QUINTILHAS
MISCELÂNEA
Escolheu
Escolheu mal apenas
Quem, se ouvira os íntimos sinais,
Da vida as cenas
Pequenas
Teria vivido mais.
Culto
Culto é quem,
Capaz de bem amar,
Além
De amor vivenciar,
O souber também.
Problema-mor
O problema-mor da vida
É de a infância ser tão pouca.
Quem contrabalança, em seguida,
Disto o peso e a medida,
De vida um pouco mais louca?
Peito
Se pudera, rastejara
Até à possibilidade
Que dentro em ti germinara
E em meu peito a cultivara,
Os dois num – a Infinidade.
Niquinho
Se te não puder ter toda,
Que seja mais que nenhuma,
Que um teu niquinho na boda
Abre a fresta logo em roda,
Vejo o Infindo que ele assuma.
Basta
Basta às vezes um abraço
Que ficou por dar
Para riscar
Dum traço
A felicidade quase ali a germinar.
Porque
Todas as palavras,
No coração,
Têm em botão,
Porque só sonhamos com nossas lavras,
Uma revolução.
Termos
Todos os termos, medonhos
Ou risonhos,
Ao surdir,
Têm sempre sonhos
Por cumprir.
Cinzas
Tanto tempo já passado
E daquele amor vivido,
Todo em cinzas camuflado,
Todo em mim ainda entrançado,
Tal se hoje o houvera cumprido!
Ficar
Terei a vida toda para encontrar
Mas ficar é o que prefiro,
A aguardar
Que acertes de amor teu tiro,
A me ferir e salvar.
Respiração
Respiração, há o que a tira
Mais o que a devolve então.
Amor que o não tenha em mira,
Se finda a meio e retira,
Nem é amor, é imitação.
Falta
É na falta de atenção
Que me permito entender
O que nem lograra ver
Se me concentrara, em vão,
Só no que esteja a fazer.
Nunca
É bom que te consagres
Ao que nunca houver
Mas o mundo inteiro quiser:
Só quem crer em milagres
Os logra obrigar a ocorrer.
Voz
Um amor é precisar
Doutra voz para me ouvir:
Quando ouvir alguém falar,
Em busca de ti vou ir
E sou eu a me buscar.
Certeza
A certeza ninguém tem,
Que a certeza que tiver
É tão falsa tanto além
Que a verdade que detém
Torna falsa ao parecer.
Inteiro
Sou o que sei
(Como quenquer
Pode saber)
Que nunca lograrei
Por inteiro ser.
Culpa
A culpa é indecente.
Só tem de ganho
A fundura do tamanho
Da íntima mente
De quem for inocente.
Intérminas
O amor
São intérminas viagens,
Por fora ao verdor,
Por dentro ao calor...
O amor é uma partilha de coragens.
Esterco
Quem não ama e prende
É um terrorista:
Vende
O que a vida acende
Por qualquer esterco que tiver em vista.
Mais
Entrega
Total
Ou mais vale
O escorrega
Final.
Procuro
Quando procuro, desesperado,
Não há lugar
Como o lar.
E dentro dele, após,
O que ignoto mora dentro de nós.
Mais
O mais negligenciado
É o que aprendemos primeiro.
Cremos que é o mais ponderado,
Finda ao canto abandonado
E afundamos no atoleiro.
Lidar
Lidar com a criança,
Com a alegria de viver a transbordar,
O que nos alcança
É mais que sobreviver, é entrar
Num reino em que o sonho é um lugar.
Queria
Bem queria o teu abraço
Para sempre a durar!
E não é que o laço
Dum abraço
Não há meio de findar?!
Raposa
Aquele que só rejeita
É a raposa com as uvas:
Só despeita...
Mal lhas dão, é com luvas
A sôfrega colheita.