TRILHOS DE SER
Vida
Desta vida a maior dor,
Se não for a dor em vão,
Pode então ser a maior,
A maior libertação.
Sangue
Por mais que adore o sabor
Do sangue que haja entornado,
Não há um atormentador
Que não seja atormentado.
Atrás
Da vida atrás do capim
Que do longe apaga a voz,
Deus sempre respira em mim,
Deus sempre respira em nós.
Vantagem
A vantagem de ser lento
É a de observar com minúcia.
A desvantagem do intento:
Antes chega toda a súcia.
Caçada
Quando a gente se distrai
Com a caçada a fantasmas,
Da praça o preço nos trai,
Trepa a tais cumes que pasmas.
Linhas
A vida é de colorir
Um livro de linhas pretas.
Que cor queres a seguir?
- É que tu tens as canetas.
Pingo
Do Cosmos a frágua
Não forjava igual
Sem o pingo de água
Que eu sou, afinal.
Grande
É tão grande a pequenez,
Ante o céu, de nossa cena
Que aumenta a cada entremez:
Cresce este? Mais a apequena.
Queda
A pior queda não é
Quando um tropeção ta traz
Mas quando perdes o pé,
Que te rasteiram por trás.
Morte
Quando resolves viver
Tal se não haja amanhã,
O que vai-te acontecer
É uma morte temporã.
Lonjura
A lonjura ao real dá
A imagem mais realista,
Próxima do que será
À cegueira quem tem vista.
Mais-valia
Mais-valia laboral
É a do labor, não da fama:
Ser credível, afinal,
Não só notado na trama.
Porvir
O passado ninguém muda.
O porvir é que, ao chegar,
Em quanto à vida se gruda
Permite recomeçar.
Diverso
Ser diverso sendo igual
É o que temos pela frente,
Mar batendo desigual
Na igual praia do presente.
Fósforo
Fósforo na escuridão
À noite revela o norte.
Ergue da vida o pendão
Pano de fundo da morte.
Paixão
Independência? Sem preço.
Liberdade? Vale tudo
Quanto eu tiver em apreço
Pela paixão com que mudo.
Verdade
Por mais que a meça, que a peça,
Por mais pormenor que aliste,
Por estranho que pareça,
- A verdade não existe!
Contar
Aqui vou, feito mirone,
A contar só quanto viu,
Que não é, por mais que entone,
Aquilo que aconteceu.
Sucesso
O sucesso não é um dado
Matemático adquirido:
Ninguém sabe como é nado
O imprevisto de que hei rido.
Caos
Caos é a vida normal
De emoções, projectos ruma.
Vem a doença: afinal
Ela é que o caos arruma.
Mudam
Não são opiniões, são pactos
Contra factos: dão lesões.
Opiniões não mudam factos,
Factos mudam opiniões.
Viaja
Quem viaja no imaginário
Não é menos caminhante
Que quem viaja no vário
Vasto mundo que haja adiante.
Mundo
O mundo é sempre maior
Do que aquilo que sabemos
E mais pequeno, menor
Do que quanto desejemos.
Maioridade
Maioridade não é
De todo maturidade,
As cãs só põem de pé
Que teremos muita idade.
Dói
Confrontar a realidade
Às vezes dói, de aba a aba.
No parto a dor nos invade,
Depois nunca mais acaba.
Homero
De Homero será de rirmos:
Sei lá se foi! Tudo a esmo...
Pois, depois de nós partirmos,
Só as coisas, cá, ficam mesmo.
Importante
O importante somos nós,
Cada qual com o seu galho,
E o que mais lhe importa após:
A cada dia, seu talho.
Mensagem
Mais fácil e tentador
É matar o mensageiro
Que saber quem do teor
Da mensagem foi primeiro.
Ninguém
Ninguém sabe o que for morte.
Pouco importa, na medida
Em que em si ninguém transporte
O saber do que for vida.
Precioso
Precioso é o lugar-comum,
Que é válido e sem enganos
E leva-nos anos e anos
Até criarmos algum.
Contra
O arrogante e prepotente
Contra a massa rebelada
Pode encher de sangue a estrada,
Que ao fim cai aos pés da gente.
Força
A nossa força será
A nossa fragilidade.
Sou este enquanto por cá:
Persistente vacuidade.
Olhar
Olhar de bebé, de espanto,
De amanhecer multidões,
Não quer respostas, no encanto,
Quer mesmo é revelações.
Experiência
Experiência abre uma porta
Ante nós o tempo todo.
Vista, porém, doutro modo,
- O novo mundo transporta!
Julga
Toda a gente julga, a rir,
Que é mais forte que a heroína
E a droga lho faz sentir...
- E é sempre a morte por sina.
Apenas
A rotina apenas má
Não será mesmo rotina.
Má somente ela será
Se a rotina me domina.
Infantil
Todo o maravilhamento
Infantil é despertado
Num país onde ignorado
É tudo a todo o momento.
Quão
Quão mais lê, mais se apercebe
De tudo quanto não leu.
Quão mais quer ler, mais concebe
Que não lê o que concebeu.
Tudo
Tudo o que lhe chega em vida
Passa deveras por si.
É que começa, à partida,
Dentro de mim quanto vi.
Passa
Passa o tempo devagar
Quando eu espero, a tremer,
Ansioso, sem parar,
Por uma coisa qualquer.
Julgar
Quem se julgar muito esperto
Acaba sempre, com mágoa,
Por dar, mais longe ou mais perto,
Com os burrinhos em água.
Enchem
Enchem a barriga a estos
Com o dinheiro do povo
E amordaçam os protestos
Para digerir o ovo.
Dobrares
Será que te dão comer,
Deixam vindimar a vinha,
Sem tu dobrares sequer
Servilmente a tua espinha?
Ri
Tudo o que é mesmo importante,
Que nos deixa de cangalhas,
Tem por trás, hilariante,
Quem se ri de nossas falhas.
Problema
Problema, se me concentro,
É o que passa e não se lê,
Quando a luz anda cá dentro
E a gente olha e nunca vê.
Surdo
Quem é surdo de nascença
Não será o melhor juiz
Duma música em presença
De que se julga o cariz.
Fugir
Um objecto indiferente
Devém logo inestimável
Ao fugir irrevogável
Doutrem para a mão premente.
Acto
Qualquer acto compromete
O que é bem mais importante
Do que o que à mente compete:
O corpo e o que move adiante.
Medo
Temos mais medo à palavra
Que àquilo que representa.
Isto nos vicia a lavra,
O pão assim mal fermenta.
Ferir
As palavras são as sombras
Das coisas que nelas gravam.
Podem ferir as alfombras
E às vezes até matavam.
Enxada
Muita coisa a gente aprende
Mas enxada em cava minha
É que ao fim paga o que rende,
É que dá o pão da farinha.
Pensão
Uma pensão de alimentos
É a paga que alguém recebe
Quando enfim se desembebe
Duma vida de tormentos.
Nome
Uma coisa mal existe,
Nela não hei reparado...
Se um dia o nome lhe viste,
De repente é todo o lado.
Escuro
A memória é uma traição
No escuro atrás das janelas:
As coisas nem sempre são
Como nos lembramos delas.
Caracol
O caracol de corrida
Que se quer livrar da casca
Crendo que acelera a ida
Fica lesma que se atasca.
Sepulta
No cemitério, o coveiro
Sepulta um deus no chão raso.
Os mais, pelo mundo inteiro,
Sepultam-no em vida a prazo.
Dantes
Dantes sobre Deus deitavam
Toda a mancheia de céu.
Em deserto aqui ficavam:
Ninguém de si tem de seu.
Tornozelo
O Deus que de nós fugiu
Pelos céus fora, é da terra
Que há-de voltar que o correu:
Já o tornozelo nos ferra.
Castanhas
Sempre o problema é de quem
Tira as castanhas do lume,
Não para a boca que tem,
Para quem nem tal assume.
Maldade
A maldade tem disfarces
Duma infinda infinidade
E o pior onde te esgarces
É o disfarce da bondade.
Procura
Na procura dum abrigo,
Sorrindo ou rangendo os dentes,
Não há permanente amigo,
Há interesses permanentes.
Fúria
O homem, a fúria represa,
Ante a mulher fica mudo?
- Da mulher é que a fraqueza
É dela o melhor escudo.
Costume
É costume se espantar
De a ciência não dar certo.
Mais espanto é de, em lugar,
Ela algum dar-nos acerto.
Requeremos
Todos requeremos luz.
Quem a quer demasiada
Sobre as coisas só produz
Toda a coisa ao fim mirrada.
Amargor
Da vida o pior sabor
Será o do amargor do tempo:
Corre, corre, corredor,
Nem dá tempo às vinhas que empo.
Artista
O que um artista aprecia
É o que elogia, o que agrade.
Por trás mais alta é a fasquia:
Mais aprecia a verdade.
Espreite
Por onde espreite não há
Janela para a consciência
De cada um: dacolá
Só o próprio tem evidência.
Calar
O modo mais acertado
De se calar, se escalavra
Um silêncio violentado,
Muitas vezes é a palavra.
Metros
Os metros às vezes plenos
Nos serão de falsos dados:
É dos gestos mais pequenos
Que temos mais resultados.
Perdoar
Perdoar sem esquecer?
Nunca se esquece a lesão:
Fica a cicatriz que houver
E do retorno o papão.
Idade
Parte da vida vivida
E que já de vez teve alta,
A idade é só uma medida
Para a vida que nos falta.
Mistério
O mistério do tempo nos invade
E abalroa ou defende com vigor:
A idade não protege dum amor;
O amor, porém, protege-nos da idade.
Diz
O novo diz sempre “eu vou!”,
O adulto diz “eu irei”,
E o velho que for quem sou
Diz “eu fui”. Quase passei...
Modelo
O modelo de beleza
É o que é de cada mulher,
É o que ela e que o homem preza,
Haja o modelo que houver.
Máquina
Máquina é o corpo complexo,
Toda a peça tem de estar
Em sintonia de amplexo
Para atingir bem-estar.
Inviável
É inviável o prazer
Encontrar quando o regalo
Se contentar com qualquer
Modo só de procurá-lo.
Cérebro
O cérebro com a mente
Que no crânio meu encorpo
É o mais erótico assente
Órgão que tenho em meu corpo.
Desgosto
Do desgosto a me rasgar,
A parte mais importante
Vem sempre mais adiante:
É o momento de acordar.
Leio
Às vezes leio uma história,
Nem lhe imagino que fim...
A vida tem esta glória:
O melhor da vida é assim.
Encostado
Quando encostado à parede,
O inimigo é imprevisível,
Poderá fazer adrede,
Imprevisto, o impossível.
Sonhar
Sonhar não custa, pois não?
Só depois, ao constatar
Deste sonho a frustração,
A doer venho a pagar.
Tempos
Nossos tempos de liceu
Serem o tempo mais atro?!
Nunca no meu nem no teu:
Tudo aulas de teatro!
Depois
Metemo-nos nos sarilhos
E depois então choramos.
Dos humanos sempre os trilhos
Entre os escravos e os amos...
Estado
Como é que fará sentido
O Estado totalitário?
Tudo o que não for proibido
É obrigatório sumário...
Morto
O morto é sempre o estrangeiro,
Seja qual for a medida
De medir este balseiro
Da pátria comum da vida.
Multidão
Multidão desiludida
É sempre mui perigosa.
Quanto mais grita à partida
Mais despreza ao fim, raivosa.
Comum
O mais extraordinário
É o extraordinário ser
Do comum o prato diário
Que quenquer pode comer.
Único
A ti tu te reconhece
Único por entre vários.
Quem a si se não conhece
Não reconhece os calvários.
São
Nem sempre os que são mais ricos
Têm as vidas mais vaidosas,
São apenas uns salpicos
E o mais, rotineiras prosas.
Perdemos
Nós só somos o que somos
Quando por fim nada temos,
Perdemos todos os pomos:
- Quem somos então sabemos.
Humildade
A humildade é só dos grandes.
Aquele que muda o mundo
Mal aparece (se o mandes)
Na fotografia ao fundo.
Serve
Para que é que serve a dor?
Podem-se escrever mil tomos...
- É para saber o teor,
O teor de quem nós somos.
Tanta
Como somos tanta gente
Até sabermos quem somos!
Acabamos sendo um ente
Onde nunca a nós nos pomos.
Dói
A vida rimos por fora
Quando às vezes dói por dentro.
Então demora, demora...
E há sempre a semente ao centro.
Tamanho
Sou do tamanho da dor
Que capaz for de passar,
Dos saltos que, com furor,
Lá der, ao sobrenadar.
Grau
O grau de incapacidade
Que tenho de fazer mal
Mede meu tamanho real
De trilhar pela cidade.
Fácil
Não é fácil nunca a vida
A quem é boa pessoa
E a quem é má, de seguida,
Só que este a merece à toa.
Inda
Catando uns nervos, catando
Alguns ossos mais esquivos,
A morte vai-nos matando
Inda quando estamos vivos.
Quases
Viver era aproveitar
Os quases que a vida dá
Sem nunca em quases ficar,
Indo ao fim que houver por lá.
Conhecer
Conhecer a raça humana
É conhecer a maldade
Que da humana raça emana
Na esconsa viscosidade.
Reuniões
Quem manda no mundo, não
Vai a reuniões secretas,
Dorme no mesmo colchão
Com quem vai e atira as setas.
Espectáculo
A intrepidez, a coragem
São espectáculo belo,
Mesmo se é torpe a drenagem
Dos motivos que revelo.
Sermos
Somos todos animais
A fazer de sermos gente
E atacamos os demais
Quando à defesa é premente.
Salva
Quantas vezes da maldade
Nos salva o que fica mal
E, do que é mau faculdade
De cura, nos cura igual!
Calço
Quando calço dois sapatos
E ambos são do mesmo pé,
Vou cair dos desacatos
Na realidade do que é.
Rabo
De rabo preso ninguém
É corajoso deveras
Ou a coragem que tem
Ficar quieto é pelas eras.
Coragem
A coragem é de heróis
Como o medo o é também.
Os não-heróis são depois
Só medo, sem mais além.
Sonho
O sonho de tantos, tantas,
Do dinheiro é a primavera.
Quantos negarão e quantas
Que é deles vida esta espera?
Corda
Numa corda que rebenta
Por todo o lado há feridos:
Não só quem perde o que tenta,
Quem ganha perde os sentidos.
Turba
A turba acredita andar
A salvar a sua vida
E, afinal, anda a salvar
Os vampiros da avenida.
Tubarão
Vai haver sempre partilha
Mas sempre entre os do costume:
Tubarão tem grande quilha,
Mais no nada eis que se esfume.
Veneno
Requer corpo que o acata
(Seja lá que corpo for)
E o veneno às vezes mata
Quem for envenenador.
Conquistar
Conquistar o que queria
Sempre é o vazio depois:
Que é que então conquistaria?
- Não é um falhanço, são dois.
Riqueza
A riqueza em geral tapa
Silêncios, insuficiência,
De espaços vazios capa
De quem já perdeu a essência.
Fácil
O mais fácil de certeza
Não será o mais saboroso.
O que teu imo mais preza
É que deveras dá gozo.
Extremos
De lágrimas somos feitos
E de alegrias também.
Os extremos são os jeitos
De no meio irmos além.
Chora
Só não chora quem não sente
E quem não sentir acaso
Poderá ser mesmo gente?
- Não é gente nem a prazo!
Gratos
São sempre mais atacados,
A suportar mais agrura,
Mais sofridos, mais calcados,
- Os mais gratos com ternura.
Temo
Aquilo que temo ser
Acabo por ser bem mais
Se penso o que não quiser:
Segue o Cosmo os meus sinais.
Apaga
Não apaga a idade o medo,
Às vezes até traz mais,
Mais medos e mais segredo,
Que a coragem mais negais.
Tragédias
Há tragédias que ternura,
Por mais que tragam desgraça,
Trazem a cada figura
Que sombra em vida perpassa.
Maior
Do mal a maior virtude
É ser imaginativo
Mais que o bem que bem se ilude
E finda morto em arquivo.
Alturas
Se nunca perder a cota
Das alturas com que fita,
Mais a vida é mais velhota,
Mais a vida é mais bonita.
Nosso
Nosso, apenas nosso é aquilo
Que sentimos de verdade,
O terramoto tranquilo
Do sangue em velocidade.
Ir
Quando a gente gosta,
Ao ir sempre fica
E fica uma aposta:
Qual mais nos implica?
Mata
Não é com facilidade
Que a exaustão mata: atordoa...
Antes a inutilidade
É que mata uma pessoa.
Soma
Ser não poderei como era,
Que a vida soma as vivências.
Nem, porém, um trauma impera:
Busco-me entre as aparências.
Examinar
Um homem da mulher dirá que é bela
Sem nunca examinar que bela a torna.
A mulher examina estrela a estrela
Até que o brilho alegre nela entorna.
Fundo
No fundo, no fundo temos
Maneira estranha de ser:
Aquilo que mais queremos
É o que não podemos ter.
Lutar
Importa menos vencer
E bem mais participar.
Vida não é conquistar,
Antes bem lutar quenquer.
Controlar
Controlar as emoções
É não atacar à cega
Na partida aos encontrões
Que a vida sempre nos prega.
Medo
A brilhar ou tenebrosa,
(Vai-se o sol, vem uma estrela)
A vida é maravilhosa
Se não se tem medo dela.
Esperança
A esperança é o derradeiro
Remédio que a natureza
Deixou, neste vale inteiro,
Dos males para represa.
Sorriso
O sorriso que ofereces,
Ou de frente ou de través,
Dá-te a paga que mereces:
Para ti volta outra vez.
Rotinas
Felicidade é certeza
De que a vida inutilmente
Não está passando, presa
Das rotinas do presente.
Coragem
Coragem não é de medo
Uma ausência singular,
É a persistência, apesar
Do medo a que nunca cedo.
Palavras
Quaisquer palavras sinceras
Podem não ser agradáveis
E as agradáveis, quimeras
De sinceras simuláveis.
Reparam
Se as pessoas são felizes,
Não reparam nunca então,
Tão ricos são os matizes,
Se é de Inverno ou de Verão.
Inova
O Outono outra Primavera
Inova no que ele for,
Doutra cor pinta quanto era,
De cada folha, uma flor.
Frustração
Quando alguém de tenra idade
Não o ensinam a aprender,
A frustração que o invade
Indisciplina há-de ser.
Presidente
Presidir, a nós nos gruda,
Abrindo as folhas dos tomos:
Ser presidente não muda,
Antes revela quem somos.
Heróis
Os heróis têm pés de barro
Onde as glórias se consomem:
Todo aquele com que esbarro
É apenas um frágil homem.
Quando
Nossa imaginação...
- Quando é que reparamos
Que as coisas nunca são
Como as imaginamos?
Espreita
Muitos cuidam que a verdade
Resolve tudo na vida,
Mas às vezes é a maldade
Que nela espreita escondida.
Abrir
Recordações são a porta
A nos abrir o passado.
Quão mais valoro o que exporta
Mais se abre para o meu lado.
Natureza
É da natureza humana
Querer se não puder ter.
E como a gente se engana!
Depois nem tal posso ver...
Escritor
Mão que escreve é preguiçada,
Mas de escritor nunca brinco:
É quando não se faz nada
Que se faz com mais afinco.
Recordação
A recordação está
Na cabeça, o resto são
Estorvos aqui ou lá
A picar o coração.
Ateu
Quando desaparecer
A religião da terra,
Há-de encontrar-se em qualquer
Ateu que ao amor se aferra.
Rede
Mais ou menos resiliente,
Pende da rede social
Quanta amizade é presente
Quando a dor te dá sinal.
Melhor
O melhor que te aconteça
É o melhor que houver em ti
Dos pés até à cabeça,
No imo que vivas aí.