DIA A DIA
BARTOLOMEU VALENTE
Aroeira, 2018
QUADRAS REGULARES
Falando
Retém muito outrem a esmola
Ou muito a gente se esquece:
Sempre a gente se consola
Falando do que padece.
Modelar
Percepção da realidade
Modela minha intenção
E a intenção modelar há-de
A realidade hoje à mão.
Busca
É o amor uma emoção
Mas não é dela gerido:
Se busca retorno, então,
Nem é amor, anda vendido.
Reclame
Nunca reclame da derrota de ontem,
Que ela ser pode, no teor, malsã
E revelar-se, quando os feitos contem,
Uma grande vitória de amanhã.
Importa
Que importa ser erudito
Se for prejudicial
E a disciplina moral
Der o dito por não dito?
Fácil
Se em mim me pacificar
O meu conflito interior
É fácil abandonar
De ter razão meu pendor.
Orgulho
Quando se percepcionar
Como que os outros melhor,
É o orgulho a dominar,
Vai de melhor a pior.
Servir
Quem servir com humildade
Noutrem vê, mesmo proscrita
Em profunda obscuridade,
A ignota luz que o habita.
Aprender
A humildade tem um prémio:
Permite aprender sozinho
Dos seres com todo o grémio
Com que cruzo no caminho.
Só
O que só tens de fazer
É tomar a decisão
De escolher qual a intenção:
Amor ou medo? E então ser.
Arrisca
Quem arrisca por amor
E não por receber mais
É que cresce, cresce um ror
E voa sobre os quintais.
Mostra
Quando o imo mostra um caminho,
É o melhor para crescer,
Embora queime o cadinho
E as pedras façam doer.
Dor
Quando a dor de não viver
For maior do que a que acuda
Ao medo de muda haver,
Qualquer então de nós muda.
Perda
A perda é para aprender
Em tudo a ter desapego,
Crenças de posse rever,
Matar o controlo do ego.
Querer
Querer um filho é ter ego,
Ser pai ou mãe é ter alma.
Aquilo é poder e apego,
Isto entrega: a vida acalma.
Soltar
É de soltar dos apriscos
Gado a aprender a pastar.
Quem não quiser correr riscos
É inapto para educar.
Contam
Não são os anos de vida
Que contam, com seus arcanos.
O que conta, bem medida,
É mesmo a vida dos anos.
Ente
Eu e tu mais meu e teu
Só existem num ente dado
No momento em que sentiu
Que doutrem é separado.
Noite
Até a noite mais escura
Deixará de escurecer
Logo que a luz se afigura
Que principia a nascer.
Tudo
Tudo quanto a vida traz,
Se o vir como valioso,
A mim me aceito e, atrás,
O mundo inteiro é gostoso.
Principiante
Dum principiante a atitude
É manter-se até final,
Vivências embora mude,
Mais e mais criança total.
Brota
Quando brota um desafio,
Reconhece-o como tal,
Colhe-o de fio a pavio,
Enfrenta-o até final.
Equilíbrio
O equilíbrio vem de lá,
Da fonte que tudo embebe:
Vive do amor que se dá,
Não do amor que se recebe.
Evite
Evite o lugar
Que perturbe a mente,
Indo onde, ao ficar,
A virtude aumente.
Quando
Quando podes te alegrar
E alegrar-te hás recusado,
É que andas-te a recusar
A te curar o teu fado.
Mensagem
A mensagem da alegria,
Divertir-se em tudo um ror,
Sempre a inocência me avia
Da criança interior.
Amorosa
A amorosa parceria
Um ao outro é se entregar
De pertencer sem deixar
A si próprio todo o dia.
Nenhum
Nenhum fica em bastidores,
Nenhum atrás do outro corre:
Lado a lado andam amores
Ou nem amor é, que morre.
Outro
Nenhum outro é um instrumento
Do desejo de ninguém:
O amor não quer tal fermento
Nem paga requer também.
Neve
Quer neve ou não neve,
Onde houver amigos
Temos sempre abrigos,
Toda a vida é leve.
Antes
Antes do problema, vede
Como contornar-lhe o fosso:
É bem antes de ter sede
Que convém cavar o poço.
Preguiça
A preguiça devagar
Anda tanto onde se entrança
Que a pobreza logo a par
Muito facilmente a alcança.
Importará
Cada qual ama a seu modo:
Como o modo pouco importa,
O que importará de todo
É o que a bem amar exorta.
Olho
Olho aqui dentro de mim.
Que importa o que fazem, dizem?
Preocupa-me é, no fim,
Que o que é certo os actos visem.
Doméstico
Ficas sempre responsável
Em teu recanto de céu
Por quem tornaste amorável
No lar doméstico teu.
Crê
Em ti crê, que é o principal,
Mas não duvides demais,
Só por não ser trilho igual,
Do que cuidarem os mais.
Desgosto
O desgosto prova o amor.
Porém, desgosto demais
Do bom senso prova o teor
Que bom senso não tenhais.
Sentimentos
Se uma criança tenho ao pé,
Dois sentimentos me dá:
Ternura do que ela é,
Respeito do que será.
Quebrar
Nunca foi um bom amigo
Quem por pouco se persuade
A deitar abaixo o abrigo,
A quebrar uma amizade.
Gota
Sentimos que o que fazemos
É só uma gota no mar
Mas menos mar nós teremos
Se esta gota lhe faltar.
Sorriso
O sorriso é o que enriquece
Sempre quem é o receptor,
Contudo não empobrece
Quem for dele o doador.
Silêncio
Se eu soubera quantas vezes
Fora mal interpretado,
De mais silêncio os conveses
Da vida houvera dotado.
Caminho
Ensina à criança
O caminho certo.
Se a velhice alcança,
Inda dele é perto.
História
A nova história imagine
Para a vida lhe ser bela.
Para vivê-la, se incline
Depois a sério a crer nela.
Dizer-te
Que é que poderei dizer
Senão dizer-te que te amo,
Quando mais nada há sequer
Da vida a pender do ramo?
Escolhes
Se escolhes ter uma vida
Familiar, o que importa
É germinar, lida a lida,
Mil vivências que comporta.
Frustre
Ninguém da terra é profeta.
Não te frustre teu conselho
Se aos da terra não afecta:
Sábio sê, sê-o até velho!
Parceria
A parceria amorosa
É aprendizagem a dois
Do que em cada meta goza
Cada um deles depois.
Mudando
Mudando a forma de estar
Inteiro na relação,
Muda o outro, então, a par,
Mais um só no fim serão.
Ande
Por muito que acompanhado
Ande dum lar, dum vizinho,
Cada qual nasce isolado,
Vive e morrerá sozinho.
Luz
Um amor que é verdadeiro
Vive da luz interior
Dum e do outro parceiro,
Toda em dádivas de amor.
Armas
Com armas faremos guerra
Sem conquistar o tosão
De oiro que festeja a terra:
- O amor mais a compaixão.
Saudade
Saudade que dilacera
É mais que desassossego,
Tem gavinhas duma hera
Provinda de meu apego.
Desapego
Pode haver frio ao alvor
Mas noite não é deveras.
Todo o desapego é amor
Se há mais luz que dele esperas.
Serei
Seja o que for que aconteça,
Serei feliz, serei forte,
Já que é Deus que em mim tropeça,
Seja qual for meu desnorte.
Nada
Nada que doutrem me venha
Pode alguma vez criar
De mim a secreta senha,
Só eu, em mim a escutar.
Manifesta
Se alguém for bem realizado,
Compartilha uma emoção
Se ela ajuda alguém ao lado
E os mais que no trilho irão.
Tente
Jamais se tente tornar
Artífice espiritual,
Só recorde este sinal:
- Em si tem poder de amar.
Ordenando-o
Disciplinar meu agir
Ordenando-o ao bem comum,
Mais que orar, meditar ir,
Vai valer a qualquer um.
Copular
Copular devia dar
Pistas para apaixonado
Um indivíduo ficar
Pela vida em todo o lado.
Energia
Quando a energia de vida
Se restringe ao sexual,
Fica então comprometida,
Já não cria no total.
Deitar-te
Podes sempre deitar-te com quenquer.
Não é inócua, porém, a relação,
Que energias e anseios vêm e vão:
- Não te deites com quem não queiras ser.
Atenção
A atenção é ferramenta
Que abre a porta ao outro em mim.
A minha mente o apresenta,
Noutro mundo entro eu assim.
Fundura
A Luz que da fundura me ilumina
Me estimula ao que eu der, a uma partilha.
É a mesma Luz que noutrem há na mina,
Que a todos nos faz um: ninguém é ilha.
Dádiva
Vera gratificação
Duma dádiva qualquer
É a alegria que tiver
Por dar sem retribuição.
Tiver
Nosso imo o que tiver, dá;
O ego agarra quanto vê.
Se aprender algo acolá
E então quiser algo, dê!
Seguro
Proteger quem a dor lesa,
Todo o amor compartilhar...
- Seguro contra a pobreza
Não é receber, é dar.
Ficar
O melhor ensinamento
No lugar e tempo errado
Vai ficar emparedado,
Já de ninguém é alimento.
Necessidade
Quando a luz quero primeiro,
A necessidade humana
Satisfeita em quanto emana
Tende a ser, por derradeiro.
Vives
Que importa ser rico ou não
Se tu vives à vontade
Com tudo o que tens à mão
Fruindo da realidade?
Sucesso
O sucesso verdadeiro
Provém do que te conduz
Pelo trilho mais certeiro
A viver de íntima Luz.
Vives
Se vives de íntima Luz,
Tal parceria há gerado
Garantia que te aduz
Sempre em paz teu resultado.
Preencha
Quando outrem minha carência
Que preencha ando a aguardar,
A amar não vou, por essência,
Vou apenas explorar.
Vampirismo
O dinheiro é consequência
Dum serviço e não a causa,
Ou mata-nos a existência
Num vampirismo sem pausa.
Encontrar
Aquele que prejudica
É por encontrar em mim
Algo que com ele implica
Para agir então assim.
Perdoo
Quando me perdoo a mim,
Todo o mundo me perdoa.
Logo tudo é coisa boa,
Tudo é bem melhor ao fim.
Diante
O meu imo é tolerante
Diante de tudo e de todos,
É deus-em-mim cada instante,
O Infindo a semear meus bodos.
Culpa
Ninguém a outrem perdoa
Se não se perdoa a si
Da culpa que fundo doa,
É um preso sem alibi.
Prejuízo
Um prejuízo ou traição
De depuração momento
Para saltar o desvão
É dum novo crescimento.
Traz
O que hoje traz sofrimento
Amanhã traz alegria
E as coisas boas, tormento...
- Onde é que a bênçãos poria?
Largar
Largar atrás não hesite
O que julga a trás pertence:
No que não é o muda e quite
O larga com quem não vence.
Perdes
Tens um carro desportivo?
Se o perdes, inopinado,
E nada sofres ao vivo,
És livre: um desapegado.
Morte
Aqui nada nos pertence,
Na vida tudo é comum.
Mas quem é que nos convence?
- Só a morte de qualquer um.
Ligo-me
Com amor e desapego,
Ligo-me aos mais nas matrizes
Que garantam, no que pego,
Que é para serem felizes.
Humano
Um humano nunca vem
Procurar o amor na Terra,
Mas distribuir mundo além,
Partilhando, o amor que encerra.
Trilho
No trilho do desapego
A vitória que te impões
Dá sinal com um sossego
Livre de preocupações.
Pronto
Pronto estou para deixar
Para trás tudo o que envide,
Saltar outro patamar
Mal a vida me convide.
Sair
A minha interioridade,
Cedo ou tarde, do caminho
Há-de sair que ela invade:
De meu corpo este seu ninho.
Apreciá-los
Se eu vir desafortunados
A que a vida fizer mossa
Retalhando-os aos bocados,
Que valor eu dar-lhes possa!
Guia
Quando alguém me prejudica,
Que eu veja nele o sinal
Do que a ser por mim se aplica
O meu guia espiritual.
Insulte
Que ao que me insulte a memória
Eu logre subir a cota
Entregando-lhe a vitória,
Colhendo em mim a derrota.
Apreciar
Que eu possa constantemente
Apreciar todo o ser vivo
Como o não-vivo igualmente:
- Vivo é o Cosmo, embora esquivo!
Tesoiro
Aquele que é um oprimido
Por violento sofrimento
Sempre é um tesoiro escondido
Perdido ao sabor do vento.
Compaixão
A compaixão ao medir,
Íntimo metro requeres:
A compaixão é sentir
Apreço pelos mais seres.
Aceitar
Se aceitar tal como for
Alguém com a vida nele,
Vai então dar-lhe valor,
Gera compaixão por ele.
Gera
Compaixão gera quem sofre
Mais quem as causas auguro
Que anda plantando no cofre
Onde se incuba o futuro.
Deveras
Ninguém é deveras mau,
Que, do fundo de seu imo,
Deus lhe estende a mão no vau,
A puxá-lo para o cimo.
Todos
Todos nós sofremos,
Uns mais, outros menos,
Grandes e pequenos...
- Distinguir-nos-emos?
Paz
Elimina a compaixão
À raiva como ao apego,
Até mesmo a uma aversão...
- É de paz o meu sossego.
Embora
Embora sem intenção,
Tudo em mim é benefício
Proveniente de acção
Doutrem com seu bom ofício.
Julga
Quem julga que em si se encerra
Aos mais a si é que mente:
Tudo à face desta Terra
É sempre interdependente.
Apreço
Quando alguém uma euforia
Ou tristeza manifesta,
É um apego que anuncia,
Não o apreço a quem o presta.
Discernir
Importa é discernir Deus
Em cada pessoa dada,
Servir tal ponta de céus
Da maneira adequada.
Cultivo
Sabedoria distingue
O bom do prejudicial:
Que o cultivo nunca vingue
Do que, negativo, é o mal.
Entregue
É parar de reagir,
Todo entregue ao Universo:
O milagre irá surgir,
Se não de frente, no verso.
Percute
Importa sentir na pausa
O que percute em teu peito:
A vida sem uma causa
É uma vida sem efeito.
Activista
O activista, ao ir lutar,
Com tal modo de fazer
Acaba a multiplicar
O que quiser combater.
Medos
A vida não são agruras,
São mais os medos que as quedas.
Se tem medo das alturas,
Salte então de pára-quedas.
Reclame
Por ignorar, melhor será que apontem
Todo o desvio vida além a ver.
Nunca reclame da derrota de ontem,
Pois de amanhã pode a vitória ser.
Sistema
Quanto mais me identifico
Com um sistema de crenças,
Mais longe de mim eu fico
E meu imo, sem avenças.
Divide
Religião é religar,
Nunca será dividir.
Quem divide é que, em lugar,
Finda a fé por destruir.
Terei
Terei sempre um bom ensejo
Para me felicitar:
Só terei o que desejo
Se deixar de desejar.
Quebrar
Quantas vezes o ideal
Vem de quebrar uma perna:
Sofrimento temporal
Deu sabedoria eterna!
Findam
Só cuidas em bater palmas,
Que do mal findam os filos?
Não é de haver águas calmas
Que findam os crocodilos...
Servir
Ao servir, o orgulho vence-o
E o dom finda em vacuidade.
Difícil serve o silêncio
Sem o manto da vaidade.
Ver
Servir se traduz
Em quanto concita
A ver sempre a Luz
Que noutrem habita.
Mérito
Pouco importa o que acontece,
Como ao que acontece reage
Porque por si então age
É que o mérito merece.
Ambição
A nobre ambição humana
Sobre os mais não é elevar-se,
É sobre si, mas com gana,
Sempre, sempre a aperfeiçoar-se.
Trono
Deus não tem trono doirado
Nem sequer sofá de seda:
Mora em quem ajuda ao lado,
Consola quem sofre a queda.
Pesando
Pesando o que a vida traz
Como tudo valioso,
A mim me aceito e, atrás,
O mundo inteiro é ditoso.
Velha
Sou sempre um principiante,
Embora em velha velhice,
Miúdo que ao mundo cobice,
A porta abrindo adiante.
Desvio
É no desvio do filho
Que os pais podem aprender
Desapego, amor, no brilho
Do mundo novo a nascer.
Divino
O vero valor da vida
É o divino vislumbrar
Em cada ser que convida
O fundo dele a espreitar.
Apenas
Se apenas o bem-estar
For aquilo que eu quiser,
Ética não vai restar
Gerindo um acto qualquer.
Guia
Sempre o coração
Há-de um guia ter:
- Não se deite com
Quem não queira ser.
Portanto
Para o imo, ter é dar,
Para o ego, é ter mais ter.
Se ter a sério almejar,
Então dê o que ter quiser.
Burro
Eu sou mesmo o burro de oiro,
Sempre de tesoiro às costas,
A cuidar que sou tesoiro
E são de meu imo apostas.
Rio
Como um rio turbulento,
Pejado sempre de espuma,
Ando sempre em movimento
Sem chegar a parte alguma.
Nasceu
Fiquei toda a noite a pé,
A ver onde é que o Sol ia.
Depois para mim não é
Que me nasceu com o dia?!
Nunca
Ser alta ou baixa a garupa
Que importa se não há ramos?
Nunca a nós nos preocupa
O que não valorizamos.
Perdão
Toda a gente comete erros.
Por isso é tão importante,
Quando caímos dos cerros,
O perdão, vida adiante.
Tempos
Não há, não, tempos de crise
Quando a crise nos invade.
São, quando os bem ajuíze,
Tempos de oportunidade.
Tornar
Ao tornar alguém mais forte,
Começo por reforçar
A ideia de que tem norte
E o valor de o alcançar.
Pouquinho
Se puder fazer alguém
Um pouquinho mais feliz,
Logo ele toma também
Melhor opção de raiz.
Passo
Se for todo duma vez
O ideal a conquistar,
Não dou conta do entremez:
- Passo a passo é que é de andar!
Depressão
Podem os dias ser secos
Mas depressão, nem sonhar!
Depressão leva-me a becos
Que não quero visitar.
Caos
No caos que houver na vida
Precisaremos do alcance
De todo o amor e, em seguida,
Também de todo o romance.
Pronto
Humilde sê, sê simpático
Para os mais e com transporte.
Podes ficar muito prático
E pronto para ter sorte.
Eleva
A mulher é quem escolhe
O homem que a conquistar:
Dentre o mundo ela o recolhe
E ao céu o eleva, seu par.
Verdadeiro
O verdadeiro valor
Às pessoas que nós temos
Só lhes damos ao sol-pôr
De quando nós as perdemos.
Sinais
Sinais da simplicidade
Quanto tempo levarão
A ensinar sua verdade
Aos olhos do coração?
Sentir
Sentir será hereditário
E renasce cada dia,
Em cada desgosto vário
Bem como em cada alegria.
Demora
Porque é que demora tanto
Praticar diariamente
O que animais, sem quebranto,
Nos ensinam de presente?
Única
Qual a única pessoa
Que comigo a vida toda
Fica, na fome ou na boda?
- Sou eu que aqui ando à toa.
Sorrir
Importa sorrir na vida,
Donde quer que sopre o vento:
Bom ou mau seja o momento,
É esperança prometida.
Alegria
A alegria de viver,
Dádiva demais ausente,
Estimula, ao conviver,
A tratarmos de ver gente.
Junto
Há dias em que sentimos
Respirar o todo em tudo,
Música que mal ouvimos
E tudo o mais fica mudo.
Floresta
Na floresta da cultura
Devem todos melhorar:
Cada povo em si apura
Melhor ser ao melhor dar.
Moderando
A paz nos dá rendimento,
Rendimento a guerra o tira.
Conserva aquela o frumento
Sempre a encravar desta a mira.
Opiniões
De opiniões diversidade?
- Nem conflito nem pobreza,
Antes de ideias riqueza
Donde germine a verdade.
Moeda
Não compra a moeda o poder
De pôr sonho em realidade.
Trilho o suor de aqui correr
E a alegria aí me invade.
Quando
Onde é que nós estaremos
Quando é o amor o que assusta
E o ódio é coisa justa?
Será que ainda vivemos?
Fácil
Mais fácil do parvo o lábio
Há-de perguntas fazer
Do que alguma vez o sábio
Lhes poderá responder.
Antes
Antes tudo refazer
Que obrigado, inapelável,
A tudo ter de acolher
Como uma herança imutável.
Focinho
Somos povo de humilhados,
Focinho resvés do chão.
Só na humildade firmados
Fugimos à humilhação.
Interrompe
Deus, se interrompe os estudos
A um jovem de pouca idade,
É ensinar-lhe por miúdos
O que é deveras verdade.
Regras
As regras são a harmonia
Do mundo civilizado:
Sem regras nunca haveria
De ir lá longe a nenhum lado.
Privilegiado
Se eu for privilegiado,
De fazer-me perdoar
Terei: é ter ajudado
Quem de mim mais precisar.
Nivelar
Nivelar a sociedade...
O maior nivelador
É o talento que nos há-de
Ir nivelando ao se impor.
Roupas
Quando uma mulher
Veste roupas chiques,
Logo bem se haver
Vai, mortos os tiques.
Mudança
Ninguém mudará ninguém
Da periferia ao centro,
A sério mudança advém
Só se é mudança de dentro.
Fundo
Pouco importa quão tombado
És já no fundo do poço.
Nunca é tarde a, retornado,
Trepar ao topo do fosso.
Amigo
O amigo a solidão mede
Curva a curva do caminho.
O melhor amigo impede
Que eu me sinta aqui sozinho.
Crer
Para um homem dar
Dele o seu melhor,
Tem de acreditar,
Crer que o é de impor.
Prisões
Tu, livre quando és,
Então te persuades:
As prisões que vês
Nem sempre têm grades.
Ganho
Mirando que tudo integre
Num ganho bem mais nutrido,
Um homem que for alegre
É bem mais compreendido.
Ardor
Quem trabalha a contragosto,
Como por condescendência,
Não tem ardor ali posto,
Tudo é perda de excelência.
Saber
Nosso saber mora oculto
No cofre dum avarento:
Ninguém o vê e de insulto
Vive por mor disto isento.
Pensa
O que bem pensa começa
Por afastar os refolhos:
Pensará com a cabeça,
Não pensará com os olhos.
Preciso
A cada qual, seu destino.
É preciso é descobri-lo
Como à palavra com tino:
- Ir à fundura senti-lo.
Negócio
Sempre é o negócio uma rampa:
Imos à borda do fosso,
Sempre a agarrar bem a tampa,
Senão quebra-se o pescoço.
Dorsal
A espinha dorsal nos há-de
Endireitar todo o ser:
Povo sem autoridade
Não pode sobreviver.
Lucro
Sem lucro ninguém trabalha,
Só se for por gostar muito:
Só pelo amor que nos calha
É que é tudo então gratuito.
Suportam
Suportam a escravidão,
Não, porém, a liberdade:
Rédea frouxa e sem timão,
Alguém daqui não se evade?
Cuida
Cuida de teu prado
De Outono a Outono.
Homem sem cuidado
É tal cão sem dono.
Limpeza
Levamos o corpo ao banho
E a limpeza nos acalma.
Pequeno é, porém, tal ganho:
Falta inda a limpeza de alma.
Profeta
Um profeta colocado
À margem da humana vida
Profeta falsificado
Será sempre em toda a ermida.
Encontram-se
Encontram-se pátria e lar
Do coração no interior.
O lugar de os cultivar
Sempre é daí ao calor.
Difícil
É difícil a virtude
Quando nada a gente obtém,
Quando tudo desilude
E nada responde o Além.
Alma
Toda e qualquer alma humana
Tem a ponta luminosa
Que da outra ponta emana
Toda, toda tenebrosa.
Grade
A verdadeira prisão
Não acaba nem começa
Atrás da grade ou grilhão,
Mas por dentro da cabeça.
Óbvio
Por vezes a nossa mente
O óbvio não vê, não vê
E está mesmo à nossa frente
Ali postado de pé.
Cara
Há muita cara serena
Mas no segredo não lhe entro:
A paz cá por fora é plena,
Contudo chora por dentro.
Pouco
Com bem pouco se contenta
O homem que não requerer.
Ao que muito pretender
Muito lhe exige o que tenta.
Receio
Quem puxar todas as águas,
Todas, para seu moinho,
Finda com receio, mágoas
De quem submerso adivinho.
Moscas
Qualquer homem fatigado
Quer descansar e dormita
Mas as moscas do passado
Picam e o sonho palpita.
Saúde
Tens saúde de cavalo,
Nem a menor das doenças?
- Um belo dia, um abalo
E catrapuz, endoenças!
Casa
Estar em casa é encontrar
Quem os corações procuram,
Entre todos o lugar
Onde as dores nem torturam.
Verás
Tu verás sempre as estrelas:
És um destes sonhadores
Com os olhos postos nelas,
No firmamento há só flores.
Perigo
Não é perigo sequer
Duma guerra a mortandade,
Vero perigo é o poder
Sem responsabilidade.
Diabo
Para quê tombar congostas,
Quebrar costas num abalo?
A quem traz o diabo às costas
Não é de ir longe encontrá-lo!
Torná-la
Tu não és a má pessoa
Nem má pessoa é teu par:
Podes torná-la em ti boa,
Boa noutrem vislumbrar.
Embrulho
Se o embrulho é apelativo,
Fantástico é o conteúdo?!
- Sei lá bem se é morto ou vivo,
Se um vazio não é tudo...
Desilusão
Quem esteja apaixonado
Do sonhador olho azul,
Desilusão há ganhado
Mal a vida o olho anule.
Manter
Entre as almas sintonia
Se a não houver, nada juntos
Vos há-de manter no dia
Em que findem os assuntos.
Agrada-me
O que vejo no interior
Agrada-me tanto, tanto
Como quanto no exterior
É meu motivo de encanto?
Passado
O passado já lá vai?
Se, porém, bem reparar,
Nunca de vez se ele esvai,
Casa comigo no altar.
Marcas
Não começa a vida aqui,
Que o passado é carruagem
Onde até aqui prossegui
Com as marcas da viagem.
Razão
Ter sempre razão importa?
Mais importante é ligar-se
Autêntico a quem a porta
De alma lhe abrir sem disfarce.
Salvar
Andarás mais empenhado
Em manter sempre razão
Ou antes, iluminado,
Em salvar a relação?
Nunca
Viver será um compromisso
Que só causa sofrimento?
Chamamos amor a isso?
- Nunca o amor é o tormento!
Medo
Leva o medo a concessões,
Sem ele eram impensáveis:
Logo como inevitáveis
Nos preenchem os balcões.
Contra
Somos sempre nós os dois
Contra, fora, o mundo inteiro?
Como ser feliz depois,
Se um do outro é prisioneiro?
Respirar
O amor é livre, expansivo,
A alegrar tudo o que inundo,
Ou não me deixa, furtivo,
Respirar o ar do mundo?
Atitude
A atitude de meu par
É motivo de alegria
Ou antes vem-me drenar
De meu íntimo a magia?
Automática
Casamento é passaporte
De automática auto-estima?
Para que os mais bem suporte,
Tenha consigo bom clima.
Precede
Precede a verdade o amor,
Que, se não precede, então
O amor, perdido no error,
Não é amor, é uma ilusão.
Vertigem
A vertigem da paixão
Termina, por força, em breve
Ou ninguém vivia então
Nem sequer o amor que teve.
Cuidas
Cuidas que o amor findou
Quando as hormonas findaram?
A embriaguez parou
E tu, que utopias te aram?
Impotente
Ninguém impotente tem
De ser ante os sentimentos:
Escolhe o alcance que têm
No rumo que dás aos ventos.
Intempéries
Prega o destino partidas
E convém não se abalar
Com intempéries surgidas
Sem ninguém com tal contar.
Levada
Mil actos sem desacatos
A carne eis do teu intento,
Que esperança sem ter actos
É pena levada ao vento.
Intenção
A boa intenção mal serve
Se não for o acto concreto.
Ao agi-la, então observe
Que é que ao par quer dar de afecto.
Honrar
Honrar é aceitar como é
O outro sem alimentar
O desejo de o vergar
A quanto eu quiser ao pé.
Estimar
Estimar exprime o amor,
A solidariedade
No cotio, pelo teor
Dos actos com que eu agrade.
Procura
Ou estamos a falar
Ou à espera de o fazer:
Ninguém procura escutar...
- Como então nos entender?
Bondade
A bondade sem limites
Faz vítimas, desde logo
As de que te não desquites
Correndo a apagar o fogo.
Consideração
Gostaria que tivesses
Consideração por mim:
É só ligar, se tropeces
Em longe obrar do confim.
Carência
Sinto carência de afecto?
Que bom se me cumprimentas
Com um beijo, quando atentas
Em mim, sob o comum tecto!
Desliga
Que me dês mais atenção!
Mesmo uma vez por semana
Desliga a televisão:
Juntos, que bom tudo emana!
Considera
Considera meus afectos,
Deixa-te de vez de graças
Quando enervado é de escassas
Telhas que cubro meus tectos!
Lê
Por maior o amor que tem,
Ninguém lê um pensamento,
De leveiro como o vento,
Tem de o recolher de alguém.
Respeitá-lo
Honrar o nosso parceiro
É vê-lo tal como for,
Respeitá-lo então inteiro
Daquilo em todo o teor.
Vê-lo
Honrar o meu par
É vê-lo como é,
Todo o respeitar
Então em tal pé.
Portas
Há quem viva no passado.
Que lar então inauguro
Se andar ali transviado,
Sem portas para o futuro?
Inaugure
Há quem inaugure o lar
Pondo em si o termo: FIM.
Fica o passado a mandar,
Que porvir vai ter assim?
Fiel
Sê fiel no pequenino
Porque aí é que reside
O que importa que se envide:
Tua força do destino.
Oiço
Em lugar de outrem ouvir,
Oiço diabos na cabeça
Que me vêm repetir
Em que é que outrem já tropeça.
Exprimir
Exprimir vera empatia
Abre o diálogo aos mais:
Milha alguma distancia,
Não há longes nos locais.
Renunciar
Renunciar a tudo o mais
Abdicar não é de amigos,
É o mapa de laços tais
Redesenhar como abrigos.
Grande
Se quer a grande mudança,
Comece com a pequena
E o pequeno que ela alcança
Alargue de cena em cena.
Aberto
Quem for aberto a mudança,
Se for mesmo criterioso,
De quem amar para o gozo
Sempre um outro mundo alcança.
Cavilha
Há quem vá relacionar-se,
No casamento, tal ser
Cavilha em bola que esgarce
No quadrado onde a meter.
Obrigação
A obrigação laboral
Tem sempre prioridade
Sobre o lazer conjugal?
- Ai do par que isto persuade!
Platónica
A platónica amizade
Com um ex-cônjuge, esquiva,
É mesmo uma nulidade,
Será mesmo inofensiva?
Importante
É importante que os casais
Próximos amigos tenham
Em comum: são os varais
Que a turbamulta contenham.
Feriados
Feriados são momentos
Em que a família alargada
Se reúne e os tormentos
Ficam lá fora da entrada.
Festas
As festas de aniversário,
Os anos de casamento
São marcos de itinerário
A nortear contra o vento.
Receber
Receber amigos,
Momento sentido,
É o calor de abrigos:
Quente e divertido.
Conviver
Conviver com os colegas
De trabalho de teu par
São novos laços que adregas
Do lar no jardim atar.
Próximo
Viver próximo à família
(Não fundido em confusão)
Importa para a vigília
Da carência e da lesão.
Conjuga
Se um amigo ou familiar
Que nos vem ver de visita
Quer ficar em nosso lar,
- Com teu par conjuga e dita.
Antes
O teu lar é porta aberta
Ao amigo, ao familiar,
Sem ser preciso avisar?
- Tudo com teu par acerta.
Emprestas
Se um amigo quer dinheiro,
Emprestas sem mais perguntas?
E se era useiro e vezeiro
Em tudo o que ali assuntas?...
Namorisca
Numa festa, ocasional,
Namorisca, tudo ao vivo?
Para o par será que real-
Mente é tudo inofensivo?
Convites
Os convites espontâneos
Para sair com amigos
São gostos, não sucedâneos,
Que abrem da vida aos pascigos.
Perguntar
É bom não ver um problema
Quando o seu par convidar
Um amigo a vir ao lar
Sem lhe perguntar, por lema.
Prefere
Passar férias com amigos
Se prefere do que a dois,
Expandindo embora abrigos,
Do fim não se queixe após.
Desiludir
Se desiludir a mãe
Não suporta, então seu lar
O seu lar não será bem,
É da mãe novo avatar.
Cônjuge
O cônjuge deve vir
Sempre em primeiro lugar,
Seja o que for que o porvir
Tenha ou não para nos dar.
Casos
Casos extraconjugais
Nunca passam, de verdade,
De luzes de festivais:
- Ilusões de intimidade.
Desligas
Se frente à televisão
Desligas todas as noites
Do lar contigo em fusão,
Não tens lar onde te acoites.
Carências
Carências emocionais
Se fora do casamento
Cada qual as satisfaz,
Findou do lar o fermento.
Horas
Quando estão ambos em casa,
São horas ao telefone
Sem do lar ligar à brasa?
- Já o morrão se apaga, insone.
Evita
Quando evita conversar
Com o lar sobre seu dia,
Uma vala anda a cavar
Onde amanhã cairia.
Fala
Bates sempre em retirada
Se a fala que estão a ter
A ti só te desagrada?
- É o amor a enlanguescer.
Tratamento
Tratamento de silêncio
É a norma do casamento?
Ou tua lucidez vence-o
Ou é o fim sem linimento.
Campo
Quem seu campo não cultiva,
Providência que não tome,
Nada mais fará que viva,
Findará morrendo à fome.
Pior
Quando o pior acontece,
De alicerce frágil lar
Desmorona-se e fenece,
De o imprevisto o esmagar.
Contrariedades
Contrariedades da vida
São tremendos prejuízos
Nos cônjuges, em seguida?
- O lar já não trepa aos visos.
Examina
Examina tua história
Mais a tua dor oculta,
Ou figuram na memória
Esconsa que te sepulta.
Dissídio
Quem entrou na minha festa
Sem ter sido convidado,
À conjugal mesa empresta
Dissídio de excomungado.
Nunca
O casamento não tem
De ser nunca destinado
À guerra sangrenta nem
Ao sofrimento dum fado.
Visitar
Visitar um consultório
Não é nunca um tratamento
Que quer sempre o envoltório
De se transformar no evento.
Guerra
Numa guerra conjugal,
A maneira de a ganhar
É a maneira de a curar:
Sem fractura que a iguale.
Adiam
Quando adiam no casal
Soluções que o implementem,
Provocarão, no final,
Que mil estragos aumentem.
Concretize
Quer casado, quer solteiro,
Concretize a fantasia,
Vá criar seu verdadeiro
Amor e que haja alegria!
Fornadas
Do casal os rituais
Com que juntos se entrelaçam
Novas fornadas amassam
De amanhãs que alimentais.
Nunca
Poderemos nunca ter
Muito dinheiro. O melhor
Outra riqueza requer:
Sermos ricos em amor.
Luta
Se se deixar esmagar
Na luta por perfeição,
Isto o irá paralisar.
- O imperfeito é bom então!
Importante
Para se ser bom amante
É importante dar prazer
E por igual receber:
- Ai do par que o não garante!
Corpo
Para ser bem desejável
Importa um corpo fantástico?
- É mentira, que orgiástico
É o corpo ser mais afável.
Carácter
Se meu par tiver um caso
É porque não satisfaço?
- É mentira, o que der azo
A tal é carácter baço.
Prazer
O prazer sexual dele
Importa mais do que o dela?
- É mentira, a isto impele
Machismo posto à janela.
Resistiremos
Se o sexo for mesmo bom,
Resistiremos a tudo?
- É mentira: noutro tom
Há mundos para que mudo.
Ri
O dependente está morto
Por dentro, embora pareça
Que ri do mundo que é torto,
Que a endireitá-lo começa.
Cria
Um toxicodependente
Não cria uma relação,
Não consegue estar presente
Senão ao vício, o senão.
Escolhe
O toxicodependente
Escolhe o vício, não outrem:
A o salvar, nada pendente
É de paixões que o encontrem.
Mentira
Mentira dita no altar
É o voto mais convincente:
Até que a morte os separe...
- E se às turras é o presente?
Ilusão
Quando estás apaixonado
Por uma ilusão de alguém,
Com quem vais ficar casado
Se em teu par não há ninguém?
Findar
Até que o fim nos separe
Pode bem ser este aborto:
Irei contigo ficar,
Finde meu imo até morto.
Abuso
Numa relação saudável
Temos de abuso chamar
Ao que for intolerável,
Desde o menor que aflorar.
Abusivo
Todo o abusivo a criança
Deverá identificá-lo.
Dele defender-se alcança
Se a ensinarmos a lográ-lo.
Medo
O medo é da escuridão
Que ignorar também traduz.
Se anda aí algum papão,
Trata de acender a luz.
Lembrar
Quem não lembrar o passado
Lembre que não é sigilo
Que ficará condenado
Então sempre a repeti-lo.
Aprendemos
Só aprendemos a lição
Do passado se, em seguida,
Falha a vitória: em questão
Pomos como marca a vida.
União
Todos a união feliz
Querem, contudo sem dar
Os passos com que condiz
O que querem alcançar.
Utilizaste
Já utilizaste o dinheiro
Relações a controlar?
Contigo o usaram primeiro
A te tentar dominar?
Embrulho
Um embrulho nunca informa
Do que se encontra lá dentro:
De alguém a aparência, em norma,
Só diz quem é, se nele entro.
Espante
Uma amizade é importante
Tanto como com quem vive?
- Não se espante se adiante
Quem amar de vez se esquive.
Abaixo
O animal de estimação
Tratado abaixo de cão?!
- Mas que personalidade
Ao amor te persuade?
Partido
Não é um partido a política,
É a forma de olhar o mundo
E o lugar, de forma crítica,
Que nele ocupo fecundo.
Aprender
A disponibilidade
Para aprender pode ser
Como a receptividade
Do par noutra área qualquer.
Toque
O toque do telefone
Tem prioridade assente
Sobre quem, embora insone,
Estiver à tua frente?!
Inato
Não é inato o preconceito,
Há-de ser sempre adquirido.
Desmascare-o bem do peito:
Que origem lhe deu sentido?
Boda
Depressão pós-nupcial...
É que a boda foi um fim,
Não o princípio, afinal:
Como após viver, assim?
Acolhe
O voto que é realista
Acolhe a fragilidade
Como a possibilidade
Da vida que tem em vista.
Abriu
Toda a jura de união
Ou se abriu ao mundo vasto
Ou se furta ao aguilhão
E em breve perderá o pasto.
Luta
O casamento é viagem
Que dura uma vida inteira,
Não de luta uma triagem
Sempre dum abismo à beira.
Concreto
Dos casais os compromissos
Em concreto acto de amor
Têm de acender chamiços
Para manter o calor.
Ritual
O ritual contra vontade
Me leva a ir muitas vezes.
É aqui que a grandiosidade
Do que eu for é sem reveses.
Mudar
Mudar o comportamento
Para agradar a meu par
É sempre o melhor cimento
Para o amor resultar.
Luta
Mesmo se a união conjugal
Foi luta e não alegria,
A harmonia, no final,
Tudo nos redimiria.
Pedregulhos
Colocas muitas mentiras,
Pedregulhos no caminho?
Nunca é tarde quando as tiras,
Melhor porvir adivinho.
Relação
Relação que se baseia
Na esperança e não no real
Não existe, lua cheia
Só de noite sideral.
Renovar
Ao renovar os meus votos,
Renovo minhas promessas,
De frente olho os nossos brotos
E ao meu melhor peço meças.
Chave
Por maior que seja a doença
Que a vida me pinta escura,
O meu par tem, por sentença,
Uma chave para a cura.
Pontos
Os pontos quentes da vida
São áreas de crescimento:
Cada qual deve a medida
Tomar de cada fermento.
Tornar-se
Cada qual deve cuidar
De tornar-se mais maduro,
De forma a influenciar
Da relação mais apuro.
Mantém
Um estado de recusa
Mantém a infelicidade
Do par fechado na eclusa:
Um só espaço em soledade.
Ouvida
Depois de ouvida a lição,
Rola para longe a pedra
Onde tropecei no chão:
- Agora só a vida medra!
Pujança
Para a vida germinar
E com pujança crescer,
Só se ao vero me colar
E à informação que trouxer.
Antanho
De antanho a fragilidade,
Das transgressões mesmo o muro
São talismãs duma herdade
Com promessas de futuro.
Campo
Passado é campo de treino
Para o sucesso vindoiro
Se o permitir no meu reino
De eterna caça ao tesoiro.
Reconhece
Reconhece o casamento
Em tudo aquilo que foi:
Pode ser o teu fermento
De extirpar o que te dói.
Valho
Que é que importa aquilo que herde?
Valho o que der na procela:
Uma vela nada perde
Por acender outra vela.
Eco
Quando tu te comprometes,
Todo o Universo conspira,
Como um eco que repetes,
A favor da tua mira.
Dote
O dote de casamento
Melhor que pode trazer
É a si próprio, no fermento
De assente e desperto ser.
Pena
A esperança sem agir
É pena levada ao vento,
Não faz sentido sentir,
Que só de dor é fermento.
Mórbida
Mórbida curiosidade
Atribui valor fictício
Ao vulgar, à necedade,
Do lixo a qualquer resquício.
Humana
É da humana natureza,
Se egoísmo a não permeia,
Amar mais tudo o que preza
Do que odiar quanto odeia.
Camponês
Um camponês sem ter terra,
Árvore sem ter raiz,
A qualquer uso se aferra,
Mal dura, morta a cerviz.
Direito
O Direito, quando é justo,
É dos que sofrem, esperam,
Não de quem calcula o custo
E amontoa os que o sofreram.
Dever
Quando o dever já não sabes
Onde é que ele parará,
Nunca o muro menoscabes
Dos que amas: encosta lá!
Vencer
Devo vencer a injustiça?
Vence primeiro a desgraça
Que dentro de ti te enguiça,
Que o resto, então, logo passa...
Aceitaras
Se me aceitaras amar,
Que pequeno o teu receio
Com o amor ao comparar...
- E que grande o mundo cheio!
Mudar
Se queres mudar o mundo,
O mundo vê como ele é,
Larga teu sonho infecundo,
Lavra o real, semeia um pé!
Sente-se
Dum homem a educação
Sente-se nas grosserias
A que o levarão ou não
Da paixão as bizarrias.
Momento
Ninguém pode rotular
Um momento de feliz
Ou de infeliz sem findar
O tempo de seu cariz.
Ponto
Um ponto trazido à luz
Num mistério indecifrável
Basta, se o resto conduz
A plena luz confiável.
Certeza
A certeza da desgraça
Tira toda a alternativa
À espera, que o medo grassa,
Murcha qualquer alma viva.