POEMAS  IRREGULARES

 

AFECTOS  E  CONTRADIÇÕES

 

 

 

Espalhados

 

Um governo,

Uma vez evacuado,

Já não é governo nenhum:

Um corpo terno,

De órgãos espalhados por todo o lado,

Nem sinal é de corpo algum.

 

Falta-lhe o botão de campainha

E a linha

 

Que o contínuo traria

Ao toque de qualquer fantasia.

 

Um organismo

Não é uma colecção,

É um abismo

Que nunca tem decifração.

 

 

Perpassa

 

Não és o teu corpo, não,

És o teu acto

Que nele perpassa então,

Em construção

Ou desacato.

 

O corpo faz parte da criadagem:

Basta uma cólera mais viva,

Um amor que te cativa,

Dum ódio feroz a triagem

E, sem mais haver ponderado,

Logo o corpo é sacrificado.

 

O corpo é meu,

Portanto, não sou eu.

 

 

Somos

 

Somos laços,

Não conceitos:

Damos abraços,

Apertamos peitos.

As palavras destes traços

São engaços:

Sem elas a arrecadar os pleitos

Tudo são vazios espaços.

 

 

Totalitários

 

Os totalitários

(Nazis,

Sectários partidários...)

Podem exterminar milhões de vidas em segundos.

Qualquer mãe,

Porém,

Põe os pontos nos is:

Apenas ela cria vida, novos mundos.

 

Quem é que, afinal,

Mais vale?

 

 

Longe

 

Nem sempre serei capaz

De ir tão longe quanto pedes,

De ir atrás

Do que precedes.

 

Irei fraquejar

E cair,

Incapaz quantas vezes de ganhar,

 Ao ir!

 

Após, porém, cada derrota

Manter-me-ei vivo

Rompendo nova rota,

Furtivo.

 

Muitas vezes tocarei na ferida

Em carne viva que não queria,

Jamais desistirei, porém, da avenida

Só porque em enganei na via.

 

Desistir

Só porque me perdi,

Porque é mais fácil e dói

Construir?

O que construí

Já foi,

Só me resta o porvir,

Na areia do tempo minhas pegadas

Pelas estradas

A partir.

 

 

Peço-te

 

Peço-te amor?

Peço-te é desassossego:

Quando o amor for,

A nada mais terei apego.

 

É uma vida

De tal modo desprendida

 

Que, de repente,

Sei lá mais o que é da gente!

 

 

Preenche

 

Preenche por todos os lados?

É o amor.

Amores, porém, por inteiro integrados

Perderam o calor,

São o toque de finados,

É o vazio interior.

 

Um vazio vivido

É o amor já diluído.

 

O amor não é leve,

É pesado:

Quem o teve

É por dentro esmagado.

 

E é o que é libertador:

De mim

Nada mais resta, assim,

Sou por inteiro amor,

No fim.

 

 

Existes

 

Existes em teu corpo

Com teu imo.

Que é que mais encorpo:

Coloco no cimo

Teu cadáver ambulante

Ou teu íntimo que faz que ele se levante?

 

Aquele vejo,

Este pressinto,

Naquele me calejo,

Neste quantas vezes me minto!

 

Fecho os olhos e vejo-te assim,

Não no corpo, no íntimo de mim.

 

Vejo-te em corpo mas do mais é só imagem

E é assim que juntos vamos em viagem.

 

 

Pior

 

O pior do mundo são os coitadinhos.

Não vem isto de fora, é de dentro.

Impede de tentar,

Colher os azevinhos

Sem se picar.

 

E assim esboroa

Uma pessoa

Até ao centro.

Já nem esbraceja, afogada

Na rica sopa de coentro

Que a vida lhe serviu de entrada.

 

 

Deixo

 

Deixo para trás

O aquém do que pude ser,

O aquém ineficaz

Do sonho que vier.

 

A minha certeza

É a do aquém da Beleza.

 

Fui sempre um quase,

O chamiço

Que nunca ardeu a noite inteira

E, por isso,

Continua na base

Da fogueira

Que tem o enguiço

De nunca ser  de vez ateada,

Qualquer que seja a jornada.

 

Todavia, o tição

Ninguém mo tira da mão.

 

E a ponta de calor

Larga para trás um vago rasto de fulgor.

 

 

Valer

 

Há-de valer a pena

Ouvir

Para em minha arena

Poder prosseguir.

 

Não há nenhum mal

Em cair,

A não ser que a tal ponto abale

Que até me venha a impedir

De algures ir.

Isto, sim, seria mau sinal.

 

Pode sempre, porém, ser

Apenas o momento de aprender.

 

 

Murmura

 

“Amo-te” – murmura cada esquina.

“Adoro-te” – escorrega da janela

Que se inclina,

Enquanto ensina

Inteirinha do amor a sequela.

E ninguém ao dinheiro apela!

(Perante tal vivência é uma latrina...)

- É que ao longe cintila mesmo uma estrela.

 

 

Hoje

 

Ontem jovem

Com os mil sonhos do mundo.

Hoje, velho, mal me movem

Os quase-sonhos do fundo.

 

Sou feliz

E sabe sempre a tão pouco!

A vida é doente da matriz

No cabouco.

 

Às vezes sabe a demais

E é urgente deixar.

Olhamos dentro e para trás

Tentando decifrar

E é de louco:

Pouca luz tem o lugar...

 

No fim é tudo igual

E tudo diferente:

É o sinal

Da gente.

 

 

Falou

 

A pessoa

Falou demais

Quando magoa:

As palavras são os sinais

De quanto amais,

Não a perversão

De quem quer ter alguém à mão.

 

O problema das coisas

Não é das coisas, não,

É do uso que lhes dás quando nelas poisas

Tua mão.

 

Fazer doer a outrem o que te dói

É imbecil.

Sempre, todavia, foi

Receita de muitos mil.

 

Confessa-o, fá-lo às vítimas entender,

É o caminho de se te perdoar,

Se ao invés

Alguma vez

Se refizer

O teu itinerário de magoar.

 

Tentar é o carreiro de ir

Até algum dia conseguir.

 

Um dia entenderemos todos

Que somos todos isto:

Um quisto

Que, apertado, explode a rodos

O pus

Que nos espelha pestíferos e nus.

 

 

Mostra

 

Se amas, di-lo,

Mostra que amas.

Não é um mero codicilo,

São do livro inteiro as tramas.

 

Por dentro do amor

É simples ser feliz,

Basta amar um ror

E não temer amor de qualquer cariz.

 

Quando foi

Que uma dor

Te jogou à cama?

Não foi o amor:

O amor só dói

Quando se não ama.

 

 

Incapacidade

 

O imutável,

A incapacidade de sentir

Que o mundo é maleável,

Dum dia para o outro há-de conseguir

Virar do avesso:

Basta que tu mudes

Algum tropeço

A que te grudes.

 

 

Trago

 

Trago o mundo inteiro escondido

Debaixo de meus braços.

Quantas vezes hei tremido

E recusado abraços!

 

Falta sempre algo

Quando falta amor.

Queria ser o fidalgo

Sob o braço protector

Dum pai-senhor,

O filho,

Não o caudilho

Salvador.

 

Jamais isto irei lograr

Se nem a mim me logrei salvar.

 

 

 

Carências

 

Tantas carências no ar

E tantos trilhos

E tantos sarilhos

Para as colmatar!

 

Amar é decidir

Que fartar primeiro

E que derradeiro

Me irá pungir:

 

A mãe e as lágrimas perdidas,

O pai e a tentativa

Ter, furtiva,

A urdir vidas

E quantos desafios mais

Dos dias pelas estradas reais...

 

Tanto amor no mundo!

(De vez em quando

Que basta fecundo

E jucundo

Para nos irmos suportando...)

 

O que mais importa

É que nada tem importância nenhuma:

É a porta

Da sabedoria suma.

 

Se eu morrer,

Nada se altera,

O mundo continua a correr

Ignorando-me, de era em era.

 

Alguém a amar-me, todavia, restará,

Do vazio com a dor.

O meu tamanho é o dacolá,

De quanto preenche o meu calor

O frio de quem

Me tem

E me perdeu,

Sem mais vestígio

Meu

Do que o fastígio

Duma vida

À lareira do amor

Eternamente aquecida.

 

 

Grande

 

O grande homem

Para a grande mulher

Não é o invencível sequer,

É o que se deixa perder,

Que o tomem

Porque quer,

Porque fitos

Mais altos o consomem:

Do amor os infinitos

Adoráveis requisitos.

 

 

Marca

 

O grande homem é tão diferente

Que nem marca a diferença:

Ele presente

É dela a presença.

 

E é para todos,

De mil e um modos,

Uma sentença.

 

 

Nenhum

 

Nenhum amor é para destruir.

Se me anulei a mim

Para só te querer a ti,

Ditei meu fim.

 

De mim ao sair

Para em mim ocupares meu lugar,

Por dentro já morri

Sem sequer reparar.

 

Larguei meu governo

Para te pôr a governar:

Meu vínculo com o eterno

Desatou a murchar.

E principiei a viver no inferno.

 

 

Requer

 

Até o amor desgovernado

Requer governo,

Senão

Tudo é destruição,

Tudo é canibalizado

No gosto superno

Da mútua aniquilação.

 

Quero mais e mais de ti,

Queres mais e mais de mim.

Não há carne que alivie

Tanta fome, assim.

 

Em lugar de amor,

Somos o terror

 

Da mútua final

Anulação total.

 

 

Tempo

 

Há tanto tempo que lá fora te deixei,

Como é que cá dentro te não abandonei?

 

Cedo ainda a ouvir como irás,

A atender o teu telefonema...

Acaso doravante do meu invés serei capaz?...

Cumprirei meu lema?

 

Vivo em ti,

Vives em mim

Ainda aqui,

Gema rejeitada,

Esmigalhada

No meu chão de serrim.

 

Aprendi, porém,

Que nunca fomos amor,

Fomos sempre um aquém

A destruir-nos com furor

E horror.

 

Onde o amor faz mais,

Fizemos menos,

Cada dia mais pequenos

E letais.

 

Em vez de nos tornar melhores,

Tornou-nos piores.

 

O amor não se explica,

Faz-nos bem.

Não é aquilo que apenas complica

E, de mal em mal, cada dia me tem

Mais refém.

 

Quem assim ama demais

Não ama nada,

Tem trocados os sinais

Da estrada.

 

Nunca fomos um nós,

Apenas um eu mais outro eu

E um ao outro se consumiu

Até morrer de indigestão após.

 

Ao amar, um mais um faz tudo.

Ao mal amar, um menos um faz nada:

Este é o resumo de entrudo

De nossa falhada

Jornada.

 

 

Velhos

 

Os velhos têm o mundo contra eles

Ou deles com pena,

Têm caruncho debaixo das peles

E o íntimo cheio de gangrena.

 

Queixam-se de que o tempo passa

E são eles que lhe abandonam a carcaça.

 

Então, o clima

É de que lhes corre por cima.

 

Engolem o tempo, não o digerem:

Como lhes resta pouco, preferem

 

Não viver vivendo,

Não ser enquanto ainda vão sendo...

 

Os velhos

Que se deixaram atar pelos artelhos,

 

Que há velhos cuja idade

Nunca emurchece a mocidade.

 

Como há jovens que germinaram tão velhos

Que deles as ideias

Andam cheias

De retorcidos chavelhos.

 

 

Vivemos

 

Somos insuficientes

Mas completos.

Nada nos falta

Na vida cheia de presentes

E falta-nos tudo

Nos sonhos secretos.

Jovens, vivemos a presença em alta;

Velhos, a ausência a doer num osso agudo.

A juventude é a ribalta,

A velhice, o balcão mudo

Na festa

Que vida à vida empresta.

 

 

Presta-lhe

 

Um adulto

É uma ambição

Inacabada.

A criança, então,

Presta-lhe culto:

Aprende a estrada

E a jogada.

E mais: sabendo sempre que não,

Logo de entrada.

 

 

Estranha

 

É estranha a impotência,

Obriga-nos a voar.

Das mágoas a ocorrência

Leva-nos então

À perfeição.

Procuro o ar

Quando caí no chão

E parei de respirar.

 

É estranho

Como da perda nos vem o ganho.

 

 

Quando

 

Quando me irrito,

Não devo.

Se me precipito,

É que me atrevo,

Não que o requisito

De ultrapassar o conflito

O requer

Por uma via qualquer.

 

Teimo, insisto,

Quando apenas

Isto

É maligno quisto

Da ternura a meio das cenas.

 

Sei que tudo apaga quanto inflames

Mas é o que por ora tenho para que ames.

 

 

Procurar

 

O que mais nos faz tremer

É sobretudo querer

 

Procurar não encontrar

Quem amo e não quero amar.

 

De quanta gente à mistura

Terei eu de ir à procura

 

Até conseguir deixar

Quem amo de procurar?

 

Que loucura, que loucura

O peito dentro a sangrar!

 

 

Brota

 

Quando a vida nos brota à frente,

Um segundo é espera demais:

A gente

Joga-se-lhe atrás

De repente.

Há lá tempo de pensar!

Pensar é outro tempo e outro lugar...

 

 

Insuficiência

 

A insuficiência que superar à mão

Preserva quem a acata.

A perfeição

(Eterna ilusão

Periodicamente

Renascente)

Mata.

Por mais que a aliste,

Jamais existe.

 

O pobre coitado vive do ganha-pão,

O rico poderoso, não.

 

Aquele esfalfa-se em carne viva,

Este refastela-se no que se lhe esquiva.

 

Aquele robustece,

Este perece.

 

Mantenho

 

O conflito preserva,

A harmonia mata.

Quando mantenho de reserva

O trilho da mata

E o jogo no conflito,

É à nova corrida que concito.

 

Quando na harmonia a erva

Atulha o chão,

A vida, não tarda, é serva

Da podridão.

Nem conflito sem saída,

Nem harmonia que me adormente à partida.

 

Difícil o bastante

Para ser desafiante,

 

Fácil quanto baste

Para ao muro proibido impor meu desgaste.

 

Toda a paz é o fruto

Duma guerra ultrapassada,

Equilibrada

Pelo produto

Da jornada.

 

 

Tempos

 

Há que tempos a não via!

Deu para entender

A magia:

Nunca havia

Deixado, afinal, de a ver.

 

Sentia a falta dela

Como o rasgado traço

Da janela

Que lhe abria à frente o mundo.

Que o abria até o cósmico espaço

Mais profundo.

 

Entre eles, porém, apenas ausência

Era por ora a viável vivência.

 

 

Amo-te

 

Amo-te e é tudo.

O mais é o milho miúdo

Das galinhas

Com que nutrimos o poleiro onde te aninhas

A germinar ovos de Páscoa

Com que temperamos para a vida

Qualquer áscua

Por ela requerida.

 

De viver a melhor arte,

A mais importante,

É amar-te,

O resto vem adiante.

 

 

Longe

 

Viver longe de quem amo,

Que motivo o justifica?

Pais, irmãos, família, amigos...

São muitos galhos do ramo

Que a vida desmultiplica

E todos são meus abrigos

E todos para a vida abrem postigos.

 

É tão fácil a mensagem,

O telefonema,

A visita ao correr duma viagem,

Uma tarde na praia a saborear a calema!...

 

Quem finda de procurar

Os demais

Deixa de encontrar.

Ora, teria vivido mais...

 

 

Cada

 

A cada amigo,

Que são poucos, quase ninguém,

Digo:

Cada um dos mais é um pelém

Comparado contigo.

Quando tenho amigos tais

De que preciso mais?

 

 

Meus

 

Os meus que já nos deixaram

Doem, por dentro a agarrar-me,

Ao lembrar-me

Do que fomos, cujos dias findaram

Do que poderíamos viver

E já não pode ser,

Do que por fazer ficou

E, todavia, se rematou...

 

Tudo o que a viver havia

Vivemo-lo, contudo, até ao derradeiro dia.

 

 

Apenas

 

O amor

É a vida.

Sem ele nem ela seria atingida,

Nem que seja pelo amor mais tísico,

O que vier se propor

Como apenas físico.

Até neste um mínimo de atracção

Tem de tocar o coração.

 

E é uma migalha de amor que acontece

Quando alguém lhe obedece.

 

Pobrezinho, sim,

Mas o derradeiro rasto de mim.

 

O incapaz de amar

Nem gente é nem animal,

É um vírus no ar:

Quem o respirar

Acabará mal.

 

É o triste estado

Da rotina enfadonha e cinzenta

Em que nada é do agrado

E nenhum sonho acalenta.

 

E nada inventa.

 

Desta sorte

Tudo é apenas morte

Lenta.

 

 

Inveja

 

A inveja do lado bom

É a pegada da ambição

A apostar

Em laborar,

Para atingir de oiro o tosão.

 

A inveja do lado mau

É a que pega no varapau

E desata a malhar estupidamente

Na gente.

Estupidez de calhau

Disfarçado de inteligente.

 

 

Vive

 

Nunca se vive de novo,

Que só se vive uma vez.

E um amor perdido não tem renovo

De frente nem de través,

É de vez!

 

Perdão

Por só agora te ter descoberto,

Eu que me cria desperto!

Afinal, não.

 

Saboreámos cidades,

Os mares,

Um vale de eternidades,

Odoríferos palmares...

 

A melhor parte da vida

A me embair

E ninguém a aplaudir,

Quando só à felicidade a palma é devida...

 

Vivemos o inesquecível,

Todo ele irrepetível.

 

Quando caíste,

Caí logo por ti,

Esperando que tu, a mão em riste,

Ainda me ampararias ali.

 

Somos tão um só,

Como deviremos pó?!

 

Repetir-te em outrem é impossível,

Sou eu, só e triste,

A repetir-me o irrepetível.

 

O que é contigo

Só contigo pode ser.

E tanta gente em perigo

Por não o entender!

 

 

Mapa

 

Na vida a oportunidade

É onde não houver destino,

Mapa da possibilidade

A perder de vista,

Com que atino

Ou desatino,

Em busca de minha pista.

 

 

Nascemos

 

Nascemos uns alegres

Vadios.

À medida que te integres,

Queimam-se-te os pavios

E já não corres.

Gradualmente, pelos fios

Dos cotios,

A vitalidade escorres.

Gradualmente, pelos novos atavios,

Morres.

 

 

Alvorada

 

Um dia qualquer,

Numa alvorada louçã,

Vai deixar de haver

Amanhã.

 

Vais acordar

E, quando te sacodes,

Hás-de reparar

Que acordar já não podes.

 

Bom seria

Que acordes antes de tal dia.

 

 

Lonjura

 

Quanta lonjura entre nós!

Tu, mulher de carreira.

Eu, homem de chinós,

De paletós,

Sem eira nem beira,

- De toda a pátina de pós

Dos avós.

 

E, primeiro,

Sem tolerar qualquer esbulho,

No topo cimeiro,

O meu ancestral orgulho!

 

- De indivíduos quanto quinhão,

De sujeitos quantas resmas

Se perderão

Em nome das imagens balofas delas mesmas!

 

 

 

Uma casa

Onde já não há quem se ama

Já não tem um bater de asa,

Já não aquece uma brasa

Nem à noite abre uma cama.

 

Tenso

Do arrepio,

É um espaço imenso

Cheio de vazio,

Por mais diminuta

Que seja a gruta.

 

 

Separam-se

 

Separam-se os pais.

Porque é que se separam,

Quando, se bem reparam,

Há tantos sinais

De coisas boas, no porvir,

Para os unir?

- A criança não entende

E a tanta culpa tanto então se rende.

 

 

Adulto

 

Um adulto chora

Com medo de chorar,

Não vá outro humano reparar

Que o animal que nele mora

Ainda não perdeu o lugar.

 

Não vê que, por este engano,

Devém inumano.

 

E que um humano inteiro

Se enraíza do animal no atoleiro.

 

Ficaria mais fraco?

Ao contrário,

Aquela força fingida, em resumo sumário,

Não vale um pataco.

 

Mais lhe valera

Ser o bem frágil que nos enternecera.

 

 

Sobreviver

 

Sobreviver é o normal,

É a vida?

Não, é a primordial

Medida.

 

Maior que ela

Só dar a vida por quem precisar dela:

Quando o amor for tamanho

Que perdê-la

For um ganho.

 

 

Adultos

 

Os adultos a se separar

Quando há tanto para os juntar,

 

Até aquele pé

Teimoso no canapé

 

Que provocou a lonjura

Que doravante entre eles se apura...

 

Pese embora a saudade

Que os hoje invade,

 

É tarde demais

Para os sinais

De cura.

 

Ou não:

Quem quer dar a mão

Atenta

Da fornada ao pão

Que a masseira do íntimo de cada um fermenta?

 

 

Descobri-te

 

Descobri-te num jeito de olhar

E tu também, se calhar.

 

Sabia lá o que aquilo era!

Mas, quando o amor chega,

É uma esfera

Tão sem pega

Que não tem como o lera.

 

Só assim, porém,

É amor também.

 

 

Distracções

 

Entre as distracções de dois,

Bem no meio,

Vem depois

O amor.

É o recheio

Do fulgor.

 

- E o vazio finda cheio.

 

 

Enquanto

 

A vida acontece, madura,

Na viela

Enquanto andamos à procura

Dela.

 

O amor que, enfim,

É imortal,

Mata-se, afinal,

Assim.

 

 

Sobretudo

 

Amar é, sobretudo,

Colocar quem amo sobre tudo

O resto.

O sortudo

Dirão alguns que tem cabresto.

 

E ele, no gozo,

Mudo

Como um miúdo

Glorioso:

Crêem os mais que não presto?

 

Eu, porém,

Tenho o todo de tudo,

Com o meu ousio,

E o que eles têm

É um cesto

Vazio.

 

 

Criatura

 

Para além de sermos

Cada qual criatura incomparável,

Vivemos nos ermos,

Cada um nos termos

De seu inextricável

Torrão,

No clima

Duma criatura acima

De qualquer comparação.

 

E sempre o amor nos arrima

Para este chão.

 

 

Indivíduos

 

Os indivíduos são assim:

Por mais que os conheça,

Meu saber tropeça

Em incógnitas até ao fim.

 

Sempre imprevisíveis,

A si próprios estranhos,

Têm nas incógnitas os ganhos,

Aos outros inatingíveis,

Do império

Sobre o mistério.

 

Por dentro das peles,

É de vez só de cada um deles.

 

 

Coisas

 

O segredo

Das coisas em redor

É não terem medo.

Seja lá como for,

Eu mais quanto viva,

Tudo ao risco se esquiva,

Ninguém nele põe o credo.

E assim é que eu sucedo

Numa via alternativa.

 

 

Encontrarmos

 

Nos arraiais

Andamos todos juntos

Sem nos encontrarmos mais,

Cada qual metido com os próprios assuntos.

 

Nos prédios igualmente

Vive junta tanta gente

 

Que, nem vasculhando a mesma montra,

Se encontra:

 

Um quer clientes,

Outro quer prazer,

Outros, que ninguém os ouça, sequer,

Outro, em seu abono,

Tem apenas repentes

De sono...

 

Nem batendo mutuamente com as testas

Abrimos uns aos outros do imo as frestas.

 

 

Pior

 

O pior de amar

Não é o que obriga a fazer,

É o que impede, singular:

É que nem pensar

Logramos

Quando amamos,

Sequer.

E que tormenta a ocorrer,

A fustigar-nos os ramos!

 

 

Queria

 

Queria saber perdoar

Para viver melhor,

Mas há contas e contas por pagar,

As famílias a contrapor...

 

E nem um diferente olhar,

Um diferente abraço

Quando cuido saltar

Fora do laço.

 

O amor, ao me dar sentido,

Acaba por me pôr tolhido.

 

Mas um tolhido tão liberto

Em cada acerto!

 

 

Tira

 

Só o amor que tira a respiração

Nos impede de respirar:

Só a quem ama embarga então

O medo de perder quem amar.

 

Se nenhum amor existe,

A respiração persiste,

 

Sem nada importar,

Nem sequer ter ar.

 

 

Coragem

 

A coragem falha às vezes, de receio.

Quero fazer, dizer, conseguir

E fico a meio,

Sem além ir.

 

Tudo por mor

De autodefesa:

Quero o amor maior

E, quando ele vem,

Fujo, feito de caça presa,

Mata além.

 

É grande demais,

Por demais avassalador.

Consome-me até às funduras mais

Viscerais,

Nenhuma parte de mim,

Interior ou exterior,

Uma vez na rede presa,

Logra, ao fim,

Findar ilesa.

 

Amar

Com tamanha grandeza

É poder magoar

Com igual vileza.

 

Falto-me tanto!

Quantas vezes um degrau além,

Porém,

É a certeza

De que é verdadeiro o encanto

Que me advém!

E aquilo de que me esquivo

Será que me mantém

Vivo?

 

Amo-te cheio de medo...

- Do amor a trama,

Tarde e cedo,

É sempre assim que ama.

 

 

Retomar

 

Retomar a palavra do amor,

Porque o amor dói,

É retomar a dor

Que é e será desde o primeiro momento em que foi.

 

Mas também a euforia

Que é um mundo novo

Cada novo dia

A germinar do ovo.

 

 

Doer-me

 

Ei-la ali,

A doer-me o suficiente

O aprazível

Bisturi,

Para interminavelmente

Devir inesquecível.

Ei-la ali, amorosamente

Terrível.

 

 

Antes

 

Antes do tempo ela chega,

No momento

Certo.

Aí, desperto,

Que a carne da realidade me pega

E obnubila o pensamento.

 

Que casa tão pequena

Para duas histórias tão grandes!

As palavras param na cena,

À espera do que mandes.

 

A felicidade são palavras paradas

À espera de mexer

As terras lavradas

De colheitas a haver.

 

Quando chegar a hora

Que já nem demora.

 

 

Certeza

 

Quando tive a certeza de a não amar,

Comecei a amá-la.

Veio o corpo dela, o cheiro dela e dela o luar

E, de repente,

Tudo em frente

Me regala.

 

É a festa de toda a gente

Vestida de gala

Que, inesperadamente,

Dos olhos à mente

Me arregala.

O mundo inteiro é diferente!

Corro, indigente,

E faço a mala,

A deixar-me ir na corrente...

 

- Como não amar a magia

Doutro mundo noutro dia?

 

 

Lei

 

A lei não entende a vida,

Não diz que nasci

No dia em que a vi

Com olhos de alvor,

Do lar na lida,

Quando me pungiu o amor.

 

A lei não sabe amar.

Sabe lá bem

O que é o fulgor

Dum raio de luar,

Do cachão do mar

Por nós os dois

Além

A trombetear!

 

A lei apaga os sóis

Que acendemos ao juntos caminhar.

 

 

Intromete-se

 

O orgasmo

Intromete-se no interior

Da dor

E é um pasmo:

Mais além que o que agrade,

Vivido com amor

É felicidade.

 

 

Carência

 

Sem amor, o sexo

É uma carência qualquer,

Sem passado nem futuro conexo,

Como o apetite de comer.

 

Um prato de arroz,

Um livro que me alheou do mundo,

Um filme que me tolheu a voz...

- Tudo é um orgasmo então pouco fecundo.

 

Orgasmo a sério,

No meio da teia do amor

Inaugura um império,

Embora quem ama nem o vá supor.

 

 

Esborrato

 

Por mais que tente apagar-te,

Só te esborrato aqui dentro.

Se me concentro,

Surpreendo-te, destarte,

A alastrar-te

Como mancha

Que não pára, por toda a parte,

Que se engancha

Em nova dor,

Por trás de cada pendor.

Toda a dor do parto

De mim que a vida inteira acarto

É uma dor de amor.

 

 

Pior

 

O pior da vida

É estares apaixonado sem medida

E, do outro lado,

Alguém sem medida por ti apaixonado,

E, um dia depois,

Já não serem mais dois

Mas apenas um,

Que a teu lado já não resta mais nenhum.

 

O pior da vida é resistir

À morte dum amor que deixou de te sorrir.

O corpo continua

A bulir

Quando já morreu toda a rua

Por onde era de ir.

Como dói

Quando o que fizera a vida existir

Já se foi!

 

 

Existes

 

Existes tu, depois eu.

Sei lá bem quem és,

Sei lá bem quem sou!

Perco-me de mim em mim:

Devo fazer de meu,

Talvez,

O que nunca colidiu,

Nunca chocou,

Assim,

Das gaivotas com o voo

Das marés

Que trepam pelo teu peito

No teu estranho jeito.

 

Mas porque é que colidimos?

Eu também gosto de mar

E de voar

Aos cimos

Contigo a par...

Temos tanto que nos une!

Será que a sorte nos pune

Por nos darmos tão bem?

Já reparaste

Que eu dou-me e tu dás-te

Sem fronteiras para além?

 

E depois é um termo, um gesto,

Uma desatenção, uma atenção demais

E explode o que não presto

E saltas de teus varais...

 

Sei lá bem donde vem isto,

O vulcão que nos empedra a lava em xisto!

 

E nós sem saber que regra

Em nós o integra!

 

Em que ficamos

Quando, perdidos os remos,

Nunca sabemos

Onde estamos?

 

 

Imprevisto

 

O imprevisto devolve a atenção

Ao que me correr diante.

Se fora apenas o costumeiro ramerrão

Fatigante,

Ninguém precisaria

De estar atento algum dia:

Ligo o piloto automático

E é prático.

 

Não é, porém, o modo melhor

De à vida me propor.

 

É ser um semi-vivo meio esquecido

Em coma induzido.

 

O imprevisto, sem medo

(Nem o podes evitar),

Explora tu no que tem para te dar

Sempre bem cedo:

É a vida desregrada

A espicaçar-te a pegada.

 

Quase toda a felicidade

Vem-te dum imprevisto

Que te provoca e agrade.

 

E o mais dela

É do que ainda nem hajas visto

De tua mísera viela.

 

 

São

 

A vida são obstáculos,

Deixa-me ferido,

Mói-me a paciência,

Leva-me do amor aos pináculos

E deixa-me por dentro despido,

Traído

À primeira saliência

De penedia

Na via...

 

Contra-ataca tu decidido,

Que o que a vida vale,

Afinal,

É nisto que é medido.

Quando ripostas, ela recua,

Amansa,

Parece ingénua criança

A brincar na rua.

 

Mas não confies, que ela nunca se amestra.

Mal te distrais,

Logo te defenestra

E no abismo cais.

Todavia, por desagradável

Que seja até demais,

É sempre inestimável.

 

 

Amar

 

Amar é de loucos

E de heróis também.

Requer uma coragem que bem poucos

Têm.

 

Quantos um exército derrotam

E depois choram, cachorros abandonados,

Quando o amor com que vida fora trotam

Embotam

E lhes escorrega entre os dedos enregelados!

 

Há os que o agarram de frente,

Felizes e coitados,

Enormes e desgraçados

Faróis de marés de gente.

Tão pouco na vida isto nos eleva

Que nem cremos ser real!

E não é, que a treva

É bem maior que a luz do fanal.

 

Todavia, desde quando

Apenas existe

O que eu for tocando?

E que só o que ali persiste

Me confere consistência

À existência?

Desde quando?

Ou que requeiro que a ciência

Comprove

O que dentro em mim me move?

 

Ora, é apenas isto o que, infinitamente fecundo,

Move o mundo.

 

 

Escravo

 

Ser escravo prefiro, a teu pé

Se a teu pé me quiseres,

Em teus braços, se é

Onde me preferes...

 

Onde me queres aí eu estar

É quanto me basta

Para não querer, em lugar,

Lugar doutra casta.

 

Sou do lugar onde respiras

Porque só amo, todas as horas,

Da chaminé as espiras

Donde moras.

 

 

Mil

 

Se aqui estiveras, dirias

Para continuar:

- Faz-te à vida, que há mil outras vias

Por explorar!

 

E eu diria

Que não tens razão,

Porém, seguiria

A tua imposição.

 

Para saberes

Do amor o rosto mero:

O que tu quiseres

É sempre o que mais quero.

 

 

Morrer

 

Morrer, quando vivenciado,

Dois indivíduos requer:

O que morre para o outro lado,

O que deste lado continua a viver.

 

Se este não aceitar a partida

Da parte de fora de si

Que o outro era, o além-aqui,

Finda a viver meia vida.

 

Rachado ao meio,

Requer viver outra vez

Mas não roda nunca neste entremez

Nenhuma roda de sorteio.

 

 

Herói

 

Herói é quem,

Tendo tudo,

Tem também,

Quando preciso,

O juízo

De deitar fora o sobretudo

E ficar um pelém

Que arrisca tudo perder

À procura de tudo ganhar.

 

Quem o não fizer

É que perdido há-de andar,

Sem o saber

Sequer.

 

Há muito porventura se perdeu:

Paz a tal alma, fora,

Embora,

Eternamente do céu.

 

 

Felicita

 

Felicitador

É que felicita, com palmadinhas de amor,

O costado

Do felicitado.

 

Passa a vida, em qualquer lugar,

A felicitar:

“Parabéns, conseguiste!

Quem diria

Que alguém o lograria!

Mas aquilo diz-te muito, diz-te...”

 

Os felicitados, ao invés,

Passam a vida a criar motivos de felicitações,

De tudo através,

Sejam quais forem dos dias os baldões.

 

Ouvem que pode não dar

E depois os parabéns.

Ou que alto demais andam a sonhar

E depois: “que força tens!”

 

O felicitador felicita,

Não concita

 

Outra matriz.

- O felicitado é feliz!

 

 

Ausência

 

Ausência da tua voz

No silêncio,

Ausência de já não sermos nós.

Penso o que penso.

Pense-o

Embora

A toda a hora,

É no denso

Silêncio

De tua voz

Que meu pensamento mora.

Mas já não somos nós!...

Nem eu sequer, após,

Neste vazio

De seres tu em mim

A pensar, assim.

De mim resta algum fio?

 

Encheste-me a cabeça

E nela a vida inteira me tropeça.

 

Na ausência de nós,

Que serei eu sem voz?

 

 

Abraçar-me

 

Sou tão teu

Que, quando te abraço,

O abraço não é o meu,

É este meu teu braço

A levantar-me o véu

Duma pontinha de céu.

 

Se bem vi,

Assim,

Ao abraçar-me a ti,

Em ti me abraço a mim.

 

Tão de ti sou por todo o lado

Que, quando te abraço,

Nem há para dois espaço:

Sinto-me abraçado.

 

 

Quando

 

Quando te amo, estou a amar-me,

Tudo o que quero é o que te quero,

Tudo o que sinto, o que te sinto.

Tudo o que existo é o carme

Em que me existes, poema mero,

Carne e sangue que me pinto.

 

Como separar

O que a mim amo do que eu amar?

 

 

Dilacere

 

A dor

Que te atormenta,

Dilacere lá o que for,

É sempre uma ferramenta.

 

Como a alegria

É uma ferramenta

Com a garantia

De que ultrapassaste a tormenta.

 

 

Paixão

 

Tudo começa

Com a paixão que já não aconteça.

Com a maturidade

A apagar fogos

Que, sem alternativas nem jogos,

Irão morrendo, idade a idade.

 

Amar é aquilo?

A partilha funérea,

A escravidão silente ao sigilo,

A violência etérea

Duma repressão de vida

Camufladamente,

Embora mutuamente,

Assistida?

 

- Amo-te o suficiente

Para não te querer nunca tão ausente.

 

 

Busca

 

O louco

Busca o prazer

No muito e no pouco,

Sem ligar sequer

Ao preconceito,

Pois apenas desprezá-lo toma a peito.

 

E é uma alegria

Lavar a loiça,

Pintar uma gelosia,

Enxotar a galinha que na horta retoiça...

 

Nada lhe importa

O valor externo

Que o acto tem,

Vale é a porta

Para o gozo interno

Que daí provém.

 

- Assim o louco todo o dia

É o mago da sabedoria.

 

 

Derradeiro

 

O corpo é o derradeiro a morrer.

Recipiente,

Não precisa do conteúdo para ser.

E é um ente

Que perdura milhões e milhões de anos

Sem a entidade presente

Que nele viveu assente,

Até do tablado do mundo ter cerrado os panos.

 

O corpo mantém-se vivo

Da terra no cósmico arquivo.

 

Quem nele viveu,

Só do outro lado no misterioso gineceu.

 

 

Fomos

 

Já fomos e desistimos,

Morremos há muito

E ainda aqui estamos, num tempo gratuito.

No corpo garantimos

Continuar por aqui,

Tal se nada houvera ocorrido.

E nada ocorreu em mim nem em ti

Que de fora pode ser percebido:

A mesma casa, os mesmos gestos,

Os mesmos corpos, iguais aprestos...

 

O que nos muda ninguém vê,

Ninguém vê o que o mundo muda.

E somos nós quem lhe acuda

Ou ninguém o põe de pé.

 

Ninguém, porém, o vê de fora,

É tudo igual a toda a hora.

 

Ainda te amo, por mais que nem acaso o queira.

Eu bem me tento

Mas apenas à tua beira,

Amando-te, me aguento.

 

- E assim é nossa vida inteira.

 

 

Ocorre

 

Ocorre o futuro

Todos os dias.

Que me trará não auguro

Para além de fantasias.

 

Se eu não quiser ser mais um,

Que margem de porvir me dará

Para não ser rotineiro nenhum

Como tantos por aqui, por acolá?

 

Quero o imponderável, a surpresa,

A euforia de estoirar toda a represa.

 

Quero amar, dançar, trepar o monte a pino,

Imaginar e realizar o que imagino.

 

Mudar o mundo com a ajuda

Do artista que muda.

 

Fazer o que me apetece

Contra quanto me aborrece:

 

Contra a comunidade,

O que for imposto,

Contra o professor que me não persuade,

Contra quem não sabe nada

Mas não perde o gosto

De me acusar

De eu nada saber, de entrada,

Recusando-me lugar.

 

Sou a rebelião

Contra o que só pode ser.

Como então

No meu vazio me conter?

Em que margem de porvir

O futuro me permite construir?

 

- Somos sempre o indeciso

Adolescente,

Eu e toda a gente,

Perenemente em busca de siso.

 

E perenemente inseguros

Do que nos imporão nossos futuros.

 

 

Solidão

 

Ninguém adivinha

Onde estou,

A solidão acontece.

Os doutra idade

Ignoram os da minha.

 

Então sou

Um palerma refece,

Perfil da incapacidade,

Medida

Duma altura falida...

 

E aqui vou,

Na própria dúvida perdido,

Em mim mesmo tão fechado

Que nem no que anda em redor tomo sentido,

No mundo com que hei cortado.

 

Nem reparo que há outros assim,

Aqui mesmo ao lado,

Com dúvidas iguais,

Iguais inquietações.

Tão perto de mim

E eu aos baldões,

Sem reparar nos sinais!

 

E eis como a vida inteira sou o adolescente

Modelo de toda a gente.

 

 

Penso

 

Penso demais

E demais questiono.

Não devia magoar-me jamais

A questão sem abono:

 

Ignorar quem sou,

Porquê, por quem, de quem...

Magoa, porém,

Que é por onde vou.

 

A música ouvir,

Um texto ler,

A mensagem que acolher...

- Porque não sorrir,

De tanto às vezes doer?

E quanto magoa!

 

Não me iludo:
Às vezes magoa tudo.

 

De quanta dor doa,

Perco-me da estrada.

Que irá ser minha jornada?...

 

Tal é a vida inteira,

Não é palermice:

Da criança, ao adolescente, à velhice,

Todos talhados na mesma madeira.

 

 

Asfixia

 

Um muro à frente, à volta um muro,

Uma rua fechada,

Asfixia constante e eu sem seguro

Para a jornada.

 

A garganta da vida apertada,

Um medo silencioso,

A opressão camuflada

Por detrás do gozo.

Tudo ou nada

À porta de entrada.

 

Do pessimismo a cobertura

No bolo do conforto.

Quanta amargura

E eu no horizonte não vislumbro porto.

 

Sento-me para sofrer

E a sofrer me fecho.

Tanto a doer

Sem final desfecho!

 

Corpo sempre em obras,

Horas e horas de estudo,

Colegas cruéis a roubar-me as sobras,

Amor, nada ou bem correspondido,

Sempre a falar mudo,

Meio ou todo sem sentido...

 

Desejo nunca saciado

Na incompreensão dos mais

E sempre os pais,

Biológicos ou outros que tais

A amear do passado...

 

Tanto para sofrer

E tão pouco para rir!

 

E eu sempre a imitar outro qualquer

Na hora de ir:

Ponho a família à gargalhada

Com a minha piada,

Os colegas encantados

Com meus contos tresloucados,

Brinco por fora

Enquanto dentro de mim outro mora.

 

Aguento

Porque tento, tento, tento...

 

O optimismo é uma trabalheira

E é sempre oco, de qualquer maneira.

 

Crescer é grave

E o peso da gravidade

Dia a dia me enterra, suave,

Em maior profundidade.

 

E eu que não paro de crescer,

Eterno adolescente,

Desde que nasci até morrer,

Quer por dentro quer por fora em mim atente!

 

Apetece-me a adultez

E a pequenez,

 

O que não tenho ainda

E o que já não tenho, perdido à vinda.

 

Sou sempre o intermédio do caminho,

No meio de todos para aqui sozinho.

 

 

Relevante

 

O intelectualóide produz

Só de relevante o ódio.

A crítica é que o traduz:

Tudo é mau, trepado ao pódio,

É horrível,

Tudo indecente, terrível...

 

Tudo é burro,

Uma trampa

Que em cada dia se estampa

No zurro

De quem não sabe nada,

Nada pensa na jornada.

 

Ninguém vê pitada,

O país, o mundo inteiro é uma desgraça,

Tudo a acabar na negra traça

Do iminente fim da estrada.

 

Toda a gente cheira mal,

A comida anda estragada

E até mesmo o vendaval

Venta ao invés do que agrada.

 

Água esfria

Ou aquece

Quando a gente a quereria

Ao invés do que acontece.

 

Que civismo?!

Tudo uma quadrilha de ladrões!

Ninguém ajuda ninguém a puxar o autoclismo

Deste mundo de senões.

 

- O intelectualóide

É deveras desgastante.

Adiante,

Além do tablóide,

Que aqui não há real que se implante,

É tudo artificial celulóide!

 

 

Derrotista

 

O derrotista sistémico

É um paspalho,

Falhado académico

A tentar fugir ao rebotalho.

 

Débil profundo,

Permite aos demais

Entenderem qual o lado fecundo

Dos pendores da vida reais.

 

Quando me sinto menos bem,

Logo encaixo

Dum falsário o discurso que tem.

De imediato na corrente me enfaixo

Do saber que convida

E tem a vida.

 

O derrotista é o cão

Furibundo

A esgravatar da casota no chão

Do mundo.

 

 

Onde

 

Onde uma ponta de ficção

No meio de tanta verdade?

A verdade é uma traição,

Uma fraude,

Não existe,

Por muito que seja triste.

 

É tão valorizada!

E é uma mentira pegada...

 

É, inelutavelmente, mera aproximação,

Fatalmente truncada.

Não merece andar à frente, pois,

Duma possível ficção

A dois.

 

Quando a ficção se partilha,

Desta meia verdade a quilha

 

Cruza da vida a barra estreita

E é disto que a felicidade é feita.

 

 

Estúpido

 

O estúpido é ressabiado,

Morre de inveja.

Tudo o que vir é malvado,

Tudo o que é feito é mal feito,

Por melhor que seja

E até lhe dê jeito.

Se não foi ele que fez,

É de má rês.

 

O comentário odiento

É da vida dele o confortável assento.

 

E é o que o invade

De úlceras, colapsos cardíacos,

De infelicidade.

Os estúpidos são tão maníacos

Que não aguentam quem tem dedos para criar

E não apenas para os mais a dedo apontar.

 

O ressabiamento aponta na lonjura

A felicidade

Que nunca o persuade,

Sempre a uma distância segura.

 

 

Vaidade

 

A vaidade torna o estúpido

Infinitamente cúpido:

 

Exibe que sabe mais

E que mais tem,

Mais pode do que os demais

E logra mais também...

 

Fica muito deprimido

Quando alguém

Lhe confidencia ao ouvido

Que não é, em todo o continente,

Nem ela a mais bela, nem ele o mais inteligente.

 

É tudo maquilhagem

À superfície da mente.

Para a profundidade qualquer viagem

Finda permanentemente

Ausente.

 

 

Deixar

 

Queria deixar de ser eu,

Embora ser eu nem consiga.

Tenho de meu

Apenas a briga:

Sou uma espécie de mim,

Uma simulação,

Personagem de intriga

E paixão,

Improvisando o papel até ao fim.

E acabo tropeçando no palco,

Caindo no catafalco.

 

 

Cima

 

Por cima do que quiseres,

Ama.

O amor só desiste após venceres.

Consome, dilacera, abraça, aperta,

Até que tudo acama

Na praia dantes deserta.

 

Até lograr, no final,

O papel principal.

 

No jogo da apanha

Da humanidade

É sempre ele que ganha.

Por muito que a consumação seja estranha,

De verdade,

O amor é, por derradeiro,

Do Universo inteiro

A finalidade.

 

 

Varreres

 

Não tinhas o direito

De entrar por mim adentro,

Varreres tudo a eito

Como se fora lixo,

Ocupares de minha vida o centro,

Sem de mim restar um nicho.

 

E depois ires embora,

Sem um aceno:

Entraste, amaste, magoaste e foste

Na hora.

E eu para aqui fiquei, perdido no terreno,

Solitário poste

De estrada

Abandonada.

 

A aguardar que tudo voltaria

Um dia,

Que fora brincadeira,

Que não tinhas ido, naquela tarde

Derradeira,

Em fuga cobarde...

 

Mas nem por sangrar

Tanta hora dolorida

Deixas de ser o par

De minha vida.

 

 

Fera

 

Amar, deveras amar

É nos braços te imaginar

De quem, fera no fojo,

Até te mete nojo:

Tenho nojo de haver-te pertencido,

Mas o que eu daria para voltar ao que haja sido!

Nojo do teu beijo,

Nojo do teu abraço,

Nojo do intérmino cortejo

Do teu embaraço...

 

Nojo de tudo o que é teu!

O pior é que tudo o que é meu

Continua disponível para ti.

Disponível para o nojo que tu és

Nojo que és para aí,

Definitivamente a pisar-me com os pés.

 

Tenho-te nojo e saudade

Em completa paridade.

 

 

Sendo

 

Para ser eu, só sendo teu,

Entregar-me todo ao todo que em mim agarras,

Ao céu

De tuas garras.

 

A paz de nossos corpos e vivências

É a única guerra construtiva,

As suaves violências

Da vida esquiva.

 

Quenquer que seja,

Se alguém ser almeja,

 

Ou ama inteiro assim

Ou já se perdeu do fim.

 

É preciso a coragem

De querer sempre amar

Ou a viagem

Não terá lugar.

 

 

Celebrante

 

O celebrante diz

“Oremos!”

E a tua palavra condiz:

“Amemos!”

 

E todo o mundo ajoelha

Na laje onde fulge esta centelha.

 

Bem mais que a do milenário torpor,

És a palavra do Senhor.

 

Como seria sem amor viver?

Teria, assim,

De viver, eu como quenquer,

Sem mim.

 

Somos tão nós que, depois,

Se morres tu, morremos os dois.

 

Não é dos afazeres:

Para matar-me, basta morreres.

 

Precisamo-nos para além do razoável.

Mas a razão

Não é prioritária

Na função,

Antes serventuária

Eficazmente interminável.

 

 

Cintilam

 

Quem se ama,

Se me ponho a reparar,

Tem sempre tão pouco, tanta lama

Para nos dar!

 

Mas é na lama que, belas,

Cintilam as estrelas,

 

As únicas ao meu alcance,

Para onde quer que os olhos lance.

 

 

Tinha

 

Ela tinha um marido

Mas faltava-lhe o gemido

A entrar-lhe pela flébil alma.

E era aí que o outro chegava

Em cada furtiva e brava

Escapadela de colher a palma.

 

E ele tinha uma mulher

Que era daquela a melhor amiga.

Um dia qualquer

Foi a briga.

 

Os amantes na cama furtiva,

A mulher a abrir a porta

E a fechá-la, esquiva

E meia morta.

 

O divórcio desuniu

O que afinal não andava unido.

Cada qual para seu lado fugiu,

Sem rumo nem sentido.

 

Cada qual viveu sozinho

No meio de variegada companhia.

Viveu a vida inteira

Sem mais beira

De ninho,

A olhar a lonjura vazia.

 

Aprenderam que o amor não se partilha

Nem completa.

Morreu cada um em sua ilha

Discreta.

 

Há muito já que tinham morrido,

Porém,

Nos portos da vida onde deles o bramido

Nunca chegara dalém.

 

 

Jovem

 

Uma jovem a despir-se

É o filme dum herói qualquer

A redimir-se,

Ao ter,

De repente,

De salvar toda a gente.

 

Um corpo velho é o defeito

Inesperado:

Aquele pedaço deslocado

Bole-me no peito,

Abre-me a ferida do lado.

 

Excita

Doutra maneira:

Põe a vida à compita

Da morte com a leira.

 

A vida acaba

Quando deixamos de fazer,

Trancando a aldraba,

O que da fundura nos aprouver.

 

 

Decidir

 

A idade

A decidir a companhia

É a realidade

Mas é uma arrelia.

 

Como num jardim zoológico,

Por espécies divididos,

Não vá o equilíbrio ecológico

Levar a que uns pelos outros sejam comidos...

 

Ecossistema equilibrado

Quando o que importa é a sensação,

O toque sonhado

No coração.

 

Senão

De castigo,

Não quero ninguém comigo.

 

- A idade não define

O que em comunidade nos combine.

 

 

Simples

 

Tudo é simples e nós complicamos:

Hierarquias, linguagens, dinheiro, estatutos...

E estranhamos

Os produtos!

 

Com tais maneiras

Não há caminhos rectos:

Erguemos barreiras

À livre circulação de afectos.

 

Tão espertos

Quão parvos,

Como nos desertos

Encontrar-vos?

 

 

Vemos

 

Vemos um lugar,

Como um estado de vida,

Sempre a comparar

Com o que queríamos encontrar,

Nunca na forma devida

De facto por eles revestida.

Então o juízo de valor

É o que esta arbitrariedade for.

 

 

Perdido

 

De olhar perdido, ele ali na estrada.

Ela perdida sempre, de ignorada.

- Amo-te – diz ela.

- Também te amo - diz ele, de olhar perdido na janela.

- Como na lua-de-mel –

Insiste ela.

- Igual – confirma ele,

Sem reparar na nódoa que isto suja na lapela.

- Adorei amar-te.

- Também.

 

E, enquanto ela se atém,

Ele parte.

 

- Destarte,

Nem ele nem ela serão nunca ninguém.

 

 

Monogamia

 

Monogamia passageira

É poligamia à beira.

 

Monogamia enquanto vai dando

É uma articulação esgarçando.

 

Monogamia

Ou para sempre é

Ou é fantasia

E ninguém porá de pé.

 

Até pode falhar,

Mas não pode estar dentro com um pé de fora,

À espera do que calhar

A toda a hora.

 

Ou apostas para a vida

Ou a aposta é fingida.

 

E ambos apostam

E não um apenas:

Ambos escolhem de quem gostam,

- Isto é que equilibra do lar as empenas.

 

Um ama e prende,

Outro não ama e prende na mesma?

Quanta escravatura rende

Do casal esta abantesma!

 

Só para ter,

Possuir,

Prender

E ser

Um nome, um estatuto das alturas do nadir?

 

- Do amor não entenderam nada

De como ele rasga a estrada.

 

 

Milénios

 

O inventor,

Inesperadamente,

Inventou

O amor.

De repente

Parou:

- Não é que o mundo, por todo o lado

Há milénios já que o tem inventado?!

 

Corre então a inventar

A imortalidade,

Mais uma vez sem reparar

Que é a mesma realidade:

A morte

Nada aniquila,

Muda o transporte

Do corpo minúsculo

Para o inumerável músculo

Do inteiro Universo

Com que finalmente

Infinitamente

Converso.

 

 

Mover

 

O amor

Faz mover a multidão

E o ódio, o mesmo chão

Àquele a se contrapor.

Ódio é um amor demente

A tomar conta da gente.

 

Um amor mexe com tudo,

Ninguém sabe donde vem

Nem que conteúdo

Dele brotará vida além.

Subverte sempre a razão,

Nem sabemos dela então.

 

O amor crucifica

Para não ser crucificado,

Ama para ser amado,

Cheio quando com nada fica.

 

Do ódio a fúria

É para vencer a incúria

 

Dum amor que preza,

Que só quer como presa.

 

Fere

Só para ajudar a curar

Quem quer

Amar.

 

Ateia o fogo pela paga

De ser o herói

Que o apaga

De tudo quanto dói.

 

Para arderem os dois

Juntos depois.

 

Morrerem um no outro juntos

E assim resolverem todos os assuntos.

 

A ressurreição perfeita

Na perfeita morte

E, desta feita,

Vergar de vez a sorte.

 

O motivo

De raiz:

Morrer feliz,

A única maneira de estar vivo.

 

A multidão elimina

Para eternizar:

O amor mata a sina

E gera-nos, em lugar.

 

 

Deveras

 

Amar

É deveras singular.

Mesmo que ame toda a gente

É só um de cada vez

Concretamente.

 

Não é um revés,

É que todo o universal

É em cada singular que se revela,

Na harmonia total

Que visa como sua final

Longínqua estrela.

 

 

Beleza

 

A beleza é um perigo vadio,

Sem dono.

Não é do atavio

E o mono é sempre mono.

 

A beleza é um perigo

Mas a vida que interessa

É sempre ao abrigo

De tal promessa.

 

E é irresistível,

O que é negativo,

Ao nível

Do que é vivo:

 

Desistimos de continuar,

Insistimos em ceder.

E a cedência, a par,

É perigo a ocorrer.

 

Venha alguém explicar

Porque é que sigo,

Tão sem ponderar,

Inimigo tão de mim amigo!

 

 

Diabólico

 

Diabólico é esperar

Um prazer

Que não chega nunca mais.

Expectativa ao gerar,

Principia a ser

Já nos devaneios virtuais.

 

Mas logo nos consome,

Nos aperta

Com a fome

Duma campina deserta.

 

Torna-se então imparável,

O que é bom

E mau também:

Aguilhoa-me à corrida interminável,

O que pode dar o tom

Que combina com alguém,

Ou torna-me refém,

A mim ou outro qualquer,

E então em dor devém

Todo e qualquer prazer.

 

 

Todos

 

Somos todos tão iguais,

Cada qual

Aos demais,

Trepado embora aos picos,

Coberto embora de requintes,

Que cheira tão mal

O fumo dos ricos

Como o fumo dos pedintes.

 

Tanto o da solarenga lareira

Como o da aborígene fogueira,

 

O do mísero velório

Como o do faustoso crematório.

 

Todos iguais

No rio dos derradeiros

Sinais,

Os definitivamente verdadeiros.

 

 

Continua

 

A vida é um barco,

Sempre a deixar entrar água,

Em perigo de se afundar.

No charco,

Entre alegria e mágoa,

Continua a navegar.

 

Enquanto à tona,

A fé louca nos abona

 

E, apesar dos apuros,

Sentimo-nos seguros.

 

 

Medo

 

O rapazinho

Tem medo de não ser amado

E, vida fora, adivinho,

Põe o amor de lado,

Não vá o diabo tecê-las

E ele é que sofre as sequelas...

 

Tentou, desesperado,

Que o amassem. E finda indignado:

 

Pressente que o amor é gratuito,

Não pode ser ganho.

O verdadeiro, fortuito,

Quando o apanho,

É incondicional aceitação:

Vive de perdão.

 

Ninguém nunca fica à altura

Do que ele apura.

 

Mas é isto, apenas isto que realço

Quando lhe persigo a figura.

Tudo o resto é falso.

 

 

Porque

 

Porque não és tu amado?

Sabes, mas não acreditas:

És amado em todo o lado

Por trás de todas as fitas.

 

Nem sequer a indiferença

É sentença.

 

Quando cais em desgraça,

Vê bem quanta trama te abraça.

 

E é assim todo o mundo:

O amor é o pano de fundo.