BOM  HUMOR

 

 

 

Velhinha

 

A velhinha, tornando lá da igreja,

Surpreende um ladrão dentro de casa.

“Parou! Actos, 2.38”

- Grita àquele demónio, pois deseja

Que se arrependa. A Bíblia ali lho apraza:

“Arrependei-vos, sede baptizados,

A fim de o perdão terdes dos pecados.”

O meliante findou paralisado,

Tremendo da ameaça deste intróito.

Quando a polícia o prende e lhe pergunta

Como a Bíblia o algema sem argolas,

Logo ele comentou, muito espantado:

“Bíblia?! Não é o que ali a velha assunta:

Dois ponto trinta e oito são pistolas...”

 

 

 

Vimos do pó e ao pó nós tornaremos.

Por isto, o pó não limpo em meu abrigo:

Sei lá quando no pó nós encontremos

Alguém que afinal foi um meu amigo!

 

 

Mudança

 

O que mais odeio

Na mudança de hora

É acordar às duas.

Então, sem receio

É que acerto agora

Estas falcatruas

De o relógio ao lado

Ter-se adiantado.

 

 

Dupla

 

“No inglês, dupla negativa

Forma uma positiva.

 

Em português é o contrário:

Nega a dobrar, é o sumário.

 

Duas positivas míngua

Revelam de toda a língua:

 

Nenhuma dá a negativa

Que dali se perspectiva.”

 

- Quando o mestre cala, ao fim,

Diz um na sala: “Pois. Sim...”

 

E da dupla positiva

Concluiu a negativa!

 

 

Certa

 

Diz a criança de três anos

Ante o bebé-maravilha,

Certa de não haver danos:

“Inda não mexe, é da pilha.”

 

 

Pede

 

A mãe pede ao filho

Para ver-lhe às costas

Se tem uma aranha.

Ele olha – oh, sarilho! –

Grita e, nas congostas,

Ninguém mais o apanha!...

 

 

Óculos

 

“Se óculos usam os pais,

Óculos filho usará.”

Um aluno com pais tais

Logo refuta de lá:

“Ora! Não, a minha mãe

Usa óculos e eu nem...”

De repente, entusiasmado:

“Espera! Sou adoptado!”

 

 

Nada

 

Cá por mim, quando for grande,

Quero vir a ser gerente.

Nem sequer é quem comande,

Não faz nada... Mas é gente!

Se hoje sou desassossego

É para ter este emprego!

 

 

Férias

 

“Vamos as férias passar

Onde o teu dardo acertar!”

 

- Do frigorífico à porta

Penduro o mapa que exorta.

 

Pronto: o destino terrífico

É atrás do frigorífico!

 

 

Soube

 

Aros de cebola adora.

Não os come, que, na escola,

Soube, à última da hora,

Que, afinal, têm cebola!

 

 

Grandes

 

Eu nunca me gabaria

Dos grandes com quem eu lido,

Era grande baixaria...

De longe o hei aprendido

Do Albert Einstein um dia.

 

 

Vegetariano

 

“O que eu queria é um batido

Vegetariano quente.”

O pedido faz sentido:

Eu dei-lhe então, convincente,

Como bónus para a estrada,

A minha sopa ralada.

 

 

Gordos

 

Os gordos por vezes mentem

Na euforia que os tome:

É que os gordos também sentem...

Basicamente fome.

 

 

Profundo

 

O problema do dinheiro

É que não serve de nada

À pessoa por inteiro

No mar profundo afogada.

 

 

Descobrir

 

Descobrir quem sou

Obriga-me a aceitar

Poder ir muito além do que vou

E findar a me assustar.

 

Melhor é não arriscar

E dizer:

Não fiz o que era de fazer

Por ninguém me deixar...

 

 

Alguém

 

Pode alguém dizer:

“Empregarei o dinheiro

A semear e colher,

A plantar e encher

Meu celeiro

Com o fruto da colheita,

A fim de, à chegada,

Desta feita,

Nunca me faltar nada.”

 

Logo a morte vem

E, na ribalta

De tão inútil esforço,

Prova bem

Que nada lhe falta

De entrudo naquele corso.

 

 

Botija

 

Com problema em respirar

E ligado ao oxigénio,

Vendo a botija a findar,

Pediu, conforme o convénio,

 

Outra botija à assistente.

“Olhe, vai ter de esperar”

- Respondeu convictamente –

“Não há botija, a aguardar

 

Estamos pelas entregas.”

E resmunga, ao se afastar:

“Não ficávamos às cegas

Se os pacientes, em lugar

De adoecer em tais escalas,

Não andassem a gastá-las.”

 

 

Tomei

 

Tomei a resolução

De perder cinco quilos

No tapete.

Quase logrei então

Consegui-los:

Perdi por sete!

 

 

Cuidamos

 

Nós cuidamos tanta vez

Do que outros irão dizer

Que se perderá talvez

O norte de se viver.

 

E o curioso é que os mais

De nós querem lá saber,

Ocupados (são iguais!)

Do que alguém deles disser.

 

É o círculo vicioso

Da palermice. Que gozo!

 

 

Anel

 

- Um anel de diamantes

Vou dar à minha mulher.

- Mas tinhas-me dito que, antes,

Um carro era o que quis ter...

- Pois... Mas hás-de reparar

Que assim a bota descalço:

Senão, de prenda a lhe dar,

Onde encontro um carro falso?

 

 

Antes

 

- Mãe, hoje não quero cear!

- Certo! Não ligues à ceia,

Vamos antes merendar.

- Boa, boa! Grande ideia!

 

 

Filho

 

O meu filho a perguntar

Acaba, a coçar a pele,

Como coisa de admirar,

Como sei o nome dele.

 

 

Miúdo

 

O miúdo soletrou,

O cartaz: “Você está aqui!”

Espantado, a mãe olhou:

“Como sabem” – perguntou –

“Eles de mim e de ti?!”

 

 

Preciso

 

“Preciso dum intervalo

De vocês todos!” – gritou

O miúdo e se fechou

Lá no quarto. Com abalo,

Mais tarde, o pai perguntou

Que é que, afinal, se passou.

“Já me lembro” – diz-lhe – “já:

Era a fazer de papá!”

 

 

Escova

 

A escova para o cabelo

A miúda põe de lado

Porque ”ele, afinal, é belo

E, depois, está cansado.”

 

 

Sequer

 

Grita a jovem à família

Em desolada vigília:

“Cá por mim,

Ando impávida.

Porque fazem tanta guerra assim?

Nem sequer estou muito grávida!”

 

 

Inocentes

 

De inocentes naquela idade

Em que nem pequemos,

Só queríamos a felicidade...

- Depois crescemos.

 

 

Orelha

 

- Que Deus nos acuda!

Felizmente não tem

Nunca também

A orelha surda-muda...

 

 

Perenemente

 

Não deverei apressar

O que quiser permanente,

Perenemente a durar?

É tontice tê-lo em mente:

Antes é apressar com ânsia

Mas é da vida a ambulância.

 

 

Rápidos

 

Todos rápidos à morte

Corremos vertiginosos,

Nem é preciso transporte:

A vida dá numerosos.

 

 

 

ÍNDICE

 

 

Quadras Regulares

 

Quadras Irregulares

 

Quintilhas

 

Sextilhas Regulares

 

Sextilhas Irregulares

 

Setilhas

 

Sonetos

 

Poemas Regulares

 

Poemas Irregulares

 

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