SEXTILHAS IRREGULARES

 

 

 

Cizânias

 

Se à roda se sentirem bem,

O manipulador incomodam.

Logo as cizânias que ele tem

Por entre todos clandestinas rodam:

Equívocos e suspeitas

Logo gerarão maleitas.

 

 

Amor

 

O amor é tão forte

Ou mais

Do que a morte.

E o ciúme, para cúmulo,

É cruel demais,

Como um túmulo.

 

 

Segredos

 

Os segredos guardados

No fundo do peito

Devêm mais pesados,

Apodrecida carcaça,

A cada dia de preito

Que passa.

 

 

Ver

 

Vivemos tão ocupados

A olhar para trás,

Lá encravados,

Que a gente

Nem é capaz

De ver o que tem à frente.

 

 

Ajudante

 

O nosso ajudante interior,

Nunca visível,

Finda sempre por se nos pôr

Acessível.

- Quem é que, distraído,

Não põe nele o sentido?

 

 

Herói

 

Para amar o prazer

Muito não é requerido.

Amar deveras, porém, requer

O herói destemido

Que consiga lidar, tarde ou cedo,

Com o próprio medo.

 

 

Reage

 

À insensibilidade

Não reage nunca qualquer alma,

É só o aconchego que há-de

Mantê-la da mão na palma.

Ali, no cantinho do borralho,

É que ao rubro o ferro malho.

 

 

Direito

 

Mais do que sobreviver,

Precisamos urgentemente

De crescer.

É um direito permanente,

No nascimento adquirido

Até à morte: é o sentido.

 

 

Pingam

 

Nem sempre um acto singular tira a bota

Que esmaga a flor que medra.

As águas pingam gota a gota

Através da pedra.

O que regala

É que acabam a perfurá-la.

 

 

Santuários

 

Criamos santuários de vida selvagem,

A evitar-lhe a extinção.

Porém, do homem para a romagem,

Não.

Qualquer dia

Que é de nossa romaria?

 

 

Dom

 

Todos temos um dom qualquer,

Um pão do céu.

Para o manter,

Só com quem o acarinhe como seu.

Todos aí temos direito, todos os dias,

A um coro de aleluias.

 

 

Única

 

Morte?

Nada que deveras importe.

É apenas o fado supremo,

Desde a infância.

A única morte que temo

É a da ignorância.

 

 

Tocar

 

Tocar alguém com nosso amor

É rodar a chave

Que nos desenvolve o amor que ele entrave

Reprimido em seu interior.

É o acerto

Do amor liberto.

 

 

Pejados

 

Há quem viva tão empenhado

No romântico amor

Que põe de lado

Os abrigos

Pejados de calor

De quem cria amigos.

 

 

Definem

 

Os pais definem a lei

E farão que seja cumprida.

E comportam-se como a grei,

De seguida:

O exemplo

É da família o venerável templo.

 

 

Abre

 

Brincar dá sabedoria

E traz alma.

Abre, dia a dia,

Um horizonte de calma

Que desabrocha, como à vida convém,

Sempre e sempre mais além.

 

 

Risco

 

Insistes

Em correr

O risco de errar?

Óptimo! É que não desistes

De aprender...

- Basta de agulha mudar!

 

 

Dura

 

A vida é dura e competitiva,

Problemas cuja aresta viva,

Pejada de dificuldades,

As transmuda em oportunidades:

- Resolvidas em cada lado,

Fazem-nos crescer mais um bocado.

 

 

Dispara-lhe

 

A vida traz o difícil.

A inteligência, grácil,

Dispara-lhe da perseverança o míssil

E torna-o fácil.

Depois de descoberto,

Como é simples o mistério do encoberto!

 

 

Nasce

 

Brinca

Quem aprende melhor.

Trinca

O sabor

Do sonho e da fantasia.

- Daí é que nasce o dia.

 

 

Procura

 

Quando em mim me adentro

À procura dos ninhos

Com que a vida me socorre,

Verifico que sem sonhos a gente morre

Por dentro

Aos bocadinhos.

 

 

Reclamam

 

Quanto menos de pais fazem

Mais reclamam modelos infalíveis

De ser bons pais, exigíveis

A ver se as culpas os não arrasem.

Manual de instruções?

- Simples: é empenhar mentes e corações.

 

 

Porvir

 

Um mundo de crianças uniformizadas

São milícias

Assustadas,

Estultícias,

Nunca o vento

Dum porvir que com os mais invento.

 

 

Escutando

 

É escutando e meditando

Que se cresce,

Aprendendo e pensando...

- Aí o ser

Com o saber

Floresce.

 

 

Indústria

 

É uma indústria, a escola,

Não de artesãos a confraria

A tecer de sabedoria

De aluno cada sacola.

Tanto quanto aquilo for e não isto, é um muro,

Não a porta do futuro.

 

 

Parte

 

A escola parte mais o coração

Do que anda a encher qualquer alma?

Então,

A ninguém entrega a palma

Para a festa da ida

Do mundo novo na avenida.

 

 

Abrir

 

Como abrir clareiras, trilhos e horizontes

Com a mola

Das pontes

Erguidas na escola?

- É o perene desafio

Que do porvir à mão nos prende o fio.

 

 

Sobre

 

Sobre tudo o que parece

Que desliga,

Prevalece

O que nos liga.

Quem o não viu

Dos mais e de si já desistiu.

 

 

Cuidado

 

Quando um filho é apenas escola,

Sem variados compromissos,

Certinho e conformado com a bitola,

Cuidado com os enguiços:

Há todo um lado abolido

De seu rumo de sentido.

 

 

Indivíduos

 

Os indivíduos marcantes

Em nosso evolutivo desenvolvimento

São os que criam constantes

Bases biológicas de conhecimento:

Ligam e religam actos e vivência

E os neurónios crescem em correspondência.

 

 

Primeiro

 

Primeiro há problemas

Assumidos,

Depois os lemas

Para os vermos resolvidos.

Não há saber de prevenção

Mas de procriação.

 

 

Cooperante

 

Uma escola orientadora,

Cooperante, convivente,

Será conivente

A toda a hora.

Assim atenta

É que o novo mundo inventa.

 

 

Ritmo

 

O ritmo frenético

É genético

Ou é da civilização

Um condão

Envolvido

Que nos tem engolido?

 

 

Escondido

 

Há um míssil

Escondido dentro de quem o aplica:

Abordar como fácil o difícil

Só complica.

É preciso primeiro desmontá-lo

Ou só teremos abalo.

 

 

Fugir

 

Fugir do medo

É ficar preso a ele.

Enfrentá-lo, quando não cedo,

É supor que, sem fantasmas a arranhar-me a pele,

Nunca floresce

O que em mim cresce.

 

 

Família

 

Família não é consanguinidade,

É a primeira fila do coração,

Mais os que chegam, mais os que vão,

Quando em mim os ato numa unidade.

Têm todos um pedaço do sentido

Que por mim é vivido.

 

 

Pedir

 

Sem pedir ajuda

Pensarei pior,

Tudo muda,

Nem de família irei dispor.

Ou há reciprocidade

Ou a família se evade.

 

 

Sol

 

“Mãe, mãe, o sol fechou-se!” - A criança admirou-se.

De ternura, o coração nos deu

Um tal couce

Que rachou uma fresta meio torta

Na porta

Do céu.

 

 

Pretexto

 

Nem sempre as perguntas

Requerem respostas.

Às vezes são o pretexto com que te juntas

A quem em ti fez as apostas.

É o que leva então a correr todo o dia

Ao encontro de quem nos desafia.

 

 

Guardam

 

Os bons pais guardam, história a história,

Cada pequeno nada

Com que a pequenada

Os enche de glória.

- Que memória

Mais gozada!

 

 

Tolerar

 

Pedagogia

Sem tolerar erro, remorso ou asneira

Como é que alma acresceria

A quem a requeira?

Com aquilo e muito mais

É que iremos crescendo como pais.

 

 

 

Só se veja

Quem só se deseja:

Sozinho,

Se tal é a escolha do caminho;

Acompanhado,

Se só com quem se escolha ao lado.

 

 

Nua

 

A verdade nua e crua:

Actor que não actua

Não pontua,

Corrido para o olho da rua.

A vida

Tem este metro por medida.

 

 

Escaqueirada

 

Depois de algum tempo, nada interessa,

Tudo é peça escaqueirada de museu.

Mas entretanto, peça a peça,

Houve até quem por aquilo morreu...

- Não temos mesmo noção

Da imensidão.

 

 

Continua

 

O mundo continua a girar,

Ocorrem novidades permanentemente,

A história dum amor que acabar

Não é nada tão premente

Que não venha, corrido um momento,

A tombar no esquecimento.

 

 

Preciso

 

É preciso ser um santo louco

Para amar quem nos magoou

E mais santo louco ainda um pouco

Se vou

Pensar, arrastando-me na lama,

Que quem nos magoou nos ama.

 

 

Inferno

 

Inferno não é ver quem amamos

A ser magoado.

É quando chegamos

Tarde demais, com tudo consumado,

Sem forma já de nada conseguir

Impedir.

 

 

Perder

 

Talvez tenhais de estar prestes

A perder algo tido por banal

Para lembrar que lhe destes

Um valor especial.

É que logo da perda o vazio

Vencerá qualquer fastio.

 

 

Trabalho

 

Na hora do vazio,

No negror da escuridão,

O trabalho empenhado é o navio

Para cavalgar as ondas do furacão,

O mais eficaz

Para saltar para a frente, não para trás.

 

 

Interessar-se

 

Quando alguém desatar

A interessar-se por algo, embora miúdo,

Descobre que tem de começar

A interessar-se por tudo.

Nada nem ninguém é uma ilha,

Tudo a tudo o mais se anilha.

 

 

Escolha

 

Pensa em casar?

Escolha alguém

Que você tanto abala

E que tanto o abala também

Que os leve a pensar

Que não há mais ninguém na sala.

 

 

Aproximar-se

 

Nas árvores uma casa,

De infantilidade que labéu!

Nunca entendeu

O adulto de vida rasa

Que a criança quer aproximar-se do céu.

 

 

Vida

 

A vida é mais forte,

É só deixar-se levar por ela,

Com confiança.

E até na morte

Nasce uma estrela

- E é uma estrela que a gente alcança!

 

 

Sentar

 

O bem-estar

De me sentar à janela

A ver o mundo passar

E mais quando é uma procela!

Sossegar

Ante o mundo inteiro a se agitar.

 

 

Cume

 

Não é por ter mais dinheiro

Que alguém será mais feliz.

O cume cimeiro

Tem outra matriz:

O amor não se vende,

É o coração que mutuamente se rende.

 

 

Tradições

 

As tradições importam,

Lembram os bons tempos passados

Com família e amigos.

Exortam

A traslados

Que são de alma abrigos.

 

 

Campo

 

Outrem não lograrei mudar,

Não é meu campo de lavrar.

Com a energia perdida naquele confim

Poderei é mudar-me a mim.

A vitória conseguida

É sempre em minha própria vida.

 

 

Útil

 

Abandonar de ser útil a ideia

Pode ser

O mais útil a fazer

Por quem ama,

Quando a trama

Do controlo ameia.

 

 

Quebra

 

Ao falar do bom da vida

Quebra as grades da gaiola

Indevida

Que o imola.

Ao falar do que amar, então,

O amor é uma libertação.

 

 

Escolhes

 

Todo o dia, a todo o momento,

Ou escolhes amar

E a energia deste vento

Aproveitar

Ou não.

E de todas as questões esta é a questão.

 

 

Transmito

 

O que transmito na vida

Recolho-o de volta.

Dou positividade? Em seguida

Terei a vida dela envolta.

Dou negatividade?

Eis que inteiro ela me invade.

 

 

Retornam

 

Afectos meus e pensamentos,

Quer bons, quer maus,

A mim retornam a todos os momentos,

Ecos de cumeeiras ou de calhaus,

Automáticos,

Feitos viáticos.

 

 

Segredo

 

Pensamento ou palavra

Sem sentimento

Não lavra

Da vida nenhum segmento.

Para rasgar o porvir

O segredo é sentir.

 

 

 

Determina

 

Aquilo que sentires,

Mau ou bom,

Determina o que atraíres,

Indivíduos, eventos, conjunturas,

Todos com emoções do mesmo tom

Que em ti apuras.

 

 

Implica

 

A fé

Implica acreditar

No que se não vê.

Vai depois recompensar

Aquele que a concita

Dando-lhe aquilo em que acredita.

 

 

Germina

 

A imaginação

Germina a criação:

Imagino o que desejo,

Desejo o que imagino

E logo, ao primeiro ensejo,

Crio-o, como meu destino.

 

 

Imaginar

 

Imaginar o impossível

Quebra os limites humanos.

Quem o imaginou, incrível

Mas fecundo,

Sem danos

Mudou o mundo.

 

 

Atraem

 

A minha imaginação

Com tudo aquilo que quero

É a ligação.

Um desejo mero

Mais o sentimento de amor, por fim,

Atraem o que desejo para mim.

 

 

Responde

 

Responde inteligentemente

Mesmo a quem, por norma,

Te tratar de forma

Pouco inteligente.

Poderá vencer-te aí

- Mas o porvir passa por ti!

 

 

Dispersar

 

Dispersar maus sentimentos,

Cavalos selvagens que monta,

Se os montou contra os ventos,

Também os pode desmontar, por sua conta.

E tão depressa pode escolher,

Como subiu, descer.

 

 

Mude

 

Mude aquilo que transmite,

Que muda, sem excepção,

O que recebe. O que concite

É do igual a atracção,

A superior

Lei do amor.

 

 

Resta-lhe

 

Não veja o mal,

O mal não oiça,

Do mal não fale...

- Resta-lhe o bem onde retoiça:

Aí é que multiplica

A alegria que lhe fica.

 

 

Pedra

 

Até a pedra recebe o amor que lhe dou

E, de repente, voou,

Fez-se parede

E de mim tem sede...

- Tudo é vivo

No mundo que arquivo.

 

 

Sabendo

 

O sábio,

Sabendo que o mundo é uma ilusão,

Tal se fora real não age então.

Por isso, a todo o momento,

Orientado por aquele íntimo astrolábio,

Escapa ao sofrimento.

 

 

Crença

 

Acreditar

No que pode ver e tocar

Não é da crença nenhum trunfo.

Acreditar no invisível

É que é uma bênção tangível:

É do íntimo o triunfo!

 

 

Contas

 

Se contas tua história como vítima,

Vítima irá tornar-se tua vida,

Embora legítima,

De tantas vezes como vítima repetida.

E vítima de futuro serás

Nunca mais deixada em paz.

 

 

Críticas

 

Críticas e julgamento

A mim próprio os dirijo.

Se amor e apreço emito por um elemento,

Indivíduo ou objecto, o que redijo

É a sentença de a mim

O dar por fim.

 

 

Imaginário

 

Teu imaginário é mais real

Que o mundo que vês,

Que o mundo visível brota, afinal,

Do que imaginas e crês.

O que crês e sentes por verdadeiro

Devirá tua vida por inteiro.

 

 

Lei

 

A lei do amor

Melhor a aprendemos

E entendemos melhor

Através das crianças com quem convivemos.

Quanto mais pequenas,

Maiores luzeiros nas cenas.

 

 

Imaginário

 

A lógica condu-lo

Dum ponto a outro ponto.

O imaginário é que dá o pulo

Com que mal conto

Para qualquer ignoto lugar

Do Universo a explorar.

 

 

Algo

 

Se imagino algo no passado ou no futuro,

Estou a imaginá-lo agora.

Em mim agora o inauguro,

O apuro

E atraio sem demora,

Sem adiamento, na hora.

 

 

Grato

 

Grato pelo que recebi,

Grato pelo que recebo,

Grato pelo que concebo

Que vem aí,

Desde já vivido

Como se já o houvera recebido.

 

 

Domínio

 

A gratidão é a ponte

Do sentimento negativo

Para o horizonte

De dominar ao vivo

O vigor

Do amor.

 

 

Amor

 

O amor colocar

Em primeiro lugar

Traz-me o dinheiro

De que preciso

Para todo o roteiro

Que viso.

 

 

Procura

 

Procura o que amas

No relacionamento,

Não do que reclamas

O tormento.

De repente, até atordoa

O incrível que acontece à outra pessoa.

 

 

Treinadores

 

Na forma das pessoas comuns,

Treinadores pessoais emocionais

A força do amor apresentam em alguns

Leques de vida reais.

- Toda a gente nos treina com pundonor

Para escolhermos o amor.

 

 

Agarre

 

Agarre a si

Tudo o que ama e deseja,

Olhando-o noutrem, por aí,

E dando-lhe as boas-vindas sempre que o veja,

Sem qualquer não,

Com todo o coração!

 

 

Conjuntura

 

Negativa conjuntura, mudá-la

Com maus sentimentos, não muda.

Ao que isto acuda

É a multiplicá-la.

O que logra a seguir

São os mesmos afectos negros expandir.

 

 

Sentir-se

 

Ao sentir-se fantástico,

A força desta energia

Um escudo lhe cria

Que em ricochete elástico

Impede que lhe chegue

A negatividade em seu redor empregue.

 

 

Fácil

 

É fácil mudar como se sente,

Comparado à tentativa de mudar seja o que for

No mundo exterior.

Mude o afecto, reinvente,

E os cenários exteriores, então,

Aí mudarão.

 

 

Quanto

 

Quanto mais amor transmitir

E melhor se sentir,

Mais em redor o expandirá

E mais atractivo seu campo será:

Mais atrairá ao calor

Tudo e todos do amor.

 

 

Aquilo

 

Aquilo que um homem pensa

Na raiz do coração

Não é sentença,

Não:

Aí, de pé,

- É o que ele é!

 

 

Células

 

Toda a emoção

As células do corpo afecta.

Alma e corpo, físico e mental

Estão

Interligados do modo mais radical,

Da vida na prancheta.

 

 

Ritmo

 

O sentimento de amor cria,

No ritmo da pulsação

De meu coração,

Maior harmonia.

O íntimo afecto mete a mão

Onde ninguém imaginaria.

 

 

Detestas

 

Detestas tua doença?

- Aumenta-la, dela em ti com a presença.

Ao invés, adoras a saúde?

- Chama-la, de nela te centrares em virtude.

Vida fora entro

Para onde em meu íntimo puser o centro.

 

 

Procurar

 

Se no corpo procurar meus defeitos,

Aumento-os em meus pleitos.

Se agradecer o que nele amar,

Até os defeitos se irão esboroar.

Como a flor ao beija-flor,

Amor atrai amor.

 

 

Símbolo

 

Pensa no que amas,

Teu símbolo do amor.

Sempre que o vires, proclamas

Que o vigor

Está contigo.

Estás, pois, dele ao abrigo.

 

 

Riqueza

 

Toda a riqueza do mundo

Não chega perto da oferta

Que me desperta

Do fundo:

O amor

No meu interior.

 

 

Quantos

 

Quantos viveram e quantos viverão,

Da alegria e da aflição

Nos gritos,

São,

Na duração,

Infinitos.

 

 

Céu

 

O céu na terra descobrir

É toda a vida viver

Em sintonia com o que do fundo ouvir

Do próprio ser:

Dia a dia mais maduros

Amor e alegria puros.

 

 

Rei

 

Nunca um manipulador

Dialoga.

Com as ideias próprias preconcebidas

Monologa,

Rei e senhor

Das demais vidas.

 

 

Cônjuge

 

O cônjuge do manipulador

É um prisioneiro

Duma rede cujo teor

É o de não poder dela fugir inteiro.

Este é o engano maior

E derradeiro.

 

 

Vítimas

 

As vítimas

Que são vítimas de alguém

São legítimas

Vítimas delas próprias também,

Quando aceitam a vitimização:

Cederam ao carrasco o coração.

 

 

Insinua

 

Um homem se deprava

Quando em seu imo se insinua um pensamento

Que é obrigado a dissimular na gruta cava

A todo o momento.

Nem se dá conta senão

Quando já dele inteiro tomou conta a escuridão.

 

 

Fermentá-la

 

A vida é um sonho.

A realidade

É o que lhe contraponho,

A fermentá-lo com a minha intimidade.

Quando quebro o elo,

Torno o real um pesadelo.

 

 

Enquanto

 

Enquanto lutamos,

Fazemos parte do mundo.

Quando na morte paramos,

Tudo deste lado se desmorona no fundo

Negro do arrebol

Do infinito Sol.

 

 

Julgamos

 

Julgamos ver o que outrem sente

E não vemos.

O corpo é um tradutor que mente

E, no mar da vida,

Ninguém lida

Com outros remos.

 

 

Enche

 

Não enche o estômago, o amor;

A fome, pois, não acalma.

Enche, porém, de calor

Qualquer alma.

Ora, alma cheia é que, presa,

Enche, afinal, qualquer mesa.