O MAIS QUE PERFEITO CRIME


Autópsia romanesca dum caso real



BARTOLOMEU VALENTE


Lisboa, 2012




PRIMEIRO QUADRO



Os sete professores do grupo de Filosofia, finda a reunião inaugural do ano lectivo, abandonam o gabinete de trabalho, caminhando pelo átrio fora dum pavilhão do Liceu Luís de Camões, conversando animadamente, entre risos, enquanto se dirigem para a porta de saída, dando por terminado o labor do dia. Um deles entra no gabinete da Direcção, do lado oposto ao que acabaram de fechar. Vão ficando para trás, em amena cavaqueira, o coordenador do grupo, Dr. Paredes, e uma das colegas, Drª. Maria da Serra, ambos demasiado compenetrados no tema da conversa para darem conta de que acabam ali os dois sozinhos, a meio do átrio vazio.




A Drª. Fantina, a directora, saiu para o átrio, vinda da porta da direcção. Ouviu as últimas trocas de palavras. Aproximou-se, lenta, dos dois colegas e parou.

E adianta a Fantina:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta a Fantina:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Fantina:

E adianta o Paredes:

E adianta a Maria da Serra:

E adianta o Paredes:

E adianta a Maria da Serra:



Vindo do fundo do pavilhão, o contínuo Fonseca aproximou-se do trio de professores que, entretanto, conversava ao lado da secretária dele. Abre uma gaveta e deposita nela um molho de chaves. Pousa no tampo alguns livros de ponto, enquanto Maria da Serra comentava com as últimas frases. Ele pára, intrigado, e intromete-se.


E então o Fonseca:

E então a Fantina:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então a Maria da Serra:

E então o Fonseca:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então a Fantina:

E então a Maria da Serra:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então a Fantina:

E então o Paredes:

E então a Maria da Serra:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então o Paredes:

E então o Fonseca:

E então a Fantina:

E então a Maria da Serra:

E então a Fantina:

E então o Paredes:

E então a Fantina:

E então o Fonseca:

E então o Paredes e a Maria da Serra:



O contínuo abre um livro de ponto, aprontando-se para trabalhar. Paredes e Maria da Serra fazem-lhe, reparando, um gesto de adeus e afastam-se lentamente até à saída, continuando o diálogo.







SEGUNDO QUADRO



No bar do Liceu D. Pedro V, conversam Portela, o contínuo do atendimento, Maria João, a responsável do pavilhão, e Vasco, o faz-tudo da escola, a meio da manhã, durante o correr das aulas. Maria João sentou-se a uma mesa com um galão à frente e uma sanduíche, Portela está de pé, encostado à parede, palitando os dentes, enquanto Vasco vai passando o pano da limpeza, por desfastio e hábito, no tampo de acrílico transparente do balcão.


E o Vasco:

E a Maria João:

E o Portela:

E a Maria João:

E o Portela:

E o Vasco:

E o Portela:

E o Vasco:

E a Maria João:

E o Vasco:

E o Portela:

E a Maria João:

E o Vasco:

E o Portela:

E a Maria João:

E o Vasco:

E a Maria João:

E o Portela:

E o Vasco:

E o Portela:

E a Maria João:

E o Vasco:

E a Maria João:

E o Vasco:

E a Maria João:

E o Vasco:

E o Portela:

E o Vasco:

E a Maria João:

E o Vasco:

E a Maria João:

E o Vasco:

E o Portela:

E o Vasco:



Entrou no bar a orientadora Patrícia, dirigiu-se ao balcão e, acenando, fez que Vasco a começasse a servir, no que dá a entender que era uma rotina habitual. Ela ouviu as últimas intervenções calada mas atenta.


E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Portela:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, a Maria João:

E daí, o Vasco:

E daí, o Portela:

E daí, a Maria João:

E daí, o Vasco:

E daí, o Portela:

E daí, o Vasco:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, a Maria João:

E daí, o Portela:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Vasco:

E vai daí, a Drª. Patrícia:

E vai daí, o Portela:

E daí, o Vasco:

E vai daí, a Drª. Patrícia:

E vai daí, o Portela:

E daí, a Maria João:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Vasco:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, a Maria João:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Portela:

E daí, o Vasco:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, a Maria João:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Vasco:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Portela:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, a Maria João:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Vasco:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, a Maria João:

E daí, a Drª. Patrícia:

E daí, o Portela:



Entra no bar o Dr. Gonçalo, enquanto as últimas intervenções continuam. Para não perturbar a conversa, dirige-se a Vasco por gestos, indicando-lhe o que quer e começa a ser servido ao balcão. Ele, porém, leva cada coisa para a mesa da Drª. Patrícia, com o à-vontade dum trato de amigos velhos. Quando entra na conversa, Maria João e Portela fazem menção de ir cuidar de seus trabalhos, acenando adeus por gestos, próprio de relacionamentos pacíficos habituais entre todos, de longa data. A familiaridade solidária e respeitosa.












































TERCEIRO QUADRO



Num gabinete da Faculdade de Letras, o Prof. Eduardo encontra-se em reunião com os pós-graduados que, sob a orientação dele,preparam tese. Sentados em redor da mesa, todos têm vários livros, cadernos de apontamentos e fichas. De lapiseira ou esferográfica, vão tomando notas ao correr da troca de impressões que decorre com informalidade. Todos se conhecem e convivem há vários anos, sem problemas de maior. São o Luís, o Veiga, o Moniz, a Fernanda, a Mónica e a Cristina.


E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Fernanda:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Luís:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Luís:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Moniz:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Fernanda:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Luís:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Fernanda:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Mónica:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Cristina:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Moniz:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Fernanda:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Mónica:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Cristina:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Luís:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Mónica:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Luís:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Fernanda:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Moniz:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Veiga:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Mónica:

E vai daí, o prof. Eduardo:

E vai daí, a Cristina:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, a Fernanda:

E vai daí, o Prof. Eduardo:

E vai daí, o Moniz:

E vai daí, o prof. Eduardo:

E vai daí, a Cristina:

E vai daí, o Prof. Eduardo:



Levantam-se todos e encaminham-se para a saída, ao redor da mesa. Saem da sala Luís, Moniz e Veiga. Ficam com o Prof. Eduardo, de pé e rodeando-o, Fernanda, Mónica e Cristina. Conversam informalmente, ora encostados ao tampo, ora meio sentados no rebordo, ora inteiramente de pé, entretidos com o tema, mal reparando nas respectivas posturas.


E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Cristina:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Cristina:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Mónica:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Fernanda:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Mónica:

E depois, o Prof. Eduardo.

E depois, a Cristina:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Fernanda:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Mónica:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Cristina:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Mónica.

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Fernanda:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Cristina:

E depois, o Prof. Eduardo:

E depois, a Mónica:

E depois o Prof.Eduardo:
















QUARTO QUADRO



Um talho numa aldeola a meia encosta da Serra da Freita. Horas mortas do meio da tarde, quase sem a clientela que, ao fim e ao cabo, é a vizinhança. Conversa mole entre gerações, a entreter o tempo preguiçoso. Deserto dum povo esquecido, ignorado. E que espreita o mundo por um canudo.

Henrique, dono do talho, tio do defunto Dr. Francisco, e ti'Artur, um velho sapateiro-remendão que a idade tornou quase cego e paralítico. Hoje, por isto, um incapacitado a buscar companhia.




Entra Luísa e procura um banco para sentar-se e repousar. Vem açodada, um pouco tensa e a precisar de descontrair com uma pequena conversa informal, antes de retirar-se para o lar. Henrique vai-lhe buscar o saco onde já tem arrumada a encomenda do dia.


E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa.

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o ti'Artur:

E vai daí, a Luísa:

E vai daí, o Henrique:







QUINTO QUADRO



Engalanada em festa, a sala de convívio do Colégio do Bonfim. À roda duma mesa enfeitada, um grupo de antigos alunos, agora anciãos. Movimento de convidados e convivas que ora se juntam, ora se afastam da roda formada pelos que ali se sentam. Memórias de antanho que todos evocam é o que os liga e anima. Um círculo do tempo na cadeia das gerações. O Faria, o Ramiro, o Renato e o Ernesto puxam fios do passado de oiro velho, da poeira das memórias.


E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Renato:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ernesto:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ernesto:

E fez o Renato:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Renato:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Renato:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ernesto:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:

E fez o Faria:

E fez o Ramiro:

E fez o Ernesto:




FIM