POEMAS REGULARES
Nunca
Nunca da vida a viagem
Vai ser o que cuidas ser.
Do sonho a vaga triagem
Vislumbras da meta a haver
Mas nunca o itinerário,
De tão caótico e vário.
Ninguém que é bem-sucedido
Soube como acontecer
Iria o sonho seguido.
Creu que ele iria ocorrer
E nunca mais desistiu
Enquanto em acto o não viu.
Caminho
O caminho para o sonho
É trilhar um labirinto.
Ir em frente se me imponho,
Vejo um dia ou dois que sinto,
Mas após virar a esquina
Que será que me destina?
Se houver becos sem saída,
Tenho de voltar atrás,
Se é um atalho para a ida,
Corro o mais que for capaz...
- Para o sonho o itinerário
É sempre um destino vário.
Ignoto
Do sonho o trilho viver
É viver uma aventura:
É o que vier eu antever,
Que é que o ignoto me apura.
Ninguém a quem eu admire
Nem ninguém em quem me inspire,
Principiou a viagem perto
De o desfecho antever certo:
A ideia, o fito da estrada...
Mas como atingi-lo, nada!
Beco
Do sonho quando a caminho,
De repente há uma parede:
Beco sem saída. Acede
Ao teu poder adivinho:
Há sempre outro modo de ir
Que tu poderás seguir.
Se a vitória for meu centro,
Então que a reviravolta
Não desencoraje onde entro:
- Pode o acerto ser a volta
Ali ao virar da esquina
Que o sonho então me destina.
Passo
Um passo de cada vez
É o que é urgente caminhar.
Seja qual for o entremez,
Sempre um passo podes dar.
O caminho é imprevisível.
Apostar nesta estratégia
É que tornando visível
Vai ao longe a meta egrégia.
Desperdice
Se não pode controlar,
Não desperdice energia
A tal ao se dedicar.
Pergunte antes, cada dia:
- Muito bem, se tem de ser,
Que é que então posso fazer?
É por esta alternativa
Que irrompe uma rota viva.
Concretizou-se
Um dia, ao virar a esquina,
De repente chegou lá:
O sonho a que se destina
Concretizou-se acolá.
Cada parede topada,
O caminho alternativo,
Foi por versão melhorada
Do sonho mais e mais vivo.
Todo o mal foi aparência,
Tudo são meros desvios
A melhorar a evidência
Do sonho sem desvarios.
Antagonista
O antagonista é presente?
Vai dele ser afectado.
Que o vitimize consente?
Então vai mudar o fado:
Ele atinge, de repente,
Seu objectivo danado.
O efeito que ele atingir
É por si determinado:
Decide como reagir
Ao que lhe ele joga ao lado.
Se permite que o afecte,
Logo em tudo se repete.
Mas se a si não desarmar,
Até poderá inspirá-lo
Forças a se renovar
Que mais vão impulsioná-lo
O sonho a concretizar
Por todo o tempo e lugar.
Outrem
Não deixes que outrem defina
Por ti cumes a visar.
É que todo o mundo opina,
Impossíveis a ditar.
Sempre despropositada
Há-de ser tal convicção.
Do que é possível jornada
Só quem a fez sabe o chão.
Sabe lá do que é que fala
Quem dela nunca fez gala!
Fica
Fica longe das pessoas
Que te querem depreciar.
Quem é mesquinho atordoas
E as asas quer-te cortar.
Quem for realmente grande
Faz-te sentir, de repente,
Que em ti há quanto te mande
A grande ser entre a gente.
Enfrenta
Quando enfrenta um desafio
E o ultrapassa, mais fé
Vai ter e com todo o ousio
Em si mais naquilo que é.
Pode então fazer melhor
Algo ainda de maior.
Os obstáculos transpor
É mesmo o maior presente,
Mais que os bens que ande a propor
Ao mundo que lhe ande em frente.
É um bem dentro em si criado:
Não lhe irá mais ser tirado.
Quando passa por desgostos,
Problemas, dificuldades,
Emerge bem mais a postos,
Por via das faculdades
De autoconfiança atingida:
Lavra dali nova vida.
Obstáculos
Obstáculos, desafios
São uma oportunidade
De melhorar, aprender,
No conforto a se perder,
Vivenciar de verdade,
Na teia de novos fios,
O que a vida realmente
Tem a oferecer em frente.
Cometemos
Cometemos muitos erros.
Nem sequer teria graça
Se saltássemos os cerros
Por simples, mera pirraça.
Sentir a dificuldade
É tornar interessante
Do jogo a sagacidade
Escondida em cada instante.
Não pode é ser tão frequente
Que então dê cabo da gente.
Único
O erro é uma oportunidade
De lograr a aprendizagem.
Único erro de verdade,
Da vida em plena viagem,
É não tirar a lição
Da primeira vez então.
De bom tem o Universo
Dar-me a lição outra vez,
Até de trás e través
Eu lhe aprender frente e verso.
E há-de sempre continuar
Até eu me revirar.
Derrota
A derrota celebremos:
Ela ocorreu porque agimos!
E a oportunidade temos
De ver onde nos ferimos.
Para o porvir da viagem
É certeira aprendizagem.
Temos de nos concentrar,
Que o erro não se repita!
Nova ideia encorajar,
Nova abordagem bendita,
Tentar sempre inovação,
Outra experimentação...
- O erro visto deste lado
Não pode ser censurado.
Cuidamos
Não somos independentes
Como cuidamos acaso.
Somos muito dependentes
Do que à sorte nos der azo,
De ouvir a oportunidade,
De gente de toda a idade...
E depois, pelo percurso,
Há sempre o milagre em curso.
Sinto
Quando tudo corre mal,
Me sinto desenraizado,
Se contra não é um sinal
Nem de vida dura o fado,
Antes será tempestade
Divina que então me invade.
Se é para o que em mim não serve
O melhor potencial
Eu arrancar que tal ferve,
A castigo não é igual,
Antes vem como benesse
Servir o meu interesse.
Então o meu pior dia
Poderia, ao invés, ser
O melhor dia que havia
De algum dia acontecer.
Por isto estou sempre grato
A qualquer tropeço em acto.
Trabalhar
Trabalhar pelo prazer
Apenas de trabalhar,
Segunda-feira acordar
Entusiasmado a se ver,
Se o que obra tanto adorar
A ponto de que umas férias
Não são remédio, são lérias,
- Isto é que é mesmo viver!
Corpo
O corpo tem os limites
Para comer ou beber,
Para o esforço que fizer...
Dos limites tem desquites
No poder de outrem servir:
Não há metro de o medir.
Os que aos mais se dão, matrizes
São do mundo dos felizes.
Toque
Fico de mim prisioneiro
Se o toque para a aventura
Recusar quando me abeiro
Do escuro que configura.
Prisioneiro de mim fico
Se recuso retribuir,
Da vitória quando ao pico
Eu eufórico subir.
Fico aqui tão encantado
E sinto-me tão feliz
Que não saio deste estado,
Não cresço mais, de raiz.
Ora, a viagem é incompleta
Se não pegar no elixir
Que lhe deu vida repleta
E ao mundo o distribuir.
Nisto é que a vida transforma
Em mais que da vida a norma.
Depois
Depois de toda a vitória
E de toda a recompensa
O coração vê uma glória
Maior que quenquer que a pensa:
Da fundura que haja em si
Emerge o herói que anda ali.
Tudo o que aprendeu na viagem
Partilha então com magia,
Melhorando na triagem
A vida da maioria.
Tenta dar a toda a gente
A ponta dum céu ausente.
Lugar
Vemos que amadurecemos
Se o lugar mais elevado
Dentro em nós compreendemos
Que é trepar ao de criado.
Quem nisto fica à vontade
É que vai ter uma vida
Que lhe há-de ser de verdade
Deveras bem sucedida.
A chave de ser capaz
De bem servir toda a gente
É humilde ser capataz,
O fito do bom servente.
Profunda
Com profunda gratidão
Por quem tudo o que é lhe deu
E profunda compaixão
Por quem luta e o fim não viu,
Irá mesmo retribuir,
Portas às vidas abrir.
O fogo de compaixão
Que sente é tão grande, grande,
Faça o que fizer então,
Que, por mais que dar comande,
O que mais quiser fazer
É mais dar sem mais fim ver.
Basta
À gente bem envolvida
Não lhe basta passar cheques,
Não vão ser gastos em queques
Nos cafés lá da avenida.
Tratam mais de garantir
Que o dinheiro se destina
A meio de a vida abrir
A quem mais requer da sina.
É a dádiva remetida
A quem quer mudar de vida.
Sós
Se alguém lhe pedir ajuda,
Dê o melhor para ajudar.
A ninguém, porém, acuda
Que a sós logre caminhar.
Inspire, encoraje e oferte
Mil meios para escapar:
Fortalece quem acerte
Da própria vida o lugar.
Reforce-o no que precisa
Para a vida ter que visa.
Ajudar
A felicidade haurida
De ajudar um outro humano
Leva a questionar se a vida,
Afinal, não é vivida
Para aqui chegar sem dano.
Maior do que eu, tal visão
Sem labéu nos toma a mão.
Todos
Todos têm o poder.
Largam-no em quem os rodeia
A opinar de boca cheia.
E olham donde tudo vier
Sem então reconhecer
Mérito ao que lhes ameia
Que criem tudo o que houver.
Deveras quase podemos
Criar quanto nós queremos.
Empatizar
Empatizar com alguém
Com enormes diferenças
Compromete-me. Porém,
Não enfraquece também
As minhas próprias sentenças.
Pelo contrário, me alarga
O meu limite de carga.
E alarga com novas pontes
Meus estreitos horizontes.
Dogma
Na cultura dominada
Por um dogma predador,
Vida em germe destinada
A vida velha regrada
A abolir, seja qual for,
Ficará presa de vez
E as vidas espirituais
De todos, presos os pés,
Travam todas nos sopés
De inanes medos reais.
Finda tudo em pesadelo
Dum ladrão de marcas tais
Que ninguém logrará vê-lo.
Só apontando-lhe os sinais,
Dele ameando aos tremedais,
Conseguiremos vencê-lo.
De inanes não morreremos
Apenas quando o enfrentemos.
Ambos
Cada um são sempre dois:
Este corpo que me exprime
E o meu imo, o mais sublime,
Dentro escondido depois.
O problema é harmonizar
Na encruzilhada da estrada
De ambos eles a pegada
Sempre a se desencontrar.
Bocadinho
Mesmo um bocadinho a mais
Do que é bom num mau momento
Desvia, em perdas reais,
A consciência onde assento.
Em vez da sabedoria
Irei caminhando à toa
Perguntando: “Onde é que eu ia?”
Tudo à volta me atordoa.
Custa às vezes dias, meses,
Recuperar dos reveses.
Aprender
O amante mais apreciado,
Progenitor mais querido,
Selvagem mais estimado
É o que aprender há querido.
O que não tirar prazer
De nenhuma aprendizagem,
Dum novo modo de ver,
Não logra mais, na viagem,
Do que o marco do caminho
Onde aguarda ali sozinho.
A energia que alimenta
A raiz de qualquer dor
É a recusa peçonhenta
De aprender seja o que for,
Sempre na cegueira assente
Do que é o momento presente.
É sempre ao saltar além
Que a dor se desfaz também.
Tarefa
Quando alguém quiser amar,
Então terá de aprender.
É tarefa singular:
Desafio tem de haver
Para haver transformação.
Ou não há satisfação
E perco a vida a correr
Sem mais sair do lugar.
Encontra-nos
Aquilo que procuramos
Anda de nós à procura:
Mesmo quietos se ficamos,
Encontra-nos com a cura.
A doença que em nós começa
Desconfiada em nós tropeça.
Então mostro à natureza
Quanto em mim enfim a preza
E da natureza a mão
Em geral tem solução:
Basta-me saber colher
O fruto que ela me der.
Dança
Amar é aprender os passos
Que na vida dão a morte,
Que na morte dão a vida:
Fazer amor dança os traços
Da dança que dança, à sorte,
Ou vida ou morte, à medida.
E quem ama anda a dançar
A dança que lhe calhar.
Mãe
Tens uma mãe vida fora
E tens sempre muitas mais,
A de sempre e as de agora,
E todas não são demais.
Filho não traz instruções,
Mas elas têm-nas todas,
As da vida que aqui pões,
As precisas e as das modas...
- Serve-te, portanto, delas
E abre a todas as janelas.
Procura
A procura do amor certo
Em qualquer lugar errado
É síndroma de exilado
Em nosso peito desperto.
Repete uma e outra vez
Comportamentos de perda.
Vitalidade não herda
Que os mitigue, pelo invés:
Vai promovendo mais danos,
Que a ferida original
Não vai tratando, afinal,
Mais magoam novos planos.
É pomada no nariz
Quando a ferida é no braço,
Ao companheiro um abraço
Num excesso que nem quis...
Nunca principia a cura.
Só parando de enganar-se:
Partida a perna, é um disfarce
Qualquer prazer que procura.
Só tratando da ferida
A cura vem de seguida.
Esconder
O desejo de pertença,
Quando for a qualquer custo,
A meu imo prega um susto
Que a se esconder o convença.
Não será muito melhor,
Muito mais emocionante,
Parecer o que se for
E os mais por igual adiante?
Fracasso
Fracasso não paralisa,
Não nos mantém estagnados.
A relutância que visa
Não retomar, por divisa,
É que nos mata aos bocados.
Começar, recomeçar
E sem nunca mais parar
É que me abrirá o caminho
Ao mundo a que me avizinho.
Hábito
O hábito da qualidade
Nosso gosto aperfeiçoa
E a exigência logo o invade:
É sempre uma meta boa.
Mas o da banalidade
De chegarmos nos impede
No final à qualidade:
Ninguém acrescê-la pede.
Medíocres quando somos,
Somos lixo e ali o pomos.
Permanente
O amor é sempre doçura
E permanente alegria?
Não, que a dor dele supura,
Sofrimento, dia a dia.
Desde então, de tenra idade
A fechar-me me persuade.
Finda o amor aprisionado
Por medo de ser magoado.
Então frio, egoísta e triste
Findo eu e o mundo que existe.
O amor, nesta insanidade,
Rouba em mim a humanidade.
Compense
Procuramos sempre alguém
Que nos compense do amor
Que cada por si não tem,
Um amor do qual ninguém
Poderá ser servidor
Senão o próprio, porém.
Assim é que começamos,
A nós mais ao outro, a par,
Não a amar mas a matar,
A matar quem mais amamos.
Preservar
Preservar um casamento
É sempre árdua tarefa.
Se idealizar o momento
Tal mar de rosas, a ceifa
Murcha a gratificação,
Frente ao que é realidade.
Leva os casais em questão
A abandonar logo a herdade.
Vai-se a vida num momento:
Impedem o crescimento.
Propósito
Todos temos neste mundo
Um propósito a cumprir,
Único, sem mais segundo
Que por nós o venha a urdir.
Se com outrem me comparo,
É que nisto nem reparo.
Porém, não é inofensivo:
Pedras semeia em meu crivo.
Dividindo-me dos mais,
Nem eu serei eu jamais.
Pagar
Pagar na mesma moeda
A todos arrasta em queda.
Senão quando é positiva:
Esta é que fará que eu viva.
Entre o ódio e o amor
Tenho a escolha do teor:
No amor dou e sem medida,
No ódio mato outra vida.
Se não estiver atento,
Troco rápido de intento,
Ódio vou juntar ao ódio
E do amor me finda o bródio.
Pendor
A amizade ajuda a ver
Um outro pendor do mundo
Pelos olhos que tiver
O meu amigo, fecundo.
Então, meu ponto de vista
Único além de não ser,
Na nova mira entrevista
Pode errar como qualquer.
Logo fico mais ciente
Do que é minha imperfeição.
Compassivo sigo em frente
Mais com toda a gente então.
Liberta
Pensar sempre bem de alguém,
Desejar-lhe o bem maior
Liberta o amor que se tem
Represo em nosso interior.
Varridos da vida os pós,
Aí é que somos nós.
Mais ainda se perverso
É aquele sobre quem verso:
- Aqui é a raiz de mim
Que persigo até ao fim.
Deveras
Nunca estamos preparados
Deveras para ser pais.
As crianças são cuidados
E não terminam jamais.
Só cresceremos com elas
De obrigados às sequelas.
Nada é fácil para os pais:
- Terão de inventar-se tais.
Brinquedo
O brinquedo não tem sexo:
Boneca para o rapaz,
Carro para a rapariga...
Nunca a identidade o amplexo
Com aquilo a contrafaz,
Não é com isto que briga.
É de equívocos modelos
De pai, mãe ou da família,
A operarem sem vigília,
Que podem vir atropelos.
E onde opera o preconceito
Muita lesão rasga a eito.
Valoriza
Uma criança feliz
É esperança e humildade,
Valoriza de raiz
O que faz bem de verdade.
Se se engana, é corrigida,
Se nem tenta, é repreendida...
- Apoiada nestas baias
Não será um tem-te-não-caias.
Bons
Os bons pais também sempre erram.
E são bons se reconhecem
Um erro em que não se encerram
E aprendem para o que tecem.
Longe de provocar dano,
Provocará crescimento
Na vida qualquer engano:
É bom então o momento.
Dum erro aqui os sinais
São prendas das mais vitais.
Adora
O bom pai adora os filhos
E adora ficar sem eles,
Não se sequestra aos cadilhos
Com que lhe prendem as peles.
Namoram todos os dias?
- Melhores são então pais.
Aos avós filhos confias?
- Mais os filhos amar vais.
Feliz
Ninguém é feliz se tem
De ser o melhor do mundo.
Bastará ser para alguém
O melhor, lá bem no fundo,
Para alguém que lhe quer bem.
Tudo o mais é fantasia
Por não ver bem como é o dia.
Aumenta-lhe
Na criança, a autoridade
Aumenta-lhe a tolerância
À frustração: persuade
Que omnipotente ali há-de
Ser apenas qualquer ânsia.
Entre aquilo que desejam
E aquilo que após conquistam
Só mil trabalhos vicejam
E as afoitezas que ensejam
Sempre, mal a meta avistam.
Depois há prioridades
Nas urgências a escolher:
Sonhos suprem as idades,
Caprichos são veleidades,
Fumo a se desvanecer.
Aprendem, pois, a lutar
Pela forte convicção,
Tempo ao tempo então a dar
Para à conquista chegar,
Dure o que durar então.
Paixão com sabedoria
A entrosar então aprendem.
Humildade na alegria
Logo os robusteceria
E a ser capazes mais tendem.
Risco
Não há nunca um medo parvo.
Quando na terra lhe escarvo,
Descubro que tem por trás
Dum risco o aviso veraz.
E mais se o papão do medo
Me desafia o meu credo
E mais quando ele resiste
Às mezinhas que lhe aliste.
Transmite-se
O medo nunca se pega
Mas transmite-se, discreto,
Num olhar de vista cega
Invisível em concreto:
Gesto em que nem reparei
Semeia-o por toda a grei
E quenquer perde a medida
À fundura pressentida.
Evito-o
O medo é sabedoria:
Quando algo a mim me magoa,
Evito-o no dia-a-dia.
Se a mais em mim não ecoa,
Protege do que viria.
Evitá-lo é protector.
Demais, porém, prende a ele.
Do “quanto baste” senhor,
Livro-me do que atropele,
Pára-raios ao me impor.
Quando eu proteger demais,
Então deixo de arriscar,
Destemido não sou mais.
Medo ao medo cultivar,
Maus serão sinais vitais.
Racionalizá-lo
Qualquer medo é irracional,
Racionalizá-lo, prende.
Sob uma cama, afinal
Não há monstro? A gente entende,
Mas não será que algum dia
A verdade mudaria?...
Porque, afinal, o que conta
É se irei contar contigo,
Em vez da conversa tonta
A tentar pôr-me ao abrigo.
Vais-lhe dar um pontapé,
Seja lá o que for que ele é?
Isto, sim, é que é preciso,
Não a falta ver de siso.
Condicional
Criança que apenas brinca
De adulto sob direcção
A liberdade só trinca
Condicional ao portão,
Ave a só se imaginar
Que um dia pode voar.
Então é só desamparo
E devia ser a festa
A que apenas o anteparo
Contra uma lesão se apresta.
Não é meta educativa?
Faz, porém, que qualquer viva.
Erram
Os pais erram, erram, erram,
O que é sempre muito bom
Quando eles se não aferram
A iguais gestos de igual tom.
O que teima que é perfeito
Olha a si, não à criança,
Nunca mais apanha o jeito
Que o fito da vida alcança.
Só na tentativa e erro
Os desafios descerro.
Sabido
Como conhecer melhor
Se melhor me desconheço?
Um aluno sabedor
É um sabido em que tropeço
E apoio aquele que é certo
Contra aquele que é desperto.
Ora, o que for desbocado
É que o sabor tem tomado
Ao saber, quando ele o atinge,
Mesmo se ignorá-lo finge.
Técnica
É a técnica eficiência,
Não torna ninguém melhor.
Mas onde a clarividência
De ser empreendedor
Onde houver inteira ausência
De ser compeendedor?
É, porém, sempre possível
Esquartejar o vivível.
E há tantos esquartejados
Sem ver o rombo dos lados!
Dor
A dor nunca se elogia,
Porém sem dor não crescemos
Para viver a alegria
Da humanidade que temos.
É sempre a dor que sentimos
Do mal feito ou que nos fazem
Que obriga a escolher os cimos
Do ser que mais nos aprazem.
Serei o que quero ser
Do mal por contrapoder.
Tornar-nos
A dor culpabilidade
Traz, a tornar-nos pessoas:
Transformo a realidade,
Troco as coisas más por boas.
Com culpa, não, que me prendo
Ao passado a que me rendo.
Ora, a culpabilidade
Livra-me disto deveras:
É a responsabilidade
Assumir mudando as eras.
Aqui vou sempre aprender,
Corrigir e vir a ser.
Inflicção
A inflicção de sofrimento
Sem a culpabilidade
Que o repare no momento
É a violência da maldade.
É o domínio sem castigo
Sobre o mais fraco em perigo.
A vítima experiencia
A morte que principia.
Perder
A violência sempre mata,
Menos fora e mais por dentro.
Criança que se maltrata
Vai perder da vida o centro:
Corrói a fé na família,
O entusiasmo pela vida,
A esperança na vigília
Do porvir que haja em seguida...
- Não há mais curiosidade
No rumo da liberdade.
Crianças
Crianças e adolescentes
São antes protagonistas
Nas vidas dos pais presentes.
Pagam, porém, pelas vistas,
As facturas adiadas
Das vidas dos pais falhadas,
Tanto sonho, estes, traído
Teimam ver hoje cumprido!
Curso
Ter um curso superior
Há-de ser sempre melhor
Que um sonho que desentranha
A fundura que nos ganha?
Ora, este é que alimenta
A tentativa, o fracasso,
E configura na ementa
Cada passo, passo a passo.
Somente o sonho acarinha
A espera que se avizinha.
Perca
Ninguém vai correr com gosto
Para ir de perca em perca.
Aí abandona o posto,
Outro busca no que o cerca.
O novo rumo que apanha
É aquele por onde ganha.
E o maior ganho de todos
É ter de quem ama os bodos.
Falamos
Falamos mas, ao falar,
Poucos de nós falam claro.
Falar implica escutar,
Implica o caminho raro
De ir de quanto se souber
Ao que nos leve a aprender,
Ir de tudo o que sentimos
Ao que nos farão sentir.
As contradições subimos
Às sínteses que hão-de vir.
Pensar, se premonitório,
Tem sempre contraditório.
Conviver
O adolescente, poupado
Ao sofrimento marcado
Outrora, em vida, nos pais,
De tão mal habituado,
A falhar tem acabado,
Por não ver o que é derrota
Nem negativa uma nota.
Conclui depressa demais,
Ante qualquer desafio,
Que nunca terá o ousio
Que ousaram seus ancestrais.
Terá de prioridades
Definir e de ir a jogo,
A lutar com todo o fogo,
De aguardar com propriedades
Que permitam esperar
Da vida o que lhe calhar.
Doutro modo, cada dia
Só derrota prenuncia.
Projectam
Os pais projectam nos filhos
Os sonhos adormecidos,
Que resgatem tempos idos
Aguardam com mais atilhos.
É o que atrapalha demais
A relação que costuro
De passado com futuro,
Do íntimo nos tremedais.
Do jovem é cada escolha,
Sua mas compartilhada.
Nunca de tudo na estrada
Se pode fazer recolha.
Partilha, pois, erro e sonho
Vida fora cometidos.
Não somos deuses caídos
Nem um modelo que imponho.
E dos jovens a saída
Aos sonhos dá mais guarida.
Quero
Quando quero um filho bom,
Quero-o leal, competente,
Ou quero trocar de tom
E que dos mais ande à frente?
Quando o quero realista,
Aquilo que lhe proponho
Não é que o real em vista
Lhe matará todo o sonho?
- O melhor querer ali
É a melhor versão de si.
Recantos
Em relação ao trabalho,
O trabalho está primeiro
E só depois a paixão:
É que bate muito o malho
Até vermos o carreiro
Que trilhar, com lentidão,
Recantos do coração.
Aberta
Uma escola aberta ao mundo
Tem de trazer dentro em si
Mestiçagens de que abundo,
Contraditórias, no fundo.
É cosmopolita ali.
Só então é família humana
Colegial que dela emana.
Trabalho
O trabalho, antigamente,
Poupava algum sofrimento,
Oportunidade ingente
De alguém atingir, com tento
E com força de vontade,
Um naco de liberdade.
Hoje em dia a vocação
Do trabalho é ser paixão.
Saber
Saber compartimentado
Leva a aprender descolado:
Conhecimento vizinho
A viver ali sozinho,
Mesmo se viver ao lado.
Então, mesmo se se tenta,
Mal se a gente cumprimenta.
Aprendo
Aprendo mais facilmente
Tudo aquilo que tiver
Um pendor de utilidade.
Porque a vida realmente
Fica mais simples se houver
De meu rosto a identidade.
Nisto então fácil devém.
Não sem o simples primeiro
Ser o que busca, porém,
Por caminho pioneiro.
Se no fácil principiar
Nunca ao simples vou chegar.
Só pelo inverso caminho
Desperto em mim o adivinho
E farei de construtor
Então dum mundo melhor.
Prazer
O prazer é o importante
Para nós e para os mais.
Aceitá-lo vida adiante
Serão de sábio sinais.
É comunhão entre a gente,
O que mostra, de repente,
Dia a dia, dia a dia,
O invés da xenofobia.
Onde se ensina o prazer
É a vida simples tornar.
Ensinar há-de então ser
Para o amor educar.
Resolverem
Por resolverem problemas,
Os pais levam as crianças
A serem, nos próprios lemas,
Pouco expeditas nas franças
De autonomia que têm.
Depois vão querer que o mundo
Lhes caia nas mãos a bem,
Sem o merecer, no fundo.
Um atleta destreinado
Pode ao pódio ser alçado?
Crónica
Os pais hão-de resgatar
Um filho da situação
Duma dor a se tornar
Numa crónica lesão.
É que uma dor passageira
Trigo do joio peneira,
Ajudando a discernir,
Melhor abrindo ao porvir.
Dor crónica ao se tornar
Finda até por amputar.
Erram
Os pais erram muitas vezes
E mais erram quanto mais
Tentam evitar reveses:
Menos vivência de pais
E mais erram na medida;
O mesmo, quão mais amais,
Que a censura é elidida...
Os erros são do que educa:
Quem não erra nesta vida
Nunca aprende e já caduca.
Quanto mais a gente errar,
Maior nos cocega a nuca
A oportunidade a dar
De cada um melhorar.
Pesa
No bebé nós projectamos
Os pais que sempre tivemos,
Os que desejamos ter,
Os que imaginemos ser,
Os filhos por que ansiamos
E que à mão construiremos...
- Do bebé na mão furtiva
Pesa tanta expectativa!
Primeira
Primeira função dum berro
Não é nunca a de educar.
Desabafo a aliviar
Alma a escapar-se dum erro,
Abre portas a arejar.
Lugar à clarividência
Criará com o à-vontade
De quem buscar com premência
O primado da bondade.
Isolamento
Todo o isolamento gera
A urgência de buscar muito
E navegar na galera
De todo o humano circuito.
Mas o poder de criar
É um reduto interior
Onde não há legislar
Nem índice redutor.
Só que a criatividade
Aprende, das ousadias
Doutrem, luminosidade
Com que acende as novas vias.
Ilha o imo é universal
Mas não há sobreviver
Na asfixia ali letal:
Só o além nos vai valer.
E, todos sendo tal ilha,
Só o Infindo maravilha.
Cuida
Comunidade decente
Cuida primeiro dos fracos,
Como faz a boa gente,
Sem fora deixar buracos.
Pois qualquer desigualdade
Matará sempre as pessoas
E as economias há-de
Matar, que ali não são boas.
Desigualdade conduz
À económica paragem
E ao declínio que traduz
Da humanidade a travagem.
História
A história local:
Única existente.
Já que toda a gente
É cega, afinal,
A tudo o que além
Do horizonte advém.
Medir o Universo
É medir meu berço,
Mas deitando abaixo
A grade onde encaixo.
Patamar
Em quanto digo há sempre algo
De verdade e de inverdade,
Que o patamar nunca galgo
Último da realidade.
A questão que se coloca
Não é de ser verdadeiro
Mas ser franco no que toca
Ao que atinge meu luzeiro.
O mentiroso o que mente
É o avesso do que sente,
Que, se mentira o direito,
Era de todos o jeito.
Servir-se
A culpa e a punição
Determinou-as a lei.
Problema é que nunca sei
Quando a lei é justa ou não.
- E quando ela é a do ladrão
A servir-se feito rei?
Este é o ponto que mais dói,
Que história além sempre foi,
Ao manter-se renitente,
A morte em guerra da gente.
A inaugurar, de seguida,
Rumos outros noutra vida.
Primeira
A primeira reacção
Ante qualquer ameaça,
Venha da televisão
Ou do ataque da pacaça,
É ter à mão, a fisgá-la,
Algo com que eliminá-la.
Nós e ancestrais primitivos
Jogamos iguais arquivos.
Do pau e da pedra ao tiro
É o progresso que confiro,
Mas nós não mudámos nada
Ao correr da infinda estrada.
Dilemas
Dilemas de toda a infância,
Dilemas de toda a vida...
A pertença ou a traição?
A dádiva ou a ganância?
Grupo forte que me elida,
Matando-me o coração,
Ou coragem de assumir
Quem sou eu sem me trair?...
- Sempre a escolha nos peneira
De hora prima à derradeira.
Tempo
Na notícia o tempo vário
É todo extraordinário:
Tudo é o melhor dos melhores
Ou o pior dos piores.
Na informação é normal
Quanto for excepcional.
Terrivelmente inseguros
Findamos no mundo, impuros.
O excepcional é tão raro
Que com ele não deparo,
Desesperado por ir
De algum modo o conseguir...
- Findo aqui amarfanhado
Por me deixar ter levado.
Bonito
Há tanto que não sabemos!
É o que é bonito na vida.
As certezas que nós temos
São a morte desferida
Ao sonho que nos convida.
Fecham-nos o coração,
Os olhos, os horizontes.
Já não temos mais à mão
Para o infindo quaisquer pontes.
- Que além nos resta que apontes?
Ando
Não ando a pagar impostos
Quando tudo corre bem:
Invisto em comunidade.
Reduzo o risco de além,
A incerteza dos supostos,
Entre todos a ansiedade.
Num Estado-providência
Não há infeliz existência.
E na convivialidade
Partilho a felicidade.
Padrão
O padrão dum equilíbrio
Entre a vida e o trabalho
É que me evita o ludíbrio
De eu ser o custo que valho.
Sou meu tempo de brincar
E de jantar em conjunto,
O dia quase a findar,
Partilhando pão e assunto.
Isto é que, bem amanhado,
De feliz dá resultado.
Nisto é que somos amigos,
Não estranhos aos postigos.
Dá-me
Põe-me alguém a mão no ombro,
Dá-me um beijo caloroso,
Faz-me uma festa no rosto...
- Já não sou mais este escombro,
Sinto-me feliz, com gozo,
Calmo, da vida em meu posto.
Nosso corpo assim funciona,
Maravilha a ter-me à tona.
Rede
Com os amigos chegados
Em rede comum coesa,
Todos juntos recordados,
Conhecidos sem surpresa,
- É tão grande o benefício
Que chega a valer suplício.
Porém, para o recém-vindo,
É bem demorada a entrada:
É um estranho e então eu findo
Sempre a ignorar-lhe a chegada.
Todavia, quando eu entro,
Então de vez fico dentro.
Confeccionar
Quão mais tempo demorar
A confeccionar comida,
Se o momento partilhar,
Mais gozo gozo à medida.
A cada dentada dada
Recordo aquele Verão
Da fruta a ser apanhada,
Da casa a cheirar a pão...
Demorar horas no forno,
O fogão em lume brando,
E a gente a falar em torno,
Novas do mundo aflorando...
Para quê me levantar?
Só mesmo o copo de vinho
Para, no que está a guisar,
Lá deitar devagarinho...
O processo mais importa
Do que o produto final:
Nele é que em mim abro a porta
Para ser meu ser real.
Mais
Um lar que tem interior
Tem mais que decoração
Como seu vero factor,
É também a sensação
Que as peças a nós nos dão,
Da vista e toque o teor:
Variedade de texturas
Dessedenta das securas.
Andamos
Andarmos de bicicleta
Torna-nos bem mais felizes
Que ir de automóvel à meta,
Transportes doutros matizes.
E quem é feliz detecta:
- Que bom ir de bicicleta!
Ela aumenta, comedida,
Nossa esperança de vida.
Têm da bicicleta os pares
Mais eventos comunais,
Mais encontros familiares
Que os do automóvel rivais.
Delas corre um corropio?
- Vivo num bairro sadio!
Reconforto
Reconforto aconchegante,
O do estralejar da lenha
Crepitando hilariante
Da lareira sobre a penha.
Pingos da chuva a cair
Do telhado bem seguro,
Vento lá fora a zunir
Nas fendas que abrem no muro.
As árvores num adeus
Entre rameiras trocado...
E que cheirinho dos céus
Vem ali dum cozinhado!
O ribombo do trovão
Aqui bem dentro de portas,
Seguro em meu firme chão,
- Que aconchego em minhas hortas!
Cheirinho
Que cheirinho a antigamente,
Ao quinteiro bem seguro,
À padaria em que a gente
Comprava da vida o apuro!
À macieira de infância,
À ramada amadurando,
Às ervas onde a elegância
Dormia de vez em quando!...
- O aroma, por todo o lado,
Dum viver bem descansado.
Vencer
Permanecer dentro e quente
Num lugar onde faz frio
É deveras diferente
De estar quente simplesmente,
É vencer o desafio:
Confortável e viril
Ficar num ambiente hostil.
Pequeno
A felicidade
É o pequeno nada
De prazer que me há-de
Convir hoje à estrada.
O que todo o dia
Corre, por magia,
Mais do que o pedaço
Duma sorte grande
De ocorrer escasso,
Por mais que a demande.
O que raramente
Acontece à gente.
Obcecado
Obcecado por alguém?
Por amor, não, é por medo:
De ficar só vida além,
Ou de o não amar ninguém,
De nem valer um apego,
Medo de ser ignorado,
Destruído, abandonado...
- “Mesmo que me falcatrue,
Que alguém tal me apazigue!”
Por aqui o amor não chega:
Não é amor, é uma refrega.
Mede
Do amor a profundidade
Não se mede pela dor.
É uma festa de igualdade,
Sem um manipulador
Nem doutrem explorador,
As mãos dadas de verdade,
Cada qual um semeador
Da própria autenticidade.
Bela
Quando a bela o monstro aceita,
Não procura convertê-lo,
Ama-o no que é, sem despeita,
Vive um cotio singelo.
Acolhe a realidade,
Sem doutra a necessidade.
Vem daí felicidade,
De ambos serem o que são
Sem qualquer necessidade
De nenhuma conversão.
É uma paz sem mais fastio
Ante qualquer desafio.
Cada qual, sendo feliz
Ao caminhar nesta via,
Busca mais e mais perfis
De mais feliz, cada dia.
Para sempre então quenquer
Pode vir a feliz ser.
Rumando
O casamento é viagem
Rumando ao desconhecido,
Descobrindo, na romagem,
Que a partilha de sentido
É do que um do outro não sabe
Mais do que sobre si mesmo
Não sabe e jamais acabe
De desvendar, vida a esmo.
Sempre
Sempre o amor é um invisível
A se visibilizar,
Tão real e mais sensível
Do que as águas, do que o ar.
É sempre uma força viva
Em acção e movimento.
Move ondas de forma esquiva,
Corrente a todo o momento,
Tal e qual e sem engano
Como qualquer oceano.
Contudo, ninguém o vê
Nem tira a forma do pé.
Semelhante
A lei da atracção ordena:
O semelhante se atrai.
O que dás, cumprida a cena,
Volta atrás e em ti recai.
Aquilo que à vida deres
É o que à volta receberes.
Recebes sempre de teu
O que iguala o que se deu.
Ofereces positivo?
Positivo tens de volta.
Ofereces negativo?
Tens o negativo à solta.
Pensamento e sentimento
Fermentarão teu agir
E ora tu terás tormento,
Ora o céu a se te abrir.
Não é só quanto acontece
À vida no teu lugar:
Recolhes quanto oferece
Teu pendor de semear.
E aquilo com que medires
Mede-te a ti, se bem vires.
Pensamento
Pensamento positivo
É do que deseja e ama.
Pensamento negativo
É do que não quer nem gosta.
Naquele a vida se acama,
Neste foge em dar à costa.
Questão é que a maioria
Fala mais do que não gosta
E assim priva cada dia
De ganhar a boa aposta:
A vida segue a corrente
Do pensamento vigente,
Mesmo quando o repudie:
Se o tem, faz que se lhe alie.
Poder
Tens poder ilimitado
De pensar e de falar
Do que amas, por todo o lado:
Tens poder ilimitado
De o que for bom acartar,
As prendas boas da vida,
Até ti, sem mais medida.
Cuidas
Se cuidas que ficas bem
Só quando algo conseguires,
Desafias vida além
Do amor a função que tem
Mais a lei de o atingires:
Nada perde para trás,
Dá-te a vida o que lhe dás.
Se hoje só lhe dás tristeza,
Triste teu amanhã preza;
Se hoje teu culto é alegria,
Multiplica-la em teu dia.
Tema
A vida não te acontece,
A vida vem responder-te.
Cada tema que aparece
Foi chamado em tua prece
Pelo que emites solerte:
Tudo, tudo em tua vida
Tem o teu molde à medida.
Primeiro
Primeiro tens de emitir
Bons sentimentos além,
Deves feliz te sentir,
Felicidade também
Em teu redor espargir
Para receber matizes
Em tua vida felizes.
O que receber quiseres
Primeiro vem do que deres.
Nada
Daquilo que nos importa
Nada nos vem do exterior,
O que exorta ou não exorta
É sempre escolha interior.
Há, porém, tanto despiste!
Há muito quem até creia
Que o interior não existe,
Só do exterior preso à teia.
E nem vê que uma tal crença,
De íntima escolha despiste,
Prova o inverso da sentença!
Tudo
Culpa, críticas, culpados,
Queixas, negatividade,
Tudo conflitos tramados
Nas tramas de cada idade.
Queixas dos filhos, do clima,
Do trânsito, do Governo,
Do parceiro que não rima,
Das filas de atraso eterno,
Do corpo, da economia,
Das refeições, do trabalho,
Dos preços que eu pagaria,
De empresas onde não calho...
Niquices inofensivas?
Antes cargas negativas!
Depois queixo-me, infeliz...
- Mas cultivo-as de raiz!
Limpa
Limpa do vocabulário
O terrível, o nojento,
O refalsado fadário...
- De emoções negras invento.
Palavras tais, proferi-las,
A ti voltarão em filas.
Bem melhor é o fabuloso,
O fantástico, o brilhante,
O incrível, maravilhoso...
- Abrem-te estrelas diante.
Com o amor ou te harmonizas
Ou para o inferno deslizas.
Ajuda
Dás uma ajuda a um amigo
E não fazes ligação
Quando após o teu patrão
Vier pôr a teu abrigo
Os bilhetes para um jogo
Que vos trará desafogo.
Aquilo que receberes
Vem sempre do que antes deres.
Presente
A vida maravilhosa
E protegida do mal
Poderá ser a que goza
Presente aqui bem real.
Transmude-se numa força
Positiva e condições
De aconchego por que torça
Vão atrair-lhe os serões.
Gozará toda uma vida
De abundância revestida.
Piloto
Pôr em piloto automático
Emoções e sentimentos
É sempre o modo dramático
De andar ao sabor dos ventos.
Tudo mera reacção
A quanto ocorrer então.
Não vêem que os sentimentos
São a causa que precede
Qual o teor dos eventos
Daquilo que lhes sucede.
Nunca descobrem o centro:
- Que a causa lhes mora dentro.
Oportunidade
Todos os dias serão
Oportunidade nova
Para nova vida. Então,
Cada dia posto à prova
Será um ponto de viragem
Da vida para a romagem.
É que qualquer dia pode
Mudar de vez o futuro:
No melhor teor que lhe acode
Mude o que sente, seguro.
Ao mudar o que sentir
Inaugura outro porvir.
Ponta
Cada momento da vida
Pode uma ponta criar
Do Infinito com que lida.
E todo o Cosmos a par
Apresenta uma abundância
Infinita a recriar.
Faz, portanto, até com ânsia,
O teu pedido bem claro
E tudo, embora à distância,
A ti chega a dar-te amparo:
É teu coração de infância
Abraçando um Céu bem raro.
Usa
Usa a mente a te focar,
Imagina o que desejas,
Vê-te lá, que é o teu lugar,
A operar tudo o que almejas.
Imagina, ao fim da luta,
Que tens quanto se disputa.
É por aqui o caminho
De teus ovos pôr no ninho.
A vida irá duplicar
O que investes neste andar.
Ama
Quando estás visualizando,
Ama aquilo com que sonhas,
Sente o chão já lá pisando,
Vê-te a agir no que lá ponhas.
Sente que já tens, enfim,
O que desejas no fim.
A tua imaginação
Liga-te ao que tu desejas,
Teu desejo atrai o chão
De seres tu quanto almejas.
- Do porvir a eficiente arte
Ei-la aqui de tua parte.
Mente
Da mente dum mestre
O vero segredo
Em que bem me adestre
Da vida em meu credo
É como usa então
A imaginação:
Ao que não quiser
Nunca dirá não,
Diz sim ao que quer.
Não há desperdício
Na rota seguida,
Tudo é benefício
Pelas mãos da vida.
Campo
Aquilo que determina
Se é meu campo de atracção
Positivo ou negativo
É sempre minha emoção.
O sentimento combina
O tom do mundo em que vivo.
É o que atrai tudo o que é bom
Ou tudo o que for malsão.
Sempre que amor emitir
Ao sentir, falar e agir,
Encho mais uma mancheia
De amor ao que me rodeia.
Quanto mais amor houver,
Mais o que amar irei ter.
Força
Perante a força do amor
Nada é grande em demasia,
De distância nem um ror,
Nem barreiras a se opor,
Nem o tempo o pararia...
Poderei mudar na vida
Tudo aquilo que quiser,
Dominando em cada ida
Do Cosmos a desmedida
Força maior e poder.
- Basta-me em tudo emitir
O amor fundo que sentir.
Maior
Por maior que seja
O desejo a ter,
Só um ponto é que eu veja
No infindo do Ser.
Ante o imenso Amor,
O que eu desejar
Mais pequeno um ror
Que um ponto tem ar.
Tão irrelevante!
- Porque temo o instante?
Imaginas
Se imaginas o melhor,
O melhor te é devolvido.
Se imaginas o pior,
O pior te é remetido.
Nunca poderás falar
Daquilo que não desejas
Sem te sentir mal, a par,
Que o mal sentes mal o vejas.
Tal é, porém, nosso vício
Que até falar lhe é propício.
Quem tal hábito inverter,
Que gozo em vida irá ter!
Passeia
Quando o teu carro de sonho
Passeia à frente na rua,
É a vida, com ar risonho,
A dizer: que escolha é a tua?
Se sentes por ele amor,
Junto a ti to virá pôr.
Se for inveja ou ciúme
Por outrem o conduzir,
Tudo então se te resume
A deixá-lo de vez ir:
Queres mal ao condutor
E a vida o mal vem-to impor.
Quando um grande amor procuras
E vês um casal feliz,
De que lado é que tu juras
Tua busca de raiz?
Ficas triste e solitário?
- Negra vida é teu fadário!
Quando tens o peso a mais
E vês um corpo perfeito,
Que sentimentos reais
Te cruzam então o peito?
São maus por não auferi-lo?
É dizer: “Não quero aquilo,
Quero o corpo volumoso
De que ando aqui pendurado!”
Logo o Cosmos, pressuroso,
To irá dar bem aumentado.
Só quem amar a saúde
Saúde atrai que o ajude.
Quando te sentires bem
Com algo que alguém possui,
Para ti o atrais também
Através de quanto flui.
Ser feliz, se te convida,
Sente-o, que to traz a vida.
Quando alguém se entusiasmar
Com um qualquer benefício,
Vai com ele partilhar
Sem de azedume resquício.
Se emites amor do evento,
Dá-se-te este em alimento.
Atrais
O amor dá-te o que lhe deres,
Tu atrais o que projectas:
Na lei da atracção tu geres
O mundo em tuas paletas.
De tudo e todos partilhas,
Tu és tudo, não há ilhas.
Ante tal lei mais ninguém
Existe: o Todo o contém.
É contigo e cada um:
Fora não há ser nenhum.
E com cada qual é o mesmo:
Atrai só quanto ama a esmo.
Se se enganar e diz não,
O que o não diz vem-lhe à mão.
Com outrem se alguém se aflige
É a si próprio que isso inflige.
Ama o que queres na vida,
Que vem velar-te as apostas.
Ao que não amas revida,
Vira-lhe de vez as costas.
Dívida
Mesmo ao fim de todo o tempo,
Jamais o Sol diz à Terra:
“Por quantas vinhas eu empo,
Em dívida estás que aterra
Eternamente comigo.”
Antes do amor sob o abrigo
É só gratuito parceiro:
- Ilumina o mundo inteiro!
Multiplica-o
Por mais que tenhas amado,
Multiplica-o cem, mil vezes...
Limite não há traçado
Para o amor, sem que o tu leses:
Não há tecto para o amor
E é tudo em teu interior.
É que tu de amor és feito,
É o âmago do Universo,
Da vida, da natureza.
Na abertura, nosso peito
Ao Infinito é converso,
Só o ilimitado preza.
Podes amar muito mais
Do que imaginas jamais.
Desaparece
Pela vida apaixonado,
Desaparece o limite.
Na alegria, amor sonhado,
Na saúde, num palpite,
Mesmo na felicidade,
Tudo a festa, tudo, invade.
Com um retoque de nada
Vai-se a negatividade.
Muito mais que uma jornada,
Tudo é uma oportunidade.
De entusiasmo repleto,
Viver é um fervor completo.
Tão leve como uma pluma,
Tudo o que amar cai-lhe aos pés.
Paixão pela vida assuma:
O Infindo, de lés a lés,
Abre-lhe o ilimitado,
Invencível se há tornado.
Procura
Procura aquilo que amares,
Os prédios, carros, estradas,
Os cafés, os restaurantes,
De venda quaisquer lugares...
Descobre onde os pés das fadas
Volitam nos teus instantes.
Nos outros procura o que amas,
Procura-o na natureza,
Nos pássaros e nas ramas
De árvores que o sol apresa,
Nos perfumes e nas flores
Que sopram contigo amores.
Vê, pois, tudo aquilo que amas,
Ouve-o, fala dele a todos.
Do dia a tela que tramas
Que o integre de mil modos.
- Então todo o teu teor
É que és um rio de amor.
Caminhar
Ao caminhar pelas ruas,
Procura lados que amares
Noutrem com quem mal actuas
Em mera troca de olhares.
Repara também nas montras,
Busca o que amas no que encontras.
Adora aqueles sapatos,
Aquela roupa dobrada,
Aqueles olhos pacatos
Da pessoa ali especada,
Adora aquele sorriso
Com um perfume conciso...
- Sente do amor a pulsão,
Aquece o teu coração!
Orientar
Para me manter alerta
Tenho de orientar a mente:
Onde é que anda pela certa
O que amo, daqui ausente?
Quando à mente perguntar,
Não pode mais, ocupada,
Evitar de procurar
A resposta programada.
Todos os mais pensamentos
Interrompo de imediato,
A resposta a meus intentos
A descobrir, de acto em acto.
Destaca
Todo o dia diz aos dias
Aquilo que mais amares,
Destaca o que mais querias
Nos mais altos patamares.
Assim é que em vida avias
Aquilo de que gostares.
Não ignores: se não gostas,
Não digas! Ou tem-lo às costas...
Distribuíra
Se eu distribuíra o dinheiro
Pelas mãos de toda a gente,
Voltaria, de repente,
Para o primeiro parceiro.
Este o atrai a toda a hora,
Íman pelo mundo fora.
Princípio fundamental
Inerente a toda a coisa,
Onde o filósofo poisa
E a religião dá sinal:
Não há forma de escapar
Ao amor que alimentar.
Quem sempre amar o dinheiro,
Ele o cerca por inteiro.
Quem sempre o viu negativo,
Sempre lhe é na vida esquivo.
Queiramos
Para o dinheiro agarrar,
Só tendo por ele amor,
Como outro qualquer sonhar
Que queiramos com fervor.
Quem o não sentir cá bem,
Repele-o, não lhe convém.
Mesmo inconscientemente
Fá-lo quase toda a gente.
Permito
Se permito à minha vida
Que seja boa deveras,
Os tempos são, em seguida,
Deveras bons pelas eras.
Nossa época erigimos:
Tal qual como nela estamos
Estarão, da base aos cimos,
Os tempos que assim lavramos.
Pagas
Quando pagas contas,
Em que estado irás?
As contas que aprontas
São dum mal as pontas
Que o bem contrafaz?
Ou nelas apontas
Teus dons que a bem dás?
- Acolá te trais,
Aqui terás mais.
Acolher
Se alguém recebeu dinheiro
Ou saiu-lhe a lotaria,
Se eu o acolho na alegria,
Com o dinheiro emparceiro:
Então é que qualquer dia
Em mim colho igual maquia.
Se reagir decepcionado
Ou acabar invejoso
Por de tal não ter o gozo,
Tal afecto malfadado
Dirá não a mais dinheiro,
Nunca mais dele me abeiro.
Se reagir entusiasmado,
Fico lá mesmo centrado:
Então é que abro as comportas
Da fartura a minhas portas.
Transmitir
O que transmitir amor,
Com um sentimento inteiro,
Por dinheiro a se propor
É um íman para o dinheiro.
O que implica que trabalhe
Porque é mesmo divertido,
Entusiasma o que ali talhe
E adora andar envolvido.
Ora, se ama o que fizer,
Vai dinheiro aparecer.
Concentre-se
Concentre-se em toda a gente,
Trivial embora o contacto,
Com cuidado, gentilmente,
Compreensão, amor de facto,
O melhor que conseguir,
Sem ter de alguém retribuir.
- De vida então sua resma
Nunca mais vai ser a mesma.
Transmito
Transmitir amor é a lei
A tudo a aplicar na vida
Como dar o amor que sei
É a relação bem vivida.
O amor nunca quer saber
Se conheço ou não alguém,
Se é um amigo que tiver
Ou inimigo também,
Se aquele que acaso apanho
É amado ou antes estranho,
Se é colega de trabalho,
Patrão, pai, filho, estudante
Ou alguém de quem me valho
Que está dum balcão diante...
Com todos com que estiver
Ou transmito amor ou não.
- E sempre aquilo que der
Será o que recebo então.
Todos
Se um dia todos se amarem,
Não domina o forte ao fraco,
Maiorias, se contarem,
Não oprimem nem um caco,
Não troça o rico do pobre,
O de honra mais elevada
Não faz que um humilde dobre
E o mais esperto que sobre
Nunca engana ao simples nada...
- Toda a gente amar a gente,
Que sonho mais sem presente!
Mas já sonhá-lo um pouquinho
É um pouco tê-lo a caminho...
Ribeiro
Quando amar alguém,
O amor tanto afecta
Que ribeiro além
Nos mais se projecta,
As margens inunda
Da comunidade
E tanto fecunda
Que retornar há-de.
Por mais que viaje
Volta a si quando age,
Com mais energia
Quantos mais alia.
Negativo
Negativo afecta
Um outro qualquer?
Noutros se projecta
Do veneno a seta
Antes de volver.
Quando retornar,
Vai-o envenenar
E muito pior
Que o primeiro humor.
Quenquer
Com quenquer que seja
Que eu entre em contacto
Dou amor ou não.
E o que quer que seja
Que ali dê de facto
Vem-me após à mão.
O que é oferecido
É retribuído.
Usa
Rodeia-te do que amares,
Sente amor o mais possível,
Usa o mundo exterior
Para sentir mais amor.
É o momento de alcançares
A viragem para o incrível:
Quando em mim eu mudo tudo,
Então fora tudo mudo.
Nada
Nada na biologia
Diz que a morte é inevitável.
Mudamos de lado um dia
E o de Além é tão fiável
Como aqui o dia-a-dia.
Não há morte, não, deveras,
Só o lado de olhar as eras.
Negar
Uma criança é fluída,
Não anda a negar a vida.
Foi só quando envelheceu
Que os limites absorveu:
Na fantástica jornada
Até a vida é limitada...
Quão mais ama mais derrete
O negror que em si compete,
Sente o amor a desfazer
O negativo que houver.
O miúdo é grato e jucundo,
Trepado ao topo do mundo.
- Só o amor nos não ilude:
Quanta fonte de saúde!
Constante
O que ao corpo transmitir,
Constante, com suas crenças,
Sentimentos que sentir,
É o que no corpo, a seguir,
Recebe como sentenças.
As emoções que regista
Toda a célula saturam
E quaisquer órgãos que alista
No corpo que, tendo-o em vista,
A si é que o configuram.
Configuram-no do modo
Como sentir como um todo.
Príncipe
Sou o príncipe dum reino
Com súbditos tão fiéis
Que nem me requerem treino:
Células em seus papéis.
Servem sem hesitação
Aquilo que penso e sinto,
Disto me moldando o chão
Das cores com que eu o pinto.
É o que sempre devém lei
Do corpo em que me tornei.
Matando-lhe
Se transmitir
sentimentos
Daquilo que não desejo,
Da saúde a força alvejo
Matando-lhe os alimentos.
Se por algo sinto amor,
- Dia de sol, casa nova,
Amigo que me promova... –
É saúde a se me impor.
Aquilo que trago à mente
É o que alinho à minha frente.
Não importa se o aceito
Ou, ao invés, se o rejeito:
Tal é o meu poder mental
Que o mundo modulo a tal.
Da física de partículas
Manda a mente nas edículas.
O mundo se realinha
Conforme em mente o que eu tinha:
Pensar não posso o “não quero”
Ou disto não me libero.
Energia
A tua energia vem
Daquilo que estás sentindo
E aquilo que sentes tem
De atrair, para ti vindo,
Tudo o que anda em sintonia
Com o que tu pões na via.
Repelindo ou aceitando,
É o que andarás cultivando.
Acontece
O que acontece num dia
Terá sempre mais magia
Que qualquer filme fantástico
Que possa ver, orgiástico.
É de olhar com atenção
Para o que ocorre na acção,
Senão, num qualquer desvio,
Perdemos da história o fio.
Se ando aí adormecido,
Perde a mensagem sentido
E nenhuma sincronia
Doravante a vida guia.
Cão
Felizes e sorridentes
Se não andam em redor,
Logo cão mostrando os dentes
De raiva então me irei pôr.
Só se em quanto amar eu penso,
Ponho na ferida o penso:
Inverto aí o pendor
De todos sempre em favor.
Encaixota
Ora, se Deus é Infinito,
Como pode haver alguém
Que o encaixota em seu dito
E na tradição que tem?!
Pior: que tem pretensão
De à trela o prender à mão?!
Pior inda: ordens lhe dar
Para seu feudo guardar?!...
Como é que as religiões
Se entregam a tais pagões?
Fortalecer
Se fortalecer a fé
Descubro que já não é
Requerida a sensação
De controlo do meu chão.
Tudo então em redor flui
E eu com tudo então me fui,
Com benefício e prazer,
Deixando-me livre ser.
Importa
Que importa a lavandaria
Atrasar-se por um dia?
Porque é que há-de ser má sorte
Se hoje perdeste o transporte?
Porque é que há-de ser desgraça
Não haver fruta na praça?...
No contexto do Universo
Que é que importam estes nadas?
- Mas prendem-te desde o berço,
Não corres tuas estradas...
Livra-te dos pormenores:
- Dá espaço a feitos maiores!
Força
A força do amor
Oposto não tem:
Não há desamor
Do amor para além.
Um amor ou há
Ou falta acolá.
E a falta é um vazio:
Fica seco o rio.
Falta-lhe
Uma força da tristeza?!
Falta-lhe é felicidade.
Felicidade que preza
Vem dum amor de verdade.
Uma força do fracasso?!
Falta ao fracasso é sucesso.
E o sucesso que eu abraço
Vem do amor em que eu ingresso.
Uma força da doença?!
É só falta de saúde.
E a saúde tem avença
Dum amor com a virtude.
Uma força da pobreza?!
É só falta de abundância.
E a abundância é uma beleza
Que do amor vem com a instância.
O amor é a força da vida.
Malfazeja condição
É a falta de amor vivida
Que esvazia o coração.
Vida
Vida afectiva orientada:
Vida própria cultivada.
Vida própria cultivada:
Vida do lar bem regrada.
Vida do lar bem regrada:
Vida em ordem no país.
Vida em ordem no país:
- É o mundo em paz, na raiz!
Domina
Domina a força do amor
E o amor vai-se tornar
Teu pessoal assessor,
O teu gestor financeiro,
De saúde o consultor,
Permanente conselheiro
Em qualquer tempo e lugar.
A partir do pensamento,
O amor, com jeito fagueiro,
Molda o relacionamento
Todo e a todo o momento.
Nadas
Se a tua mente for cheia
De nadas em demasia,
Distrai-se então, volta e meia,
Perde-se de tua via.
Simplifica tua vida
E não dês muita importância
Aos nadas, bandeira erguida
De qualquer irrelevância.
- Para teus fins, tua paz,
Que diferença é que faz?
Consigo
Não consigo imaginar
Ninguém a não existir.
Corpo sem vida é vulgar,
Mas não-ser, como o intuir?
Ninguém imaginar pode
O nada, ou algo lhe acode.
Se algo acode, já o não-ser
Por algo então foi trocado,
Que atraio à vida o que quer
Que haja em meu imo pensado.
Daí que não existir
Ninguém o possa exprimir.
Faz parte da criação
Todo o ser eternamente.
Muda o modo, porém não
O ser num qualquer presente.
Vida e morte são dois modos
Do ser que somos nós todos.
Nunca
Nunca existiu uma altura
Em que eu, tu e tudo o mais,
Nada existia e se augura
Que no futuro, reais,
Não deixemos de existir
No processo do devir.
Somos o mesmo na infância,
Na juventude e velhice
E a morte, na mesma instância,
Leva a que a gente então se ice
Para entrar, de modo terso,
No corpo que é o do Universo.
Nunca ao sábio que isto alcança
O perturba tal mudança.
Céu
O céu é de encontrar cá nesta vida,
Não quando o corpo breve me morrer.
O céu mora comigo na escondida
Derradeira camada de meu ser.
Descobrir céu na terra é só viver
Na última fundura que eu tiver,
Viver o puro amor, pura alegria
Da raiz derradeira de meu dia.
Resta
Quando houvermos conquistado
Ventos, marés, gravidade,
Resta a conquista maior:
Resta conquistar o amor.
Na história do mundo dado,
De novo, naquela idade,
O homem terá, desde logo,
Outra vez domado o fogo.
Evita
Quem é manipulador
A física violência
Evita, controlador,
A esconder toda a evidência.
Psíquica importunação
É muito mais sorrateira:
De fora invisível, não
Deixa de ser mais certeira:
Ninguém dá por ela agora?
- É bem mais destruidora!
Manipulador
Manipulador doente,
Às portas diz-se da morte.
E é culpa de toda a gente
Ou da maldita da sorte.
Se o doente for você,
Não aguarde dele ajuda:
Sempre imaginária vê
Doença que não lhe acuda
E a um doente imaginário
Ninguém corre solidário.
Goza
Manipulador perverso
Goza com a humilhação,
Gradual degradação
Do par que afoga no berço.
Tem uma razão de ser:
Tomar de vez o poder
Até o outro possuir
Sem já nem lograr bulir.
Contra
Contra um perverso ninguém
Ganhará num casamento.
É que o perverso é também
Doente do sentimento.
E de tal comportamento
Não há cura vida além.
Aguardar por uma muda
É mais perversão que ajuda.
Só rompendo com tais laços
Pode a vida dar abraços.
Mal
O dependente afectivo
A ser mal acompanhado
É sempre mais receptivo
Do que a não acompanhado.
Momento de solidão
O extremo é da confusão:
Ignora como existir
Num mundo sempre a evoluir.
Melhor
O melhor investimento
É decerto o das memórias.
Ocupam-nos o momento
E, com glórias ou sem glórias,
Enquanto ato cada laço,
Nunca me ocupam o espaço.
Às vezes até dinheiro
Nos dão acaso por elas.
O pagamento cimeiro
É, porém, o afecto delas,
Os nós com que nos atamos
Ao mundo em todos que amamos.
Evitar
Evitar pedir desculpa
É que o mau comportamento
Admitido tanto inculpa
Que é um desconforto o momento.
Temo-nos como pessoas
Atenciosas, gentis,
Sempre de certeza boas,
Éticas e nunca vis.
Pedir desculpas implica
Nem sempre andarmos conformes
Ao padrão que ali se aplica,
Temos outros uniformes.
Por outro lado tememos
Que o outro nos não aceite
E mais a imagem rasguemos
Que já mais ninguém respeite.
Só que melhora a saúde
E repara relações,
Auto-estima faz que mude
A níveis que nem supões.
Pedir desculpa é o sinal
De quem tem uma presença
De imensa força moral:
Não é quem ofende a ofensa.
Fiz algo que te ofendeu
Mas a acção que não foi boa
Deveras já não sou eu,
Não sou enquanto pessoa.
Exprime
Exprime arrependimento,
Explica o que correu mal,
Reconhece, no momento,
Ser responsável por tal,
Declara arrependimento,
Tenta reparar o mal
Todo do cometimento.
Em última conclusão,
É um pedido de perdão.
- Eis o que desculpas meras
Serão quando são sinceras.
Perversa
Sem um arrependimento,
Mera justificação
É a desculpa de momento
Por qualquer perversa acção.
Responsabilização,
Se a não há, mera desculpa
Sem pedido de perdão
Mais nos enterra na culpa.
Seremos mesmo culpados
Então dos danos causados.
Vítima
Ser vítima não transforma
Alguém em boa pessoa:
Pode ser o diabo à toa
Num meio que é bom por norma.
Não mais o vitimizar
Requer ter prudência a par.
Consagrá-lo poderia
Vir a matar-nos o dia.
Prendas
A vida tudo são prendas,
Mesmo quando são amargas
Ou nos pesam muito as cargas
E não há como as desprendas.
E todas são para bem,
Quer as de sabor de mel,
Quer as de travor de fel,
A atrair ao que convém.
A maior prenda da vida
Foste tu que me acolheste
E toda a vida te deste
A alimentar-me a subida.
Ora minha luz do dia,
Ora meu luar da noite,
És o braço que me acoite
Quando meu pé perde o guia.
Ora me atrais para a frente,
Ora me picas por trás,
E eis que a vida bem capaz
É de ser bem diferente.
Viemos novos a caminho
Nesta aposta singular
De trilhar o rumo a par,
Sem nenhum ficar sozinho.
E cá vamos deste jeito
Já idosos, sem desistir,
Fazendo o dia sorrir
No rumo tomado a peito.
E és tu que o dia acalentas,
Que eu não tenho mãos de fada
Para cada flor bordada
Com que as horas reinventas.
Anos
Fazer anos o que importa
É quantas mais madrugadas
Vida fora semeadas
Colhemos à nossa porta.
Quanto beijo, quanto abraço
Trocámos com os chegados,
Mundo fora desdobrados
Ao correr de cada passo.
Quanto sol, quanto luar
Admirámos de mãos dadas,
As paisagens a cantar
Nos galos das orvalhadas.
Quanta conversa ao serão
E nas tardes soalheiras,
Cada vizinho um irmão
Com a fartura das eiras.
Fazer anos o que importa
Para além de se estar vivo,
É que a vida é nossa horta,
Nossa horta de cultivo.
Longas
Quando em vida agísseis
Remansosas lidas
Em todo o lugar,
Longas despedidas,
Ai, quão mais difíceis
São de suportar!
Longas despedidas,
Não, que são doídas.
Menos dói, real,
Pôr ponto final.
Morte
Quando a morte é certa,
Viver mais uns dias?!
Que vida se aperta
Em tais agonias?
É morrer aos goles,
Já sem consciência
Do que em perda aboles
Ou se há transcendência...
- Mais vale ao calhau
Ir transpô-lo a vau.
Longos
De longos anos paixão,
Em chegando ao casamento,
Ódio é, separação,
Da indiferença o tormento?
O amor é meio de escolha,
É eleger a criatura
Companheira que se acolha
Enquanto a vida perdura.
Nunca pode afiançar
Perpétua felicidade
De ambos caminhando a par,
Pois num sopro até se evade.
A pacífica afeição,
Vera estima, intimidade
É o diário ganha-pão
De quem lavra a eternidade.
Sábio
O sábio é sempre quem
Toma a própria decisão.
O ignorante segue além
Doutrem sempre a opinião.
O sábio às circunstâncias
Se adapta, maleável barro,
Como em todas as instâncias
Moldam-se as águas ao jarro.
Nunca se embrulha, porém,
O fogo com o papel:
Há que ponderar também
Se o que vem nos queima a pele.
Não podemos impedir
Da tristeza os passarinhos
De acima de nós bulir,
Mas de em nós armarem ninhos.
Tempo
Em tempo de furacões
Ou ergues muros aos ventos
Ou moinhos lhes antepões.
São de mudança os momentos.
Porém, nos grandes tufões,
Os ventos são tão violentos
Que não há moinho que aguente
Nem muro que acaso o tente.
Resta o abrigo ou a fuga:
- Netes, pois, o passo estuga!