DIA  A  DIA

 

 

 

 

 

 

BARTOLOMEU  VALENTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           

Aroeira, 2018

 

 

 

 

QUADRAS  REGULARES

 

 

Falando

 

Retém muito outrem a esmola

Ou muito a gente se esquece:

Sempre a gente se consola

Falando do que padece.

 

 

Modelar

 

Percepção da realidade

Modela minha intenção

E a intenção modelar há-de

A realidade hoje à mão.

 

 

Busca

 

É o amor uma emoção

Mas não é dela gerido:

Se busca retorno, então,

Nem é amor, anda vendido.

 

 

Reclame

 

Nunca reclame da derrota de ontem,

Que ela ser pode, no teor, malsã

E revelar-se, quando os feitos contem,

Uma grande vitória de amanhã.

 

 

Importa

 

Que importa ser erudito

Se for prejudicial

E a disciplina moral

Der o dito por não dito?

 

 

Fácil

 

Se em mim me pacificar

O meu conflito interior

É fácil abandonar

De ter razão meu pendor.

 

 

Orgulho

 

Quando se percepcionar

Como que os outros melhor,

É o orgulho a dominar,

Vai de melhor a pior.

 

 

Servir

 

Quem servir com humildade

Noutrem vê, mesmo proscrita

Em profunda obscuridade,

A ignota luz que o habita.

 

 

Aprender

 

A humildade tem um prémio:

Permite aprender sozinho

Dos seres com todo o grémio

Com que cruzo no caminho.

 

 

 

O que só tens de fazer

É tomar a decisão

De escolher qual a intenção:

Amor ou medo? E então ser.

 

 

Arrisca

 

Quem arrisca por amor

E não por receber mais

É que cresce, cresce um ror

E voa sobre os quintais.

 

 

Mostra

 

Quando o imo mostra um caminho,

É o melhor para crescer,

Embora queime o cadinho

E as pedras façam doer.

 

 

Dor

 

Quando a dor de não viver

For maior do que a que acuda

Ao medo de muda haver,

Qualquer então de nós muda.

 

 

Perda

 

A perda é para aprender

Em tudo a ter desapego,

Crenças de posse rever,

Matar o controlo do ego.

 

 

Querer

 

Querer um filho é ter ego,

Ser pai ou mãe é ter alma.

Aquilo é poder e apego,

Isto entrega: a vida acalma.

 

 

Soltar

 

É de soltar dos apriscos

Gado a aprender a pastar.

Quem não quiser correr riscos

É inapto para educar.

 

 

Contam

 

Não são os anos de vida

Que contam, com seus arcanos.

O que conta, bem medida,

É mesmo a vida dos anos.

 

 

Ente

 

Eu e tu mais meu e teu

Só existem num ente dado

No momento em que sentiu

Que doutrem é separado.

 

 

Noite

 

Até a noite mais escura

Deixará de escurecer

Logo que a luz se afigura

Que principia a nascer.

 

 

Tudo

 

Tudo quanto a vida traz,

Se o vir como valioso,

A mim me aceito e, atrás,

O mundo inteiro é gostoso.

 

 

Principiante

 

Dum principiante a atitude

É manter-se até final,

Vivências embora mude,

Mais e mais criança total.

 

 

Brota

 

Quando brota um desafio,

Reconhece-o como tal,

Colhe-o de fio a pavio,

Enfrenta-o até final.

 

 

Equilíbrio

 

O equilíbrio vem de lá,

Da fonte que tudo embebe:

Vive do amor que se dá,

Não do amor que se recebe.

 

 

Evite

 

Evite o lugar

Que perturbe a mente,

Indo onde, ao ficar,

A virtude aumente.

 

 

Quando

 

Quando podes te alegrar

E alegrar-te hás recusado,

É que andas-te a recusar

A te curar o teu fado.

 

 

Mensagem

 

A mensagem da alegria,

Divertir-se em tudo um ror,

Sempre a inocência me avia

Da criança interior.

 

 

Amorosa

 

A amorosa parceria

Um ao outro é se entregar

De pertencer sem deixar

A si próprio todo o dia.

 

 

Nenhum

 

Nenhum fica em bastidores,

Nenhum atrás do outro corre:

Lado a lado andam amores

Ou nem amor é, que morre.

 

 

Outro

 

Nenhum outro é um instrumento

Do desejo de ninguém:

O amor não quer tal fermento

Nem paga requer também.

 

 

Neve

 

Quer neve ou não neve,

Onde houver amigos

Temos sempre abrigos,

Toda a vida é leve.

 

 

Antes

 

Antes do problema, vede

Como contornar-lhe o fosso:

É bem antes de ter sede

Que convém cavar o poço.

 

 

Preguiça

 

A preguiça devagar

Anda tanto onde se entrança

Que a pobreza logo a par

Muito facilmente a alcança.

 

 

Importará

 

Cada qual ama a seu modo:

Como o modo pouco importa,

O que importará de todo

É o que a bem amar exorta.

 

 

Olho

 

Olho aqui dentro de mim.

Que importa o que fazem, dizem?

Preocupa-me é, no fim,

Que o que é certo os actos visem.

 

 

Doméstico

 

Ficas sempre responsável

Em teu recanto de céu

Por quem tornaste amorável

No lar doméstico teu.

 

 

Crê

 

Em ti crê, que é o principal,

Mas não duvides demais,

Só por não ser trilho igual,

Do que cuidarem os mais.

 

 

Desgosto

 

O desgosto prova o amor.

Porém, desgosto demais

Do bom senso prova o teor

Que bom senso não tenhais.

 

 

Sentimentos

 

Se uma criança tenho ao pé,

Dois sentimentos me dá:

Ternura do que ela é,

Respeito do que será.

 

 

Quebrar

 

Nunca foi um bom amigo

Quem por pouco se persuade

A deitar abaixo o abrigo,

A quebrar uma amizade.

 

 

Gota

 

Sentimos que o que fazemos

É só uma gota no mar

Mas menos mar nós teremos

Se esta gota lhe faltar.

 

 

Sorriso

 

O sorriso é o que enriquece

Sempre quem é o receptor,

Contudo não empobrece

Quem for dele o doador.

 

 

Silêncio

 

Se eu soubera quantas vezes

Fora mal interpretado,

De mais silêncio os conveses

Da vida houvera dotado.

 

 

Caminho

 

Ensina à criança

O caminho certo.

Se a velhice alcança,

Inda dele é perto.

 

 

História

 

A nova história imagine

Para a vida lhe ser bela.

Para vivê-la, se incline

Depois a sério a crer nela.

 

 

Dizer-te

 

Que é que poderei dizer

Senão dizer-te que te amo,

Quando mais nada há sequer

Da vida a pender do ramo?

 

 

Escolhes

 

Se escolhes ter uma vida

Familiar, o que importa

É germinar, lida a lida,

Mil vivências que comporta.

 

 

Frustre

 

Ninguém da terra é profeta.

Não te frustre teu conselho

Se aos da terra não afecta:

Sábio , sê-o até velho!

 

 

Parceria

 

A parceria amorosa

É aprendizagem a dois

Do que em cada meta goza

Cada um deles depois.

 

 

Mudando

 

Mudando a forma de estar

Inteiro na relação,

Muda o outro, então, a par,

Mais um só no fim serão.

 

 

Ande

 

Por muito que acompanhado

Ande dum lar, dum vizinho,

Cada qual nasce isolado,

Vive e morrerá sozinho.

 

 

Luz

 

Um amor que é verdadeiro

Vive da luz interior

Dum e do outro parceiro,

Toda em dádivas de amor.

 

 

Armas

 

Com armas faremos guerra

Sem conquistar o tosão

De oiro que festeja a terra:

- O amor mais a compaixão.

 

 

Saudade

 

Saudade que dilacera

É mais que desassossego,

Tem gavinhas duma hera

Provinda de meu apego.

 

 

Desapego

 

Pode haver frio ao alvor

Mas noite não é deveras.

Todo o desapego é amor

Se há mais luz que dele esperas.

 

 

Serei

 

Seja o que for que aconteça,

Serei feliz, serei forte,

Já que é Deus que em mim tropeça,

Seja qual for meu desnorte.

 

 

Nada

 

Nada que doutrem me venha

Pode alguma vez criar

De mim a secreta senha,

Só eu, em mim a escutar.

 

 

Manifesta

 

Se alguém for bem realizado,

Compartilha uma emoção

Se ela ajuda alguém ao lado

E os mais que no trilho irão.

 

 

Tente

 

Jamais se tente tornar

Artífice espiritual,

Só recorde este sinal:

- Em si tem poder de amar.

 

 

Ordenando-o

 

Disciplinar meu agir

Ordenando-o ao bem comum,

Mais que orar, meditar ir,

Vai valer a qualquer um.

 

 

Copular

 

Copular devia dar

Pistas para apaixonado

Um indivíduo ficar

Pela vida em todo o lado.

 

 

Energia

 

Quando a energia de vida

Se restringe ao sexual,

Fica então comprometida,

Já não cria no total.

 

 

Deitar-te

 

Podes sempre deitar-te com quenquer.

Não é inócua, porém, a relação,

Que energias e anseios vêm e vão:

- Não te deites com quem não queiras ser.

 

 

Atenção

 

A atenção é ferramenta

Que abre a porta ao outro em mim.

A minha mente o apresenta,

Noutro mundo entro eu assim.

 

 

Fundura

 

A Luz que da fundura me ilumina

Me estimula ao que eu der, a uma partilha.

É a mesma Luz que noutrem há na mina,

Que a todos nos faz um: ninguém é ilha.

 

 

Dádiva

 

Vera gratificação

Duma dádiva qualquer

É a alegria que tiver

Por dar sem retribuição.

 

 

Tiver

 

Nosso imo o que tiver, dá;

O ego agarra quanto vê.

Se aprender algo acolá

E então quiser algo, dê!

 

 

Seguro

 

Proteger quem a dor lesa,

Todo o amor compartilhar...

- Seguro contra a pobreza

Não é receber, é dar.

 

 

Ficar

 

O melhor ensinamento

No lugar e tempo errado

Vai ficar emparedado,

Já de ninguém é alimento.

 

 

Necessidade

 

Quando a luz quero primeiro,

A necessidade humana

Satisfeita em quanto emana

Tende a ser, por derradeiro.

 

 

Vives

 

Que importa ser rico ou não

Se tu vives à vontade

Com tudo o que tens à mão

Fruindo da realidade?

 

 

Sucesso

 

O sucesso verdadeiro

Provém do que te conduz

Pelo trilho mais certeiro

A viver de íntima Luz.

 

 

Vives

 

Se vives de íntima Luz,

Tal parceria há gerado

Garantia que te aduz

Sempre em paz teu resultado.

 

 

Preencha

 

Quando outrem minha carência

Que preencha ando a aguardar,

A amar não vou, por essência,

Vou apenas explorar.

 

 

Vampirismo

 

O dinheiro é consequência

Dum serviço e não a causa,

Ou mata-nos a existência

Num vampirismo sem pausa.

 

 

Encontrar

 

Aquele que prejudica

É por encontrar em mim

Algo que com ele implica

Para agir então assim.

 

 

Perdoo

 

Quando me perdoo a mim,

Todo o mundo me perdoa.

Logo tudo é coisa boa,

Tudo é bem melhor ao fim.

 

 

Diante

 

O meu imo é tolerante

Diante de tudo e de todos,

É deus-em-mim cada instante,

O Infindo a semear meus bodos.

 

 

Culpa

 

Ninguém a outrem perdoa

Se não se perdoa a si

Da culpa que fundo doa,

É um preso sem alibi.

 

 

Prejuízo

 

Um prejuízo ou traição

De depuração momento

Para saltar o desvão

É dum novo crescimento.

 

 

Traz

 

O que hoje traz sofrimento

Amanhã traz alegria

E as coisas boas, tormento...

- Onde é que a bênçãos poria?

 

 

Largar

 

Largar atrás não hesite

O que julga a trás pertence:

No que não é o muda e quite

O larga com quem não vence.

 

 

Perdes

 

Tens um carro desportivo?

Se o perdes, inopinado,

E nada sofres ao vivo,

És livre: um desapegado.

 

 

Morte

 

Aqui nada nos pertence,

Na vida tudo é comum.

Mas quem é que nos convence?

- Só a morte de qualquer um.

 

 

Ligo-me

 

Com amor e desapego,

Ligo-me aos mais nas matrizes

Que garantam, no que pego,

Que é para serem felizes.

 

 

Humano

 

Um humano nunca vem

Procurar o amor na Terra,

Mas distribuir mundo além,

Partilhando, o amor que encerra.

 

 

Trilho

 

No trilho do desapego

A vitória que te impões

Dá sinal com um sossego

Livre de preocupações.

 

 

Pronto

 

Pronto estou para deixar

Para trás tudo o que envide,

Saltar outro patamar

Mal a vida me convide.

 

 

Sair

 

A minha interioridade,

Cedo ou tarde, do caminho

Há-de sair que ela invade:

De meu corpo este seu ninho.

 

 

Apreciá-los

 

Se eu vir desafortunados

A que a vida fizer mossa

Retalhando-os aos bocados,

Que valor eu dar-lhes possa!

 

 

Guia

 

Quando alguém me prejudica,

Que eu veja nele o sinal

Do que a ser por mim se aplica

O meu guia espiritual.

 

 

Insulte

 

Que ao que me insulte a memória

Eu logre subir a cota

Entregando-lhe a vitória,

Colhendo em mim a derrota.

 

 

Apreciar

 

Que eu possa constantemente

Apreciar todo o ser vivo

Como o não-vivo igualmente:

- Vivo é o Cosmo, embora esquivo!

 

 

Tesoiro

 

Aquele que é um oprimido

Por violento sofrimento

Sempre é um tesoiro escondido

Perdido ao sabor do vento.

 

 

Compaixão

 

A compaixão ao medir,

Íntimo metro requeres:

A compaixão é sentir

Apreço pelos mais seres.

 

 

Aceitar

 

Se aceitar tal como for

Alguém com a vida nele,

Vai então dar-lhe valor,

Gera compaixão por ele.

 

 

Gera

 

Compaixão gera quem sofre

Mais quem as causas auguro

Que anda plantando no cofre

Onde se incuba o futuro.

 

 

Deveras

 

Ninguém é deveras mau,

Que, do fundo de seu imo,

Deus lhe estende a mão no vau,

A puxá-lo para o cimo.

 

 

Todos

 

Todos nós sofremos,

Uns mais, outros menos,

Grandes e pequenos...

- Distinguir-nos-emos?

 

 

Paz

 

Elimina a compaixão

À raiva como ao apego,

Até mesmo a uma aversão...

- É de paz o meu sossego.

 

 

Embora

 

Embora sem intenção,

Tudo em mim é benefício

Proveniente de acção

Doutrem com seu bom ofício.

 

 

Julga

 

Quem julga que em si se encerra

Aos mais a si é que mente:

Tudo à face desta Terra

É sempre interdependente.

 

 

Apreço

 

Quando alguém uma euforia

Ou tristeza manifesta,

É um apego que anuncia,

Não o apreço a quem o presta.

 

 

Discernir

 

Importa é discernir Deus

Em cada pessoa dada,

Servir tal ponta de céus

Da maneira adequada.

 

 

Cultivo

 

Sabedoria distingue

O bom do prejudicial:

Que o cultivo nunca vingue

Do que, negativo, é o mal.

 

 

Entregue

 

É parar de reagir,

Todo entregue ao Universo:

O milagre irá surgir,

Se não de frente, no verso.

 

 

Percute

 

Importa sentir na pausa

O que percute em teu peito:

A vida sem uma causa

É uma vida sem efeito.

 

 

Activista

 

O activista, ao ir lutar,

Com tal modo de fazer

Acaba a multiplicar

O que quiser combater.

 

 

Medos

 

A vida não são agruras,

São mais os medos que as quedas.

Se tem medo das alturas,

Salte então de pára-quedas.

 

 

Reclame

 

Por ignorar, melhor será que apontem

Todo o desvio vida além a ver.

Nunca reclame da derrota de ontem,

Pois de amanhã pode a vitória ser.

 

 

Sistema

 

Quanto mais me identifico

Com um sistema de crenças,

Mais longe de mim eu fico

E meu imo, sem avenças.

 

 

Divide

 

Religião é religar,

Nunca será dividir.

Quem divide é que, em lugar,

Finda a fé por destruir.

 

 

Terei

 

Terei sempre um bom ensejo

Para me felicitar:

Só terei o que desejo

Se deixar de desejar.

 

 

Quebrar

 

Quantas vezes o ideal

Vem de quebrar uma perna:

Sofrimento temporal

Deu sabedoria eterna!

 

 

Findam

 

Só cuidas em bater palmas,

Que do mal findam os filos?

Não é de haver águas calmas

Que findam os crocodilos...

 

 

Servir

 

Ao servir, o orgulho vence-o

E o dom finda em vacuidade.

Difícil serve o silêncio

Sem o manto da vaidade.

 

 

Ver

 

Servir se traduz

Em quanto concita

A ver sempre a Luz

Que noutrem habita.

 

 

Mérito

 

Pouco importa o que acontece,

Como ao que acontece reage

Porque por si então age

É que o mérito merece.

 

 

Ambição

 

A nobre ambição humana

Sobre os mais não é elevar-se,

É sobre si, mas com gana,

Sempre, sempre a aperfeiçoar-se.

 

 

Trono

 

Deus não tem trono doirado

Nem sequer sofá de seda:

Mora em quem ajuda ao lado,

Consola quem sofre a queda.

 

 

Pesando

 

Pesando o que a vida traz

Como tudo valioso,

A mim me aceito e, atrás,

O mundo inteiro é ditoso.

 

 

Velha

 

Sou sempre um principiante,

Embora em velha velhice,

Miúdo que ao mundo cobice,

A porta abrindo adiante.

 

 

Desvio

 

É no desvio do filho

Que os pais podem aprender

Desapego, amor, no brilho

Do mundo novo a nascer.

 

 

Divino

 

O vero valor da vida

É o divino vislumbrar

Em cada ser que convida

O fundo dele a espreitar.

 

 

Apenas

 

Se apenas o bem-estar

For aquilo que eu quiser,

Ética não vai restar

Gerindo um acto qualquer.

 

 

Guia

 

Sempre o coração

Há-de um guia ter:

- Não se deite com

Quem não queira ser.

 

 

Portanto

 

Para o imo, ter é dar,

Para o ego, é ter mais ter.

Se ter a sério almejar,

Então dê o que ter quiser.

 

 

Burro

 

Eu sou mesmo o burro de oiro,

Sempre de tesoiro às costas,

A cuidar que sou tesoiro

E são de meu imo apostas.

 

 

Rio

 

Como um rio turbulento,

Pejado sempre de espuma,

Ando sempre em movimento

Sem chegar a parte alguma.

 

 

Nasceu

 

Fiquei toda a noite a pé,

A ver onde é que o Sol ia.

Depois para mim não é

Que me nasceu com o dia?!

 

 

Nunca

 

Ser alta ou baixa a garupa

Que importa se não há ramos?

Nunca a nós nos preocupa

O que não valorizamos.

 

 

Perdão

 

Toda a gente comete erros.

Por isso é tão importante,

Quando caímos dos cerros,

O perdão, vida adiante.

 

 

Tempos

 

Não há, não, tempos de crise

Quando a crise nos invade.

São, quando os bem ajuíze,

Tempos de oportunidade.

 

 

Tornar

 

Ao tornar alguém mais forte,

Começo por reforçar

A ideia de que tem norte

E o valor de o alcançar.

 

 

Pouquinho

 

Se puder fazer alguém

Um pouquinho mais feliz,

Logo ele toma também

Melhor opção de raiz.

 

 

Passo

 

Se for todo duma vez

O ideal a conquistar,

Não dou conta do entremez:

- Passo a passo é que é de andar!

 

 

Depressão

 

Podem os dias ser secos

Mas depressão, nem sonhar!

Depressão leva-me a becos

Que não quero visitar.

 

 

Caos

 

No caos que houver na vida

Precisaremos do alcance

De todo o amor e, em seguida,

Também de todo o romance.

 

 

Pronto

 

Humilde , sê simpático

Para os mais e com transporte.

Podes ficar muito prático

E pronto para ter sorte.

 

 

Eleva

 

A mulher é quem escolhe

O homem que a conquistar:

Dentre o mundo ela o recolhe

E ao céu o eleva, seu par.

 

 

Verdadeiro

 

O verdadeiro valor

Às pessoas que nós temos

Só lhes damos ao sol-pôr

De quando nós as perdemos.

 

 

Sinais

 

Sinais da simplicidade

Quanto tempo levarão

A ensinar sua verdade

Aos olhos do coração?

 

 

Sentir

 

Sentir será hereditário

E renasce cada dia,

Em cada desgosto vário

Bem como em cada alegria.

 

 

Demora

 

Porque é que demora tanto

Praticar diariamente

O que animais, sem quebranto,

Nos ensinam de presente?

 

 

Única

 

Qual a única pessoa

Que comigo a vida toda

Fica, na fome ou na boda?

- Sou eu que aqui ando à toa.

 

 

Sorrir

 

Importa sorrir na vida,

Donde quer que sopre o vento:

Bom ou mau seja o momento,

É esperança prometida.

 

 

Alegria

 

A alegria de viver,

Dádiva demais ausente,

Estimula, ao conviver,

A tratarmos de ver gente.

 

 

Junto

 

Há dias em que sentimos

Respirar o todo em tudo,

Música que mal ouvimos

E tudo o mais fica mudo.

 

 

Floresta

 

Na floresta da cultura

Devem todos melhorar:

Cada povo em si apura

Melhor ser ao melhor dar.

 

 

Moderando

 

A paz nos dá rendimento,

Rendimento a guerra o tira.

Conserva aquela o frumento

Sempre a encravar desta a mira.

 

 

Opiniões

 

De opiniões diversidade?

- Nem conflito nem pobreza,

Antes de ideias riqueza

Donde germine a verdade.

 

 

Moeda

 

Não compra a moeda o poder

De pôr sonho em realidade.

Trilho o suor de aqui correr

E a alegria aí me invade.

 

 

Quando

 

Onde é que nós estaremos

Quando é o amor o que assusta

E o ódio é coisa justa?

Será que ainda vivemos?

 

 

Fácil

 

Mais fácil do parvo o lábio

Há-de perguntas fazer

Do que alguma vez o sábio

Lhes poderá responder.

 

 

 Antes

 

Antes tudo refazer

Que obrigado, inapelável,

A tudo ter de acolher

Como uma herança imutável.

 

 

Focinho

 

Somos povo de humilhados,

Focinho resvés do chão.

Só na humildade firmados

Fugimos à humilhação.

 

 

Interrompe

 

Deus, se interrompe os estudos

A um jovem de pouca idade,

É ensinar-lhe por miúdos

O que é deveras verdade.

 

 

Regras

 

As regras são a harmonia

Do mundo civilizado:

Sem regras nunca haveria

De ir lá longe a nenhum lado.

 

 

Privilegiado

 

Se eu for privilegiado,

De fazer-me perdoar

Terei: é ter ajudado

Quem de mim mais precisar.

 

 

Nivelar

 

Nivelar a sociedade...

O maior nivelador

É o talento que nos há-de

Ir nivelando ao se impor.

 

 

Roupas

 

Quando uma mulher

Veste roupas chiques,

Logo bem se haver

Vai, mortos os tiques.

 

 

Mudança

 

Ninguém mudará ninguém

Da periferia ao centro,

A sério mudança advém

Só se é mudança de dentro.

 

 

Fundo

 

Pouco importa quão tombado

És já no fundo do poço.

Nunca é tarde a, retornado,

Trepar ao topo do fosso.

 

 

Amigo

 

O amigo a solidão mede

Curva a curva do caminho.

O melhor amigo impede

Que eu me sinta aqui sozinho.

 

 

Crer

 

Para um homem dar

Dele o seu melhor,

Tem de acreditar,

Crer que o é de impor.

 

 

Prisões

 

Tu, livre quando és,

Então te persuades:

As prisões que vês

Nem sempre têm grades.

 

 

Ganho

 

Mirando que tudo integre

Num ganho bem mais nutrido,

Um homem que for alegre

É bem mais compreendido.

 

 

Ardor

 

Quem trabalha a contragosto,

Como por condescendência,

Não tem ardor ali posto,

Tudo é perda de excelência.

 

 

Saber

 

Nosso saber mora oculto

No cofre dum avarento:

Ninguém o vê e de insulto

Vive por mor disto isento.

 

 

Pensa

 

O que bem pensa começa

Por afastar os refolhos:

Pensará com a cabeça,

Não pensará com os olhos.

 

 

Preciso

 

A cada qual, seu destino.

É preciso é descobri-lo

Como à palavra com tino:

- Ir à fundura senti-lo.

 

 

Negócio

 

Sempre é o negócio uma rampa:

Imos à borda do fosso,

Sempre a agarrar bem a tampa,

Senão quebra-se o pescoço.

 

 

Dorsal

 

A espinha dorsal nos há-de

Endireitar todo o ser:

Povo sem autoridade

Não pode sobreviver.

 

 

Lucro

 

Sem lucro ninguém trabalha,

Só se for por gostar muito:

Só pelo amor que nos calha

É que é tudo então gratuito.

 

 

Suportam

 

Suportam a escravidão,

Não, porém, a liberdade:

Rédea frouxa e sem timão,

Alguém daqui não se evade?

 

 

Cuida

 

Cuida de teu prado

De Outono a Outono.

Homem sem cuidado

É tal cão sem dono.

 

 

Limpeza

 

Levamos o corpo ao banho

E a limpeza nos acalma.

Pequeno é, porém, tal ganho:

Falta inda a limpeza de alma.

 

 

Profeta

 

Um profeta colocado

À margem da humana vida

Profeta falsificado

Será sempre em toda a ermida.

 

 

Encontram-se

 

Encontram-se pátria e lar

Do coração no interior.

O lugar de os cultivar

Sempre é daí ao calor.

 

 

Difícil

 

É difícil a virtude

Quando nada a gente obtém,

Quando tudo desilude

E nada responde o Além.

 

 

Alma

 

Toda e qualquer alma humana

Tem a ponta luminosa

Que da outra ponta emana

Toda, toda tenebrosa.

 

 

Grade

 

A verdadeira prisão

Não acaba nem começa

Atrás da grade ou grilhão,

Mas por dentro da cabeça.

 

 

Óbvio

 

Por vezes a nossa mente

O óbvio não vê, não vê

E está mesmo à nossa frente

Ali postado de pé.

 

 

Cara

 

Há muita cara serena

Mas no segredo não lhe entro:

A paz cá por fora é plena,

Contudo chora por dentro.

 

 

Pouco

 

Com bem pouco se contenta

O homem que não requerer.

Ao que muito pretender

Muito lhe exige o que tenta.

 

 

Receio

 

Quem puxar todas as águas,

Todas, para seu moinho,

Finda com receio, mágoas

De quem submerso adivinho.

 

 

Moscas

 

Qualquer homem fatigado

Quer descansar e dormita

Mas as moscas do passado

Picam e o sonho palpita.

 

 

Saúde

 

Tens saúde de cavalo,

Nem a menor das doenças?

- Um belo dia, um abalo

E catrapuz, endoenças!

 

 

Casa

 

Estar em casa é encontrar

Quem os corações procuram,

Entre todos o lugar

Onde as dores nem torturam.

 

 

Verás

 

Tu verás sempre as estrelas:

És um destes sonhadores

Com os olhos postos nelas,

No firmamento há só flores.

 

 

Perigo

 

Não é perigo sequer

Duma guerra a mortandade,

Vero perigo é o poder

Sem responsabilidade.

 

 

Diabo

 

Para quê tombar congostas,

Quebrar costas num abalo?

A quem traz o diabo às costas

Não é de ir longe encontrá-lo!

 

 

Torná-la

 

Tu não és a má pessoa

Nem má pessoa é teu par:

Podes torná-la em ti boa,

Boa noutrem vislumbrar.

 

 

Embrulho

 

Se o embrulho é apelativo,

Fantástico é o conteúdo?!

- Sei lá bem se é morto ou vivo,

Se um vazio não é tudo...

 

 

Desilusão

 

Quem esteja apaixonado

Do sonhador olho azul,

Desilusão há ganhado

Mal a vida o olho anule.

 

 

Manter

 

Entre as almas sintonia

Se a não houver, nada juntos

Vos há-de manter no dia

Em que findem os assuntos.

 

 

Agrada-me

 

O que vejo no interior

Agrada-me tanto, tanto

Como quanto no exterior

É meu motivo de encanto?

 

 

Passado

 

O passado já lá vai?

Se, porém, bem reparar,

Nunca de vez se ele esvai,

Casa comigo no altar.

 

 

Marcas

 

Não começa a vida aqui,

Que o passado é carruagem

Onde até aqui prossegui

Com as marcas da viagem.

 

 

Razão

 

Ter sempre razão importa?

Mais importante é ligar-se

Autêntico a quem a porta

De alma lhe abrir sem disfarce.

 

 

Salvar

 

Andarás mais empenhado

Em manter sempre razão

Ou antes, iluminado,

Em salvar a relação?

 

 

Nunca

 

Viver será um compromisso

Que só causa sofrimento?

Chamamos amor a isso?

- Nunca o amor é o tormento!

 

 

Medo

 

Leva o medo a concessões,

Sem ele eram impensáveis:

Logo como inevitáveis

Nos preenchem os balcões.

 

 

Contra

 

Somos sempre nós os dois

Contra, fora, o mundo inteiro?

Como ser feliz depois,

Se um do outro é prisioneiro?

 

 

Respirar

 

O amor é livre, expansivo,

A alegrar tudo o que inundo,

Ou não me deixa, furtivo,

Respirar o ar do mundo?

 

 

Atitude

 

A atitude de meu par

É motivo de alegria

Ou antes vem-me drenar

De meu íntimo a magia?

 

 

Automática

 

Casamento é passaporte

De automática auto-estima?

Para que os mais bem suporte,

Tenha consigo bom clima.

 

 

Precede

 

Precede a verdade o amor,

Que, se não precede, então

O amor, perdido no error,

Não é amor, é uma ilusão.

 

 

Vertigem

 

A vertigem da paixão

Termina, por força, em breve

Ou ninguém vivia então

Nem sequer o amor que teve.

 

 

Cuidas

 

Cuidas que o amor findou

Quando as hormonas findaram?

A embriaguez parou

E tu, que utopias te aram?

 

 

Impotente

 

Ninguém impotente tem

De ser ante os sentimentos:

Escolhe o alcance que têm

No rumo que dás aos ventos.

 

 

Intempéries

 

Prega o destino partidas

E convém não se abalar

Com intempéries surgidas

Sem ninguém com tal contar.

 

 

Levada

 

Mil actos sem desacatos

A carne eis do teu intento,

Que esperança sem ter actos

É pena levada ao vento.

 

 

Intenção

 

A boa intenção mal serve

Se não for o acto concreto.

Ao agi-la, então observe

Que é que ao par quer dar de afecto.

 

 

Honrar

 

Honrar é aceitar como é

O outro sem alimentar

O desejo de o vergar

A quanto eu quiser ao pé.

 

 

Estimar

 

Estimar exprime o amor,

A solidariedade

No cotio, pelo teor

Dos actos com que eu agrade.

 

 

Procura

 

Ou estamos a falar

Ou à espera de o fazer:

Ninguém procura escutar...

- Como então nos entender?

 

 

Bondade

 

A bondade sem limites

Faz vítimas, desde logo

As de que te não desquites

Correndo a apagar o fogo.

 

 

Consideração

 

Gostaria que tivesses

Consideração por mim:

É só ligar, se tropeces

Em longe obrar do confim.

 

 

Carência

 

Sinto carência de afecto?

Que bom se me cumprimentas

Com um beijo, quando atentas

Em mim, sob o comum tecto!

 

 

Desliga

 

Que me dês mais atenção!

Mesmo uma vez por semana

Desliga a televisão:

Juntos, que bom tudo emana!

 

 

Considera

 

Considera meus afectos,

Deixa-te de vez de graças

Quando enervado é de escassas

Telhas que cubro meus tectos!

 

 

 

Por maior o amor que tem,

Ninguém lê um pensamento,

De leveiro como o vento,

Tem de o recolher de alguém.

 

 

Respeitá-lo

 

Honrar o nosso parceiro

É vê-lo tal como for,

Respeitá-lo então inteiro

Daquilo em todo o teor.

 

 

Vê-lo

 

Honrar o meu par

É vê-lo como é,

Todo o respeitar

Então em tal pé.

 

 

Portas

 

Há quem viva no passado.

Que lar então inauguro

Se andar ali transviado,

Sem portas para o futuro?

 

 

Inaugure

 

Há quem inaugure o lar

Pondo em si o termo: FIM.

Fica o passado a mandar,

Que porvir vai ter assim?

 

 

Fiel

 

Sê fiel no pequenino

Porque aí é que reside

O que importa que se envide:

Tua força do destino.

 

 

Oiço

 

Em lugar de outrem ouvir,

Oiço diabos na cabeça

Que me vêm repetir

Em que é que outrem já tropeça.

 

 

Exprimir

 

Exprimir vera empatia

Abre o diálogo aos mais:

Milha alguma distancia,

Não há longes nos locais.

 

 

Renunciar

 

Renunciar a tudo o mais

Abdicar não é de amigos,

É o mapa de laços tais

Redesenhar como abrigos.

 

 

Grande

 

Se quer a grande mudança,

Comece com a pequena

E o pequeno que ela alcança

Alargue de cena em cena.

 

 

Aberto

 

Quem for aberto a mudança,

Se for mesmo criterioso,

De quem amar para o gozo

Sempre um outro mundo alcança.

 

 

Cavilha

 

Há quem vá relacionar-se,

No casamento, tal ser

Cavilha em bola que esgarce

No quadrado onde a meter.

 

 

Obrigação

 

A obrigação laboral

Tem sempre prioridade

Sobre o lazer conjugal?

- Ai do par que isto persuade!

 

 

Platónica

 

A platónica amizade

Com um ex-cônjuge, esquiva,

É mesmo uma nulidade,

Será mesmo inofensiva?

 

 

Importante

 

É importante que os casais

Próximos amigos tenham

Em comum: são os varais

Que a turbamulta contenham.

 

 

Feriados

 

Feriados são momentos

Em que a família alargada

Se reúne e os tormentos

Ficam lá fora da entrada.

 

 

Festas

 

As festas de aniversário,

Os anos de casamento

São marcos de itinerário

A nortear contra o vento.

 

 

Receber

 

Receber amigos,

Momento sentido,

É o calor de abrigos:

Quente e divertido.

 

 

Conviver

 

Conviver com os colegas

De trabalho de teu par

São novos laços que adregas

Do lar no jardim atar.

 

 

Próximo

 

Viver próximo à família

(Não fundido em confusão)

Importa para a vigília

Da carência e da lesão.

 

 

Conjuga

 

Se um amigo ou familiar

Que nos vem ver de visita

Quer ficar em nosso lar,

- Com teu par conjuga e dita.

 

 

Antes

 

O teu lar é porta aberta

Ao amigo, ao familiar,

Sem ser preciso avisar?

- Tudo com teu par acerta.

 

 

Emprestas

 

Se um amigo quer dinheiro,

Emprestas sem mais perguntas?

E se era useiro e vezeiro

Em tudo o que ali assuntas?...

 

 

Namorisca

 

Numa festa, ocasional,

Namorisca, tudo ao vivo?

Para o par será que real-

Mente é tudo inofensivo?

 

 

Convites

 

Os convites espontâneos

Para sair com amigos

São gostos, não sucedâneos,

Que abrem da vida aos pascigos.

 

 

Perguntar

 

É bom não ver um problema

Quando o seu par convidar

Um amigo a vir ao lar

Sem lhe perguntar, por lema.

 

 

Prefere

 

Passar férias com amigos

Se prefere do que a dois,

Expandindo embora abrigos,

Do fim não se queixe após.

 

 

Desiludir

 

Se desiludir a mãe

Não suporta, então seu lar

O seu lar não será bem,

É da mãe novo avatar.

 

 

Cônjuge

 

O cônjuge deve vir

Sempre em primeiro lugar,

Seja o que for que o porvir

Tenha ou não para nos dar.

 

 

Casos

 

Casos extraconjugais

Nunca passam, de verdade,

De luzes de festivais:

- Ilusões de intimidade.

 

 

Desligas

 

Se frente à televisão

Desligas todas as noites

Do lar contigo em fusão,

Não tens lar onde te acoites.

 

 

Carências

 

Carências emocionais

Se fora do casamento

Cada qual as satisfaz,

Findou do lar o fermento.

 

 

Horas

 

Quando estão ambos em casa,

São horas ao telefone

Sem do lar ligar à brasa?

- Já o morrão se apaga, insone.

 

 

Evita

 

Quando evita conversar

Com o lar sobre seu dia,

Uma vala anda a cavar

Onde amanhã cairia.

 

 

Fala

 

Bates sempre em retirada

Se a fala que estão a ter

A ti só te desagrada?

- É o amor a enlanguescer.

 

 

Tratamento

 

Tratamento de silêncio

É a norma do casamento?

Ou tua lucidez vence-o

Ou é o fim sem linimento.

 

 

Campo

 

Quem seu campo não cultiva,

Providência que não tome,

Nada mais fará que viva,

Findará morrendo à fome.

 

 

Pior

 

Quando o pior acontece,

De alicerce frágil lar

Desmorona-se e fenece,

De o imprevisto o esmagar.

 

 

Contrariedades

 

Contrariedades da vida

São tremendos prejuízos

Nos cônjuges, em seguida?

- O lar já não trepa aos visos.

 

 

Examina

 

Examina tua história

Mais a tua dor oculta,

Ou figuram na memória

Esconsa que te sepulta.

 

 

Dissídio

 

Quem entrou na minha festa

Sem ter sido convidado,

À conjugal mesa empresta

Dissídio de excomungado.

 

 

Nunca

 

O casamento não tem

De ser nunca destinado

À guerra sangrenta nem

Ao sofrimento dum fado.

 

 

Visitar

 

Visitar um consultório

Não é nunca um tratamento

Que quer sempre o envoltório

De se transformar no evento.

 

 

Guerra

 

Numa guerra conjugal,

A maneira de a ganhar

É a maneira de a curar:

Sem fractura que a iguale.

 

 

Adiam

 

Quando adiam no casal

Soluções que o implementem,

Provocarão, no final,

Que mil estragos aumentem.

 

 

Concretize

 

Quer casado, quer solteiro,

Concretize a fantasia,

Vá criar seu verdadeiro

Amor e que haja alegria!

 

 

Fornadas

 

Do casal os rituais

Com que juntos se entrelaçam

Novas fornadas amassam

De amanhãs que alimentais.

 

 

Nunca

 

Poderemos nunca ter

Muito dinheiro. O melhor

Outra riqueza requer:

Sermos ricos em amor.

 

 

Luta

 

Se se deixar esmagar

Na luta por perfeição,

Isto o irá paralisar.

- O imperfeito é bom então!

 

 

Importante

 

Para se ser bom amante

É importante dar prazer

E por igual receber:

- Ai do par que o não garante!

 

 

Corpo

 

Para ser bem desejável

Importa um corpo fantástico?

- É mentira, que orgiástico

É o corpo ser mais afável.

 

 

Carácter

 

Se meu par tiver um caso

É porque não satisfaço?

- É mentira, o que der azo

A tal é carácter baço.

 

 

Prazer

 

O prazer sexual dele

Importa mais do que o dela?

- É mentira, a isto impele

Machismo posto à janela.

 

 

Resistiremos

 

Se o sexo for mesmo bom,

Resistiremos a tudo?

- É mentira: noutro tom

Há mundos para que mudo.

 

 

Ri

 

O dependente está morto

Por dentro, embora pareça

Que ri do mundo que é torto,

Que a endireitá-lo começa.

 

 

Cria

 

Um toxicodependente

Não cria uma relação,

Não consegue estar presente

Senão ao vício, o senão.

 

 

Escolhe

 

O toxicodependente

Escolhe o vício, não outrem:

A o salvar, nada pendente

É de paixões que o encontrem.

 

 

Mentira

 

Mentira dita no altar

É o voto mais convincente:

Até que a morte os separe...

- E se às turras é o presente?

 

 

Ilusão

 

Quando estás apaixonado

Por uma ilusão de alguém,

Com quem vais ficar casado

Se em teu par não há ninguém?

 

 

Findar

 

Até que o fim nos separe

Pode bem ser este aborto:

Irei contigo ficar,

Finde meu imo até morto.

 

 

Abuso

 

Numa relação saudável

Temos de abuso chamar

Ao que for intolerável,

Desde o menor que aflorar.

 

 

Abusivo

 

Todo o abusivo a criança

Deverá identificá-lo.

Dele defender-se alcança

Se a ensinarmos a lográ-lo.

 

 

Medo

 

O medo é da escuridão

Que ignorar também traduz.

Se anda aí algum papão,

Trata de acender a luz.

 

 

Lembrar

 

Quem não lembrar o passado

Lembre que não é sigilo

Que ficará condenado

Então sempre a repeti-lo.

 

 

Aprendemos

 

Só aprendemos a lição

Do passado se, em seguida,

Falha a vitória: em questão

Pomos como marca a vida.

 

 

União

 

Todos a união feliz

Querem, contudo sem dar

Os passos com que condiz

O que querem alcançar.

 

 

Utilizaste

 

Já utilizaste o dinheiro

Relações a controlar?

Contigo o usaram primeiro

A te tentar dominar?

 

 

Embrulho

 

Um embrulho nunca informa

Do que se encontra lá dentro:

De alguém a aparência, em norma,

Só diz quem é, se nele entro.

 

 

Espante

 

Uma amizade é importante

Tanto como com quem vive?

- Não se espante se adiante

Quem amar de vez se esquive.

 

 

Abaixo

 

O animal de estimação

Tratado abaixo de cão?!

 

- Mas que personalidade

Ao amor te persuade?

 

 

Partido

 

Não é um partido a política,

É a forma de olhar o mundo

E o lugar, de forma crítica,

Que nele ocupo fecundo.

 

 

Aprender

 

A disponibilidade

Para aprender pode ser

Como a receptividade

Do par noutra área qualquer.

 

 

Toque

 

O toque do telefone

Tem prioridade assente

Sobre quem, embora insone,

Estiver à tua frente?!

 

 

Inato

 

Não é inato o preconceito,

Há-de ser sempre adquirido.

Desmascare-o bem do peito:

Que origem lhe deu sentido?

 

 

Boda

 

Depressão pós-nupcial...

É que a boda foi um fim,

Não o princípio, afinal:

Como após viver, assim?

 

 

Acolhe

 

O voto que é realista

Acolhe a fragilidade

Como a possibilidade

Da vida que tem em vista.

 

 

Abriu

 

Toda a jura de união

Ou se abriu ao mundo vasto

Ou se furta ao aguilhão

E em breve perderá o pasto.

 

 

Luta

 

O casamento é viagem

Que dura uma vida inteira,

Não de luta uma triagem

Sempre dum abismo à beira.

 

 

Concreto

 

Dos casais os compromissos

Em concreto acto de amor

Têm de acender chamiços

Para manter o calor.

 

 

Ritual

 

O ritual contra vontade

Me leva a ir muitas vezes.

É aqui que a grandiosidade

Do que eu for é sem reveses.

 

 

Mudar

 

Mudar o comportamento

Para agradar a meu par

É sempre o melhor cimento

Para o amor resultar.

 

 

Luta

 

Mesmo se a união conjugal

Foi luta e não alegria,

A harmonia, no final,

Tudo nos redimiria.

 

 

Pedregulhos

 

Colocas muitas mentiras,

Pedregulhos no caminho?

Nunca é tarde quando as tiras,

Melhor porvir adivinho.

 

 

Relação

 

Relação que se baseia

Na esperança e não no real

Não existe, lua cheia

Só de noite sideral.

 

 

Renovar

 

Ao renovar os meus votos,

Renovo minhas promessas,

De frente olho os nossos brotos

E ao meu melhor peço meças.

 

 

Chave

 

Por maior que seja a doença

Que a vida me pinta escura,

O meu par tem, por sentença,

Uma chave para a cura.

 

 

Pontos

 

Os pontos quentes da vida

São áreas de crescimento:

Cada qual deve a medida

Tomar de cada fermento.

 

 

Tornar-se

 

Cada qual deve cuidar

De tornar-se mais maduro,

De forma a influenciar

Da relação mais apuro.

 

 

Mantém

 

Um estado de recusa

Mantém a infelicidade

Do par fechado na eclusa:

Um só espaço em soledade.

 

 

Ouvida

 

Depois de ouvida a lição,

Rola para longe a pedra

Onde tropecei no chão:

- Agora só a vida medra!

 

 

Pujança

 

Para a vida germinar

E com pujança crescer,

Só se ao vero me colar

E à informação que trouxer.

 

 

Antanho

 

De antanho a fragilidade,

Das transgressões mesmo o muro

São talismãs duma herdade

Com promessas de futuro.

 

 

Campo

 

Passado é campo de treino

Para o sucesso vindoiro

Se o permitir no meu reino

De eterna caça ao tesoiro.

 

 

Reconhece

 

Reconhece o casamento

Em tudo aquilo que foi:

Pode ser o teu fermento

De extirpar o que te dói.

 

 

Valho

 

Que é que importa aquilo que herde?

Valho o que der na procela:

Uma vela nada perde

Por acender outra vela.

 

 

Eco

 

Quando tu te comprometes,

Todo o Universo conspira,

Como um eco que repetes,

A favor da tua mira.

 

 

Dote

 

O dote de casamento

Melhor que pode trazer

É a si próprio, no fermento

De assente e desperto ser.

 

 

Pena

 

A esperança sem agir

É pena levada ao vento,

Não faz sentido sentir,

Que só de dor é fermento.

 

 

Mórbida

 

Mórbida curiosidade

Atribui valor fictício

Ao vulgar, à necedade,

Do lixo a qualquer resquício.

 

 

Humana

 

É da humana natureza,

Se egoísmo a não permeia,

Amar mais tudo o que preza

Do que odiar quanto odeia.

 

 

Camponês

 

Um camponês sem ter terra,

Árvore sem ter raiz,

A qualquer uso se aferra,

Mal dura, morta a cerviz.

 

 

Direito

 

O Direito, quando é justo,

É dos que sofrem, esperam,

Não de quem calcula o custo

E amontoa os que o sofreram.

 

 

Dever

 

Quando o dever já não sabes

Onde é que ele parará,

Nunca o muro menoscabes

Dos que amas: encosta lá!

 

 

Vencer

 

Devo vencer a injustiça?

Vence primeiro a desgraça

Que dentro de ti te enguiça,

Que o resto, então, logo passa...

 

 

Aceitaras

 

Se me aceitaras amar,

Que pequeno o teu receio

Com o amor ao comparar...

- E que grande o mundo cheio!

 

 

Mudar

 

Se queres mudar o mundo,

O mundo vê como ele é,

Larga teu sonho infecundo,

Lavra o real, semeia um pé!

 

 

Sente-se

 

Dum homem a educação

Sente-se nas grosserias

A que o levarão ou não

Da paixão as bizarrias.

 

 

Momento

 

Ninguém pode rotular

Um momento de feliz

Ou de infeliz sem findar

O tempo de seu cariz.

 

 

Ponto

 

Um ponto trazido à luz

Num mistério indecifrável

Basta, se o resto conduz

A plena luz confiável.

 

 

Certeza

 

A certeza da desgraça

Tira toda a alternativa

À espera, que o medo grassa,

Murcha qualquer alma viva.