sorrateiro

Que, logo após o arrebol,

 

Anoitecerá fagueiro

Sem vestígios de luzeiro.

 

 

1531 - Sábio

 

Ser sábio não quer dizer

Ser perfeito sem falhar,

Sem chorar nem nunca ter

Fragilidade a temer.

Antes aprender a usar

 

Há-de ser de cada dor

Como uma oportunidade

Para aprender e compor.

Cada erro o persuade

 

A corrigir cada rota,

O fracasso é ocasião

De mais coragem que anota.

 

Na vitória alegre é o chão,

Na derrota é reflexão.

 

 

1532 - Rotina

 

É a rotina sufocante:

Ergo-me do mesmo jeito,

Queixo-me deste constante

Problema que tenho diante,

Do modo a que estou afeito.

 

Cumprimento toda a gente,

Corrijo filhos, colegas,

Com jargões e cegarregas,

Ando a mesma rua em frente…

 

Valso a vida com passadas

De pernas sempre a tremer,

De cruamente engessadas.

 

Dá-te em troca antes prazer:

- Mata a rotina em quenquer.

 

 

1533 - Solidão

 

A solidão mina o lar,

Mina escolas, mina empresas…

Pareço próximo andar

Mas o que é físico, a par

Não tem do íntimo as finezas:

 

Pai que esconde ao filho a dor,

Filho que ao pai sonho esconde,

O giz que esconde o mentor,

E outros outrem, nem sei onde…

 

Falamos cada vez mais

Do mundo onde deambulamos,

Animais entre animais,

 

Mas do mundo, em quaisquer ramos,

Que somos tudo calamos.

 

 

1534 - Suicídio

 

Uns suicídio cometem

Por não terem a coragem

De abrir o ser que introjectem:

Os sonhos que lhes competem

São esmagados quando agem.

 

A esperança esfacelada,

O amor à vida perdido,

Fantasia espedaçada

Sofrem outros, num olvido.

 

Tudo por não partilharem

As histórias de viver,

Com medo de os criticarem.

 

Isolado então quenquer,

Findou-lhe por dentro o ser.

 

 

1535 - Precisa

 

A vida de qualidade

Precisa do ser humano,

Não do herói duma alta idade.

A parede que me invade

Tem de ir abaixo, é um engano.

 

A lonjura eliminada

Terá de ser entre todos

E a solidão, superada,

Que nos mentem seus engodos.

 

Útil para reflectir

É deveras a quenquer

(Pé na margem e, após, ir),

 

Nunca, porém, há-de ser

Útil para alguém viver.

 

 

1536 - Grau

 

O grau de sabedoria,

Maturidade de alguém,

A escola não o media,

Nem empresarial magia,

Nem cume social também.

 

É só da capacidade

De consigo dialogar,

Questionar qualquer verdade,

As emoções criticar

 

E então repensar a vida

E refazer os caminhos

Que entortaram na subida.

 

E só reconstruir os ninhos

Que celebrarem carinhos.

 

 

1537 - Humano

 

Cada humano deve ter

Momentos particulares

Consigo próprio, a se ver.

Deve-se treinar a ser

Seu próprio amigo entre os pares.

 

Lograr interiorizar-se,

Trilhar pelas trajectórias

De seu imo sem disfarce,

De íntima fala ter glórias.

 

Há quem fique deprimido

Se se encontra a sós, leveiro,

Ave de ninho perdido.

 

Dele próprio o dia inteiro

Acaba o pior companheiro.

 

 

1538 - Marca

 

É sempre o empreendedor

Que nos marca a diferença.

Ele ajuda, abre o pendor

Do caminho a nos propor,

Conquista-nos cada tença,

 

Aquilo vê que não anda

Diante dos olhos nunca,

Corrige o erro em cada banda,

Previne o que a rota junca

 

E motiva toda a gente,

Traz soluções que jamais

Alguém pôs à nossa frente…

 

É o empreendedor que amais

Mesmo em vós enquanto tais.

 

 

1539 - Tomba

 

Não é nunca o empreendedor

Infalível nem perfeito.

Tomba e se ergue sem pudor,

Não lamenta a falha e a dor,

Gosta de tomar a peito,

 

Poder entrar no despique.

A arena da mente dele

Vê que amarrada não fique,

A teimosia repele,

 

Que é sempre auto-suficiência.

Vai ser esponja a absorver,

Com modéstia e excelência,

 

Dele como de quenquer,

Toda a experiência que houver.

 

 

1540 - Pequena

 

Devemos rapidamente

Qualquer pequena mudança

Entender e ter presente

E tomar o inteligente

Ajuste que no-la alcança.

 

Não esperes que o amor

Morra para após tentar

Ressuscitar-lhe o calor

Quando o fogo se apagar.

 

Não esperes que teus filhos

Fiquem doentes para após

Ir tratá-los dos sarilhos.

 

Recicla da dor os pós

De que te sujaste a sós.

 

 

1541 - Perigo

 

Ao entrar no labirinto,

O perigo é crer que sabes,

Trepando de orgulho ao plinto

Onde doravante sinto

Que em aprendiz já não cabes.

 

Quem crê que sabe educar

Os próprios alunos, filhos,

Pode nem os conquistar

E vai perdê-los nos trilhos.

 

Quem crê que entende do amor

Poderá perder quem ama

Na trama já sem calor.

 

Quem se abandonou à fama

Dos possíveis perde a chama.

 

 

1542 - Família

 

A família de hoje em dia

Torna-se um grupo de estranhos.

O mesmo ar respiraria,

Igual comida comia

Mas já não cobra mais ganhos

 

De ouvir e dialogar.

Não vai tendo aprendizagem

Mútua de lições de andar,

Da vida em comum viagem.

 

Todos próximos estão

Decerto fisicamente,

Pisando o mesmo torrão,

 

Mas cada vez mais se sente

Que distam interiormente.

 

 

1543 - Contando

 

Alunos, filhos encante

Contando diariamente

O que quer que lá se implante,

No agro que lhe ofertam diante

À espera, surpreendente.

 

Elogie muito mais

E critique muito menos,

De afecto exalte os sinais,

De acerto os gomos pequenos.

 

Pergunte sonhos e medos,

Que ser para ser amigo

E da mão deles ser dedos.

 

Ao prazer de viver sigo

Abrindo aqui um postigo.

 

 

1544 - Problemas

 

Os jovens são ensinados

Problemas a resolver,

Matemática em tratados,

Mas duma existência os dados

Ninguém aborda sequer.

 

Enfrentam prova escolar

Mas não a prova da vida,

Rejeições que andam pelo ar,

Nenhuma angústia insolvida.

 

São ensinados a ver

Que entranhas o átomo tem,

Mas não o seu próprio ser.

 

Ignoram o mais além:

- O que são e deles vem.

 

 

1545 - Dominaram

 

Dominaram reis o mundo,

Mas não a própria emoção.

Vencem generais facundo

Combate, porém, no fundo

Perde a guerra o coração,

 

São de raiva prisioneiros,

De ódio, de angústia, de orgulho.

Se em ti não geres inteiros

Os afectos, o gorgulho

 

Mina teu barco sem leme,

Vais ser dirigido, absorto,

Por tufão ou calma estreme.

 

Se há bom vento, tens bom porto,

Se é tufão, és homem morto.

 

 

1546 - Corriqueiro

 

Corriqueiro esquecimento

É positivo clamor

Dum juízo em nós atento

A avisar que no momento

A luz rubra acende a cor.

 

Vivemos sem qualidade

E nem ouvimos o grito,

Protecção que nos dissuade

E não um problema aflito.

 

Bloqueia o cérebro arquivos

A tentar diminuir

A torrente sem motivos.

 

Mente célere a estrugir

Mata da vida o fluir.

 

 

1547 - Duvide

 

Tudo em que crer o controla.

Duvide de tudo aquilo

Em que crer e em que se atola,

Que o perturba e se lhe cola,

Pois dúvida marca o estilo

 

De toda a sabedoria.

De não conseguir duvide

Saltar o que o desafia,

O conflito que o agride.

 

Duvide, porque é mentira,

Do juízo negativo

Que qualquer prazer lhe tira.

 

E o que após lhe for esquivo

Não rouba à festa o motivo.

 

 

1548 - Critique

 

Cada ideia pessimista,

Preocupação demais,

Antecipatória lista

Que de negrume se vista

Critica como jamais.

 

Cada escuro pensamento

Deverá ser combatido.

Treina-te a todo o momento

Desta noite a não ser lido.

 

Pensamento que induz culpa,

Nocturna antecipação,

Nenhuma inércia desculpa.

 

Vive agora, amanhã não,

Mas planeia aqui teu chão.

 

 

1549 - Qualidades

 

A emoção nos determina

Qualidades do registo

A que a memória se inclina.

Quanto mais tensão se afina

Numa vivência, mais visto

 

O registo que vem dela.

Há vivências aos milhões

Que registamos na estela

De ano em ano de emoções.

 

Resgato frequentemente

O conteúdo emocional

Que é maior em minha mente.

 

De alegria ou perda aval

São de meu rosto o sinal.

 

 

1550 - Destruir

 

Bem podes com toda a força

Tentar anular conflitos,

Destruir quem te distorça

Tudo a que a vida te força,

Que êxito não têm tais fitos.

 

Dois modos de resolver

Conflitos, traumas, transtornos

É o que à mão sempre hás-de ter,

Teu fogo ao gerir nos fornos:

 

O filme rebobinar

Do inconsciente vivido

E construir indo, a par,

 

Janelas doutro sentido.

- Só então muda o que hás sofrido.

 

 

1551 - Autor

 

Autor sê de tua história,

Gere firme o pensamento,

A emoção orienta à glória,

Da incapacidade a escória

Critica, não é fermento.

 

Questiona a fragilidade,

Vê por ângulos diversos,

Da memória a identidade

Protege com gestos tersos.

 

Discriminação sofrida,

Crítica mal trabalhada,

Podem esgotar a vida.

 

Tu, com firme machadada,

Derruba o roble na estrada.

 

 

1552 - Sala

 

Qualquer personalidade

É uma enorme casa grande.

O casal se persuade

À sala comum que invade,

Ignora o mais que ali ande.

 

Conhecem comuns defeitos,

Mas não o imo em cada qual.

Discutem erros, trejeitos,

Não a aventura que abale.

 

Não trocam mágoas, conflitos,

Escondem dificuldades…

Se no amor tens olhos fitos

 

Mais que em prendas com que agrades,

A ti te dá, que persuades.

 

 

1553 - Precisar

 

Basta precisar de alguém,

Que alguém sofre frustrações

E, ao ter amigos, também,

Basta amar que, logo além,

Virão incompreensões.

 

Se laboras em equipa

E motivas as pessoas,

As disputas antecipa.

Não é a vida que atordoas,

 

Isto a muda em poesia:

Quão mais enterrado o oiro,

Mais preciosa a magia.

 

Pois se noutrem dor é agoiro,

Aprende-a, que é o teu tesoiro.

 

 

1554 - Tentar

 

Quão mais tentar esquecer

Uma perda ou rejeição,

Mais registada há-de ser

E em milhares ocorrer

De pensamentos então.

 

A maneira de filtrar

Não é jamais contestando:

Entender é criticar,

Doutros ângulos focando,

 

Do caso oportunidade

Tornar para se crescer,

Chuva em rega pela herdade.

 

Assim é que há-de não ser

Daquilo escravo quenquer.

 

 

1555 - Culpa

 

Controla a culpa o prazer

De viver e a liberdade.

Há quem perdoe a quenquer,

Mas a si, nem ver sequer.

Ora, em culpa, a utilidade

 

É reconhecer um erro,

Não martírio, depressão…

Ao negro antever, o ferro

Cravo na vida, ladrão.

 

Sofro antecipadamente

Com o que nunca ocorreu

Nem advirá certamente.

 

Doendo o que nunca doeu,

Eis como mato o que é meu.

 

 

1556 - Frustrados

 

Alguns jovens só conseguem

Entender que algo está mal

Quando frustrados perseguem

Os sonhos que já não peguem,

Enterrados no areal.

 

A crise familiar

Alguns só vão entender

Quando a comunhão ficar

Desfeita em todo e qualquer.

 

Um ruído no motor

Leva o carro a uma oficina,

Mas na vida que propor?

 

Ouvir teu corpo destinas

Só já desfeito das minas?

 

 

1557 - Famosos

 

Tentam os famosos seduzir

A felicidade.

Vão-se em vez dela os aplausos ouvir,

Autógrafos pela cidade,

Televisões a perseguir…

 

Mas a felicidade concerne

E se esconde

Lá onde

Das coisas simples mora o cerne.

 

Quem não usar bem a fama

Perde a singeleza de vida que tem à mão,

Angustia-se do cotio na confusa trama

 

E vive a pior solidão:

- Fica só no meio da multidão.

 

 

1558 - Personalidade

 

A personalidade é confeccionada

De forma bela

E plurifacetada.

Se és negativista, inseguro da passada,

Ou, ao invés, corajoso, a sonhar à janela,

 

Tal provém da história inscrita

Na tua memória:

O mundo que te visita

Vê-lo pelas janelas de tua história.

 

Contém milhares de arquivos

Com biliões de informações.

Não podes apagar da memória os motivos,

 

Nem as alegrias, nem os aleijões,

Podes, porém, reformar-lhe a página dos senões.

 

 

1559 - Oásis

 

Teremos de aproveitar

Quaisquer oportunidades

Que a vida nos ofertar.

Deveremos encontrar,

Cruzando nossas idades,

 

Os oásis nos desertos.

O perdedor só vê raios,

Quem ganha, de olhos abertos,

Vê da chuva os regos gaios,

 

E logo a oportunidade

De cultivar sementeiras.

A perda quem perde invade,

 

Quem ganha ocasiões cimeiras

Vê de novo para as jeiras.

 

 

1560 - Consolar

 

Aquele que é virtuoso

Não requer aprovação

Doutro qualquer, por seu gozo.

Porém, o imo sequioso

Como consolar então?

 

É verdade, todavia.

Há-de sempre haver alguém

Que de ti não gostaria,

Tudo embora faças bem.

 

E, quando tal ocorrer,

Embora negro de pez

Da injúria que te fizer,

 

Só podes servir, de vez,

Todo o bem tal como o crês.

 

 

1561 - Tentes

 

Não tentes ver, os teus pés

Trilham rotas de futuro

Que nunca podes nem crês

Conhecer alguma vez.

Deves percorrer no escuro

 

O caminho, sem olhar

Para trás, nem para a infância,

Antes deves confiar

De intuir na tua instância

 

Que te põe sempre a caminho.

Escapas à fantasia,

De expertos vês o cadinho

 

E os que correram a via

Tomas então por teu guia.

 

 

1562 - Iguais

 

Se todas as divindades

Se ocupam de iguais vivências,

São de prismas mil metades

Uns atrás doutros nas grades

Presos das experiências.

 

Em lugar de os deuses todos

Veres num Único apenas,

De mil cores nos engodos

A luz do céu pura acenas.

 

Porém, quando a branca luz

Toca do prisma um pedaço,

Mostra a fusão que transluz:

 

Do Deus Uno é o mero traço

Que inteiro jamais abraço.

 

 

1563 - Fora

 

Nunca são os adversários

Que vivem fora de nós,

Que em desafios sumários

Se confrontarão, primários,

Um momento logo após,

 

Nunca são os mais temíveis,

Não são os mais perigosos.

Os disfarçados, incríveis,

Travestidos de bondosos,

 

Antagonistas subtis,

Quantas vezes bem no centro,

Jamais dando os rostos vis,

 

Desmascaro-os quando eu entro,

Surpreendido, por mim dentro.

 

 

1564 - Mortos

 

Os mortos se libertam e as respostas

Obtêm para a dúvida que houver.

É quem fica que sofre com as crostas

Da ferida da perda, peso às costas

Da memória e remorso de quenquer

 

Por coisas que não disse e nunca fez.

Orar por quem liberto já se vê

Será do prisioneiro ir através

Até do ar livre os ventos ter ao pé.

 

Agora então oremos nós por eles,

Alerta aos mundos já que se cruzaram

Quanto tocá-los toca nossas peles.

 

E agora, que as premências mais se aclaram,

Oremos pelos vivos que ficaram.

 

 

1565 - Tudo

 

Só quem dá tudo por tudo

Atinge a glória que vive

Nas canções a que me grudo.

Por ele em mim tudo mudo,

Que alimenta quanto arquive

 

Qualquer geração vindoira.

Para alcançar tal vitória

A morte a muitos agoira.

Mas da morte a maior glória

 

É que revela que é porta:

Após tê-la atravessado,

Expõe aquilo que importa,

 

O que se encontra talhado

Para nós do outro lado.

 

 

1566 - Longe

 

Há tantos que longe o mundo

Vivem que o mundo exterior

Não é real nem profundo.

As histórias em que abundo

De mortes, raptos, horror,

 

Serão todas inventadas,

Um exagero grosseiro:

Não imaginam chagadas

As caras do mundo inteiro.

 

O mundo inteiro não querem

Que sofra transformação,

Mil argumentos desferem…

 

- Até o dia em que a lesão,

Ferindo-os, os joga ao chão.

 

 

1567 - Caminho

 

Caminho pelas ruas, olho as gentes,

Escolheram acaso as próprias vidas?

Ou como eu o destino umas sementes

Lançou que as escolheu, vagas, trementes,

E a todas, ao invés, lhes troca as lidas?

 

Sonhou dona de casa ser modelo,

O bancário sonhou músico ser,

De escritor o dentista sente o apelo,

A balconista artista se quis ver…

 

Único não serei, serei comum,

Trocados os caminhos por um triz

A mim e por igual a qualquer um.

 

Vivemos empatados, ninguém quis

A troca e ninguém já vai ser feliz.

 

 

1568 - Mais

 

Quem é que é o mais solitário?

É o que for bem sucedido,

Ganha elevado salário,

E confia, solidário,

Nele o baixo e o desmedido,

 

É o que tem família, férias,

Filhos a quem ele ajuda…

Mas vêm propostas sérias:

"Pago mais: de mundo muda?"

 

Já falar não pode ao lar

Nem aos colegas também,

Tal ninguém quer encarar…

 

Falar não pode a ninguém,

Só na escolha: ei-lo refém.

 

 

1569 - Parecer

 

Os homens tudo farão

Para parecer seguros,

Tal se o mundo têm à mão,

Se as vidas governarão

Dentro e fora de seus muros.

 

Mas logo atrás mora o medo

Da esposa: duma erecção

Não lograrem! É um segredo,

Que assim machos não serão.

 

Se, uns sapatos ao comprar,

Não servem, o que se imponha

É apenas atrás voltar.

 

Mas a erecção? É medonha:

Quem volta atrás da vergonha?

 

 

1570 - Dádiva

 

Uma dádiva, uma entrega

De alguma coisa que é tua:

Dar algo antes do que adrega

De pedir-se na refrega

Da vida que nos acua.

 

Tens assim o meu tesoiro,

Aquilo onde eu inscrevi

Sonhos com estrelas de oiro.

Teu tesoiro tenho aqui,

 

Onde em momentos de infância

Deste à vida o que ela empreste.

Tenho comigo a fragrância

 

Tua em tal sonho celeste,

De mim tens o que me deste.

 

 

1571 - Normal

 

É normal que os amorosos

Fujam de quem os encanta,

Lucros se visem faustosos

Do amor em lugar dos gozos,

Que vida se venda tanta

 

Sem podê-la ter de volta?

Contudo, é tanto cotio!

À natura o que a revolta,

Do íntimo o que trai o ousio,

 

É do normal o critério.

Procurámos nosso inferno

E construímos-lhe o império.

 

Viveremos, fim superno,

Todo o mal por dote eterno.

 

 

1572 - Aguardar

 

Posso aguardar um pouco mais…

Terei um sonho, mas vivido

Não tem de ser hoje jamais,

Já que aumentar os cabedais

Precisarei, tudo medido.

 

Tenho um emprego amaldiçoado,

Mas vendo tempo como todos.

Faço o que sempre hei detestado,

Mas como os mais e com bons modos.

 

Aturo gente insuportável

Como, afinal, faz toda a gente

E nunca tenho o indispensável…

 

- E assim futuro que me tente

Jamais terei à minha frente.

 

 

1573 - Intimidades

 

Há intimidades que ninguém partilha

E não podemos as marés temer

Dos oceanos em que, feitos ilha,

Nós mergulhamos, voluntária quilha,

Por nosso arbítrio, não doutro qualquer.

 

Confunde o medo em toda a gente o jogo,

O peito dói de o entender apenas:

Que nos amemos mas que todo o fogo

De possuir-nos não nos queime em penas.

 

Se eu amo alguém é porque o não possuo

Nem ele então me possuirá também,

Na entrega livres sem qualquer recuo.

 

É o que repito pelo tempo além

Até crer nisto e poder ser alguém.

 

 

1574 - Vai

 

O soldado vai à guerra,

Não vai matar o inimigo,

Vai morrer por dele a terra.

A mulher, quando se aferra,

Não é de alegre do abrigo,

 

É para o marido ver

O quanto ela se dedica,

Quão sofre para o bem ver.

E o marido que se aplica

 

Não é por realização,

Sofre antes pela família…

- A dor justifica o chão

 

Dum amor que, sem quezília,

É de alegria vigília.

 

 

1575 - Desejo

 

O desejo é sensação

Livre, solta pelo espaço,

Vibrando, preenchendo o chão

Com vontade de ter mão

Em algo que não abraço.

 

Vontade que para a frente

Tudo empurra e desmorona

Montanhas no abismo ingente,

Deixando o que busca à tona.

 

Desejo é fonte de tudo,

De sair, descobrir mundo,

Largar peso a que me grudo.

 

De amar sem pedir, jucundo,

Nada em troca ao ser fecundo.

 

 

1576 - Atear

 

São perucas, são dietas,

Horas no cabeleireiro,

No ginásio, bicicletas,

Usam roupas indiscretas

A atear o fogo inteiro.

 

E a centelha desejada,

Quando chega a altura certa

De ir para a cama ansiada,

Afinal, que é que desperta?

 

São uns minutos e pronto,

Nenhum postigo abre ao preso

Nenhum céu em nenhum ponto.

 

A centelha não tem peso

De manter o fogo aceso.

 

 

1577 - Aproxima

 

O desejo mais profundo,

O desejo mais real

É o que aproxima, no fundo,

De alguém que vai ser meu mundo.

A partir de encontro tal

 

As reacções a ocorrer

Começam então deveras,

Entra o jogo homem-mulher,

Mas milagre é das esferas

 

A atracção que os ajuntou,

Impossível de ser lida:

É o desejo em pleno voo.

 

Apaixonam-se por vida

E celebram-na em seguida.

 

 

1578 - Paixão

 

A paixão leva a pessoa

A não comer nem dormir,

A trabalhar hoje à toa,

A perder a paz que ecoa

De outrora, aqui sem porvir.

 

Muitos ficam assustados

Porque, quando ela aparece,

Derruba os muros herdados,

Abençoados em prece.

 

Ninguém desorganizar

Pretende jamais seu mundo

E há quem tente controlar

 

A ameaça: em pé, infecundo,

É ar gelado em que me inundo.

 

 

1579 - Entregam-se

 

Entregam-se sem pensar

Esperando na paixão

As soluções encontrar

Aos problemas a enfrentar.

Depõem no coração

 

Doutrem toda a iniciativa

E a responsabilidade

Da alegria que alguém viva,

Da inteira felicidade.

 

Do bem e do mal o culpam

E ou, eufóricos, celebram

Ou, deprimidos, inculpam.

 

À mais leve brisa quebram

E a negro a brancura zebram.

 

 

1580 - Casal

 

O casal homem-mulher

Ligado anda de energia

A que amor chama quenquer,

Mas o que ali há-de haver

Matéria-prima é que ardia

 

Com que o Cosmos se erigiu.

Jamais é manipulada,

Ela é que nos conduziu

Suavemente na estrada,

 

Nela mora a aprendizagem

Inteira do que há na vida.

Se a talhar à minha imagem,

 

Já que é selvagem na lida,

Ela vinga-se, traída.

 

 

1581 - Amarei

 

Passo a vida a me dizer

Que amarei acaso alguém

Quando apenas a sofrer

Ando, que em vez de acolher

O amor tal e qual me vem,

 

Em vez de aceitar-lhe a força,

Tento sempre diminuí-la,

Dando um jeito que a distorça

Para que caiba tranquila

 

No mundo em que eu imagino

Que vivo, em que nada minga.

Ando a enganar o destino,

 

Logo o amor em mim se vinga,

Sangro até ficar sem pinga.

 

 

1582 - Real

 

Por inteiro a realidade

É real e são sinais.

De compreender quanto se há-de

Sempre está na opacidade

Do que em frente mal olhais.

 

Basta olhar em derredor

Com atenção e respeito

Para deveras supor

Onde Deus leva com jeito

 

E então qual o melhor passo

A dar no instante a seguir,

Da luz ao seguir o traço.

 

Basta olhar sempre o porvir

Por trás do que eu perseguir.

 

 

1583 - Dados

 

Deus não joga aos dados nunca

Com este imenso Universo,

Tudo interligado o junca

Atado com garra adunca

E tem um sentido imerso.

 

Quase sempre embora oculto,

Vemos que à nossa missão

Na Terra prestamos culto

Se embebemos a função

 

Que temos de entusiasmo:

Aí fruo o suprassumo

Da luz de Deus com meu pasmo.

 

Se o viver, que é bom presumo,

Senão, é mudar de rumo.

 

 

1584 - Manifesta

 

Se uma pessoa é capaz

De amar de vez seu parceiro,

Sem condições, mas veraz,

Sem restrições de incapaz,

Manifesta por inteiro

 

O incrível amor de Deus.

O amor de Deus ao mostrar,

Ama o próximo sem véus.

Amando o próximo, a amar

 

A si mesmo acaba estando.

E, se alguém se ama, desgruda,

Tudo em rio o vai levando.

 

De quem ore "Deus acuda!"

Não preciso: tudo muda.

 

 

1585 - Causa

 

A História não mudará

Só por causa da política,

De conquistas que haverá,

De teorias tidas cá,

Nem de guerra alguma crítica,

 

Que tudo é repetição,

Do início dos tempos vemos

Isto, nação a nação.

A História que nunca temos

 

Mudará quando pudermos

Usar do amor a energia

Como usamos, nestes termos,

 

Sol, vento, mar que alumia,

- Quando o amor luz der ao dia.

 

 

1586 - Tento

 

Se tento conversar, andas cansada,

Dormimos e falamos amanhã.

E amanhã principia uma jornada

Com outra agenda séria, carregada:

Dormimos, que falar é coisa vã.

 

Assim ando perdendo minha vida,

Sempre aguardando o dia de te ter

A meu lado sem mente distraída,

Até que enfim descanse e vá descrer.

 

Então não peço nada, crio um mundo

Onde refugiar-me bem imerso,

Não tão longe que autónomo me fundo,

 

Nem perto, a parecer-te que, perverso,

Invadir tentarei teu universo.

 

 

1587 - Pára

 

Onde pára a mulher com quem casei,

Aquela que me dava sempre mimo,

Se estímulo e carinho precisei,

Apoio quando apoio foi de lei,

Luar de minha noite sempre ao cimo?

 

Seu corpo mora aqui, a olhar em roda,

A meu lado, perene, a vida inteira.

Dela o imo, porém, busca outra boda,

Pronto a partir em vida mais videira.

 

Adiar para amanhã marca o destino:

Ela teve entusiasmo pela vida,

De ideias cheia, alegre o canto fino…

 

Agora, bem depressa na descida,

Dona de casa é só de alma escorrida.

 

 

1588 - Falar

 

Ouço falar da liberdade em nome:

Quão mais defendem tal direito, mais

Escravos são duma paterna fome,

Dum casamento que o ar todo tome,

De interrompidos ideais finais…

 

Servos de vida que jamais escolhem,

Mas que escolheram decidir viver,

Que os convenceram que é dali que colhem

O que é melhor para o que vêm a ser.

 

Ei-los que seguem dia e noite iguais,

Toda a aventura é só palavra, imagem,

Televisão de só correr canais.

 

Qualquer mudança é de terror voragem,

Se abrem a porta, não terão coragem.

 

 

1589 - Viajar

 

A vida a viajar ninguém poder

Há-de algum dia aqui fisicamente,

Mas no espiritual plano há-de-o fazer,

Ir cada vez mais longe onde puder,

Da história pessoal fugir premente,

 

Daquilo que o forçaram a ser todos.

Contamos o vivido e despedimo-nos

Do que já fomos, para o mundo abrimo-nos,

Um mundo novo ignoto em mil e um modos.

 

À medida que espaços esvaziados

Forem sendo, escapamos do vazio

Preenchendo-os de eventos renovados.

 

Então mudo, o amor cresce e, com o ousio,

Com ele teço o mundo em novo fio.

 

 

1590 - Achas

 

Quando achas que és a derradeira

Das criaturas,

Tenta sentir-te bem, como a primeira.

Não acredites que, pioneira,

Estás tão mal como figuras.

 

Deixa que a Mãe-Terra te possua

Corpo e alma,

Entrega-te no lar como na rua,

Na agitação e na calma,

 

Nas banalidades da vida:

O filho à escola leva diligente,

Arruma a casa, arranja a comida…

 

Tudo acalma, adorando, quando a mente

Respira o presente.

 

 

1591 - Capaz

 

Capaz de viver é o homem

Sem religião erigida.

Bastam buscas que o consomem

Íntimas que dentro o tomem,

Para nortear a vida.

 

Deus é mãe além de pai,

Então é só reunir-se

E adorar o que à mãe vai

Conduzi-la a bem sentir-se:

 

É a dança, a música , o canto,

Água viva ou a paisagem,

Duma bela flor o encanto…

 

Sem metas nem um projecto,

- É o calor fruir dum tecto.

 

 

1592 - Deus-Pai

 

Deus-Pai anda interligado

Ao rigor e disciplina

Do culto mais do agir dado.

É Deus-Mãe que, doutro lado,

Perante o amor tudo inclina,

 

Tabus e proibições

Que bebemos com o leite,

Normativos das acções,

- Não há nada que respeite.

 

Se se intensifica a norma,

Então tanto mais pessoas

Buscam de escapar-lhe a forma.

 

Querem ser livres nas loas

Do imo às aparições boas.