QUADRAS REGULARES
UTOPIA
Evito
Como é que evito cruciais
Tufões humanos medonhos?
- Não creias saber demais:
Saber demais mata os sonhos.
Rosas
As rosas do meu jardim
Passam o dia a cantar
E o meu mundo fica assim
Mágico ante o novo olhar.
Dobra
Um autor vive do sonho.
Dobra a probabilidade
De impor um fim ao medonho
Que frustrar a realidade.
Vislumbro
Vislumbro a imortalidade
Quando dou meu passo em frente
E atrás gravo a identidade
Na minha pegada assente.
Música
Haverá celestial
Música além a surdir
Melhor do que a que, afinal,
Todos quisermos ouvir?
Atam
O passado sabe a mel,
Os mortos sabem sorrir
Apenas e a granel
- E eis como atam o porvir.
Concordas
Concordas que lavar pratos
Bastante é a satisfazer
Os sonhos de quaisquer actos
De toda e qualquer mulher?!
Impeça
Não deixes que o nevoeiro
Te impeça, atrás das janelas,
De tentar, sempre pioneiro,
Ir atingindo as estrelas.
Velho
Velho, sim, de olhos risonhos,
Sempre a afinar os artelhos...
- É que, por dentro dos sonhos,
Nunca aí nós somos velhos.
Lavram
As palavras lavram lavras,
Nós somos o que nos contam.
Irmos além das palavras,
Só lavrando o além que apontam.
Cordas
Tudo aquilo que ignoramos
Toca em nós cordas de lira
E há quem julgue que julgamos
Que tudo aquilo é mentira.
Fundo
Não viver é que há-de
Mais fundo doer:
Eu tenho é saudade
Do que puder ser.
Amo-te
Amo-te pelo que em mim
Fazes com teu toque de anjo,
Pelo que logras, assim,
Que em mim algo Infindo abranjo.
Perto
Perto de ti
Tremo tanto assim
Que, mal te vi,
Perco-me de mim.
Olho-me
Às vezes, em meio à farra
Duma boa patuscada,
Olho-me e o que a vista agarra
É quem não tem madrugada.
Viva
Há quem viva a realidade
De gravidade bem cheio.
E há quem sonhe outra verdade
De quimera com recheio.
Tome
Há quem tome a vida a sério
Como há quem a romanceie.
Uns submetem-se ao império,
Outros voam ao que ameie.
Arte
Arte de sermos felizes
É a de juntar os bocados,
As migalhas de matizes
De céu com alguns trinados.
Bilião
Nós podemos ser
Tudo o que sonhamos
Um dia qualquer,
Mesmo a um bilião de anos.
Mudar
Mudar o passado não,
Não podemos nunca mais.
Temos o porvir à mão,
Nele é que imprimir-te vais.
Piratas
Até os piratas caloiros
Seguem mapas, não resistem.
Buscaremos nós tesoiros
Que nem sabemos que existem?
Ama
A mulher que ama seu homem
Abriu a porta dos céus:
Os seus anseios se somem
Nele que é sombra de Deus.
Nascimento
Nascimento dum desejo,
Parto que sempre angustia.
Racional nada ali vejo
Mas inaugura a magia.
Meninice
Na meninice sonhamos
Todo um mundo imaginário.
Depois é o tredo fadário:
Jamais é o que imaginamos.
Incarnação
Qualquer desapiedado
Gestor de carnificinas
É uma incarnação do diabo
Do Infindo nas oficinas.
Aumente
Aumente o nível de esforço
À potência mais incrível,
Repita, burile o escorço,
- Atinja o inatingível!
Nuvens
O problema do aviador,
Como homem que for, é ser
Tentado nalgum pendor
A nas nuvens se perder.
Inovação
Toda a imovação encontra
A combatê-la, a sagrada
Norma que a rotina aponta:
Drama aqui – luz na alvorada.
Meta
Homem é insatisfação
E toda a meta atingida
É terra de parco pão,
Só o Infinito é medida.