POEMAS  REGULARES

 

 

 

Nunca

 

Nunca da vida a viagem

Vai ser o que cuidas ser.

Do sonho a vaga triagem

Vislumbras da meta a haver

Mas nunca o itinerário,

De tão caótico e vário.

 

Ninguém que é bem-sucedido

Soube como acontecer

Iria o sonho seguido.

Creu que ele iria ocorrer

E nunca mais desistiu

Enquanto em acto o não viu.

 

 

Caminho

 

O caminho para o sonho

É trilhar um labirinto.

Ir em frente se me imponho,

Vejo um dia ou dois que sinto,

Mas após virar a esquina

Que será que me destina?

 

Se houver becos sem saída,

Tenho de voltar atrás,

Se é um atalho para a ida,

Corro o mais que for capaz...

- Para o sonho o itinerário

É sempre um destino vário.

 

 

Ignoto

 

Do sonho o trilho viver

É viver uma aventura:

É o que vier eu antever,

Que é que o ignoto me apura.

 

Ninguém a quem eu admire

Nem ninguém em quem me inspire,

 

Principiou a viagem perto

De o desfecho antever certo:

 

A ideia, o fito da estrada...

Mas como atingi-lo, nada!

 

 

Beco

 

Do sonho quando a caminho,

De repente há uma parede:

Beco sem saída. Acede

Ao teu poder adivinho:

Há sempre outro modo de ir

Que tu poderás seguir.

 

Se a vitória for meu centro,

Então que a reviravolta

Não desencoraje onde entro:

- Pode o acerto ser a volta

Ali ao virar da esquina

Que o sonho então me destina.

 

 

Passo

 

Um passo de cada vez

É o que é urgente caminhar.

Seja qual for o entremez,

Sempre um passo podes dar.

 

O caminho é imprevisível.

Apostar nesta estratégia

É que tornando visível

Vai ao longe a meta egrégia.

 

 

Desperdice

 

Se não pode controlar,

Não desperdice energia

A tal ao se dedicar.

Pergunte antes, cada dia:

 

- Muito bem, se tem de ser,

Que é que então posso fazer?

 

É por esta alternativa

Que irrompe uma rota viva.

 

 

Concretizou-se

 

Um dia, ao virar a esquina,

De repente chegou lá:

O sonho a que se destina

Concretizou-se acolá.

 

Cada parede topada,

O caminho alternativo,

Foi por versão melhorada

Do sonho mais e mais vivo.

 

Todo o mal foi aparência,

Tudo são meros desvios

A melhorar a evidência

Do sonho sem desvarios.

 

 

Antagonista

 

O antagonista é presente?

Vai dele ser afectado.

Que o vitimize consente?

Então vai mudar o fado:

Ele atinge, de repente,

Seu objectivo danado.

 

O efeito que ele atingir

É por si determinado:

Decide como reagir

Ao que lhe ele joga ao lado.

Se permite que o afecte,

Logo em tudo se repete.

 

Mas se a si não desarmar,

Até poderá inspirá-lo

Forças a se renovar

Que mais vão impulsioná-lo

O sonho a concretizar

Por todo o tempo e lugar.

 

 

Outrem

 

Não deixes que outrem defina

Por ti cumes a visar.

É que todo o mundo opina,

Impossíveis a ditar.

 

Sempre despropositada

Há-de ser tal convicção.

Do que é possível jornada

Só quem a fez sabe o chão.

 

Sabe lá do que é que fala

Quem dela nunca fez gala!

 

 

Fica

 

Fica longe das pessoas

Que te querem depreciar.

Quem é mesquinho atordoas

E as asas quer-te cortar.

 

Quem for realmente grande

Faz-te sentir, de repente,

Que em ti há quanto te mande

A grande ser entre a gente.

 

 

Enfrenta

 

Quando enfrenta um desafio

E o ultrapassa, mais fé

Vai ter e com todo o ousio

Em si mais naquilo que é.

Pode então fazer melhor

Algo ainda de maior.

 

Os obstáculos transpor

É mesmo o maior presente,

Mais que os bens que ande a propor

Ao mundo que lhe ande em frente.

É um bem dentro em si criado:

Não lhe irá mais ser tirado.

 

Quando passa por desgostos,

Problemas, dificuldades,

Emerge bem mais a postos,

Por via das faculdades

De autoconfiança atingida:

Lavra dali nova vida.

 

 

Obstáculos

 

Obstáculos, desafios

São uma oportunidade

De melhorar, aprender,

No conforto a se perder,

Vivenciar de verdade,

Na teia de novos fios,

O que a vida realmente

Tem a oferecer em frente.

 

 

Cometemos

 

Cometemos muitos erros.

Nem sequer teria graça

Se saltássemos os cerros

Por simples, mera pirraça.

 

Sentir a dificuldade

É tornar interessante

Do jogo a sagacidade

Escondida em cada instante.

 

Não pode é ser tão frequente

Que então dê cabo da gente.

 

 

Único

 

O erro é uma oportunidade

De lograr a aprendizagem.

Único erro de verdade,

Da vida em plena viagem,

É não tirar a lição

Da primeira vez então.

 

De bom tem o Universo

Dar-me a lição outra vez,

Até de trás e través

Eu lhe aprender frente e verso.

 

E há-de sempre continuar

Até eu me revirar.

 

 

Derrota

 

A derrota celebremos:

Ela ocorreu porque agimos!

E a oportunidade temos

De ver onde nos ferimos.

Para o porvir da viagem

É certeira aprendizagem.

 

Temos de nos concentrar,

Que o erro não se repita!

Nova ideia encorajar,

Nova abordagem bendita,

Tentar sempre inovação,

Outra experimentação...

 

- O erro visto deste lado

Não pode ser censurado.

 

 

Cuidamos

 

Não somos independentes

Como cuidamos acaso.

Somos muito dependentes

Do que à sorte nos der azo,

De ouvir a oportunidade,

De gente de toda a idade...

 

E depois, pelo percurso,

Há sempre o milagre em curso.

 

 

Sinto

 

Quando tudo corre mal,

Me sinto desenraizado,

Se contra não é um sinal

Nem de vida dura o fado,

Antes será tempestade

Divina que então me invade.

 

Se é para o que em mim não serve

O melhor potencial

Eu arrancar que tal ferve,

A castigo não é igual,

Antes vem como benesse

Servir o meu interesse.

 

Então o meu pior dia

Poderia, ao invés, ser

O melhor dia que havia

De algum dia acontecer.

Por isto estou sempre grato

A qualquer tropeço em acto.

 

 

Trabalhar

 

Trabalhar pelo prazer

Apenas de trabalhar,

Segunda-feira acordar

Entusiasmado a se ver,

Se o que obra tanto adorar

A ponto de que umas férias

Não são remédio, são lérias,

- Isto é que é mesmo viver!

 

 

Corpo

 

O corpo tem os limites

Para comer ou beber,

Para o esforço que fizer...

Dos limites tem desquites

 

No poder de outrem servir:

Não há metro de o medir.

 

Os que aos mais se dão, matrizes

São do mundo dos felizes.

 

 

Toque

 

Fico de mim prisioneiro

Se o toque para a aventura

Recusar quando me abeiro

Do escuro que configura.

 

Prisioneiro de mim fico

Se recuso retribuir,

Da vitória quando ao pico

Eu eufórico subir.

 

Fico aqui tão encantado

E sinto-me tão feliz

Que não saio deste estado,

Não cresço mais, de raiz.

 

Ora, a viagem é incompleta

Se não pegar no elixir

Que lhe deu vida repleta

E ao mundo o distribuir.

 

Nisto é que a vida transforma

Em mais que da vida a norma.

 

 

Depois

 

Depois de toda a vitória

E de toda a recompensa

O coração vê uma glória

Maior que quenquer que a pensa:

Da fundura que haja em si

Emerge o herói que anda ali.

 

Tudo o que aprendeu na viagem

Partilha então com magia,

Melhorando na triagem

A vida da maioria.

Tenta dar a toda a gente

A ponta dum céu ausente.

 

 

Lugar

 

Vemos que amadurecemos

Se o lugar mais elevado

Dentro em nós compreendemos

Que é trepar ao de criado.

 

Quem nisto fica à vontade

É que vai ter uma vida

Que lhe há-de ser de verdade

Deveras bem sucedida.

 

A chave de ser capaz

De bem servir toda a gente

É humilde ser capataz,

O fito do bom servente.

 

 

Profunda

 

Com profunda gratidão

Por quem tudo o que é lhe deu

E profunda compaixão

Por quem luta e o fim não viu,

Irá mesmo retribuir,

Portas às vidas abrir.

 

O fogo de compaixão

Que sente é tão grande, grande,

Faça o que fizer então,

Que, por mais que dar comande,

O que mais quiser fazer

É mais dar sem mais fim ver.

 

 

Basta

 

À gente bem envolvida

Não lhe basta passar cheques,

Não vão ser gastos em queques

Nos cafés lá da avenida.

 

Tratam mais de garantir

Que o dinheiro se destina

A meio de a vida abrir

A quem mais requer da sina.

 

É a dádiva remetida

A quem quer mudar de vida.

 

 

Sós

 

Se alguém lhe pedir ajuda,

Dê o melhor para ajudar.

A ninguém, porém, acuda

Que a sós logre caminhar.

 

Inspire, encoraje e oferte

Mil meios para escapar:

Fortalece quem acerte

Da própria vida o lugar.

 

Reforce-o no que precisa

Para a vida ter que visa.

 

 

Ajudar

 

A felicidade haurida

De ajudar um outro humano

Leva a questionar se a vida,

Afinal, não é vivida

Para aqui chegar sem dano.

 

Maior do que eu, tal visão

Sem labéu nos toma a mão.

 

 

Todos

 

Todos têm o poder.

Largam-no em quem os rodeia

A opinar de boca cheia.

E olham donde tudo vier

Sem então reconhecer

Mérito ao que lhes ameia

Que criem tudo o que houver.

 

Deveras quase podemos

Criar quanto nós queremos.

 

 

Empatizar

 

Empatizar com alguém

Com enormes diferenças

Compromete-me. Porém,

Não enfraquece também

As minhas próprias sentenças.

 

Pelo contrário, me alarga

O meu limite de carga.

 

E alarga com novas pontes

Meus estreitos horizontes.

 

 

Dogma

 

Na cultura dominada

Por um dogma predador,

Vida em germe destinada

A vida velha regrada

A abolir, seja qual for,

 

Ficará presa de vez

E as vidas espirituais

De todos, presos os pés,

Travam todas nos sopés

De inanes medos reais.

 

Finda tudo em pesadelo

Dum ladrão de marcas tais

Que ninguém logrará vê-lo.

Só apontando-lhe os sinais,

Dele ameando aos tremedais,

Conseguiremos vencê-lo.

 

De inanes não morreremos

Apenas quando o enfrentemos.

 

 

Ambos

 

Cada um são sempre dois:

Este corpo que me exprime

E o meu imo, o mais sublime,

Dentro escondido depois.

 

O problema é harmonizar

Na encruzilhada da estrada

De ambos eles a pegada

Sempre a se desencontrar.

 

 

Bocadinho

 

Mesmo um bocadinho a mais

Do que é bom num mau momento

Desvia, em perdas reais,

A consciência onde assento.

 

Em vez da sabedoria

Irei caminhando à toa

Perguntando: “Onde é que eu ia?”

Tudo à volta me atordoa.

 

Custa às vezes dias, meses,

Recuperar dos reveses.

 

 

Aprender

 

O amante mais apreciado,

Progenitor mais querido,

Selvagem mais estimado

É o que aprender há querido.

 

O que não tirar prazer

De nenhuma aprendizagem,

Dum novo modo de ver,

Não logra mais, na viagem,

Do que o marco do caminho

Onde aguarda ali sozinho.

 

A energia que alimenta

A raiz de qualquer dor

É a recusa peçonhenta

De aprender seja o que for,

Sempre na cegueira assente

Do que é o momento presente.

 

É sempre ao saltar além

Que a dor se desfaz também.

 

 

Tarefa

 

Quando alguém quiser amar,

Então terá de aprender.

É tarefa singular:

Desafio tem de haver

Para haver transformação.

Ou não há satisfação

E perco a vida a correr

Sem mais sair do lugar.

 

 

Encontra-nos

 

Aquilo que procuramos

Anda de nós à procura:

Mesmo quietos se ficamos,

Encontra-nos com a cura.

 

A doença que em nós começa

Desconfiada em nós tropeça.

 

Então mostro à natureza

Quanto em mim enfim a preza

 

E da natureza a mão

Em geral tem solução:

 

Basta-me saber colher

O fruto que ela me der.

 

 

Dança

 

Amar é aprender os passos

Que na vida dão a morte,

Que na morte dão a vida:

Fazer amor dança os traços

Da dança que dança, à sorte,

Ou vida ou morte, à medida.

E quem ama anda a dançar

A dança que lhe calhar.

 

 

Mãe

 

Tens uma mãe vida fora

E tens sempre muitas mais,

A de sempre e as de agora,

E todas não são demais.

 

Filho não traz instruções,

Mas elas têm-nas todas,

As da vida que aqui pões,

As precisas e as das modas...

 

- Serve-te, portanto, delas

E abre a todas as janelas.

 

 

Procura

 

A procura do amor certo

Em qualquer lugar errado

É síndroma de exilado

Em nosso peito desperto.

 

Repete uma e outra vez

Comportamentos de perda.

Vitalidade não herda

Que os mitigue, pelo invés:

 

Vai promovendo mais danos,

Que a ferida original

Não vai tratando, afinal,

Mais magoam novos planos.

 

É pomada no nariz

Quando a ferida é no braço,

Ao companheiro um abraço

Num excesso que nem quis...

 

Nunca principia a cura.

Só parando de enganar-se:

Partida a perna, é um disfarce

Qualquer prazer que procura.

 

Só tratando da ferida

A cura vem de seguida.

 

 

Esconder

 

O desejo de pertença,

Quando for a qualquer custo,

A meu imo prega um susto

Que a se esconder o convença.

 

Não será muito melhor,

Muito mais emocionante,

Parecer o que se for

E os mais por igual adiante?

 

 

Fracasso

 

Fracasso não paralisa,

Não nos mantém estagnados.

A relutância que visa

Não retomar, por divisa,

É que nos mata aos bocados.

 

Começar, recomeçar

E sem nunca mais parar

 

É que me abrirá o caminho

Ao mundo a que me avizinho.

 

 

Hábito

 

O hábito da qualidade

Nosso gosto aperfeiçoa

E a exigência logo o invade:

É sempre uma meta boa.

 

Mas o da banalidade

De chegarmos nos impede

No final à qualidade:

Ninguém acrescê-la pede.

 

Medíocres quando somos,

Somos lixo e ali o pomos.

 

 

Permanente

 

O amor é sempre doçura

E permanente alegria?

Não, que a dor dele supura,

Sofrimento, dia a dia.

 

Desde então, de tenra idade

A fechar-me me persuade.

 

Finda o amor aprisionado

Por medo de ser magoado.

 

Então frio, egoísta e triste

Findo eu e o mundo que existe.

 

O amor, nesta insanidade,

Rouba em mim a humanidade.

 

 

Compense

 

Procuramos sempre alguém

Que nos compense do amor

Que cada por si não tem,

Um amor do qual ninguém

Poderá ser servidor

Senão o próprio, porém.

 

Assim é que começamos,

A nós mais ao outro, a par,

Não a amar mas a matar,

A matar quem mais amamos.

 

 

Preservar

 

Preservar um casamento

É sempre árdua tarefa.

Se idealizar o momento

Tal mar de rosas, a ceifa

 

Murcha a gratificação,

Frente ao que é realidade.

Leva os casais em questão

A abandonar logo a herdade.

 

Vai-se a vida num momento:

Impedem o crescimento.

 

 

Propósito

 

Todos temos neste mundo

Um propósito a cumprir,

Único, sem mais segundo

Que por nós o venha a urdir.

 

Se com outrem me comparo,

É que nisto nem reparo.

 

Porém, não é inofensivo:

Pedras semeia em meu crivo.

 

Dividindo-me dos mais,

Nem eu serei eu jamais.

 

 

Pagar

 

Pagar na mesma moeda

A todos arrasta em queda.

 

Senão quando é positiva:

Esta é que fará que eu viva.

 

Entre o ódio e o amor

Tenho a escolha do teor:

 

No amor dou e sem medida,

No ódio mato outra vida.

 

Se não estiver atento,

Troco rápido de intento,

 

Ódio vou juntar ao ódio

E do amor me finda o bródio.

 

 

Pendor

 

A amizade ajuda a ver

Um outro pendor do mundo

Pelos olhos que tiver

O meu amigo, fecundo.

 

Então, meu ponto de vista

Único além de não ser,

Na nova mira entrevista

Pode errar como qualquer.

 

Logo fico mais ciente

Do que é minha imperfeição.

Compassivo sigo em frente

Mais com toda a gente então.

 

 

Liberta

 

Pensar sempre bem de alguém,

Desejar-lhe o bem maior

Liberta o amor que se tem

Represo em nosso interior.

 

Varridos da vida os pós,

Aí é que somos nós.

 

Mais ainda se perverso

É aquele sobre quem verso:

 

- Aqui é a raiz de mim

Que persigo até ao fim.

 

 

Deveras

 

Nunca estamos preparados

Deveras para ser pais.

As crianças são cuidados

E não terminam jamais.

 

Só cresceremos com elas

De obrigados às sequelas.

 

Nada é fácil para os pais:

- Terão de inventar-se tais.

 

 

Brinquedo

 

O brinquedo não tem sexo:

Boneca para o rapaz,

Carro para a rapariga...

Nunca a identidade o amplexo

Com aquilo a contrafaz,

Não é com isto que briga.

 

É de equívocos modelos

De pai, mãe ou da família,

A operarem sem vigília,

Que podem vir atropelos.

E onde opera o preconceito

Muita lesão rasga a eito.

 

 

Valoriza

 

Uma criança feliz

É esperança e humildade,

Valoriza de raiz

O que faz bem de verdade.

 

Se se engana, é corrigida,

Se nem tenta, é repreendida...

 

- Apoiada nestas baias

Não será um tem-te-não-caias.

 

 

Bons

 

Os bons pais também sempre erram.

E são bons se reconhecem

Um erro em que não se encerram

E aprendem para o que tecem.

 

Longe de provocar dano,

Provocará crescimento

Na vida qualquer engano:

É bom então o momento.

 

Dum erro aqui os sinais

São prendas das mais vitais.

 

 

Adora

 

O bom pai adora os filhos

E adora ficar sem eles,

Não se sequestra aos cadilhos

Com que lhe prendem as peles.

 

Namoram todos os dias?

- Melhores são então pais.

Aos avós filhos confias?

- Mais os filhos amar vais.

 

 

Feliz

 

Ninguém é feliz se tem

De ser o melhor do mundo.

Bastará ser para alguém

O melhor, lá bem no fundo,

Para alguém que lhe quer bem.

 

Tudo o mais é fantasia

Por não ver bem como é o dia.

 

 

Aumenta-lhe

 

Na criança, a autoridade

Aumenta-lhe a tolerância

À frustração: persuade

Que omnipotente ali há-de

Ser apenas qualquer ânsia.

 

Entre aquilo que desejam

E aquilo que após conquistam

Só mil trabalhos vicejam

E as afoitezas que ensejam

Sempre, mal a meta avistam.

 

Depois há prioridades

Nas urgências a escolher:

Sonhos suprem as idades,

Caprichos são veleidades,

Fumo a se desvanecer.

 

Aprendem, pois, a lutar

Pela forte convicção,

Tempo ao tempo então a dar

Para à conquista chegar,

Dure o que durar então.

 

Paixão com sabedoria

A entrosar então aprendem.

Humildade na alegria

Logo os robusteceria

E a ser capazes mais tendem.

 

 

Risco

 

Não há nunca um medo parvo.

Quando na terra lhe escarvo,

 

Descubro que tem por trás

Dum risco o aviso veraz.

 

E mais se o papão do medo

Me desafia o meu credo

 

E mais quando ele resiste

Às mezinhas que lhe aliste.

 

 

Transmite-se

 

O medo nunca se pega

Mas transmite-se, discreto,

Num olhar de vista cega

Invisível em concreto:

 

Gesto em que nem reparei

Semeia-o por toda a grei

 

E quenquer perde a medida

À fundura pressentida.

 

 

Evito-o

 

O medo é sabedoria:

Quando algo a mim me magoa,

Evito-o no dia-a-dia.

Se a mais em mim não ecoa,

Protege do que viria.

 

Evitá-lo é protector.

Demais, porém, prende a ele.

Do “quanto baste” senhor,

Livro-me do que atropele,

Pára-raios ao me impor.

 

Quando eu proteger demais,

Então deixo de arriscar,

Destemido não sou mais.

Medo ao medo cultivar,

 Maus serão sinais vitais.

 

 

Racionalizá-lo

 

Qualquer medo é irracional,

Racionalizá-lo, prende.

Sob uma cama, afinal

Não há monstro? A gente entende,

Mas não será que algum dia

A verdade mudaria?...

 

Porque, afinal, o que conta

É se irei contar contigo,

Em vez da conversa tonta

A tentar pôr-me ao abrigo.

Vais-lhe dar um pontapé,

Seja lá o que for que ele é?

 

Isto, sim, é que é preciso,

Não a falta ver de siso.

 

 

Condicional

 

Criança que apenas brinca

De adulto sob direcção

A liberdade só trinca

Condicional ao portão,

Ave a só se imaginar

Que um dia pode voar.

 

Então é só desamparo

E devia ser a festa

A que apenas o anteparo

Contra uma lesão se apresta.

Não é meta educativa?

Faz, porém, que qualquer viva.

 

 

Erram

 

Os pais erram, erram, erram,

O que é sempre muito bom

Quando eles se não aferram

A iguais gestos de igual tom.

 

O que teima que é perfeito

Olha a si, não à criança,

Nunca mais apanha o jeito

Que o fito da vida alcança.

 

Só na tentativa e erro

Os desafios descerro.

 

 

Sabido

 

Como conhecer melhor

Se melhor me desconheço?

Um aluno sabedor

É um sabido em que tropeço

 

E apoio aquele que é certo

Contra aquele que é desperto.

 

Ora, o que for desbocado

É que o sabor tem tomado

 

Ao saber, quando ele o atinge,

Mesmo se ignorá-lo finge.

 

 

Técnica

 

É a técnica eficiência,

Não torna ninguém melhor.

Mas onde a clarividência

De ser empreendedor

Onde houver inteira ausência

De ser compeendedor?

 

É, porém, sempre possível

Esquartejar o vivível.

 

E há tantos esquartejados

Sem ver o rombo dos lados!

 

 

Dor

 

A dor nunca se elogia,

Porém sem dor não crescemos

Para viver a alegria

Da humanidade que temos.

 

É sempre a dor que sentimos

Do mal feito ou que nos fazem

Que obriga a escolher os cimos

Do ser que mais nos aprazem.

 

Serei o que quero ser

Do mal por contrapoder.

 

 

Tornar-nos

 

A dor culpabilidade

Traz, a tornar-nos pessoas:

Transformo a realidade,

Troco as coisas más por boas.

 

Com culpa, não, que me prendo

Ao passado a que me rendo.

 

Ora, a culpabilidade

Livra-me disto deveras:

É a responsabilidade

Assumir mudando as eras.

 

Aqui vou sempre aprender,

Corrigir e vir a ser.

 

 

Inflicção

 

A inflicção de sofrimento

Sem a culpabilidade

Que o repare no momento

É a violência da maldade.

 

É o domínio sem castigo

Sobre o mais fraco em perigo.

 

A vítima experiencia

A morte que principia.

 

 

Perder

 

A violência sempre mata,

Menos fora e mais por dentro.

Criança que se maltrata

Vai perder da vida o centro:

 

Corrói a fé na família,

O entusiasmo pela vida,

A esperança na vigília

Do porvir que haja em seguida...

 

- Não há mais curiosidade

No rumo da liberdade.

 

 

Crianças

 

Crianças e adolescentes

São antes protagonistas

Nas vidas dos pais presentes.

Pagam, porém, pelas vistas,

 

As facturas adiadas

Das vidas dos pais falhadas,

 

Tanto sonho, estes, traído

Teimam ver hoje cumprido!

 

 

Curso

 

Ter um curso superior

Há-de ser sempre melhor

 

Que um sonho que desentranha

A fundura que nos ganha?

 

Ora, este é que alimenta

A tentativa, o fracasso,

E configura na ementa

Cada passo, passo a passo.

 

Somente o sonho acarinha

A espera que se avizinha.

 

 

Perca

 

Ninguém vai correr com gosto

Para ir de perca em perca.

Aí abandona o posto,

Outro busca no que o cerca.

 

O novo rumo que apanha

É aquele por onde ganha.

 

E o maior ganho de todos

É ter de quem ama os bodos.

 

 

Falamos

 

Falamos mas, ao falar,

Poucos de nós falam claro.

Falar implica escutar,

Implica o caminho raro

De ir de quanto se souber

Ao que nos leve a aprender,

 

Ir de tudo o que sentimos

Ao que nos farão sentir.

As contradições subimos

Às sínteses que hão-de vir.

Pensar, se premonitório,

Tem sempre contraditório.

 

 

Conviver

 

O adolescente, poupado

Ao sofrimento marcado

Outrora, em vida, nos pais,

De tão mal habituado,

A falhar tem acabado,

Por não ver o que é derrota

Nem negativa uma nota.

 

Conclui depressa demais,

Ante qualquer desafio,

Que nunca terá o ousio

Que ousaram seus ancestrais.

 

Terá de prioridades

Definir e de ir a jogo,

A lutar com todo o fogo,

De aguardar com propriedades

Que permitam esperar

Da vida o que lhe calhar.

 

Doutro modo, cada dia

Só derrota prenuncia.

 

 

Projectam

 

Os pais projectam nos filhos

Os sonhos adormecidos,

Que resgatem tempos idos

Aguardam com mais atilhos.

 

É o que atrapalha demais

A relação que costuro

De passado com futuro,

Do íntimo nos tremedais.

 

Do jovem é cada escolha,

Sua mas compartilhada.

Nunca de tudo na estrada

Se pode fazer recolha.

 

Partilha, pois, erro e sonho

Vida fora cometidos.

Não somos deuses caídos

Nem um modelo que imponho.

 

E dos jovens a saída

Aos sonhos dá mais guarida.

 

 

Quero

 

Quando quero um filho bom,

Quero-o leal, competente,

Ou quero trocar de tom

E que dos mais ande à frente?

 

Quando o quero realista,

Aquilo que lhe proponho

Não é que o real em vista

Lhe matará todo o sonho?

 

- O melhor querer ali

É a melhor versão de si.

 

 

Recantos

 

Em relação ao trabalho,

O trabalho está primeiro

E só depois a paixão:

É que bate muito o malho

Até vermos o carreiro

Que trilhar, com lentidão,

Recantos do coração.

 

 

Aberta

 

Uma escola aberta ao mundo

Tem de trazer dentro em si

Mestiçagens de que abundo,

Contraditórias, no fundo.

É cosmopolita ali.

Só então é família humana

Colegial que dela emana.

 

 

Trabalho

 

O trabalho, antigamente,

Poupava algum sofrimento,

Oportunidade ingente

De alguém atingir, com tento

E com força de vontade,

Um naco de liberdade.

 

Hoje em dia a vocação

Do trabalho é ser paixão.

 

 

Saber

 

Saber compartimentado

Leva a aprender descolado:

Conhecimento vizinho

A viver ali sozinho,

Mesmo se viver ao lado.

 

Então, mesmo se se tenta,

Mal se a gente cumprimenta.

 

 

Aprendo

 

Aprendo mais facilmente

Tudo aquilo que tiver

Um pendor de utilidade.

Porque a vida realmente

Fica mais simples se houver

De meu rosto a identidade.

 

Nisto então fácil devém.

Não sem o simples primeiro

Ser o que busca, porém,

Por caminho pioneiro.

 

Se no fácil principiar

Nunca ao simples vou chegar.

 

Só pelo inverso caminho

Desperto em mim o adivinho

 

E farei de construtor

Então dum mundo melhor.

 

 

Prazer

 

O prazer é o importante

Para nós e para os mais.

Aceitá-lo vida adiante

Serão de sábio sinais.

 

É comunhão entre a gente,

O que mostra, de repente,

 

Dia a dia, dia a dia,

O invés da xenofobia.

 

Onde se ensina o prazer

É a vida simples tornar.

Ensinar há-de então ser

Para o amor educar.

 

 

Resolverem

 

Por resolverem problemas,

Os pais levam as crianças

A serem, nos próprios lemas,

Pouco expeditas nas franças

De autonomia que têm.

 

Depois vão querer que o mundo

Lhes caia nas mãos a bem,

Sem o merecer, no fundo.

 

Um atleta destreinado

Pode ao pódio ser alçado?

 

 

 

Crónica

 

Os pais hão-de resgatar

Um filho da situação

Duma dor a se tornar

Numa crónica lesão.

 

É que uma dor passageira

Trigo do joio peneira,

 

Ajudando a discernir,

Melhor abrindo ao porvir.

 

Dor crónica ao se tornar

Finda até por amputar.

 

 

Erram

 

Os pais erram muitas vezes

E mais erram quanto mais

Tentam evitar reveses:

 

Menos vivência de pais

E mais erram na medida;

O mesmo, quão mais amais,

 

Que a censura é elidida...

Os erros são do que educa:

Quem não erra nesta vida

 

Nunca aprende e já caduca.

Quanto mais a gente errar,

Maior nos cocega a nuca

 

A oportunidade a dar

De cada um melhorar.

 

 

Pesa

 

No bebé nós projectamos

Os pais que sempre tivemos,

Os que desejamos ter,

Os que imaginemos ser,

Os filhos por que ansiamos

E que à mão construiremos...

 

- Do bebé na mão furtiva

Pesa tanta expectativa!

 

 

Primeira

 

Primeira função dum berro

Não é nunca a de educar.

Desabafo a aliviar

Alma a escapar-se dum erro,

Abre portas a arejar.

 

Lugar à clarividência

Criará com o à-vontade

De quem buscar com premência

O primado da bondade.

 

 

Isolamento

 

Todo o isolamento gera

A urgência de buscar muito

E navegar na galera

De todo o humano circuito.

 

Mas o poder de criar

É um reduto interior

Onde não há legislar

Nem índice redutor.

 

Só que a criatividade

Aprende, das ousadias

Doutrem, luminosidade

Com que acende as novas vias.

 

 

Ilha o imo é universal

Mas não há sobreviver

Na asfixia ali letal:

Só o além nos vai valer.

 

E, todos sendo tal ilha,

Só o Infindo maravilha.

 

 

Cuida

 

Comunidade decente

Cuida primeiro dos fracos,

Como faz a boa gente,

Sem fora deixar buracos.

 

Pois qualquer desigualdade

Matará sempre as pessoas

E as economias há-de

Matar, que ali não são boas.

 

Desigualdade conduz

À económica paragem

E ao declínio que traduz

Da humanidade a travagem.

 

 

História

 

A história local:

Única existente.

Já que toda a gente

É cega, afinal,

A tudo o que além

Do horizonte advém.

 

Medir o Universo

É medir meu berço,

 

Mas deitando abaixo

A grade onde encaixo.

 

 

Patamar

 

Em quanto digo há sempre algo

De verdade e de inverdade,

Que o patamar nunca galgo

Último da realidade.

 

A questão que se coloca

Não é de ser verdadeiro

Mas ser franco no que toca

Ao que atinge meu luzeiro.

 

O mentiroso o que mente

É o avesso do que sente,

 

Que, se mentira o direito,

Era de todos o jeito.

 

 

Servir-se

 

A culpa e a punição

Determinou-as a lei.

Problema é que nunca sei

Quando a lei é justa ou não.

- E quando ela é a do ladrão

A servir-se feito rei?

 

Este é o ponto que mais dói,

Que história além sempre foi,

 

Ao manter-se renitente,

A morte em guerra da gente.

 

A inaugurar, de seguida,

Rumos outros noutra vida.

 

 

Primeira

 

A primeira reacção

Ante qualquer ameaça,

Venha da televisão

Ou do ataque da pacaça,

É ter à mão, a fisgá-la,

Algo com que eliminá-la.

 

Nós e ancestrais primitivos

Jogamos iguais arquivos.

 

Do pau e da pedra ao tiro

É o progresso que confiro,

 

Mas nós não mudámos nada

Ao correr da infinda estrada.

 

 

Dilemas

 

Dilemas de toda a infância,

Dilemas de toda a vida...

A pertença ou a traição?

A dádiva ou a ganância?

Grupo forte que me elida,

Matando-me o coração,

Ou coragem de assumir

Quem sou eu sem me trair?...

 

- Sempre a escolha nos peneira

De hora prima à derradeira.

 

 

Tempo

 

Na notícia o tempo vário

É todo extraordinário:

 

Tudo é o melhor dos melhores

Ou o pior dos piores.

 

Na informação é normal

Quanto for excepcional.

 

Terrivelmente inseguros

Findamos no mundo, impuros.

 

O excepcional é tão raro

Que com ele não deparo,

 

Desesperado por ir

De algum modo o conseguir...

 

- Findo aqui amarfanhado

Por me deixar ter levado.

 

 

Bonito

 

Há tanto que não sabemos!

É o que é bonito na vida.

As certezas que nós temos

São a morte desferida

Ao sonho que nos convida.

 

Fecham-nos o coração,

Os olhos, os horizontes.

Já não temos mais à mão

Para o infindo quaisquer pontes.

- Que além nos resta que apontes?

 

 

Ando

 

Não ando a pagar impostos

Quando tudo corre bem:

Invisto em comunidade.

Reduzo o risco de além,

A incerteza dos supostos,

Entre todos a ansiedade.

 

Num Estado-providência

Não há infeliz existência.

 

E na convivialidade

Partilho a felicidade.

 

 

Padrão

 

O padrão dum equilíbrio

Entre a vida e o trabalho

É que me evita o ludíbrio

De eu ser o custo que valho.

 

Sou meu tempo de brincar

E de jantar em conjunto,

O dia quase a findar,

Partilhando pão e assunto.

 

Isto é que, bem amanhado,

De feliz dá resultado.

 

Nisto é que somos amigos,

Não estranhos aos postigos.

 

 

Dá-me

 

Põe-me alguém a mão no ombro,

Dá-me um beijo caloroso,

Faz-me uma festa no rosto...

- Já não sou mais este escombro,

Sinto-me feliz, com gozo,

Calmo, da vida em meu posto.

 

Nosso corpo assim funciona,

Maravilha a ter-me à tona.

 

 

Rede

 

Com os amigos chegados

Em rede comum coesa,

Todos juntos recordados,

Conhecidos sem surpresa,

- É tão grande o benefício

Que chega a valer suplício.

 

Porém, para o recém-vindo,

É bem demorada a entrada:

É um estranho e então eu findo

Sempre a ignorar-lhe a chegada.

Todavia, quando eu entro,

Então de vez fico dentro.

 

 

Confeccionar

 

Quão mais tempo demorar

A confeccionar comida,

Se o momento partilhar,

Mais gozo gozo à medida.

 

A cada dentada dada

Recordo aquele Verão

Da fruta a ser apanhada,

Da casa a cheirar a pão...

 

Demorar horas no forno,

O fogão em lume brando,

E a gente a falar em torno,

Novas do mundo aflorando...

 

Para quê me levantar?

Só mesmo o copo de vinho

Para, no que está a guisar,

Lá deitar devagarinho...

 

O processo mais importa

Do que o produto final:

Nele é que em mim abro a porta

Para ser meu ser real.

 

 

Mais

 

Um lar que tem interior

Tem mais que decoração

Como seu vero factor,

É também a sensação

Que as peças a nós nos dão,

Da vista e toque o teor:

Variedade de texturas

Dessedenta das securas.

 

 

Andamos

 

Andarmos de bicicleta

Torna-nos bem mais felizes

Que ir de automóvel à meta,

Transportes doutros matizes.

E quem é feliz detecta:

- Que bom ir de bicicleta!

 

Ela aumenta, comedida,

Nossa esperança de vida.

 

Têm da bicicleta os pares

Mais eventos comunais,

Mais encontros familiares

Que os do automóvel rivais.

Delas corre um corropio?

- Vivo num bairro sadio!

 

 

Reconforto

 

Reconforto aconchegante,

O do estralejar da lenha

Crepitando hilariante

Da lareira sobre a penha.

 

Pingos da chuva a cair

Do telhado bem seguro,

Vento lá fora a zunir

Nas fendas que abrem no muro.

 

As árvores num adeus

Entre rameiras trocado...

E que cheirinho dos céus

Vem ali dum cozinhado!

 

O ribombo do trovão

Aqui bem dentro de portas,

Seguro em meu firme chão,

- Que aconchego em minhas hortas!

 

 

Cheirinho

 

Que cheirinho a antigamente,

Ao quinteiro bem seguro,

À padaria em que a gente

Comprava da vida o apuro!

 

À macieira de infância,

À ramada amadurando,

Às ervas onde a elegância

Dormia de vez em quando!...

 

- O aroma, por todo o lado,

Dum viver bem descansado.

 

 

Vencer

 

Permanecer dentro e quente

Num lugar onde faz frio

É deveras diferente

De estar quente simplesmente,

É vencer o desafio:

 

Confortável e viril

Ficar num ambiente hostil.

 

 

Pequeno

 

A felicidade

É o pequeno nada

De prazer que me há-de

Convir hoje à estrada.

O que todo o dia

Corre, por magia,

 

Mais do que o pedaço

Duma sorte grande

De ocorrer escasso,

Por mais que a demande.

O que raramente

Acontece à gente.

 

 

Obcecado

 

Obcecado por alguém?

Por amor, não, é por medo:

De ficar só vida além,

Ou de o não amar ninguém,

De nem valer um apego,

 

Medo de ser ignorado,

Destruído, abandonado...

 

- “Mesmo que me falcatrue,

Que alguém tal me apazigue!”

 

Por aqui o amor não chega:

Não é amor, é uma refrega.

 

 

Mede

 

Do amor a profundidade

Não se mede pela dor.

É uma festa de igualdade,

Sem um manipulador

Nem doutrem explorador,

As mãos dadas de verdade,

Cada qual um semeador

Da própria autenticidade.

 

 

Bela

 

Quando a bela o monstro aceita,

Não procura convertê-lo,

Ama-o no que é, sem despeita,

Vive um cotio singelo.

Acolhe a realidade,

Sem doutra a necessidade.

 

Vem daí felicidade,

De ambos serem o que são

Sem qualquer necessidade

De nenhuma conversão.

É uma paz sem mais fastio

Ante qualquer desafio.

 

Cada qual, sendo feliz

Ao caminhar nesta via,

Busca mais e mais perfis

De mais feliz, cada dia.

Para sempre então quenquer

Pode vir a feliz ser.

 

 

Rumando

 

O casamento é viagem

Rumando ao desconhecido,

Descobrindo, na romagem,

Que a partilha de sentido

 

É do que um do outro não sabe

Mais do que sobre si mesmo

Não sabe e jamais acabe

De desvendar, vida a esmo.

 

 

Sempre

 

Sempre o amor é um invisível

A se visibilizar,

Tão real e mais sensível

Do que as águas, do que o ar.

 

É sempre uma força viva

Em acção e movimento.

Move ondas de forma esquiva,

Corrente a todo o momento,

 

Tal e qual e sem engano

Como qualquer oceano.

 

Contudo, ninguém o vê

Nem tira a forma do pé.

 

 

Semelhante

 

A lei da atracção ordena:

O semelhante se atrai.

O que dás, cumprida a cena,

Volta atrás e em ti recai.

 

Aquilo que à vida deres

É o que à volta receberes.

 

Recebes sempre de teu

O que iguala o que se deu.

 

Ofereces positivo?

Positivo tens de volta.

Ofereces negativo?

Tens o negativo à solta.

 

Pensamento e sentimento

Fermentarão teu agir

E ora tu terás tormento,

Ora o céu a se te abrir.

 

Não é só quanto acontece

À vida no teu lugar:

Recolhes quanto oferece

Teu pendor de semear.

 

E aquilo com que medires

Mede-te a ti, se bem vires.

 

 

Pensamento

 

Pensamento positivo

É do que deseja e ama.

Pensamento negativo

É do que não quer nem gosta.

Naquele a vida se acama,

Neste foge em dar à costa.

 

Questão é que a maioria

Fala mais do que não gosta

E assim priva cada dia

De ganhar a boa aposta:

A vida segue a corrente

Do pensamento vigente,

 

Mesmo quando o repudie:

Se o tem, faz que se lhe alie.

 

 

Poder

 

Tens poder ilimitado

De pensar e de falar

Do que amas, por todo o lado:

Tens poder ilimitado

De o que for bom acartar,

As prendas boas da vida,

Até ti, sem mais medida.

 

 

Cuidas

 

Se cuidas que ficas bem

Só quando algo conseguires,

Desafias vida além

Do amor a função que tem

Mais a lei de o atingires:

 

Nada perde para trás,

Dá-te a vida o que lhe dás.

 

Se hoje só lhe dás tristeza,

Triste teu amanhã preza;

 

Se hoje teu culto é alegria,

Multiplica-la em teu dia.

 

 

Tema

 

A vida não te acontece,

A vida vem responder-te.

Cada tema que aparece

Foi chamado em tua prece

Pelo que emites solerte:

 

Tudo, tudo em tua vida

Tem o teu molde à medida.

 

 

Primeiro

 

Primeiro tens de emitir

Bons sentimentos além,

Deves feliz te sentir,

Felicidade também

Em teu redor espargir

 

Para receber matizes

Em tua vida felizes.

 

O que receber quiseres

Primeiro vem do que deres.

 

 

Nada

 

Daquilo que nos importa

Nada nos vem do exterior,

O que exorta ou não exorta

É sempre escolha interior.

 

Há, porém, tanto despiste!

Há muito quem até creia

Que o interior não existe,

Só do exterior preso à teia.

 

E nem vê que uma tal crença,

De íntima escolha despiste,

Prova o inverso da sentença!

 

 

Tudo

 

Culpa, críticas, culpados,

Queixas, negatividade,

Tudo conflitos tramados

Nas tramas de cada idade.

 

Queixas dos filhos, do clima,

Do trânsito, do Governo,

Do parceiro que não rima,

Das filas de atraso eterno,

 

Do corpo, da economia,

Das refeições, do trabalho,

Dos preços que eu pagaria,

De empresas onde não calho...

 

Niquices inofensivas?

Antes cargas negativas!

 

Depois queixo-me, infeliz...

- Mas cultivo-as de raiz!

 

 

Limpa

 

Limpa do vocabulário

O terrível, o nojento,

O refalsado fadário...

- De emoções negras invento.

Palavras tais, proferi-las,

A ti voltarão em filas.

 

Bem melhor é o fabuloso,

O fantástico, o brilhante,

O incrível, maravilhoso...

- Abrem-te estrelas diante.

 

Com o amor ou te harmonizas

Ou para o inferno deslizas.

 

 

Ajuda

 

Dás uma ajuda a um amigo

E não fazes ligação

Quando após o teu patrão

Vier pôr a teu abrigo

 

Os bilhetes para um jogo

Que vos trará desafogo.

 

Aquilo que receberes

Vem sempre do que antes deres.

 

 

Presente

 

A vida maravilhosa

E protegida do mal

Poderá ser a que goza

Presente aqui bem real.

 

Transmude-se numa força

Positiva e condições

De aconchego por que torça

Vão atrair-lhe os serões.

 

Gozará toda uma vida

De abundância revestida.

 

 

Piloto

 

Pôr em piloto automático

Emoções e sentimentos

É sempre o modo dramático

De andar ao sabor dos ventos.

Tudo mera reacção

A quanto ocorrer então.

 

Não vêem que os sentimentos

São a causa que precede

Qual o teor dos eventos

Daquilo que lhes sucede.

Nunca descobrem o centro:

- Que a causa lhes mora dentro.

 

 

Oportunidade

 

Todos os dias serão

Oportunidade nova

Para nova vida. Então,

Cada dia posto à prova

Será um ponto de viragem

Da vida para a romagem.

 

É que qualquer dia pode

Mudar de vez o futuro:

No melhor teor que lhe acode

Mude o que sente, seguro.

Ao mudar o que sentir

Inaugura outro porvir.

 

 

Ponta

 

Cada momento da vida

Pode uma ponta criar

Do Infinito com que lida.

 

E todo o Cosmos a par

Apresenta uma abundância

Infinita a recriar.

 

Faz, portanto, até com ânsia,

O teu pedido bem claro

E tudo, embora à distância,

 

A ti chega a dar-te amparo:

É teu coração de infância

Abraçando um Céu bem raro.

 

 

Usa

 

Usa a mente a te focar,

Imagina o que desejas,

Vê-te lá, que é o teu lugar,

A operar tudo o que almejas.

Imagina, ao fim da luta,

Que tens quanto se disputa.

 

É por aqui o caminho

De teus ovos pôr no ninho.

 

A vida irá duplicar

O que investes neste andar.

 

 

Ama

 

Quando estás visualizando,

Ama aquilo com que sonhas,

Sente o chão já lá pisando,

Vê-te a agir no que lá ponhas.

Sente que já tens, enfim,

O que desejas no fim.

 

A tua imaginação

Liga-te ao que tu desejas,

Teu desejo atrai o chão

De seres tu quanto almejas.

- Do porvir a eficiente arte

Ei-la aqui de tua parte.

 

 

Mente

 

Da mente dum mestre

O vero segredo

Em que bem me adestre

Da vida em meu credo

É como usa então

A imaginação:

 

Ao que não quiser

Nunca dirá não,

Diz sim ao que quer.

 

Não há desperdício

Na rota seguida,

Tudo é benefício

Pelas mãos da vida.

 

 

Campo

 

Aquilo que determina

Se é meu campo de atracção

Positivo ou negativo

É sempre minha emoção.

O sentimento combina

O tom do mundo em que vivo.

 

É o que atrai tudo o que é bom

Ou tudo o que for malsão.

 

Sempre que amor emitir

Ao sentir, falar e agir,

 

Encho mais uma mancheia

De amor ao que me rodeia.

 

Quanto mais amor houver,

Mais o que amar irei ter.

 

 

Força

 

Perante a força do amor

Nada é grande em demasia,

De distância nem um ror,

Nem barreiras a se opor,

Nem o tempo o pararia...

 

Poderei mudar na vida

Tudo aquilo que quiser,

Dominando em cada ida

Do Cosmos a desmedida

Força maior e poder.

 

- Basta-me em tudo emitir

O amor fundo que sentir.

 

 

Maior

 

Por maior que seja

O desejo a ter,

Só um ponto é que eu veja

No infindo do Ser.

 

Ante o imenso Amor,

O que eu desejar

Mais pequeno um ror

Que um ponto tem ar.

 

Tão irrelevante!

- Porque temo o instante?

 

 

Imaginas

 

Se imaginas o melhor,

O melhor te é devolvido.

Se imaginas o pior,

O pior te é remetido.

 

Nunca poderás falar

Daquilo que não desejas

Sem te sentir mal, a par,

Que o mal sentes mal o vejas.

 

Tal é, porém, nosso vício

Que até falar lhe é propício.

 

Quem tal hábito inverter,

Que gozo em vida irá ter!

 

 

Passeia

 

Quando o teu carro de sonho

Passeia à frente na rua,

É a vida, com ar risonho,

A dizer: que escolha é a tua?

Se sentes por ele amor,

Junto a ti to virá pôr.

 

Se for inveja ou ciúme

Por outrem o conduzir,

Tudo então se te resume

A deixá-lo de vez ir:

Queres mal ao condutor

E a vida o mal vem-to impor.

 

Quando um grande amor procuras

E vês um casal feliz,

De que lado é que tu juras

Tua busca de raiz?

Ficas triste e solitário?

- Negra vida é teu fadário!

 

Quando tens o peso a mais

E vês um corpo perfeito,

Que sentimentos reais

Te cruzam então o peito?

São maus por não auferi-lo?

É dizer: “Não quero aquilo,

 

Quero o corpo volumoso

De que ando aqui pendurado!”

Logo o Cosmos, pressuroso,

To irá dar bem aumentado.

Só quem amar a saúde

Saúde atrai que o ajude.

 

Quando te sentires bem

Com algo que alguém possui,

Para ti o atrais também

Através de quanto flui.

Ser feliz, se te convida,

Sente-o, que to traz a vida.

 

Quando alguém se entusiasmar

Com um qualquer benefício,

Vai com ele partilhar

Sem de azedume resquício.

Se emites amor do evento,

Dá-se-te este em alimento.

 

 

Atrais

 

O amor dá-te o que lhe deres,

Tu atrais o que projectas:

Na lei da atracção tu geres

O mundo em tuas paletas.

 

De tudo e todos partilhas,

Tu és tudo, não há ilhas.

 

Ante tal lei mais ninguém

Existe: o Todo o contém.

 

É contigo e cada um:

Fora não há ser nenhum.

 

E com cada qual é o mesmo:

Atrai só quanto ama a esmo.

 

Se se enganar e diz não,

O que o não diz vem-lhe à mão.

 

Com outrem se alguém se aflige

É a si próprio que isso inflige.

 

Ama o que queres na vida,

Que vem velar-te as apostas.

Ao que não amas revida,

Vira-lhe de vez as costas.

 

 

Dívida

 

Mesmo ao fim de todo o tempo,

Jamais o Sol diz à Terra:

“Por quantas vinhas eu empo,

Em dívida estás que aterra

Eternamente comigo.”

Antes do amor sob o abrigo

É só gratuito parceiro:

- Ilumina o mundo inteiro!

 

 

Multiplica-o

 

Por mais que tenhas amado,

Multiplica-o cem, mil vezes...

Limite não há traçado

Para o amor, sem que o tu leses:

Não há tecto para o amor

E é tudo em teu interior.

 

É que tu de amor és feito,

É o âmago do Universo,

Da vida, da natureza.

Na abertura, nosso peito

Ao Infinito é converso,

Só o ilimitado preza.

 

Podes amar muito mais

Do que imaginas jamais.

 

 

Desaparece

 

Pela vida apaixonado,

Desaparece o limite.

Na alegria, amor sonhado,

Na saúde, num palpite,

Mesmo na felicidade,

Tudo a festa, tudo, invade.

 

Com um retoque de nada

Vai-se a negatividade.

Muito mais que uma jornada,

Tudo é uma oportunidade.

De entusiasmo repleto,

Viver é um fervor completo.

 

Tão leve como uma pluma,

Tudo o que amar cai-lhe aos pés.

Paixão pela vida assuma:

O Infindo, de lés a lés,

Abre-lhe o ilimitado,

Invencível se há tornado.

 

 

Procura

 

Procura aquilo que amares,

Os prédios, carros, estradas,

Os cafés, os restaurantes,

De venda quaisquer lugares...

Descobre onde os pés das fadas

Volitam nos teus instantes.

 

Nos outros procura o que amas,

Procura-o na natureza,

Nos pássaros e nas ramas

De árvores que o sol apresa,

Nos perfumes e nas flores

Que sopram contigo amores.

 

Vê, pois, tudo aquilo que amas,

Ouve-o, fala dele a todos.

Do dia a tela que tramas

Que o integre de mil modos.

- Então todo o teu teor

É que és um rio de amor.

 

 

Caminhar

 

Ao caminhar pelas ruas,

Procura lados que amares

Noutrem com quem mal actuas

Em mera troca de olhares.

Repara também nas montras,

Busca o que amas no que encontras.

 

Adora aqueles sapatos,

Aquela roupa dobrada,

Aqueles olhos pacatos

Da pessoa ali especada,

Adora aquele sorriso

Com um perfume conciso...

 

- Sente do amor a pulsão,

Aquece o teu coração!

 

 

Orientar

 

Para me manter alerta

Tenho de orientar a mente:

Onde é que anda pela certa

O que amo, daqui ausente?

 

Quando à mente perguntar,

Não pode mais, ocupada,

Evitar de procurar

A resposta programada.

 

Todos os mais pensamentos

Interrompo de imediato,

A resposta a meus intentos

A descobrir, de acto em acto.

 

 

Destaca

 

Todo o dia diz aos dias

Aquilo que mais amares,

Destaca o que mais querias

Nos mais altos patamares.

Assim é que em vida avias

Aquilo de que gostares.

 

Não ignores: se não gostas,

Não digas! Ou tem-lo às costas...

 

 

Distribuíra

 

Se eu distribuíra o dinheiro

Pelas mãos de toda a gente,

Voltaria, de repente,

Para o primeiro parceiro.

Este o atrai a toda a hora,

Íman pelo mundo fora.

 

Princípio fundamental

Inerente a toda a coisa,

Onde o filósofo poisa

E a religião dá sinal:

Não há forma de escapar

Ao amor que alimentar.

 

Quem sempre amar o dinheiro,

Ele o cerca por inteiro.

 

Quem sempre o viu negativo,

Sempre lhe é na vida esquivo.

 

 

Queiramos

 

Para o dinheiro agarrar,

Só tendo por ele amor,

Como outro qualquer sonhar

Que queiramos com fervor.

 

Quem o não sentir cá bem,

Repele-o, não lhe convém.

 

Mesmo inconscientemente

Fá-lo quase toda a gente.

 

 

Permito

 

Se permito à minha vida

Que seja boa deveras,

Os tempos são, em seguida,

Deveras bons pelas eras.

 

Nossa época erigimos:

Tal qual como nela estamos

Estarão, da base aos cimos,

Os tempos que assim lavramos.

 

 

Pagas

 

Quando pagas contas,

Em que estado irás?

As contas que aprontas

São dum mal as pontas

Que o bem contrafaz?

Ou nelas apontas

Teus dons que a bem dás?

 

- Acolá te trais,

Aqui terás mais.

 

 

Acolher

 

Se alguém recebeu dinheiro

Ou saiu-lhe a lotaria,

Se eu o acolho na alegria,

Com o dinheiro emparceiro:

Então é que qualquer dia

Em mim colho igual maquia.

 

Se reagir decepcionado

Ou acabar invejoso

Por de tal não ter o gozo,

Tal afecto malfadado

Dirá não a mais dinheiro,

Nunca mais dele me abeiro.

 

Se reagir entusiasmado,

Fico lá mesmo centrado:

 

Então é que abro as comportas

Da fartura a minhas portas.

 

 

Transmitir

 

O que transmitir amor,

Com um sentimento inteiro,

Por dinheiro a se propor

É um íman para o dinheiro.

 

O que implica que trabalhe

Porque é mesmo divertido,

Entusiasma o que ali talhe

E adora andar envolvido.

 

Ora, se ama o que fizer,

Vai dinheiro aparecer.

 

 

Concentre-se

 

Concentre-se em toda a gente,

Trivial embora o contacto,

Com cuidado, gentilmente,

Compreensão, amor de facto,

 

O melhor que conseguir,

Sem ter de alguém retribuir.

 

- De vida então sua resma

Nunca mais vai ser a mesma.

 

 

Transmito

 

Transmitir amor é a lei

A tudo a aplicar na vida

Como dar o amor que sei

É a relação bem vivida.

 

O amor nunca quer saber

Se conheço ou não alguém,

Se é um amigo que tiver

Ou inimigo também,

Se aquele que acaso apanho

É amado ou antes estranho,

 

Se é colega de trabalho,

Patrão, pai, filho, estudante

Ou alguém de quem me valho

Que está dum balcão diante...

 

Com todos com que estiver

Ou transmito amor ou não.

- E sempre aquilo que der

Será o que recebo então.

 

 

Todos

 

Se um dia todos se amarem,

Não domina o forte ao fraco,

Maiorias, se contarem,

Não oprimem nem um caco,

 

Não troça o rico do pobre,

O de honra mais elevada

Não faz que um humilde dobre

E o mais esperto que sobre

Nunca engana ao simples nada...

 

- Toda a gente amar a gente,

Que sonho mais sem presente!

 

Mas já sonhá-lo um pouquinho

É um pouco tê-lo a caminho...

 

 

Ribeiro

 

Quando amar alguém,

O amor tanto afecta

Que ribeiro além

Nos mais se projecta,

 

As margens inunda

Da comunidade

E tanto fecunda

Que retornar há-de.

 

Por mais que viaje

Volta a si quando age,

 

Com mais energia

Quantos mais alia.

 

 

Negativo

 

Negativo afecta

Um outro qualquer?

Noutros se projecta

Do veneno a seta

Antes de volver.

 

Quando retornar,

Vai-o envenenar

 

E muito pior

Que o primeiro humor.

 

 

Quenquer

 

Com quenquer que seja

Que eu entre em contacto

Dou amor ou não.

E o que quer que seja

Que ali dê de facto

Vem-me após à mão.

 

O que é oferecido

É retribuído.

 

 

Usa

 

Rodeia-te do que amares,

Sente amor o mais possível,

Usa o mundo exterior

Para sentir mais amor.

É o momento de alcançares

A viragem para o incrível:

Quando em mim eu mudo tudo,

Então fora tudo mudo.

 

 

Nada

 

Nada na biologia

Diz que a morte é inevitável.

Mudamos de lado um dia

E o de Além é tão fiável

Como aqui o dia-a-dia.

 

Não há morte, não, deveras,

Só o lado de olhar as eras.

 

 

Negar

 

Uma criança é fluída,

Não anda a negar a vida.

 

Foi só quando envelheceu

Que os limites absorveu:

 

Na fantástica jornada

Até a vida é limitada...

 

Quão mais ama mais derrete

O negror que em si compete,

 

Sente o amor a desfazer

O negativo que houver.

 

O miúdo é grato e jucundo,

Trepado ao topo do mundo.

 

- Só o amor nos não ilude:

Quanta fonte de saúde!

 

 

Constante

 

O que ao corpo transmitir,

Constante, com suas crenças,

Sentimentos que sentir,

É o que no corpo, a seguir,

Recebe como sentenças.

 

As emoções que regista

Toda a célula saturam

E quaisquer órgãos que alista

No corpo que, tendo-o em vista,

A si é que o configuram.

 

Configuram-no do modo

Como sentir como um todo.

 

 

Príncipe

 

Sou o príncipe dum reino

Com súbditos tão fiéis

Que nem me requerem treino:

Células em seus papéis.

 

Servem sem hesitação

Aquilo que penso e sinto,

Disto me moldando o chão

Das cores com que eu o pinto.

 

É o que sempre devém lei

Do corpo em que me tornei.

 

 

Matando-lhe

 

Se transmitir sentimentos
Daquilo que não desejo,

Da saúde a força alvejo

Matando-lhe os alimentos.

 

Se por algo sinto amor,

- Dia de sol, casa nova,

Amigo que me promova... –

É saúde a se me impor.

 

Aquilo que trago à mente

É o que alinho à minha frente.

 

Não importa se o aceito

Ou, ao invés, se o rejeito:

 

Tal é o meu poder mental

Que o mundo modulo a tal.

 

Da física de partículas

Manda a mente nas edículas.

 

O mundo se realinha

Conforme em mente o que eu tinha:

 

Pensar não posso o “não quero”

Ou disto não me libero.

 

 

Energia

 

A tua energia vem

Daquilo que estás sentindo

E aquilo que sentes tem

De atrair, para ti vindo,

 

Tudo o que anda em sintonia

Com o que tu pões na via.

 

Repelindo ou aceitando,

É o que andarás cultivando.

 

 

Acontece

 

O que acontece num dia

Terá sempre mais magia

 

Que qualquer filme fantástico

Que possa ver, orgiástico.

 

É de olhar com atenção

Para o que ocorre na acção,

 

Senão, num qualquer desvio,

Perdemos da história o fio.

 

Se ando aí adormecido,

Perde a mensagem sentido

 

E nenhuma sincronia

Doravante a vida guia.

 

 

Cão

 

Felizes e sorridentes

Se não andam em redor,

Logo cão mostrando os dentes

De raiva então me irei pôr.

 

Só se em quanto amar eu penso,

Ponho na ferida o penso:

 

Inverto aí o pendor

De todos sempre em favor.

 

 

Encaixota

 

Ora, se Deus é Infinito,

Como pode haver alguém

Que o encaixota em seu dito

E na tradição que tem?!

 

Pior: que tem pretensão

De à trela o prender à mão?!

 

Pior inda: ordens lhe dar

Para seu feudo guardar?!...

 

Como é que as religiões

Se entregam a tais pagões?

 

 

Fortalecer

 

Se fortalecer a fé

Descubro que já não é

 

Requerida a sensação

De controlo do meu chão.

 

Tudo então em redor flui

E eu com tudo então me fui,

 

Com benefício e prazer,

Deixando-me livre ser.

 

 

Importa

 

Que importa a lavandaria

Atrasar-se por um dia?

 

Porque é que há-de ser má sorte

Se hoje perdeste o transporte?

 

Porque é que há-de ser desgraça

Não haver fruta na praça?...

 

No contexto do Universo

Que é que importam estes nadas?

- Mas prendem-te desde o berço,

Não corres tuas estradas...

 

Livra-te dos pormenores:

- Dá espaço a feitos maiores!

 

 

Força

 

A força do amor

Oposto não tem:

Não há desamor

Do amor para além.

 

Um amor ou há

Ou falta acolá.

 

E a falta é um vazio:

Fica seco o rio.

 

 

Falta-lhe

 

Uma força da tristeza?!

Falta-lhe é felicidade.

Felicidade que preza

Vem dum amor de verdade.

 

Uma força do fracasso?!

Falta ao fracasso é sucesso.

E o sucesso que eu abraço

Vem do amor em que eu ingresso.

 

Uma força da doença?!

É só falta de saúde.

E a saúde tem avença

Dum amor com a virtude.

 

Uma força da pobreza?!

É só falta de abundância.

E a abundância é uma beleza

Que do amor vem com a instância.

 

O amor é a força da vida.

Malfazeja condição

É a falta de amor vivida

Que esvazia o coração.

 

 

Vida

 

Vida afectiva orientada:

Vida própria cultivada.

 

Vida própria cultivada:

Vida do lar bem regrada.

 

Vida do lar bem regrada:

Vida em ordem no país.

 

Vida em ordem no país:

- É o mundo em paz, na raiz!

 

 

Domina

 

Domina a força do amor

E o amor vai-se tornar

Teu pessoal assessor,

O teu gestor financeiro,

De saúde o consultor,

Permanente conselheiro

Em qualquer tempo e lugar.

 

A partir do pensamento,

O amor, com jeito fagueiro,

Molda o relacionamento

Todo e a todo o momento.

 

 

Nadas

 

Se a tua mente for cheia

De nadas em demasia,

Distrai-se então, volta e meia,

Perde-se de tua via.

 

Simplifica tua vida

E não dês muita importância

Aos nadas, bandeira erguida

De qualquer irrelevância.

 

- Para teus fins, tua paz,

Que diferença é que faz?

 

 

Consigo

 

Não consigo imaginar

Ninguém a não existir.

Corpo sem vida é vulgar,

Mas não-ser, como o intuir?

Ninguém imaginar pode

O nada, ou algo lhe acode.

 

Se algo acode, já o não-ser

Por algo então foi trocado,

Que atraio à vida o que quer

Que haja em meu imo pensado.

Daí que não existir

Ninguém o possa exprimir.

 

Faz parte da criação

Todo o ser eternamente.

Muda o modo, porém não

O ser num qualquer presente.

Vida e morte são dois modos

Do ser que somos nós todos.

 

 

Nunca

 

Nunca existiu uma altura

Em que eu, tu e tudo o mais,

Nada existia e se augura

Que no futuro, reais,

Não deixemos de existir

No processo do devir.

 

Somos o mesmo na infância,

Na juventude e velhice

E a morte, na mesma instância,

Leva a que a gente então se ice

Para entrar, de modo terso,

No corpo que é o do Universo.

 

Nunca ao sábio que isto alcança

O perturba tal mudança.

 

 

Céu

 

O céu é de encontrar cá nesta vida,

Não quando o corpo breve me morrer.

O céu mora comigo na escondida

Derradeira camada de meu ser.

 

Descobrir céu na terra é só viver

Na última fundura que eu tiver,

 

Viver o puro amor, pura alegria

Da raiz derradeira de meu dia.

 

 

Resta

 

Quando houvermos conquistado

Ventos, marés, gravidade,

Resta a conquista maior:

Resta conquistar o amor.

 

Na história do mundo dado,

De novo, naquela idade,

O homem terá, desde logo,

Outra vez domado o fogo.

 

 

Evita

 

Quem é manipulador

A física violência

Evita, controlador,

A esconder toda a evidência.

 

Psíquica importunação

É muito mais sorrateira:

De fora invisível, não

Deixa de ser mais certeira:

 

Ninguém dá por ela agora?

- É bem mais destruidora!

 

 

Manipulador

 

Manipulador doente,

Às portas diz-se da morte.

E é culpa de toda a gente

Ou da maldita da sorte.

 

Se o doente for você,

Não aguarde dele ajuda:

Sempre imaginária vê

Doença que não lhe acuda

 

E a um doente imaginário

Ninguém corre solidário.

 

 

Goza

 

Manipulador perverso

Goza com a humilhação,

Gradual degradação

Do par que afoga no berço.

 

Tem uma razão de ser:

Tomar de vez o poder

 

Até o outro possuir

Sem já nem lograr bulir.

 

 

Contra

 

Contra um perverso ninguém

Ganhará num casamento.

É que o perverso é também

Doente do sentimento.

E de tal comportamento

Não há cura vida além.

 

Aguardar por uma muda

É mais perversão que ajuda.

 

Só rompendo com tais laços

Pode a vida dar abraços.

 

 

Mal

 

O dependente afectivo

A ser mal acompanhado

É sempre mais receptivo

Do que a não acompanhado.

 

Momento de solidão

O extremo é da confusão:

 

Ignora como existir

Num mundo sempre a evoluir.

 

 

Melhor

 

O melhor investimento

É decerto o das memórias.

Ocupam-nos o momento

E, com glórias ou sem glórias,

Enquanto ato cada laço,

Nunca me ocupam o espaço.

 

Às vezes até dinheiro

Nos dão acaso por elas.

O pagamento cimeiro

É, porém, o afecto delas,

Os nós com que nos atamos

Ao mundo em todos que amamos.

 

 

Evitar

 

Evitar pedir desculpa

É que o mau comportamento

Admitido tanto inculpa

Que é um desconforto o momento.

 

Temo-nos como pessoas

Atenciosas, gentis,

Sempre de certeza boas,

Éticas e nunca vis.

 

Pedir desculpas implica

Nem sempre andarmos conformes

Ao padrão que ali se aplica,

Temos outros uniformes.

 

Por outro lado tememos

Que o outro nos não aceite

E mais a imagem rasguemos

Que já mais ninguém respeite.

 

Só que melhora a saúde

E repara relações,

Auto-estima faz que mude

A níveis que nem supões.

 

Pedir desculpa é o sinal

De quem tem uma presença

De imensa força moral:

Não é quem ofende a ofensa.

 

Fiz algo que te ofendeu

Mas a acção que não foi boa

Deveras já não sou eu,

Não sou enquanto pessoa.

 

 

Exprime

 

Exprime arrependimento,

Explica o que correu mal,

Reconhece, no momento,

Ser responsável por tal,

Declara arrependimento,

Tenta reparar o mal

Todo do cometimento.

 

Em última conclusão,

É um pedido de perdão.

 

- Eis o que desculpas meras

Serão quando são sinceras.

 

 

Perversa

 

Sem um arrependimento,

Mera justificação

É a desculpa de momento

Por qualquer perversa acção.

 

Responsabilização,

Se a não há, mera desculpa

Sem pedido de perdão

Mais nos enterra na culpa.

 

Seremos mesmo culpados

Então dos danos causados.

 

 

Vítima

 

Ser vítima não transforma

Alguém em boa pessoa:

Pode ser o diabo à toa

Num meio que é bom por norma.

 

Não mais o vitimizar

Requer ter prudência a par.

 

Consagrá-lo poderia

Vir a matar-nos o dia.

 

 

Prendas

 

A vida tudo são prendas,

Mesmo quando são amargas

Ou nos pesam muito as cargas

E não há como as desprendas.

 

E todas são para bem,

Quer as de sabor de mel,

Quer as de travor de fel,

A atrair ao que convém.

 

A maior prenda da vida

Foste tu que me acolheste

E toda a vida te deste

A alimentar-me a subida.

 

Ora minha luz do dia,

Ora meu luar da noite,

És o braço que me acoite

Quando meu pé perde o guia.

 

Ora me atrais para a frente,

Ora me picas por trás,

E eis que a vida bem capaz

É de ser bem diferente.

 

Viemos novos a caminho

Nesta aposta singular

De trilhar o rumo a par,

Sem nenhum ficar sozinho.

 

E cá vamos deste jeito

Já idosos, sem desistir,

Fazendo o dia sorrir

No rumo tomado a peito.

 

E és tu que o dia acalentas,

Que eu não tenho mãos de fada

Para cada flor bordada

Com que as horas reinventas.

 

 

Anos

 

Fazer anos o que importa

É quantas mais madrugadas

Vida fora semeadas

Colhemos à nossa porta.

 

Quanto beijo, quanto abraço

Trocámos com os chegados,

Mundo fora desdobrados

Ao correr de cada passo.

 

Quanto sol, quanto luar

Admirámos de mãos dadas,

As paisagens a cantar

Nos galos das orvalhadas.

 

Quanta conversa ao serão

E nas tardes soalheiras,

Cada vizinho um irmão

Com a fartura das eiras.

 

Fazer anos o que importa

Para além de se estar vivo,

É que a vida é nossa horta,

Nossa horta de cultivo.

 

 

Longas

 

Quando em vida agísseis

Remansosas lidas

Em todo o lugar,

Longas despedidas,

Ai, quão mais difíceis

São de suportar!

 

Longas despedidas,

Não, que são doídas.

 

Menos dói, real,

Pôr ponto final.

 

 

Morte

 

Quando a morte é certa,

Viver mais uns dias?!

Que vida se aperta

Em tais agonias?

 

É morrer aos goles,

Já sem consciência

Do que em perda aboles

Ou se há transcendência...

 

- Mais vale ao calhau

Ir transpô-lo a vau.

 

 

Longos

 

De longos anos paixão,

Em chegando ao casamento,

Ódio é, separação,

Da indiferença o tormento?

 

O amor é meio de escolha,

É eleger a criatura

Companheira que se acolha

Enquanto a vida perdura.

 

Nunca pode afiançar

Perpétua felicidade

De ambos caminhando a par,

Pois num sopro até se evade.

 

A pacífica afeição,

Vera estima, intimidade

É o diário ganha-pão

De quem lavra a eternidade.

 

 

Sábio

 

O sábio é sempre quem

Toma a própria decisão.

O ignorante segue além

Doutrem sempre a opinião.

 

O sábio às circunstâncias

Se adapta, maleável barro,

Como em todas as instâncias

Moldam-se as águas ao jarro.

 

Nunca se embrulha, porém,

O fogo com o papel:

Há que ponderar também

Se o que vem nos queima a pele.

 

Não podemos impedir

Da tristeza os passarinhos

De acima de nós bulir,

Mas de em nós armarem ninhos.

 

 

Tempo

 

Em tempo de furacões

Ou ergues muros aos ventos

Ou moinhos lhes antepões.

São de mudança os momentos.

 

Porém, nos grandes tufões,

Os ventos são tão violentos

Que não há moinho que aguente

Nem muro que acaso o tente.

 

Resta o abrigo ou a fuga:

- Netes, pois, o passo estuga!