ANTEMANHÃ

 

 

 

Injustamente

 

Injustamente acusado

Não é o pior. O pior

Com sobranceria olhado

É ser do ignaro maior,

A trepar, muito lampeiro,

Da sola de sapateiro.

 

 

Palavra

 

A palavra toca a mente,

Só depois, o coração.

Mente, muito humildemente,

É um pequeno portal vão.

O coração só indirecta

Toca a música discreta.

 

 

Alguém

 

Quem conseguir encontrar

Alguém que possa abraçar,

Com quem os olhos ao mundo

Puder fechar, terá sorte:

Mesmo que dure um segundo,

Tem do amor inteiro o norte.

 

 

Importa

 

A quem importa a etiqueta

Ou que um rei supera um conde?

A eles só. Mas a meta

É ver onde ela se esconde,

Antes que um erro cometa

Quem deles dependa avonde.

 

 

Cultura

 

Da cultura os percevejos

Crêem que mandam no Sol

Que brilha no céu de andejos,

Juntando a Lua no rol,

- Que em barro eles travam diante

Os livros que têm na estante.

 

 

Romance

 

Um romance de homem

Mal será um poema.

Dum romance o tema

Só poemas consomem.

- Quando não for isto,

É mero registo.

 

 

Nasce

 

Donde nasce o amor?

Do Cosmos faísca,

Falhas a compor,

Do peixe humano isca...

Só sei de verdade:

- Não vem da vontade.

 

 

Homens

 

Os homens são muito estranhos:

Nervosismo de cavalo,

De mula, a teima dos ganhos

E do camelo os abalos

Da malícia a tropear...

- Como tudo equilibrar?

 

 

Permanência

 

A permanência é contrária

À natureza e à vida.

A permanência sumária

É a do morto, finda a lida.

E mesmo este a natureza

Mudá-lo eras fora preza.

 

 

Mesma

 

Nunca nascem os irmãos

Dentro da mesma família:

Dum ao outro há mais desvãos,

Pegos a que impor vigília,

Mais rotas de contramãos,

Mais com quem ter mais quezília.

 

 

Conforme

 

É líder o primogénito,

O segundo é mediador,

O terceiro é um congénito

Comediante sedutor.

Como a família diverge

Conforme quem nela emerge!

 

 

Variedades

 

Mais velho? Conquistador.

Do meio? Inconvencional.

Mais novo? Procurador

De atenção que seja real.

- A família se enriquece

Com variedades na messe.

 

 

Arranhão

 

O que vemos ao de cima

É só um arranhão às vezes.

É o efeito dalgum clima,

Não uma das causas soezes.

E aquele que confunde isto

Não vai longe, ao vento é um cisco.

 

 

Sorte

 

Ninguém tem vida perfeita

Mas a tua é bem melhor

Que a da maioria atreita

À má sorte a se lhe impor.

Que merece o teu desnorte?

Tens sempre muito mais sorte...

 

 

Embora

 

Embora perdendo,

Acaso, em concreto,

De lutar entendo

Pelo que é correcto.

É que o abandono

Põe-nos é com dono.

 

 

Medida

 

Para quem é professor

A medida dum aluno

Não é se ele aprende um ror.

Ao invés, a vela enfuno,

Vento próspero me impele

Com o que aprender com ele.

 

 

Vivência

 

Um bebé foi construído

Da vivência de mim filho,

De quão delicado haurido

Dos pais hei do encanto o brilho,

De como me transmudaram

No melhor que em vida amaram.

 

 

Única

 

Uma gravidez normal

Menos normal é que tudo,

Cada uma é especial,

Única, se não me iludo

Com as histórias divinas

Ou tristes de nossas sinas.

 

 

Jamais

 

Ao bebé vinculação

Não é jamais instantânea.

Mistura saturação,

Desabafo em miscelânea,

Tudo dito para dentro,

Até que o fogo abre ao centro.

 

 

Falta

 

O pai falta à gravidez,

Ao turbilhão que se sente

Quanta vez, ai, quanta vez!

Depois todo o mundo mente:

Que é um impressionável juram,

Desmaia, se a dor lhe apuram...

 

 

Ventre

 

O paraíso perdido

Do ventre de minha mãe...

Mas faz mesmo algum sentido

Lá voltar, a vida além?

Que pequeno este infinito!

E sempre finda num grito...

 

 

Homenzinho

 

Mágico homenzinho verde

De toda a infância dos pais...

Na lonjura já se perde

Da memória, sem sinais.

É só o bebé, ao chegar,

Que o vai neles acordar.

 

 

Pequeno

 

Toda a mãe é um pequeno deus na terra

Quando aninha um bebé dentro dos braços.

Quem perdoa que farte quando encerra

Tanta exigência aos ombros de cansaços?

Como negar-lhe às vezes um niquinho

De tempo para si fora do ninho?

 

 

Gravidez

 

Gravidez são sobressaltos

E tantas pequenas dores!

Porque em mães só cremos altos

Sentimentos e valores?

Ser mãe sabendo a verdade

Só a ser mais mãe persuade.

 

 

Ecografia

 

Um sonho que se sonhou

De repente é um coração

A bater em pleno voo

Na ecografia então:

O bebé está mesmo ali

A falar num frenesi!

 

 

Dentro

 

O bebé cá dentro em mim

Nem sempre é beatitude,

Há solavancos sem fim,

Medos sempre que algo mude,

Pesadelos, decepções...

- Que é o normal em tais questões.

 

 

Contém

 

Um bebé mesmo real

Contém nele o imaginado.

O imaginado se é tal

Que o real finda amputado,

Nunca cumpre inteiramente

O que o lar requer que tente.

 

 

Animal

 

O animal em mim rejeito,

Que tenho todo outro jeito?

 

Sem o animal, o alicerce

Em mim é cortado cerce.

 

Nem sequer existiria,

Quanto mais com tal mania!

 

 

Imaginar

 

Imaginar o bebé

Para quê, se inda não é?

 

É para o viver quenquer

Antes mesmo de o viver,

 

Que é boa imaginação...

- E porque não, porque não?

 

 

Inseguro

 

O bebé que se imagina,

O bebé que se idealiza...

O bebé real inclina

Por outro lado a baliza.

Serve o meu idealizar

De inseguro me aplacar.

 

 

Idealizo

 

Quando idealizo o bebé

Ando projectando nele

A parte boa de mim.

Seguro-me assim de pé,

Suportando em minha pele

O que é feio em meu confim.

 

 

Enquanto

 

Enquanto sonho, idealizo,

Pode bem ser saudável,

Que o crescimento é o que viso.

Mas, se é só sonho inviável,

Ao invés, então, a prazo,

O meu crescimento atraso.

 

 

Único

 

Uma gravidez normal

Jamais o poderá ser,

Que dos pais nenhum é tal,

Único como é quenquer.

Na campina que é comum

Há a flor só de cada um.

 

 

Contrastes

 

O sonho de cada qual

É de contrastes lugar,

De pedra até chavascal

De iniquidades sem par,

Que, às vezes, aquela imagem

É só de terror miragem.

 

 

Olhos

 

Os olhos de minha mãe

São sempre duas janelas

Entreabertas só, porém,

Abram embora às estrelas:

Por mais que eu me rasgue as peles,

Nunca vivo eu dentro deles.

 

 

Antes

 

Os olhos de minha mãe

Abrem-se para a tristeza,

Faça eu o que convém

Ou não faça o que ela preza:

- Morreu-lhe antes meu irmão,

Deixou dentro este alçapão.

 

 

Dor

 

A dor funda, imperscrutável,

Dum filho morto, na mãe

Ao olhar traz-lhe infindável

As cortinas que não tem:

Duas janelas fechadas

Que a cegam pelas estradas.

 

 

Morte

 

Nós nunca sobrevivemos

À morte dum filho inteiros.

É da perda que sofremos

Mais de não ser os pioneiros

Capazes de ali com ele

Morrer, que é o que em nós apele.

 

 

Percurso

 

O que um bebé condiciona

Não será um salto de humor,

É quão cada dia abona

Todo um percurso de amor:

Se desabafar com ele,

Tanto o acalma como o impele.

 

 

Olhe

 

O bebé privilegia

Aquele que olhe de frente,

Que o escute, bom vigia,

E sereno, calmo, o enfrente.

E, sobretudo, bondoso

O acolha pleno de gozo.

 

 

Entre

 

Entre o bebé e a mulher

Qual será o lugar do pai?

Tudo seu parece ser?

Nada como espera vai

E ninguém nunca lhe explica

O que de fora lhe fica.

 

 

Bocado

 

Um bocado apatetado

Anda o pai durante o parto

E é pequeno e abandonado

Que, afinal, o ali descarto.

Faz de conta que é crescido

E é um miudinho perdido.

 

 

Sombra

 

Sempre à sombra vive o pai

À espera de que haja um dia

Em que o sol dos olhos vai

Do bebé que amanhecia

Nascer generoso a rodos

Para si mais para todos.

 

 

Pergunta

 

Ninguém pergunta ao bebé:

“Gostas mais da mãe ou pai?”

(A resposta em rodapé

À mãe é toda que vai).

A mãe nunca atura isto,

O pai o atura, malquisto.

 

 

Pai

 

Pai que é pai, de distraído

Faz sempre como ninguém.

“Em que pensas, meu querido?”

“Em nada...” – dirá de além.

Pensa em seu pobre lugar:

Nem pena quer suscitar...

 

 

Conta

 

Ao pé duma grávida

Do tempo no fim

Que ousadia pávida

Dá conta de mim?

Do que eu for capaz

É tudo falaz...

 

 

Depois

 

Depois de toda a exaustão,

Sobra ainda a culpa da mãe

De ter largado um irmão,

Um mais velho – “a mãe já vem...” –

Dividida entre juntá-los

E sofrer da vida os calos.

 

 

Jamais

 

Primeiro e segundo filho,

Que vivências diferentes!

Nem ses nem mas dos sarilhos

São jamais coincidentes

E há mais mil e uma facetas

De divergências discretas.

 

 

Brinquedos

 

Quando o bebé só cobiça

Os brinquedos do mais velho

E uma relação enliça

Sempre a meter o bedelho,

São invejas e ciúmes

E é inviável pôr tapumes.

 

 

Velho

 

O mais velho, de três anos,

Aquilo que mais queria

Era ao lar voltar sem danos

Em que irmão nem existia

E os pais tinha por inteiro

De Janeiro até Janeiro.

 

 

Fofo

 

O lado fofo da avó

É feito de mil escorços.

Não é, não, bondade só:

Tem muito antigos remorsos

De tudo o que não tiver

Deixado um filho fazer.

 

 

Demais

 

De haver demais exigido,

Com experiência e saber,

A avó deixa o neto ser

O que um filho nunca sido

Terá nem imaginado

Que lhe fora autorizado.

 

 

Contraditório

 

Um contraditório suave

À rigidez parental

Torna ao bebé menos grave

A vida no que o abale.

De avós dádiva gratuita

É para a vida ser muita.

 

 

Relegam

 

Avós que desautorizam,

Relegam a subalternos

Os pais nos netos que visam?

Invertebrados eternos

Serão estes vida fora,

Sim e não a toda a hora.

 

 

Rainha

 

À grávida, sua mãe

É a rainha do xadrez,

Figura maior que tem

Vida fora alguma vez.

Tanto ali se identifica

Que vida fora a duplica.

 

 

Esvazia

 

Um ideal inatingível

Esvazia de vaidade

Pai ou mãe que um alto nível

Buscam em perenidade.

Se medem sempre a lonjura,

É sempre humilde a postura.

 

 

Dele

 

Quando um dos pais só formula

Dele a identificação

Demais, do sonho com gula,

Não mede a lonjura então.

Crê que dele é a plenitude

E o cônjuge, o sem virtude.

 

 

Lê-se

 

A mãe lê-se imaculada

Quando à lonjura não liga:

Como ela a prole é moldada

Ou é nódoa com que briga.

Se é virtude, é que à mãe sai,

Defeitos puxam ao pai.

 

 

Muitos

 

Muitos pais nem sequer sabem

Que têm um colo a dar:

Saber e bondade cabem

Nele a sempre o ali forrar.

Só quem já cresceu por dentro

Tem tal colo a dar, ao centro.

 

 

Hora

 

À hora de adormecer,

Quem por quem olha a seguir?

Só para então se saber

Quem olhos fecha a dormir...

É o adulto ou a criança

Quem mais depressa o alcança?

 

 

Estrago

 

Se não estrago a criança,

Precoce aprender leitura

Ganha a palavra que alcança

Nela assim maior lisura.

Para o pensamento abstracto

Finda o trilho aberto em acto.

 

 

Chegar-se

 

Quando um bebé desafio

A chegar-se ao meu olhar,

Mira e foge em desfastio,

Como quem se assegurar

Quer que eu lá findo agarrado

A olhá-lo, como meu fado.

 

 

Olha-te

 

Olha-te mui fixamente

O bebé, todo olho aberto,

O braço inerte, pendente.

Que quer dizer ele ao certo?

“Vale a pena” – diz-me, enfim –

“Que gostes mesmo de mim?”

 

 

Conversa

 

Fazes a conversa doce

Com teu bebé que, te olhando,

Torce o pescoço, esticando

O bracito, tal se fosse

Confessar: “Hoje reclamo

Dizer mil vezes que te amo.”

 

 

Bonzinho

 

O bebé, quando é saudável,

Não é sempre água corrente,

Bonzinho ali, muito estável,

Risonho, à fala presente...

Tal dos adultos as vias,

Vida de bebé tem dias.

 

 

Aceitas

 

“Se aceitas meu mau feitio,

Não és mãe de porcelana,

Decerto em ti mais confio,

Sou bebé com muita gana.

Em mim, de festa é um balão

Ter-te em consideração.”

 

 

Assustado

 

Um bebé que não protesta

Anda assustado ou tristonho.

Um pouco de colo a fresta

Rasga ao que houver de medonho.

Dele o arrufo, se preciso,

Logo ali vai dar aviso.

 

 

Perdemos

 

Não podemos não sentir
O colo que os mais nos pedem.

Se os perdemos, a inquirir

“Que se passa?”, mal nos cedem:

“Nada, claro.” O fundo negro

Também eu por fim o integro.

 

 

Resposta

 

“Porque estás triste?” – pergunto.

A resposta é só revolta.

Porque é que a razão do assunto

Tem de vir antes, à solta,

De ao colo se ter direito,

De ao afecto prestar preito?

 

 

Razões

 

Os filhos adolescentes

Pedem colo ao encontrão.

“Ninguém me entende...” – eis assentes

As razões de tal opção.

Descodificando o solo

Será isto: “Quero colo...”

 

 

Hipocrisia

 

Os direitos das crianças:

O direito à educação,

Justiça que nunca alcanças...

É hipocrisia em questão:

O que por trás disto auguro

É um atentado ao futuro.

 

 

Cinco

 

“Não tenho cinco minutos

Nunca a sério para mim”

- Jamais é de mãe os frutos

Nisto rejeitar assim,

É só constatar o impacto

Da conjuntura de facto.

 

 

Murcho

 

“Os teus filhos não andam sempre doentes?”

“Só um bocadinho murchos, foi dos dentes...”

 

“O meu nem febre tem, nem da vacina!”

- Que é que a justificar tanto te inclina?

 

Competir nunca é gostar de alguém,

Bem basta toda a dúvida ao ser mãe!

 

 

Imprevisto

 

Alguma vez preparados

Somos para o que acontece?

Na vida, em todos os lados,

Todo o imprevisto é refece.

Porém, esta é a condição

Da vida em toda a extensão.

 

 

Arrebitadas

 

Com o bebé ao falar,

Naquelas falas tão velhas,

Atento é de levantar

Arrebitadas orelhas.

E é de tempo lhe estender

Para ele responder.

 

 

Roubar

 

Os bebés nunca beleza

Terão de roubar à mãe,

Acrescentam-lha, que a preza.

Por isso sonha também

Que o bebé seja bebé

Para sempre aquilo que é.

 

 

Fastio

 

Que fastio o lar normal,

Acertadinho que chegue,

Imune a todo o viral,

Que até os afectos que agregue

A todos liofiliza!...

...A todos? Aos que autoriza!

 

 

Melindre

 

Direito ao melindre, arrufo,

Ao desabafo, à lamúria,

Quando da almofada um tufo

De vida o perder a incúria...

- O lar é o pano de fundo

De chorar eu sobre o mundo.

 

 

Falar

 

Ao falar nas entrelinhas,

No intervalo, ao respirar,

No silêncio, que adivinhas

Derivam então no ar?...

Se equívoco há no papel,

Isto é a Torre de Babel.

 

 

Finca

 

A linguagem dos adultos

É linguagem de bebés:

Presa em conceitos estultos,

Nem sabe onde finca os pés.

Menos que estes tem preparos,

Aqui muitos, além raros.

 

 

Abusa

 

Muito adulto abusa do eu,

Preocupado em soletrá-lo,

Sem se perguntar, sandeu,

Porque tanto anda a cavalo

De tal eu, sem sim nem não

Aos porquês de que é questão.

 

 

Pautam

 

Todos com a sensação

De tudo estar disponível,

Mas afecto e sexo não

Se pautam por igual nível:

Exigem trabalho duro

Sem ter nunca estado puro.

 

 

Põe

 

Põe o passado de lado,

No presente vive assente.

Se tu vives no passado,

Então perdes o presente.

E o presente é que o presente

Te traz da vida corrente.

 

 

Maioria

 

A maioria daquilo

Que é o importante na vida

Não pode, nem em sigilo,

Ser dita, só aludida:

Faz sempre parte da lavra

Lavrada além da palavra.

 

 

Poderá

 

Tudo o que for entendido

Poderá ser explicado,

Embora só aludido

Das palavras no traslado.

Difícil poderá ser,

Inviável, nunca, a quenquer.

 

 

Explícito

 

Todo o explícito saber

É forma de tradução.

Ora, a tradução que houver

É fatal imperfeição:

O sentido que explicito

Mora além de quanto é dito.

 

 

Prova

 

Ninguém prova a inexistência,

O saber de nada é nada.

É por isto que a inocência

Nunca pode ser provada.

A culpa, sim, tem um rosto:

Se o não vir, findo ao sol-posto.

 

 

Preço

 

O amor, a paisagem bela,

A alegria de viver

Não têm preço de tabela,

Não os compra quem os quer.

Não podendo ser comprados,

Dão só gratuitos cuidados.

 

 

Pequenos

 

As grandes inundações

Principiam em degelos

Pequenos que nem supões

Que àquilo podem ter elos.

Tal no jogo ou na bebida

O que dá cabo da vida.

 

 

Sábio

 

Um homem sábio tem medo

De algum mar de tempestade,

Da noite sem luar cedo,

Da fúria quando ela invade

Um homem gentil qualquer,

Que então é de tento ter.

 

 

Graça

 

Orgulho é luxo de fortes,

A graça, luxo dos sábios:

Sabedoria transportes

De graça traz a teus lábios

E, além de não pagar portes,

Dá teu norte aos astrolábios.

 

 

Andas

 

Se andas com o mais subido,

A ninguém digas quem és

Nem de que andas incumbido.

À reputação tal viés

Vai trazer-te maravilhas:

No mistério trepa milhas.

 

 

Descubro

 

Se descubro uma mulher,

Deverei dizer “és bela”?

Não, só “bela” é de dizer,

Que ela descubra em que é estrela.

Não provoca confusão,

Provocará reflexão.

 

 

Ignorar

 

Ignorar leis é apagá-las,

Segui-las às cegas é

Ser escravo, a vida em talas...

Tenho dois, não um só pé:

Para ter-me equilibrado,

Ora é um, ora outro lado.

 

 

Atinge

 

Aquele que atinge o Bem

Ultrapassa tudo o mais,

O que o bom costume tem

E o das mentes divinais.

Voa tanto para o Além

Que o nem vislumbro jamais.

 

 

Sorriso

 

O sorriso de quem amo,

Nada melhor há no mundo,

Todo apaga o mal que tramo,

Sem ele sempre me afundo,

Algo em mim adoece e morre...

- Que maravilha ali corre?

 

 

Respeitarás

 

Respeitarás uma coisa

Usando-a para um bom fim

E aquele que em ti repoisa

Partilhando-lhe o confim

Derradeiro do horizonte,

A teu imo unida a ponte.

 

 

Crio

 

Crio com a mão,

Crio com a mente...

Toda a criação

É uma luz presente

Do que doutro mundo

Aqui já me inundo.

 

 

Dinheiro

 

O dinheiro era agradável.

O mundo, porém, é cheio

Do que jamais é vendável:

A obrigação, o fervor,

Gratuitidade do amor

- Tudo entregue sem receio.

 

 

Recusa

 

Dar muito a quem não tem nada?

Se for sábio, com acerto

Recusa, que indesejada

É a atenção que lhe cai perto.

Mais segura é sempre a pista

De quem nunca der na vista.

 

 

Querer

 

Quem vai querer um parceiro

Enfadonho e, pior, maldoso?

Que importa que seu dinheiro

Grande seja e prestimoso?

Tudo morre num lameiro

De oiro com sabor lodoso.

 

 

Virava

 

Virava o mundo por ela

E ela nunca logra vê-lo?

É fácil vê-lo à janela

Do beijo a sonhar o selo.

O amor é cego e, pior,

Surdo e mudo no teor.