DEVER, AO GOSTO RITMADO





























Foges



Foges daqui para encontrar

O trabalho perfeito,

O perfeito lar,

O par eleito?



Dizes a ti que não os há,

Que procuras por aqui, por acolá...



Todavia, é tudo igual

Em todo o terreiro

Se não principiares por te mudar, radical,

A ti primeiro.





Regras



As regras têm relevância,

Mormente quando ponderadas,

Decerto.

Mas as regras não têm importância

Quando erradas.

Certo?





Ponto



A felicidade é capaz

De não ser o ponto iridescente

Que o tempo abandonou lá para trás.

É o que adias

Aqui à nossa frente

Todos os dias.





Repara



Não te definas

Pelo que não queres.

Repara bem para onde te inclinas

Em teus afazeres,

As ladeiras finas

Do que te fizer correr.

Define-te então

Pelo chão

Do que adoras empreender.



Não temos de ser conduzidos

Ao futuro,

Podemos escolher, decididos,

O caminho, o que inauguro.



Não nos perdemos

De amores.

Vás lá tu por onde fores,

Os nossos cumes supernos

São que queremos

De amor perder-nos.





Apenas



Na vida, nada

Deve ser temido.

Apenas, de empreitada,

Compreendido:

- Esvai-se o medo

Ao desvendar o segredo.





Grande



Não era grande coisa, talvez.

Mas alturas há-de haver assim

Em que uma coisinha de nada, de vez

Ajuda, enfim.



Depois, por fim,

Transpomos montanhas

Tamanhas, tamanhas!





Bitola



Agi, naquele momento,

Como julguei que estaria certo:

É a única bitola, em cada intento,

Com que um homem desperto

Pode avaliar, na justa medida,

A própria vida.





Basta



Não basta acenar,

Palmas bater:

Para bem governar,

É bem conhecer.



E atentar bem no acervo

Do que nos ferra:

O dinheiro é sempre o nervo

Da guerra.





Afastar



Convém

Afastar de nós

O que causar dano após.



E ao que nos estorva o bem

E fará mal

Rejeitar é natural.



É o pendor

Que vai tornando, principal,

O mundo melhor.





Pior



Pior ladrão e mais subtil

É o doméstico ladrão:

Rouba os ingénuos aos mil...

E os prevenidos onde andarão?



Como no mundo, porém,

Passar bem,

Se não confia

Ninguém em ninguém

Nem ninguém de ninguém se fia?





Esforço



O amor, que esforço danado

Para todos os dias o conquistar,

Sempre inesperado

Em cada evento, ao calhar!

Sempre apanhado de surpresa

Da vida à mesa.





Moribundo



Ao que chega

O moribundo leão!

Todo o pontapé lhe pega

E ninguém lhe dá a mão,

Seja besta que sê-lo adrega

Ou homem então.





Trepar



Só quando não consigo

Trepar ao céu sozinho

É que preciso do amigo

A me dar a mão no caminho.



A partir do momento

Em que vou até ao céu,

O intermediário é travamento,

É de tapar um véu.



Aqui toda a instituição

Perde a magia,

Devém traição,

De escravos apologia.



É por onde fracassa

Toda e qualquer religião,

O pecado que mais grassa,

Todo a tornando uma superstição.



Igreja, confissão, ideologia...

- Falham todas em concreto

A única meta que as justificaria:

Criar o homem livre por completo.



Aprenderem a morrer

Para cada um Ser.





Distorce



O passado

Distorce a realidade,

Às vezes, de tão pesado:

Fico preso atrás da grade,

Na infância.

- Então e esta minha ânsia?...





Dentro



É preciso resgatar

A criança em sofrimento

Que dentro de mim chorar

Nalgum momento,

Mudando o entendimento



Do que viveu.

Uma vez liberta,

Invocar a memória do que morreu

É o sinal para avançar, pela certa,

Sem ficar mais preso pelo horror

Da teia da dor.



Evocar a infância com raiva, revolta,

Aumenta-lhe a carga negativa:

Nunca mais fico à solta

Para a vida viva.





Quanta



Raiva, revolta, prepotência,

Quanta violência!



Vitimização,

Culpa, autodestruição...



Quanta energia negativa!

E então que é da vida viva?



Quem a tudo isto irá dar a volta

Em teu privado patamar

De modo a inviabilizar

Teu privado inferno à solta?



Se amanhã houver uma guerra mundial,

É se por demais alta

Houver a falta

Deste teu sinal.





Desconectar



Quem se desconectar de seu ideal,

Do mais elevado,

Fica dos mais pendurado:

Que pensam de mim, afinal?



Precisa então de agradar

Para que o aceitem,

Terão de o aprovar,

Que o enfeitem,



Boneco de pé,

A fingir quem é.



Nunca mais encontrará

Dele a fonte original

Que lhe traria o maná

Espiritual:

O carinho

Da missão e do caminho.



Só aquele que por dentro trepa aos montes

Encontra as fontes.





Estragar



Não faças para a vida

Tantos planos,

Não vás, em seguida,

Na ilusão de teus enganos,

Ora aqui, ora ali,

Estragar os planos

Que a vida tem para ti.





Pavor



Quantas camadas de defesa

Para não ter de pôr-me em causa!

Que pavor descobrir que a vida ilesa

É, afinal, aquilo que a morte me causa!



Descobrir que obrigatoriamente

Terei de mudar,

Que meu íntimo, de repente,

Com tanta falta de ar,

À força de tentar ingloriamente subir,

Está prestes a explodir.





Durante



Durante a vida inteira

Nos outros me centrei,

Criança eterna que se abeira

Da lei.



Teu amigo comeu tudo,

Como ele é lindo!

Anda, veste o sobretudo

Para como ele ir indo!...”



Copiar o modelo

Supostamente vencedor,

Nem que me arranque o pêlo

De dor.



A emoção não conta,

Importa é o que se vê,

Fácil de medir, de ponta a ponta,

De copiarmos até

Sem dar fé.



E o adulto mantém

O comportamento

Que o tem

Vida fora, a todo o momento,

Refém.



Todo o esforço é de corresponder

À expectativa

Que outrem sobre mim tiver,

Obsessiva.



Em nome do que está certo,

Do que deve acontecer,

Cada vez é maior meu íntimo deserto

De ser.





Amalgamado



Sou o amalgamado pedaço

De mil saltos no plinto,

Sou o que faço

Do que sinto.



E a ironia

É que o meu fito

É a magia

Do Infinito.



Meu mais insondável grito

É de alegria.

É o meu cume em que acredito

E que busco dia a dia.



Aí sou eu e me concito

Para além da fantasia.



A correr desato:

Serei eu a trepar-me em acto.





Patim



Um degrau

É o do que julgas que tens de fazer.

Não é mau,

Mas há o patim onde trepar, ao crescer.



Aquele em que acreditas

Que tens de obrar outras fitas.



Trepando a este apogeu

Ficas mais perto do céu.



A fé com a gratidão e o amor

Mergulham na fundura do interior:



Da fonte original de mim

Me aproximo neste pendor, assim.



Antes de fé no Céu ou em Deus,

É fé na vida,

Crer que ela é inteligente no meio dos escarcéus

E da treva

E sabe, discreta e comedida,

Para onde me leva.



Leva-me a navegar

Até ao melhor porto

De modo a que mais vida eu venha a retirar

De quanto em mim é morto.



A partir de onde falto

Em meu deserto,

Indo cada vez mais alto,

Cada vez mais perto.



Executar,

Não o que cuidas ser o melhor,

Não o que outrem diz como o melhor para actuar,

Nem o que como melhor sentires em teu interior,

Mas o que como melhor és por ti levado a acreditar.



Operando aquilo em que profundamente acreditas

Incarnas o espírito na matéria,

És a energia que concitas

Sidérea.





Eterno



O que pensas não és, em tua fundura,

Nem o que sentes te define.

O que eterno te depura

É o que te destine.



É a tua fé

No que podes vir a ser

Que mais e mais te põe ao pé

De a ti te colher.



Acreditar que podes

Facilitar a escolha

Do caminho a que acodes,

Por mais difícil que te seja a recolha.



Se crês que és generoso,

Quando falhas

Sentes-te pesaroso,

Não és tu quem caminha naquelas calhas.



Sentes-te fora de ti.

A partir daí



Farás tudo quanto apraza

Para voltar para casa.



Só então em paz me concentro:

- Voltei para dentro!





Escolha



Quando escolhes,

A escolha tem de ser completa:

Depois do mundo que acolhes,

Acolher-te a ti é tua meta.



Quem és parte de dentro,

Não podes para outrem ser

O que não és contigo:

Teu centro

É que te há-de oferecer

Teu porto de abrigo.



Responsabilizas-te pelas escolhas,

Por teus actos,

Pelo que és.

És a molinha com que molhas

A salada quotidiana dos pratos,

Do deserto ao invés.



Deixas um rasto de luz

A luzir nas praças

Que é o que traduz

O trilho das pegadas que retraças.



Terás de escolher

Cada instante de vida,

Atento ao que te fizer perder

A fé lá envolvida.



Se perderes a fé em ti,

No que acreditas que és,

Permeabilizas-te aí

A todos os intrusos a invadir-te de través.





Intruso



O intruso mais vulgar

É doutrem a exigência,

Alguém a julgar

Saber

Com cristalina evidência,

O que deverás fazer,

O que deverias ser,

Que escolhas operar deverias

E como viver teus dias.



Perdida a fé em quem és,

Perdes a aprovação interna,

A alegria de seres tu da cabeça aos pés,

Apesar de quem tentar passar-te a perna.



Então requeres doutrem a aprovação,

Já não ages pelo que acreditas ser

Mas pelo que os outros de ti aguardarão.

Queres de fora a aceitação,

Não o que de dentro de ti vier.



Se os outros te ajudarem a não sair de ti,

Jamais te devolverão

Aquela aceitação:

- É aquilo de que menos precisarás aí.





Atrás



Quem doutrem anda atrás da aprovação

Prescindindo

Da própria aceitação

Vai-se lentamente destruindo.



Perder a noção

De quem acreditas ser

É a perdição:

Doutrem ficarás a depender.



Perdida a fonte original de ti,

Mais te afastas de quem és,

Mais precisas de aprovação doutrem aí,

Mais rejeitado findas a seus pés.



Tuas energias

Esvazias:

Não és mais tu, não és,

Em teus dias.





Vitimização



A vitimização:

Crês que não fizeste nada

Para atrair tão nefanda situação,

Os mais é que te dão a canelada.



O mundo, porém, é espelho.

Responde ao sinal enviado

De teu acto pelo destrambelho:

O que agiste nalgum ponto andou errado.



Tua palavra, sobretudo,

Anota, afinal, o que é:

- Eu faço tudo bem, tudo,

E ninguém vê...



Operas para alguém ver,

Não para ser:



Um desvio de nada

E, contudo, como andas fora da estrada!





Conforme



Que alegria a do caminho

Conforme a teu íntimo pendor!


E quanta dor

O caminho desconforme

Inferniza enorme

No cadinho!



Ausculta-te bem, pois, na escolha,

Ou inda findarás com a má recolha.





Quantas



Quantas vezes fui quem não era,

Quantas fui quem outrem quis que eu fosse!

Vivi doutrem a quimera,

De mim perdida a posse.



Caminho num mundo paralelo

Sem com o meu ter qualquer elo.



Não moro ali,

Moro sei lá bem onde nasci.



Onde é que vivo

Se de mim me esquivo?





Falam



A via da felicidade

Vem-nos dos imos:

Falam pelo que sentimos

Na intimidade.



Se ouvires teu coração

Entraste com teu ser

Em comunhão,

Unido a ti, ao porvir, ao Universo.

Contigo conviver,

Terso,



Traduz

Gradualmente toda a tua luz,



Não apenas um pedaço

Na terra perdido num qualquer perdido abraço.







Só sente impotência

Quem quer o poder,

Que, se o não quiser,

Como irá sentir-lhe a ausência?



Só quem depende

Sente a falta.

Quem livre vive e se entende

Que lhe importa uma ribalta?



Quando prescindo

Duma necessidade qualquer,

O terreno fica limpo, fica lindo,

Sem mais entraves por resolver.



Enquanto o não limpo, contudo,

A mesma negativa emoção,

Em qualquer conjuntura, amiúdo,

Me explode no coração



Activo a dor

Até que entenda:

Enquanto me não livrar de tal pendor,

Mantém-se de modo que sempre me ofenda.



Acolho a dor de prescindir,

Entro em luto,

Choro, todo o vazio ao sentir,

Limpo tudo aquilo de meu reduto.



- Fico pronto a acolher

Tudo então que o porvir me oferecer.





Fraco



Escolhendo não alimentar

O personagem que não és tu mas vivencias,

Mais fraco ele irá ficar,

Pronto a ir-se embora

De cada hora

De teus dias.





Vives



Vives de poder, controlo, vitimização,

Culpa, raiva, exigência,

Apego a um qualquer pendor do chão,

Resistência,

Mas não crês que, em tuas horas boas,

Sejas qualquer destas pessoas.



Crês que és melhor

Que estas vidas

Destruídas.

Tens nelas presente

Um palor

De alma doente.



Escolhe mudar,

Segue o vento

De teu mais profundo

E fecundo

Sentimento.



Preenche contigo o teu lugar,

Sem nenhum simulacro na viagem

A fazer passar por ti doutrem a imagem.





Herança



Como libertar-me

Desta herança do passado,

A toda a hora aqui a atar-me,

Tal se eu fora tal legado?



Terei de a sério ver-me a mim

E quanto disto daquilo, ao fim.



Terei de pegar em mim com o cuidado

De quem toma ao colo um bebé enjeitado.



E dar-me o colo com a ternura

Que um amor infindo configura.





Travão



Cada dor incompreendida

Herdada de antanho

É um travão na charrua da leira revolvida

Que hoje amanho.



Terei de a compreender

Para a desactivar,

Reajustando o rumo a empreender

Conforme a libertação por mim dentro me lavrar.





Luz



Tudo farás

Ao teu alcance

Para que a luz de teu íntimo, veraz,

Não se apague, antes se lance

A alimentar, em frente ao ir,

Todo o porvir.





Fugir



Para fugir à dor racionalizas:

Isto não tem lógica nenhuma”,

Agora é que urge ser mais forte...”

Deslizas,

Em suma,

Para dentro de teu forte,

Sem jamais trocar de norte.



Ou diminuis da dor o labéu:

Há tanto problema pior que o meu!”



Ou para o meio dos mais tentas escapar,

Não vás ter de te encarar:



Agora é que é de ter um namorado!”,

Sai! De que serve ficares aí parado?”



Quando o caminho

Começa

Em deixar doer o terreno maninho

Para passar depressa.



Aos poucos, já não é preciso controlar

Tanto

E finda o pranto,

Já me posso de novo entregar:

Olho em frente e um novo caminho

É o que adivinho.





Mudei



Quem cuidam que são,

Com quem pensam que estão a falar?”

- Assim não mudei ainda de padrão,

Firme no inferno de meu lugar.



Se escolher a impotência,

Humilde a vivenciá-la,

Isto leva à vivência

Doutra fala.



Minha escolha é de quebrar

O círculo daquela repetição

Que me eterniza a ter de suportar

A perdição.



Liberto dele,

Sofrendo o vazio,

Já nada me impele

Ao mesmo desvio.



Aí é que, lentamente,

Vislumbro uma luz no trilho em frente.





Cumprir



Temos de cumprir a nossa parte:

Aí principia o caminho

Com arte

De ninho

Donde o ovo, a seguir,

Fará esvoaçar o porvir.





Muda



Se, quando mudei,

Tudo redundou em sofrimento

E foi isto que de antanho herdei,

Será que é da muda a lei

Ou antes do modo como, no momento,

Actuei?



Se mudar a maneira,

O efeito será, de repente,

Tanto quanto do desejável se abeira,

Diferente.



Mudo a forma como encaro a muda

E despego

De quanto me gruda

A este desassossego.



Ultrapasso a limitação

E a bênção de quem se transcende

Terei à mão

Que ao porvir deste modo se rende.





Comunicar



Medo de comunicar

Quem sou,

Não me vá contrariar

O voo.



Timidez,

Receio...

Sei lá bem de que entremez

Me veio!



De bem longe,

Decerto,

Que me tolhe, feito monge

Inábil no deserto.



Carreou-me mentira,

Frustração,

Traição,

Quando o inverso tinha em mira?



Não foi, porém, por comunicar,

Mas do modo de o activar.



Todo

O negativo,

Se lhe mudar o modo,

Devirá positivo.



Modifico

A forma

Como falo, escrevo ou comunico,

Busco outra norma,

Atento a benéficos

Efeitos.

Anularei então os maléficos

A que meus modos andaram atreitos.



Encaro o medo

Que lentamente se desfaz

Com o novo credo

Que gradualmente por dentro me refaz.

E que doravante, desde bem cedo,

Finalmente me satisfaz.





Abandono



Temo o abandono,

Com medo de ser magoado,

Cão sem dono

Perdido no prado.



Aparente

Bloco de gelo,

Sou meramente

A criança carente,

Assustada, que me enrolo

Da vida no novelo,

Em busca dum pouco de colo.



É um medo inconsciente

De me fragilizar,

De me abrir emocionalmente,

Dependente,

Pois de certeza me irão voltar

(E será toda a gente)

A magoar.



Se sofri,

Porém,

É do modo como agi,

Tornando-me refém.



Se eu for auto-suficiente

Emocional,

Por mais que dependa não ficarei dependente,

Em meu íntimo, afinal.



Então,

De fragilizar-me

A solução

É a de entregar-me,

Aceitando à partida

Doutrem seja qual for depois a medida.



Por mais que doa

Já me não magoa:



Serei eu dentro de mim

A destinar-me, por fim.





Mostrar



Medo de exercer-me,

De mostrar quem sou:

Eis como, aqui hoje inerme,

Minha melodia já não ecoo.



Escamoteio

Minha identidade,

Tal o receio

Que me invade.



Consciente inferioridade

Ou inconsciente,

Compenso-me fora de mim:

Noutrem que a vida me apresente;

No estatuto social,

Fingido jardim;

De bens no acúmulo material...



É como se noutrem pusera a expectativa

De modo que por mim já não viva.



Ora, à herança de mal

Sentir-me, ao ser quem sou,

Corresponde, afinal,

A prisão onde este medo doravante me encurralou.



Terei de o perder,

Acolhendo-o com o terror que tiver,



Conferir a limitação que me impõe,

Inventar a alternativa de que meu eu inda dispõe



E ali, sem hesitar,

Ser eu a me afirmar.



- Então, finalmente, decerto,

De vez me liberto.





Perfeccionista



Se eu for um perfeccionista,

É tal o medo de errar

Que em mim exista,

Que em mim para mim não há lugar.



Tanto me inculpo pelo erro

Que, mesmo sem ele,

Já dentro de minha pele

Emperro.



Ora, só me torno mais perfeito

Se, na medida em que erro,

Tomar a peito

Aprender com o erro



E, em conformidade, mudar

Para nunca mais errar.



O importante é como ao erro reagir:

Se mudar o modo de o olhar

E o valorar

Como alavanca para ao cume subir,



O efeito que arquivo

É alegria de ser vivo.



A vida é maior

Que a matéria de meu suor.



Tudo o que ocorre cá em baixo,

Por maior que seja a relevância

Onde em meu desvario o encaixo,

Não tem deveras nenhuma importância.





Entregar



Quem tem medo de se entregar,

Tem medo de acabar sozinho,

A vida tornada um lugar

Maninho.



Se amei desequilibrado,

Perdi acaso quem tiver amado



E reagi mal à perda.

O que daqui alguém herda



É o vazio que tem

Da falta de alguém.



O medo da entrega

É o medo de perder a nossa refrega.



O problema não é de entrega mas de como me entreguei

E de como reagi ao ser abandonado.

Se me entrego sem noutrem me projectar,

Sabendo que a lei

É que tudo um dia vai terminar

De vez consumado,

Tendo eu de aprender

Comigo finalmente a viver,

Então o resultado,

Por mais que me doa em carne viva,

É uma vida positiva.



O sossego

É, afinal, da forma como me entrego.





Perder



Quem tem medo de perder

Busca o controlo,

Da vida o intérmino rolo

Nas mãos a tentar reter.

Controlarão de tantas coisas as sequelas

Que acabarão por perdê-las.



Cuidam manipular a vida

Mas ela é maior que toda a medida.



O problema não é da perda mas da sequela

De como reagir a ela:



O problema é o fascínio

Da obsessão, do controlo,

Do domínio

Em que me atolo.



Se reagir de modo diferente,

Vendo que o que a vida me retira

É que já não era meu, mas de toda a gente,

E outra coisa para me dar tem em mira,

Então o resultado

É que até a própria perda será de meu agrado.





Rejeitado



Por medo de não ser aceite,

Rejeitado pela comunidade,

Reajusto meu enfeite

De identidade.



Ou me torno eremita

Ou luto a vida inteira

Na maldita

Esteira

Do que almejo

E jamais vejo...



Até que um dia descobrirei, por fim,

Que sou eu que me rejeito a mim.



A partir do momento em que me aceito

Tudo então muda de jeito.



É meu medo do desastre

Que faz com que não me encastre.



Então uma comunidade nova

Que eu respeito e me respeita

O sonho me aprova

Que me aleita.



Sem prepotência

Nem abuso de poder

Partilho meu voto de excelência

De vir a ser.





Temendo



Temendo que o grupo me exclua,

Tenho medo de ser diferente,

Já não sou livre de trilhar a minha rua,

De ir em frente.



Por timidez, calo,

Ou, com arrogância, falo:



Por qualquer das vias

Já não me integro, são manias.



É tal se a liderança

Retirara a cada qual a liberdade,

A autenticidade

Do que no íntimo alcança.



Prevalece o medo

De ser autêntico no grupo,

De se ser quem se é, no segredo

Do imo que ocupo.



Vem aí do grupo o castigo,

Em lugar do abrigo.



Ora, a questão

Não é de expor-me,

É a dependência enorme

Que do grupo tem meu coração,

A emocional ausência

De auto-suficiência.



Se me partilhar independente,

Acolhendo em paz o que o grupo queira

Retribuir-me (bom ou mau) de presente,

A minha jeira, doravante positiva,

Só fará que o grupo viva.

E que eu me alegre

E mais e mais no grupo me integre.





Escolha



Se a escolha de teu presente

É no teu passado assente



E te gerou alegria,

Então ganhaste o teu dia,



Teu porvir

Irá sorrir.



Se, porém, gerou tristeza

E fracasso

E nela te manténs como uma presa

No laço,



Então não terás porvir,

Aprisiona-lo sem devir.



Acorrenta-lo à prisão

Em vez de libertares, com a vénia devida,

O chão

De tua vida.





Acolhe



Acolhe o terror

Que te aperta o peito,

A dor

Sem jeito

Enfrenta,

Sem mais fuga,

E tenta

Uma alternativa que de vez a derruba.



Então, o passo estuga

Na corrida

Que te inaugura a festa na vida.



Nesta cuba

Fermentaste a saída

Para a liberdade

Que a terra invade.



E o céu a vir à terra, em seguida,

Gradualmente isto persuade.





Reverter



Reverter uma doença?

Só mudando de atitude,

Quebrando a repetitiva presença

De aleijões de comportamento

A que me grude

A cada momento.



Acolher a inspiração

Duma outra ida

Que arroteie um outro chão

E mude a vida.



Se foram padrões

Que geraram a doença,

Mantidos iguais senões,

Igual é a sentença.



Uma vez, porém, do barco a quilha

Mudada,

Inauguro nova trilha

Na caminhada.

E a ilha

A que me ruma a jangada

Brilha,

De saúde iluminada.





Precisar



Doença

Não revertida

Se calhar é uma sentença

A precisar de ser ouvida:

- Que presença

Há de ti em tua vida?

A que parte dás licença

De ser seguida?

Quanto de alheio em ti há que te vença

Na surtida?



- A correcção, uma vez feita,

Se calhar cura a maleita.





Abre-te



Abre-te ao que vier

De teu imo,

Que a energia não tem nenhuma forma sequer,

Irá modelar-se do modo mais propício

Ao início

Dum trilho teu para o cimo.





Importa



Ninguém escolhe por mim, decerto.

Que importa o que outrem disse

Ou que julga que está certo?

É sempre uma sandice

Se não for eu, no meu concerto,

Que ali acerto.

Se não for eu que ali vou,

Que ali sou

De mim mais perto.





Aprende



Acolhe o que da fundura te vier

E aprende a relacionar-te.

Para compreender

O que vier dar-te,



Aprende a senti-lo:

Ao Céu não é de ouvi-lo,

Mas de o sentir e entender antes das palavras,

Que é deste modo

Que vai semeando nossas lavras

Rumo ao Todo.





Plano



A vida tem um plano para mim

Pejado de sementes.

Se eu ajudar a jangada, assim,

A fluir da vida nas correntes,

Rapidamente com ela me combino

E atingirei o destino.



Impõe-me



A vida impõe-me o que não quero.

Quando o acolho

No luto da dor que me provoca,

Mudo o padrão inteiro

Aonde vida além me recolho,

Enclausurado em minha toca.



Encetarei de vida um novo pendor

Sem violência interior.



Se o não aceitar, fico

A lutar contra a vida,

Nunca mais debico

Saudável comida.



Quererei um porvir viciado

De poder, controlo, demissão,

Todo o padrão

Maléfico do passado.



Doutrem nunca atingirei

Nem aceitação, nem controlo, nem poder

Que, aliás, sei

Que poderei ter.

Só que serão o final sumo

Do outro rumo.



Se por estoutro for, então atrás

Atingirei, por fim, a paz.



Quando acolho vivenciar ser rejeitado

Sem poder nem controlo,

Quando deixo a dor doer, esvaziado,

Cristalino e sem dolo,

Sofro o luto,

Mudo de postura:

Atinjo a fundura

De mim no que tiver de impoluto.



Meu imo vive apenas dum pendor:

Só quer amor.



Ao livrar-me do porvir

Que para mim não for,

Mais rápido vai vir

O verdadeiro fim

Que for para mim

E tudo será melhor.



Não vale a pena lutar contra a vida,

Ela é maior

Que nós

E só nos pretende numa passada bem dirigida,

Após.



Muito pode doer

Quebrar ancestrais padrões!

Mas de que vale viver

Acorrentado apenas a senões?





Queimado



Querer sempre mais do mesmo,

Quando de mim no passado

Fiz um queimado torresmo,

É um porvir atribulado.



Quando me libertarei

Do mal, do mal entranhado

Em que, de tão repetido,

Consumido,

Me encarcerei?





Liberto



Se o que eu quiser

Não for para mim,

E eu este facto acolher

Em meu íntimo, por fim,

Do vazio sofro a dor,

O luto que calhar-me impor,

Mas liberto meu bloqueado imo

Para poder trepar, por outra ladeira, até ao cimo.





Percas



Não percas tempo a combater

O mal:

É o sinal

Que o irá fortalecer.

Ganha tempo tempo além:

Constrói de raiz o bem.





Adorar



Que tal um porvir

Em que sente

O que mais adorar sentir

Eternamente presente?



É só emoção e pensamento

Naquilo centrar

A todo o momento

E reparar

Como tudo gradualmente vai ir indo ao seu lugar.



O futuro

Inauguro



Assim, de mansinho,

A caminhar desde já no meu caminho.





Atrair



Vais atrair do mundo uma energia

Igual à que emanas:

Se for a alegria,

É alegria, não te enganas.



Portanto, não te prendas à tristeza

Que te pesa,



Nem para a recusar,

Que então mais a irás incentivar.



Não digas nunca não a nada

Ou a matéria de tal “não” vai recobrir-te a jornada,



Mas ao inverso rumo e fito diz o sim

E vais vê-lo a germinar-te assim.



Quando o melhor teu pensamento fita,

Melhor vida concita.





Abraçar



Se cada qual abraçar a mudança,

Que futuro a humanidade

Alcança,

Liberta do medo e da ansiedade!



Mudar por dentro e depois por fora,

Conforme a feliz plenitude

Implora

Que permanente quenquer mude.





Atrairás



Atrairás abundância

Se te desfocares, a seguir,

Da abundância que cuidas, em ânsia,

Com ganância,

Poder atrair.



(Esta irá vir

Ao teu sinal

Mas só te fará mal.)



Foca-te no acto certo

Que te requer a interioridade:

Então, decerto,

Verás que quantidade!





Mudar



A vida pode ser aprazível,

É só mudar mentalidade e atitude

Pelo registo aferível

Que a teu imo te grude.



Abre o coração,

Trepa a teu cimo onde aflorar o Céu,

Semeia-o pelo chão,

Partilha quanto é teu...



- E quão distantes

Ficamos de quão tristes éramos antes!





Atitude



Resolve teus problemas

Com a atitude eticamente mais elevada

De teus lemas

Que por ti seja vislumbrada.



Para que amanhã o efeito

Seja tão alto

Que configure um salto

De íntima paz nas pedras de teu leito.



Que, desfeitos os problemas,

Nunca mais tremas,

Nem temas.



Não tens de sair de ti ao fazer do imo a escolha,

Não tens de sair de ti ao acolher o que depois recolha.



Deixas de atrair problemas,

Tanta perda e confusão.

Mudaste de temas,

Mudaste os mundos que até ti gradualmente chegarão.





Conduzir



Não fazer nada,

Deixar-me conduzir da fundura do imo,

Donde o além me grada

A atrair-me ao cimo,

Que difícil parada!



Porém, quando o consigo,

Quanta luz passa

Pelo meu postigo

De graça!



E que alegria

Na jornada

Iluminada

De cada dia!





Eco



A vida apenas me dá

O que já tenho,

Eco dacolá

Donde até mim venho.



Se viver zangado,

Em permanente conflito,

Vem-me daquele lado

Multiplicado

O atrito.



Nunca identifico a sequela

Como proveniente de mim,

É sempre a partir doutrem que creio que ela

Visa esgatanhar o meu jardim.



Assim não me transmudo nunca mais

E então provoco vendavais



De conflitos,

Até que mude meus quesitos.



Se enfrentar a conjuntura

Despreocupado e feliz,

Findarei saindo dela com lisura,

Toda inteira resolvida de raiz.



Olha em redor,

Vê o que andas a atrair,

Repara em que é que em teu interior

O faz emergir.



Vê o que tens de transformar

Para o ciclo quebrar.



Repara como, sem qualquer desdoiro,

Acabas de ganhar

Um tesoiro.



Agradece ao Universo

E a quem te proporcionou

Tão terso

Voo.



A gratidão

É que, livrando-me do peso meu,

Me eleva gradualmente do chão

Rumo ao Céu.





Operar



Quando alguém me agredir,

No que eu for me mantenho,

No que aqui, nesta vida, operar venho,

Sem de mim divergir.

Não tombarei assim

À baixeza que alguém desencadear sobre mim.



Se retrucar na mesma moeda

A quem vive em perene queda,



Desisto de mim,

Tombando no abismo, sem fim.



Quanto mais no melhor de mim me mantiver,

Mais forte findarei por ser,



Mais difícil é de meu melhor sair

E me trair.



Mantenho-me no meu melhor

Levando-me a agir

No que mais do fundo me atrair,

Seja lá o que for.



E velando por ter a mente aberta

Sem nunca nem ninguém julgar:

Não sou Deus, pela certa,

Nem tenho nenhum altar.



Aliás, a diversidade

É o maior dom da humanidade:



Pela mútua contradição

Obriga a erguer-me de meu cómodo torrão



Para encontrar complementaridade

Ou novas sínteses de caminho

A desbravar, deslumbrado,

De mansinho,

Por todo o lado.



E trabalhar, em tudo em que aposto,

Naquilo de que gosto,



Senão, perdido do lume que me guia,

Nunca mais a mim próprio me encontraria.



Então, de vez sem voltar a casa,

Como de minha lareira acenderia a brasa?



Cada escolha que meu imo assume

É que reacende e me mantém o lume.





Deixa



Deixa doer

Para que passe depressa.

Não fujas do que te fizer sofrer,

Antes começa

A empreender, de seguida,

Quanto sarar de vez a ferida.



Fica triste com o que triste for,

Faz o luto de cada dor,



Sem fuga,

Antes madruga



Para escapar pela viela

Que de vez te livre de tal sequela.



Sem isto

Farás um bloqueio,

Um quisto

Cada vez mais cheio,



Até que um dia

Por dentro de ti rebentaria,

Rasgando-te ao meio.



É que em todos os eventos

Cultivarás dele os efeitos peçonhentos,



Sempre a repetir

A reprodução dele a seguir.



Se não mudares o padrão a que a dor te inclina,

Esta há-de ser a tua sina.



A não ser que por dentro mudes

E dali desgrudes,



Com a rota alternativa

De atitudes, actos e vida que a tudo aquilo,

Definitiva,

Se esquiva.



Se tiver medo e meu medo não encaro,

Com mais medo me deparo

E mais medo vida fora

Me preparo

Sem demora.



Quanto mais, ao invés, me fragilizo

E com ele me confronto,

Melhor ajuízo

Qual da situação o ponto,

Qual o definitivo meio

Para desfazer de vez o bloqueio.



Quem não chora

Também não ri,

Mora

Ali.



Se a dor antiga

Desbloquear de raiz,

Mais que provável é que então consiga

Finalmente ir sendo feliz.



Irei conseguir

A vida rir.



E tudo há-de rir, em riso à solta,

À minha volta.





Julgues



Nunca julgues ninguém,

Analisa

A rota

Que ante ti quenquer diviniza

Ou diaboliza

E vê se te convém,

Na cota

De bem

Que nela se protagoniza

E por ela alguém giza.



Aí formas opinião

Para o que retraçares pelo teu chão.



Irás por ela

Ou não,

Conforme tua tabela

De voar pela amplidão.



Sem julgar ninguém de certo

Ou errado,

De agir premeditado

Ou a descoberto,

De ter, na ocasião,

Boa ou má intenção...



Só julgas se queres para ti tal roteiro

Ou não,

Na busca em questão

De seres de ti próprio pioneiro.



Outrem julgar

É interferir dele na escolha,

A tentá-lo modificar,

O que fará que o livre alvedrio se lhe encolha,

Cada vez mais larvar.



A palavra positiva,

Não intentando à escolha modificá-la,

Não é uma tentativa

De a outrem roubá-la,

Pela minha trocá-la,

Alheando-a, definitiva,

Do íntimo de alguém que teria de tomá-la.



Assim, o positivo incremento,

Não é um julgamento.



Quando restringes alguém,

Pretendes que se transforme.

O julgamento escondido que o mantém

Aqui refém,

É doravante enorme.



É tentares, noutra pele,

Escolher por ele.



Ora, ninguém é autorizado

A escolher por nós.

Só no erro aprendemos a destrinçar certo de errado,

Dos eventos no intrincado retrós.



Se o correcto eu sempre fizera

Na teia que meu trilho junca,

Então nunca aprendera,

Nunca.





Culpa



A culpa é o julgamento

Em que a mim me condeno,

Cuidando, a cada momento,

Que deveria ter escolhido

Outro rumo, outro sentido

Para as águas de regadio de meu dreno.



Ora, a minha escolha

Provém do que de melhor senti

Como ideal de mim a que me acolha

No momento em que escolhi.



Com mais demora

Outra deviria agora.



Naquela altura

Não vislumbravas mais lonjura

No horizonte da decisão.

Que outra, pois, apurarias

Naqueles dias

De então?



Nem te culpes de não teres

Vislumbrado mais altura

Em tudo o que te apura

O cume de seres.



Teu olhar vislumbra apenas

O que teu passado,

Herdado

E por ti reconstruído,

Permite capturar das cenas

Que houveres vivido.

Não tens outra alternativa,

Esta é sempre a trilha esquiva

Que terás, fatalmente,

Pela frente.



Não existe, portanto,

A culpa que existe.

É um recanto

Que te suga no pranto

O porvir que te aliste.



A culpa é venenosa,

Corrói,

É uma ventosa

Que dói,

Sugando para trás

Quem a ela se afaz.



Obcecado com a culpa

Ninguém avança,

Nenhum novo fito alcança,

Trancado por tal desculpa.



Estéril, termina

Nela própria, por sina.



Aceita o erro e aprende com ele,

Responsabiliza-te por teu ideal,

Pela escolha que te impele

De ti para o tamanho final.



Compromete-te a escolher

O cume de teu cerro,

Para nunca mais cometer

O mesmo erro.



Quem se culpa não trepa

De si pela encosta,

Na vertente prisioneiro das gavinhas da cepa

De que não gosta.



Há-de errar outras vezes

E voltar a culpar-se

E dos erros soezes

Finda a viciar-se.



Quem se responsabiliza

E visa



O cimo,

Na visão encontra arrimo



E, ao querer dele próprio o melhor,

Só isto já o eleva pelo pendor.



Como convém,

Sempre mais e mais além.





Raiva



A raiva é negativa,

De quão explosiva



Nos lesa,

E a raiva é uma filha da tristeza:



Como algo nos entristeceu,

Então tudo explodiu.



Por medo de ficarmos tristes,

De acolher a dor em busca de despistes,



Então jogamos à defesa,

O mundo inteiro tornando nossa presa.



E ataco,

Seja o que for estilhaçando em caco.



Bastaria gerir, afinal, a dor

Sofrê-la no que dói,

Senão, seja o que for,

Por dentro de mim eternamente remói.



A tristeza,

De meu íntimo ao não a libertar,

Acabo por não a drenar,

Fica dentro presa.



E, a qualquer pretexto, a qualquer,

Ir-se-á de novo revolver,



Aqui ou acolá

Explodirá.



É a vida a dar-me oportunidade

De a resolver.

Se a acolher,

Por muito que desagrade,

Se a deixar doer,



Por muito que seja o diabo à solta,

Findarei por dar-lhe a volta.



Detecto-lhe a origem

E, por maior que seja a vertigem,



Já não a temo nem me ilude.

Reajusto minha atitude



A desarmar a armadilha

De que ela é filha.



Depois nunca mais

Habitará nos meus quintais.



Poderei em paz voar

Por minha paisagem de luar.





Dá-me



O Universo não me dá o que eu quiser,

Dá-me aquilo de que eu precisar.

Meu ego leva-me a querer

E a julgar

Que, se um evento qualquer

Se concretizar,

Todo o problema se irá resolver.



Garantir-me a sobrevivência

É proteger-me da dor:

Para toda a pendência

Uma saída a propor.



E de qualquer dilema a saída

É a que me mantenha a vida:



Meu ego não tem defronte

Nenhum outro horizonte.



Contudo, nada é à toa:

Tudo é para que não doa.



Ora, a vida tem, no cadinho,

Da Infinidade o caminho.



É para que eu evolua

Que no céu me aponta a Lua.



Então, em meu coração,

Vivo a eterna colisão.



Se é pelo aguilhão da dor

Que me ponho a caminho,

É o que os Céus me irão impor

Para eu desbravar meu terreno maninho.



E logo meu ego

Irá contrapor

Que me afundo no pego

Se não fugir derredor.



Como resolver a contradição

De andar comigo em contramão?



Que não sei, no fundo, aceito

O que melhor me convém.

Abro o peito

Ao que, inesperado, do mundo provém.



A vida surda e muda,

Sem lábia,

É, afinal, quem me acuda,

Sábia.



Encaro a dor e o medo

Sem lhe dar nem me dar escapatória.

Vasculho o segredo

Que arrastarem na memória.



Doa o que doer,

Trema o que tremer,

É para eu o discernir,

Colher

E extrair,

Dente furado

Do passado

A vida aqui a me tolher.



Reconverto uma atitude,

Mudo o meu comportamento:

Estanco de vez o açude

Do tormento.



Venham, pois, os bodos

Do que for melhor para todos.



E, de vez, parar

De pedinchar



Com missas, novenas, promessas

De pedidos às avessas:



Em vez de trepar de Deus à coragem,

Faço ali sempre chantagem:



Se eu rezar um terço,

Dás-me aquilo de que converso?”



Ora, se com isto o desencadeio,

Como sei que é o melhor de mim que viso

Ali no meio

Do que confuso diviso?



É meu ego ali no cume

Ou meu imo que me assume?



É melhor o outro desvio:

Muito gostava eu!

Porém, se não é para mim, prescindo e entrego.

Se não for um desafio

Do Céu,

Renego.

Se for, porém, o prémio da minha senha,

Então que todo e logo,

Para meu desafogo,

Venha!”





Confia



Ninguém confia no céu,

De habituados a tudo controlar.

Ninguém se rende no que é seu,

Não logra relaxar,

Deixar-se proteger pelo calor

De inocente confiar

No que lhe for

Superior.



Julgamos saber do que precisamos

E de que modo o alcançamos.



E a vida é uma correria

Por esta via.



Se calhar,

O que julgas ser para ti o melhor,

Ao bem reparar,

Não é o melhor para ti,

Até poderá supor

Que nem vagueies por ali.



Prescinde do que não é teu,

O que não for para ti, solta-o de vez,

Ausculta o coração, por trás do escarcéu,

A discernir o que te convém, de frente e de través.



Liberta-te, por mais que doa,

Do que teu não for e anda em ti à toa.



Muitos correm de algo atrás

Por compulsão herdada,

Vinda de trás,

Nem sequer consciencializada.



Morrem de medo

Do desconhecido,

Controlam tudo, o triste e o ledo

Que houverem vivido.



No fim não controlarão nada:

Todos os eventos

Se lhes conjugarão na estrada

Para lhes trocar os ventos

E a viagem sempre findar descontrolada.



Teriam de superar a situação,

Não de repeti-la, como lhes vier de antanho.

Ao não entenderem a questão

Adiam o ganho.



E o ego não ajuda,

Rebelde à muda



Que corra o risco

De causar de dor um cisco.



E assim o controlo aumenta

E aumenta a falha do que tenta.



Para quem serve a dor,

A fragilidade

Nem sequer há-de

Supor.



Pára tudo, portanto,

E confia.

Esvazia

Cada mal preenchido canto



De teu interior.

O que for

Deveras para ti vai começar

A chegar

E é um ror.



Pode demorar,

Para a sério prescindires

Do que não é teu,

Para despires

A caraça de imitação

Dum mundo que já morreu

E que perdeu a ocasião

De trepar ao Céu

Pela porta do imo:

Ele é que nunca chegou ao cimo.

Tu, porém, fazê-lo podes,

Vê lá bem se de ti sacodes

Todo esse alheio limo.



Dói parar,

Dói soltar



Para quem vive habituado

A um objectivo propugnado.



Mas, depois de prescindir

De quanto não é para mim,

O que, no fundo é deixar ir

Tudo, tudo, até ao fim,



Aparece o que me espera,

De que à espera eu nem estava,

Nem procurava,

Nem soubera,



Nem perseguia,

Mas que a vida me trazia



Como prenda inesperada

À fome de cada jornada.



É viável trazer a luz

Que ao longe em meu imo aflora,

Que o melhor de mim traduz,

Para o meu aqui-agora.



A lonjura

Que à distância me procura



Vou então aproximando:

Vemos Céu de vez em quando!





Apego



Tudo na vida é um apego

A coisas, pessoas, laços,

Ao sossego

Dos abraços.



Como comigo

Meu relacionamento

Me deixa ao desabrigo,

Irei acabar,

A todo o momento,

Com outrem a me relacionar.



Daí vem o medo

De perder

E, portanto, um qualquer

Modo de apego.



Em lugar

De o medo encarar

Para não viver

Na boca com o credo,

Findo a me agarrar,

Em perene desassossego,

Não vá perdê-lo,

Ao meu par,

Da trilha da vida ao primeiro cotovelo.



Quando a vida nos finda por separar,

Mais fere da mágoa a garra

Quão mais o apego nos agarra.



Quanto mais força,

Mais a dor se reforça.



Ora, o que ignoramos

É que a vida, quando quer tirar,

Tem, noutros tramos,

Outra prenda para nos dar.



Aliás, ela nem tira:

Ela apenas nos vira

Noutra direcção,

Onde nos aumenta a paisagem

Da mundivisão,

Uma altaneira aprendizagem

De nova amplidão.



E eu que quero tanto o antigo,

Enclausurado em seu covo,

Que nem consigo

Vislumbrar o novo!



Só queria ver acolá

O que além já não está...



O que importa é ir trilhando outro caminho

Do Infindo hoje um pouco mais vizinho



E do insondável fim

De mim.





Cume



Tenho no cume de mim,

Na fundura de meu imo,

Um pouco para lá do confim,

Uma luz de Além, dum outro cimo.



Basta apurar

O ouvido

E o olhar

E temo-la sentido

A fulgurar

Num murmúrio comovido.



Poderei trazê-la cá para baixo

Escolhendo o melhor de mim,

A norma de conduta mais abrangente onde me encaixo

E agindo em conformidade assim.



É a vida comum

Na conjuntura concreta,

Só que com um

Raio de luz que nela se projecta.



Terei de trepar

À norma universal,

À mais ideal

Que logre vislumbrar.

Bem sei que na totalidade

Será perenemente inatingível,

Porém é já incrível

Ver que existe e opera em mim, afinal.



Saber que há um recanto

Em que vibro com a mais divinal

Emoção

E que é só duplicá-la no encanto

De cada canteiro do chão.



A pesada matéria

Do mundo

Pode iluminar-se da sidérea

Luz de meu fundo.



Só preciso de operar as escolhas

Que me aproximem dela,

Para na Terra ter dela recolhas,

Estrela a estrela.



Daqui também lobrigo

O que não é para mim,

Não condiz com a utopia que persigo

Ou com a norma universal

Que molda o meu sim,

Em busca do Infinito, do Total.



Quando disto prescindo,

O que for para mim então vem vindo.



Não ao acaso da fantasia

Mas cada dia.



Rejeitando com esmero

O que não for de meu credo,

Acedo

Ao que quero.



É preciso deitar fora

Para criar espaço

Ao abraço

De meu agora.



Tudo é grácil

Nesta muda,

Tanto mais fácil

Quanto o Céu ajuda.





Mais



Toda a vida em correria

Para quê?

Mais produtivo cada dia,

Mais novidades no chalé,

Mais contos à chaminé,

Só mesmo pelo prazer que conseguia:

Fugir à dor no sossego

Em que se refastela o ego.



Só que isto em breve cansa

E morre o prazer de tal dança.



Por muito que o labor vivido

Seja na alegria prosseguido,



Por muito que seja meu gosto

Em carne a palpitar ali posto,



Se eu terminar exaurido

Foi-se-me disto todo o sentido.



Que importa a velocidade

Se o ritmo equilibrado

É que me garante a identidade

De meu imo gratificado?



Pode ser bem pouco

O novo rebento em que toco

Cada dia.

Se meu ritmo mantiver,

Um dia há-de ser

A meta que se anuncia.



Um dia acordas

E, se reparas bem,

Atingiste as bordas

Do Além.





Antes



Antes da vida que vem

Provocar-te perdas pelo dia além,



Adianta-te e previne:

Muda a atitude que o destine.



O novo reajustamento

Do comportamento



Um novo efeito teve

Que sentirás em breve:



Plantou-te a raiz

Que te torna mais feliz.





Logro



Toda a guerra tem o logro por base.

A batalha é ganha ou perdida

Na fase

Anterior a ser acometida.



Ataca o inimigo

Quando desprevenido ele estiver

E entra-lhe num abrigo

Onde nunca esperado te houver.



Ao inimigo é vital miná-lo,

Subvertê-lo,

Corrompê-lo,

De discórdia interna entre chefias semeá-lo,



De modo a destruí-lo sem sequer

O combater.





Ouvidos



Não deste ouvidos a ninguém,

Ouviste-te a ti mesmo e partiste a cara.

Desde então, para além

O caminho terminara.



Foi por te ouvires, porém,

Que a dor te assaltara?

Ou apenas ficas refém

Dum modo que, doutro modo,

Te libertara

Todo?





Sonho



Dum sonho quando o texto

É de terror

Como irá ser?

Quando algo tiramos do contexto,

Mesmo o mais assustador

Perde o poder.



É mais uma gavinha

Irrelevante

Prendendo a vinha

A uma vida que é minha

E segue para diante.





Sacrifício



Sacrifício, sim,

Quando for todo por todos.

Não quando for todo, ao fim,

Por alguns que roubam os bodos.



Por alguns não há favor

Quando a liça

É justiça

Para todos nos propor.





Pequenas



Muitas pequenas coisas, muitas,

Terão de mudar

Para que as grandes, fortuitas,

Possam vir a ter lugar.



Deixas de cuspir no chão?

Teu gesto inútil, adiante,

Pode escorar, triunfante,

Toda uma revolução.



São cadeias de pequenos nadas

Que fermentam as fornadas



Do pão

Que os povos amanhã comerão.





Política



Política com coração,

Sim.

Governo, todavia, não:

É que, ao fim,

Em tudo tropeça

Ao não governar com cabeça.





Fermento



As contrariedades

São o fermento da vida:

A forma como as enfrentas ou delas te evades

É que te torna melhor

Ou pior,

De seguida.



A vida é delas um enxame

Singular:

Testam-nos em exame

E obrigam-nos a mudar.



Somos quem somos

Pelo modo como enfrentamos

Delas os assomos

Em todos os ramos.



Aprendi que cada minuto

Deve ser vivido como o agoiro

Do fabuloso produto

Dum tesoiro?



Ou tornei-me amargo

Porque o privilégio de ser vivo e residente

É um fardo cujo cargo

Arrasto penosamente?





Língua



O coração fala ao coração.

Desde que saiba sorrir,

Então,

A língua que o exprimir,

Encontro adiante,

Não é assim tão importante.





Tristeza



O mal não há-de triunfar

Se nenhuma pessoa

Boa

Ignorar

A tristeza de fundo

Que corrói o mundo.





Esmorece



Eu e tu,

Dois entes

Independentes

Em que, veloz,

Esmorece o tabu

Contra nos atarmos

Para gradualmente nos tornarmos

Nós.





Enquadrar



Enquadrar mal

A felicidade

Torna a tristeza e a dor,

A realidade

Em geral,

Difícil de suportar, mais do que era de supor.



As vítimas, além de mal se sentirem,

Cuidam então:

Deveria estar feliz, ante quantos me virem,

Contudo, não!”



Implicitamente irão cuidar, na raiz:

Ando a falhar

Porque não me sinto feliz...”



O que, na realidade,

Se cada qual bem reparar,

Nunca é verdade.





Mudança



Para a mudança profunda,

O caminho que a fecunda:



Ante quem menos poder

Tiver,



Tanto quanto ele falar,

Escutar;



Para o poderoso, na escala:

Ouvir tanto quanto fala.





Diploma



Fomos todos programados

A cuidar que especialistas

Temos de ser.

Quem de escritor proclamados

Tem os loiros pelas listas

Se o não fizer?

Quem é que corre a dentistas

Sem um diploma qualquer?



Contar, porém, uma história

Que retemos na memória

É de quenquer.



Toda a gente

É para tal competente,

Todos o logram fazer.



Nem é preciso o contista

Que eu tiver

Em vista,

Devo eu mesmo proceder!





Oportunidades



Oportunidades perdidas?

Atrás de cada fracasso

Há uma oportunidade que, de cansaço,

Muitas vidas

Desiludidas

Desejariam, na procura de sentido,

Ter perdido...





Consegues



Consegues, seja lá qual for o sonho.

A questão

É se estás disposto a lutar

Num tempo medonho

Que não

Consegues controlar,

Em conjunturas intermináveis

Que jamais te serão favoráveis.



Se sim,

O sonho ei-lo aí, ao fim.





Encosta



Ódio e raiva,

Se nos atam,

Não é nenhuma saraiva

De ódio e raiva

Que os matam.



Só uma corrida

Por outra encosta que recupere a vida.





Arrisca



Aperta o atacador,

Corre e arrisca o falhanço!

Se ele vier...

Que é que de pior

Nos pode acontecer?

Às vezes até a vitória alcanço...





Primeiro



O primeiro mês é o mais

Difícil para tudo:

Para o vício que tratais,

O convívio mais agudo,

O trabalho que encetais,

A perda que deixa mudo...



- É preciso conseguir, de entrada,

Manter a mente ocupada



Até que, completa de vazios a rima,

Podemos saltar por cima.





Intolerante



Se alguém for intolerante contigo

É estúpido sentires atracção por ele.

Afinal, qual o teu pascigo,

O que te convém à vida e marca a pele?



Certo, não controlas a atracção;

Todavia, o que fazer com ela também não?...





Fecha



Quando uma vida se esvai,

Todas as mais ficam em perigo:

Num ai

Tudo embora vai,

Fecha de vez o postigo.



Dou doravante valor

A tudo o que é pequenino,

Sem mais supor

Que mo garante o destino:



Acordar na cama quente,

O crepitar da lareira,

A ventania que lá fora vente,

O luar que em prata a luz peneira...



- Cada instante, afinal,

É fundamental.





Melhor



O melhor que puder

Deverei ser



Da vida durante a jornada,

Já que minha pegada



Tem um inimaginável impacto

Em todos aqueles com que contacto.



Mesmo sem o poder ver,

Continua eternamente a ser:



Mesmo após a vida

Nunca a pegada ficará delida,



Impressa para a eternidade no Universo,

Minha indelével marca de berço.





Aprender



Posso aprender a lição

Na pequena interacção

De cotio.



Se um sorriso der a alguém,

Lhe abro a porta que convém,

Beneficio



Alma e dia,

Em vários sentidos,

Com leve magia,

Aos envolvidos.





Tiram-te



Tiram-te o lugar do carro?

Paciência!

À sombra do chaparro

Espreguiça-se teu irmão

Com a indecência

De ser sempre um pedinchão?

É quem te persuade

À generosidade.



Teus amigos no sofá

Deixaram muito resquício

Do sumo de maracujá?

É para aplicares lá

Teu espírito de sacrifício.



Não te ponhas a gritar,

Prefere observar



E procura entender

De tudo aquilo qual a razão de ser.



Enfrentas o momento quando o lema

For a razão

(Não o problema)

Que é o centro da atenção.



Não mergulhamos na tristeza,

Raiva ou infelicidade,

Aceitamos o evento que nos lesa,

Tentando qualquer viabilidade

Segura

De ultrapassar a conjuntura.



Somos responsáveis de nossa vida.

Uma viagem positiva que nos realize

Requer que ninguém nos refreie a corrida

Rumo ao que vise.



E dentro em mim, pronto a intervir

Há sempre Alguém, se o pedir.





Compensadoras



Deus quer as nossas vidas

Compensadoras e unidas



Às dos mais quanto possível

For gerível.



Não poderá ter lugar

Se eu não participar



De verdade

Na própria felicidade.



Mesmo a meio da tragédia

E dos buracos,

Tenho de segurar a rédea

E apanhar os cacos.



Posso-me tornar melhor,

Mais forte

E mais feliz.

Se há dor,

Não é que tanta vez perdi o norte

E traí a matriz?



Escolho enfrentar

E aprender a lição?

Senão,

Como continuar

Sem lesão?



Nada é por acaso.

Mesmo quando o mundo inteiro fica raso,



Há um desafio qualquer em questão

A requerer a minha mão.





Queima



Teu erro

É uma lição aprendida

Ou o ferro

Que te queima a nádega dorida?



Se lidar mal

Com um evento,

Aprendo então a escutar melhor, ao sinal

Da vez seguinte

Em que dele me provocar o vento

Com acinte.



Ninguém pode mudar o passado

Mas ele não se desperdiça,

Se bem triado

Para a vindoira liça.



A asneira ou a queda

É requerida

Para que suceda

Eu findar mais esperto

E desperto

Para a lida.





Risco



Se quero muito algo,

Corro o risco de fechar-me

Ao que deveria ocorrer,

Sem mesmo o reconhecer.

E o tempo galgo

Com o alarme

De desejar um momento

Que me frustra sempre o intento.



Se não sei o que fazer,

Então

É porque meu imo quer

Que mude de direcção.

Se lhe não der ouvidos,

Negativo e frustrado,

Todos em meu redor serão varridos

Para o deserto desolado.



O Espírito que em mim fala

Tudo abala.



Nem eu nem ninguém ficará de pé

Ao murchar nele a fé.





Desgosto



O desgosto é uma emoção

Que só poderemos curar

Com muita paciência

E benevolência

Para com nosso coração,

Pois teremos de aceitar

Que precisamos de tempo para aprender

A assimilar

O que nos acontecer.



Podemos então chorar o dia inteiro,

Que, vivido o luto,

O produto

É que é, de vez, o choro derradeiro.





Acredito



Quando nada corre como eu queria,

Acredito que tudo acabará melhor

Do que a minha fantasia

Algum dia

Poderia supor.



Assim não me apresso

A tentar tudo à medida

Diminuída

Do que meço.





Acolher



Autenticidade

É acolher quem sou

E onde estou.



E a maior verdade:

Descobrir-me até ao derradeiro confim

E abraçar-me a caminho de mim,

Sempre a perseguir o meu melhor,

Seja lá o que for.





Autêntico



Para autêntico ser

Não é sol e praia o mais que houver

Até ao fim.



É a melhor versão de mim

E não a mais preguiçosa

Que de autenticidade goza.





Melhor



Apoia qualquer

Carreira

Que teu filho queira

Ter,

Desde que seja para ele a melhor maneira

De ser.



Pouco importa dela o tom,

A classe em que enfileira,

Desde que ele use nela o seu dom,

Todo e qualquer,

Até à malha derradeira.





Utilizar



Utilizar o teu dom

Não quer dizer em exclusivo

Nem dum modo obsessivo.

É que é malsão

Tudo o que for excessivo.



Entre os sabores reais,

A doçura é boa.

Porém, quando é demais,

Enjoa.



Não pode haver ludíbrio

Na medida,

Tenho de manter sempre em equilíbrio

A vida.





Abrando



Quando me aperceber

De que deixei de ser

A melhor versão de mim,

Suspendo o traço

De meu jardim

E abrando

O passo:

De que me esqueci quando

Para aqui vim?



Reformulo

À vida o meu abraço

E assim

Me cumulo

Gradualmente até ao Fim.





Fazer-me



Os outros podem fazer-me um agrado

Mas sou eu o responsável

Pela íntima alegria de meu lado

E pelo que dela, agradável,

Toca os mais,

Da vida pelos lameirais.



Que é que importa

Do mimo o que alguém pensa?

Eu é que tenho a chave da porta

De despensa.



Incite-me ou não me incite,

Não deixo que outrem me limite.



Não deixo que o céptico,

O antagonista

Me deite abaixo, patético,

Ou jogue fora da pista.



Não sou perfeito,

Claro!

Mas tomei-lhe o jeito

E não paro.





Entre



Entre autenticidade e meu imo

A relação,

Na perpétua busca do cimo,

É uma eterna evolução.



Há quem abandone por medo

O próprio credo,



Por precisar

De agradar,



O que logo impede, então,

De serem todos eles o que são.



Tentam ser o que antevejam

Que outros querem que eles sejam,



Ou tentam ser o que cuidam que devem,

Não o que deveras são,

E eis como se cevem

De auto-excomunhão.



Quando me ponho a caminho

Torno-me então adivinho:



Cada dia

Algo de novo me desafia



E da minha meada autêntica confio

Que agarrei o fio.





Negatividade



A culpa,

A negatividade que ancora

Na energia estagnante...

Peça desculpa

Já, agora,

E siga mas é para diante!



Senão irá impedir

Qualquer

Alma de sarar

E de aprender,

A seguir,

A caminhar.





Culpa



Culpa? Não podemos é parar,

Feitos bebés chorões

Ou resmungões,

De procurar

Razões

Para sarar.





Perfil



Não está na nossa mão,

Quando entramos neste mundo,

O perfil de fundo

De qualquer vida em questão.

Resta-nos, pois, aceitar

E curar,

Para a nossa vida, a seguir,

Pelo trilho prosseguir.





Gritar



Gritar que outrem é culpado

Quando o não quero ver pelo que ele é

Nem com empatia reagir, pelo meu lado,

Como soldado

A quem tolheram o pré,

Nem assumir com verdade

A minha própria responsabilidade

- É a perversão

De lidar com uma provação.



Quando o desafio é difícil de engolir,

É ignorar a verdade

E à realidade

Fugir.



E eis como do imo o crescimento

Abranda no momento



Até de vez parar tolhido

No olvido.





Presume



Quem culpa os mais

Como lhe convém

Presume que em si

Culpa não tem:

São os fanais

Dum alibi.



Então nunca aprende

O que o evento lhe rende.



Com isto, cada dia mais enguiça

A própria liça.





Culpa-te



Culpa-te a ti ou aos mais,

Que nada irá te ajudar,

Se tiver estes sinais,

A sarar.



Energias, emoções

Que não levam a lado algum,

Quem se perde em tais baldões

Não tem espírito nenhum.



Vive traído

E nem vê que é pela isca que há mordido.





Aborda



Aborda a conjuntura e segue em frente

Sem ser defensivo nem culpar ninguém.

Pouco importa a desculpa ser ou não premente,

A questão,

É como podes melhorar como convém

A situação.



Responsável ou não,

Assume o evento

E melhora-o então

A contento.





Exactamente



Estamos exactamente

Onde deveríamos estar,

Quer soframos violentamente,

Quer uma saudade sintamos premente

Ou respostas andemos a procurar.



O negativismo mental

É um sinal

A ultrapassar.



Há sempre uma razão positiva

Que breve nos regala

Noutra perspectiva.

Basta procurá-la.





Poderás



Aceita a morte:

A morte é o que é.

Desta sorte

Poderás, a seguir, pôr-te de pé.

É que, se assim não for,

Jamais te sentirás melhor.





Negativos



Pensamentos negativos em demasia

Na nossa vida de cotio

Impedem de reconhecer a via,

De aceitar o desafio,

Com fé e convicção,

Da nossa lição,

Do propósito para o ermo maninho

De nosso caminho.



A negatividade

É complicada,

Enquanto a verdade

É simples e desarmada.





Trabalhando



Aceitar a vida

À medida

Que ela for progredindo,

Só trabalhando com afinco

E pelo acolhimento me impelindo

Até dele no meu íntimo imprimir perene vinco.



É valorizar quem sou neste momento,

Com virtudes e defeitos,

Mais todo o interminável crescimento

A que urge irmos afeitos.



É o que nos viabiliza

Novas possibilidades,

Já que ante nós a vida desliza

Tal como for, nas mentiras e verdades.



Acolho-me e acolho os mais,

De coração aberto,

Os que amo, os que amais,

Até os que nem gostaria de ter por perto...



O truque é compreender

Como enquadrá-los de nossa vida nos anéis

E acolher

Tais papéis.





Culpa



A culpa, a raiva, a dor

E demais sentimentos negativos

Podem cegar-nos das explosões ao palor,

Não nos deixando discernir,

Aceitar e dispor

Dos dons criativos

Que Deus nos venha a servir,

De surpresa,

Da vida à mesa.



Se te não sentes abençoado,

Talvez seja a pista

De que precisas de te haver recuperado,

Até cresceres

Para poderes

Servir-te à lista.



Sim, que podes sempre recusar

Toda a bênção que de ti se ocupar.





Aumenta



Gratidão a Deus exprimir

Aumenta a qualidade da vida interior

E vai atrair

Mais vivências positivas

Que tu activas

Em todo o mundo em redor.



Por que esperas?

- Tens a chave das vindoiras eras.





Escondido



Não pude fazer carreira

Com meu dom.

Dediquei-lhe, porém, a vida inteira,

Escondido em cada som.



Independentemente dos pomos

Que nos der ou não,

É o que nos faz ser quem somos,

Embora só em semente no saguão.



Plante-a, pois, num vaso

E regue-a.

A vida, apesar do atraso,

Segue-a.



E toma então o cariz

Do que à Terra veio fazer para ser feliz.





Souber



Não poderei acreditar em mim

Se não souber quem sou.

Importa, do princípio ao fim,

Ouvir cá dentro o que em mim ecoou

E persistir

Até o discernir.



Sem outrem copiar,

Nem com a melhor intenção.

Terei de encontrar

O meu lugar,

Senão eternamente, então,

Há-de ficar

Sem qualquer ocupação.





Sonharam



Se teus pais sonharam com um monte alentejano

E o não tiveram,

Não os honras cumprindo tal plano

Em lugar dos sonhos que te ocorreram.



Honra-os ao te cumprir até ao fim,

Que aí,

Sim,

Finalmente se realizarão em ti.



É que assim

Remodelas a vida,

A tua e a dos mais,

De maneira de tal modo prosseguida

Que apenas tu o consegues.

Pela via dos outros, jamais,

Por mais que a imitá-los te empregues.



O mundo então veste a túnica

De tua marca única.





Algo



Quando algo me estimula,

Provavelmente é para meu bem,

Conforme o superior desígnio que regula

Desde a minha fundura o que convém.



Atento, pois,

Nada de adiar para depois!





Desenvolver



Desenvolver a intuição,

Caminhar por mim dentro

Até ir vislumbrando o coração

Do centro.



Ser fiel a mim,

Servir os mais,

Fazer crescer alma em meu confim,

Explorar de cada dia o incenso e o jasmim,

De cada encontro os desafios rivais

Até às fronteiras terminais...



No trabalho,

Nos relacionamentos,

Na família onde calho,

Nas escolhas de todos os momentos...



Intuir:

Ir cá dentro com a demora

Requerida para poder ir,

Com o melhor de mim, erigir

A festa interminável lá de fora.



Com a marca inesperada

Da minha pegada.





Cumpre



Quantas vezes cremos que uma decisão

Cumpre uma íntima, intuitiva orientação



E é somente

Um produto da mente!



E quantas só nos apercebemos em retrospectiva

Que nos enganámos na perspectiva!



Quantas vezes ir contra a mente

Racional

É, afinal,

O que me não mente

E me consente,

No final,

Atingir o principal:

Ser cada vez mais eu, finalmente!





Pondera-a



Deixa que a intuição te guie.

Pondera-a, porém, com a cabeça

E assume o que ambas concilie

Com a responsabilidade de quem meça



A partir de cada escolha,

O que dela colha,



Recorrendo sempre, como condutor fio,

Ao livre alvedrio.





Óbvia



A orientação intuitiva

Não é óbvia, mas esquiva.



Urge temperá-la

Com pensamento, a resguardá-la.



Incite em nós a vida o que incite,

Não devemos apostar num só palpite.





Abdicando



A intuição ouvir

E segui-la,

Em frente é seguir

No que cada vez mais se perfila,

Da vida ao desdobrar o rolo,

Como abdicando de meu controlo.



Contudo, não tarda a magia

De virem-se sobrepor

Confiança e sabedoria

À insegurança e temor.



E a intuição devém mais apurada

Quando houver dificuldades na jornada.



É hora de ouvir

O que da fundura me germinar a seguir.





Vivência



Com o Espírito Universal

Ou com um espírito em particular

Não terei nunca de falar

Para ter uma vivência espiritual.



Basta atender à minha interioridade,

Harmonizar-lhe os pendores,

Tender, em todos os vectores

Da actividade,

À universalidade

Da norma de meus fios condutores,

Aprender a sentir-me até ao fundo,

- Que então já inaugurei um novo mundo!



Pode ser clandestino

E discreto,

Mas é o tecto

Donde já desafio o destino.



Por dentro,

Não por fora,

No centro

Em que em mim me adentro,

Onde Tudo mora.





Sorte



Quando logro retirar

Mesmo uma pequena lição

Ou um qualquer tema encarar

Com nova visão

A partir da utopia dum sonho,

De que grande sorte disponho!



Saiu-me a lotaria

E eu nem nela joguei em nenhum dia.





Apenas



Um sonho adormecido que apenas verse

O meu pobre aqui-agora

Não é inútil para o imo a que ande a ater-se:

Qualquer alma em todo o recanto mora.



Pode ser a história hilariante

De pôr-me a reger um coral polifónico de vacas,

Com as toiras-sopranos num agudo vibrante

E, em contralto, as turinas leiteiras de vozes mais fracas.



Contado à mesa,

É uma colectiva gargalhada:

E eis como a vida represa

Explode logo ali numa enxurrada.



De repente, breve,

Qualquer alma fica leve.





Ignore



Um sonho

É um palpite:

Não o ignore, tristonho embora ou, ao invés, risonho,

Antes, ao tê-lo em conta, prudente hesite.



E nunca com ele se obceque

Ou fará que a vida em vigília peque,



Jamais então de espírito irrigada,

De seriamente abandonada.





Visita



Uma visita do Além

Não requer interpretação,

Como convém

À mútua comunhão.



Apenas se carrego da vida algum pesadelo

Poderei, ao maravilhoso, obscurecê-lo.



Resta-me então a magia

De pedir luz ao espírito que me guia.



E que é sempre o meu íntimo que Infinito além

Se enraíza bem:



Hei-de ouvir então a mensagem

Que me convém

Neste momento da viagem

Pelo tempo-sem-tempo além.





Quer-nos



O Espírito quer-nos protegidos

E reconfortados.



Dum sonho a visita pode ser de bem-aventurados

Para além de bem-amados

Conhecidos.



O intuito é fazer-me sentir, deste jeito,

De imediato satisfeito.



E quando ocorrer tal vivência,

Que experiência!





Herdei



Poderei sonhar com vidas passadas

De que herdei as pegadas



E é sempre para aprender

Algum novo jeito de ser,



Nalgum recanto de vida escondido

De que eu andar esquecido,



Ou num canto onde se acolheu

Alguém que outrora viveu,



Há milénios porventura,

E que da Luz até agora não cura.



Então, até com um gesto de nada,

Poderei acender uma alvorada.





Dons



À medida que meus dons vão

Evoluindo,

Por meu imo mais informação

O Espírito me vem transmitindo,



Sempre que eu pronto estiver

Para a acolher

E, se calhar,

Partilhar

Com quenquer.



Às vezes apenas aprofundo

O que já tenho.

Outras vezes advenho

A uma reviravolta do Outro Mundo

Nas crenças que detenho.



E de Luz me inundo.





Infinitamente



No reino do Espírito há muito mais

Do que julgamos

E diverso infinitamente do que nos sinais

Interpretamos.



Alma humana com pouco de anjo

A muito de anjo passa

Como uma carreira arranjo

Que a progredir me congraça:

Por feitos e condecorações

Vou trepando nos galões,



Por heroísmo, mérito e excelência

Vou ganhando a pendência.



Anjo? Sei lá bem qual é a morada!

Vou tentando ser alma cada vez mais condecorada...



O Universo é muito mais simples e complicado

Do que vai sendo revelado.





Dispara-lhe



Impossível?

Dispara-lhe um míssil:

É um incrível

Mero

Exagero

Do difícil.





Faúlhas



Somos faúlhas de Deus,

Dele emanadas

Num infinito amor incondicional.

É o que nos liga aos céus,

Do Além às pessoas bem-amadas,

Irmanadas

Na feérica luz universal.



Deus sem nome

Com todos os nomes que se quiser,

Um e o mesmo em todos os que consome

Quenquer...



Pouco importa a religião ou a falta dela,

Desde que tenhamos uma qualquer

Fé numa luz

E enraizemos nela

Tudo o que em luminosa a vida a todos nos traduz.





Falo



Falo com Deus na oração

Ou então em pensamento,

Natural conversação

De cada momento.



Não lhe peço o que desejo,

Agradeço-lhe o atendimento

Do ensejo

De lhe cumprir o plano,

Se meu querer lhe não traz dano.



Que, se trouxer,

Que então seja o que Deus, não eu, quiser...



Tento ouvi-lo,

Louvo-lhe o poder superior,

Abro-me a tudo e perfilo

A infinda corte de entes em redor.



De coração puro,

Tudo, afinal, é seguro.





Alimentar



Alimentar a fé na igreja,

Na mesquita ou sinagoga...

Mas se é no jardim que melhor O veja

Ou na praia onde os males desafoga



É aí, nesse lugar,

Que deve estar.



Pouco importa que a instituição

Apoie ou não

Os sulcos da sua lavra.

Por mais que queira,

Não é nunca dela a derradeira

Palavra.



Deus que a si lhe fala

É quem a cala.



Se ela O não quiser ouvir,

É porque prefere trair.



Não traia, pois, não traia,

Senão é a Luz que lhe desmaia,



A si e à instituição,

Cada vez mais murcho o coração.





Bermas



Podemos aprender da vida a lição

A bem ou a mal.

Trilhos positivos quantas vezes se ignorarão,

Das bermas no chavascal!



Uma tarefa é difícil ou não

Conforme a interpretação



Ou de espírito o estado

De cada qual,

No momento indicado.



O azar dum homem azedo

É, afinal, a bela pista

Que lá vislumbra, ledo,

Um optimista.



Mais rápido aprendemos

Das vivências negativas

Que o que colhemos

Das positivas.



Um alvor soalheiro põe-me eufórico

E eu nem me pergunto,

No luminoso desfrute calórico,

Se não era de aprender

Outro assunto

Qualquer:

De me saber tão bem

Ignoro a eventual lição que tem.



Um treinador intransigente,

Um mestre severo,

Cada qual mais exigente,

- Mas como melhorei no que no fundo quero!



Os obstáculos que transponhamos

Aproximam-nos mais da Infinidade

E apenas os enfrentamos

Porque nossas almas escolheram,

Instante a instante,

Na realidade,

E quiseram

Um trilho desafiante.



Ao deparar com um obstáculo,

Em lugar de temer um abismo,

Bem melhor é olhar o pináculo

Com que cismo.



Dificultamos inutilmente

Nossa vida:

O trilho mais fácil na subida

Pode muito bem ser, afinal,

Simplesmente,

O mais espiritual.





Escolha



A morte é escolha de alma,

Com Deus, espíritos e guias.

Não é Deus, refastelado na calma,

A nos fazer judiarias.



Nem Ele nos faz nada,

Mas nosso imo, ponderando cada jornada.



É o momento em que ao destino

Me inclino.



Claro que o destino vem de Deus,

Porém com tantos trilhos que são meus!



É lei do Universo

Aberta ao que converso,



Flexível

A tudo o que por mim for elegível.





Usemos



Deus quer que usemos as ferramentas

Que nos deu

Para navegarmos, através do macaréu

Das tormentas,

Por qualquer experiência de aprendizagem,

Boa ou má.



E, na nossa indescritível viagem,

O que for será.





Caminho



Não é uma evidência

Mas é factual:

O caminho de menor resistência

Pode ser o mais espiritual.



A minha convicção,

Longe de me dar a mão,



É o mais das vezes o cadinho

Que me inferniza da vida todo o caminho.



Mudar

É muitas vezes o rumo mais seguro

Para tudo o que inauguro

Facilitar.



O mais das vezes, ser casmurro

É, no meio da ponte, ser o bloqueado burro:



Nem para trás nem para diante...

- Que é que pretendo que isto me adiante?





Aceitar



Aceitar e dar amor

É uma escolha

E há de oportunidades um ror

De amar e ser amado na recolha

Que enuncia

Cada dia.



A vendedora,

O empregado de café,

O carteiro que demora,

O mecânico até...

- Todos andam sempre abertos

Ao amor, da vida pelos desertos.



Quando os valorizo,

Simpático,

Menos sós os diviso,

Com mais amor num mundo apático.



Ao amor abro a corrente

Do bem:

Quanto mais amor der

De presente,

Mais amor me vem

E, quanto mais me vier,

Mais lhe irei corresponder

E assim sucessivamente...



Tão confortável me sinto

Que perco o medo de chegar aos mais:

Viver tão feliz é o plinto

Para com mais amor agir

Por ruas, becos e quintais

Sem sequer reparar nem medir.



E, ao ser amado,

A mim próprio amo, por outro lado.



Tornamo-nos quem os outros querem deles nas vidas

E tornamo-los quem queremos nas nossas,

Cada dia mais expandidas

De cultivo férteis roças.



É espalhar o bem-querer

Sem reparar sequer.



O nosso coração,

Mesmo à toa,

Sabe sempre onde estão

A gesta má e a gesta boa.





Através



Sabes o que sinto

Através do que faço”

- É o homem, sucinto,

Num abraço.



Só que a mulher

A palavra requer...



E é uma frustração

A escassez deste traço de união.





Primeiro



Dar e receber amor é fundamental,

Mas o primeiro amor a dar

É o amor incondicional.

É um amor singular

E raro,

Mas é nele que escondido

Num pouquinho de Deus reparo.

Não é, porém, nunca um dado adquirido.



Quando nosso acto tem origem no amor,

Fico de alma leve

E feliz de quem sou, seja o que for.



Ao amor incondicional,

Nenhuma restrição o reteve

Nem limite, por igual.



Não podemos, porém, ser idiotas

E aguardar que todos nos amem incondicionalmente,

A sonhar com as luminosas frotas

Dum vindoiro sol nascente.



Amar

Não é receber amor incondicional

Mas há-de a troca tornar

Mais doce em tudo o que assinale.



Não perca a oportunidade,

Todavia,

De partilhar, com a sua singularidade,

Em cada dia,

Um amor incondicional, por sua própria iniciativa,

Que a Terra inteira então torna mais viva.



Um gratuito favor

A um amigo,

Ajudar uma tartaruga sem valor

A encontrar abrigo...

- Vale tudo,

Do maior ao mais miúdo.



Aí, humilde, começa

Um mundo deveras com pés e cabeça.





Custa



Custa perdoar

A dor, a raiva, o arrependimento

Provocado por um amigo, um familiar,

Um cônjuge ou nós próprios, num mau momento...



Independentemente da iniquidade ocorrida,

De ser nova ou velha

A ferida,

O perdão que se aconselha

E alivia

Sempre andará na ordem do dia.



É o que protege o nosso bem-estar,

Que a dor acumulada

Nos permite libertar

E o ressentimento que nos esburacou a estrada.



Perdoamos a outrem, a desculpá-lo,

Mas o objectivo real que nos acalma

É preservarmos alma

Em nós,

Após

Cada abalo.



É darmos a nós próprios uma folga,

Que os fardos são cola emocional,

A manter preso cada qual

A momentos,

Sentimentos,

Memória negativa que o amolga.



Quando perdoo a quem me atormenta,

Liberto-me, seguro,

Da tormenta

E me curo.



Quando alguém me trai ou engana,

O perdão não é vitória de quem me dana,

É uma prenda que dou a mim

Para principiar

A sarar

E seguir em frente, até que enfim!



Deixo de ser vítima perseguida,

Controlo de novo a minha vida.





Decepcionado



Decepcionado comigo,

O evento ultrapassar

Não consigo

Enquanto o tempo me não curar

Ou não corrigir

A conjuntura que me ferir.



De que, porém, estou à espera?

De acordar uma manhã

E sentir a Primavera,

Cortesã,

A soprar minha galera?

Se tal dia nunca chegar,

No porto irei de vez parar?



Com tal norte

Tão pouco navegável,

O mais provável

É jamais na vida ficar mais forte

Nem saudável.





Impor



Impor condições

Para a outrem perdoar

Nunca nos há-de levar

A nenhumas libertações.



E de espera que compasso

Se dele aguardar o primeiro passo!



Fico dele prisioneiro,

Abdicando de meu próprio poder,

À espera de o ouvir dizer:

Lamento, companheiro.”



Se ele não for consciente,

De ética nem tiver noção,

Se morrer

Precocemente

Antes de compreender

A fundura de minha lesão,

De quem é o azar?



- Do parvo que não soube perdoar...





Capacho



Perdoar não é esquecer

Nem ser capacho de alguém,

Nem “livre da cadeia” lhe dizer

Também.



Nem desculpa para ignorar

O assunto,

Nem para considerar

Que o que ali sentimos, por junto,

Não é de relevar.

Muito menos o fermento

De admitir qualquer mau comportamento.



É dizer a mim:

Doeu mesmo,

Estou magoado.

Mas é tempo, por fim,

De curar a queimadura do torresmo,

Retomar o controlo perturbado

De meus afectos

E meu futuro,

Abandonando isto para trás do muro.

Retomando meus projectos,

Perdoo ao responsável,

Seja embora malicioso, um estúpido sandeu

Ou criminalizável.

Mesmo que tenha sido eu!”

E desejo-lhe do coração, bem fundo,

O melhor do mundo.



É que do mundo o melhor

Se liga

Ao melhor do que ele for,

A caminho de algum futuro dia.

E isto nos interliga

Na magia

Duma humanidade parceira,

Toda inteira

Amiga.





Fúria



Quanto mais demorar

A perdoar,

Mais a fúria comoções negativas

Há-de alimentar,

De vingança fantasias

Todos os dias

Proibitivas.



Martirizamo-nos a pensar

No que poderíamos

Ter ou teríamos,

Caso houvera lugar,

No antecedente,

A um gesto diferente.



Temos de reclamar

Contra o roubo do bolo:

- Da conjuntura o controlo.



Guardar, porém, rancor

Ou procurar vingança

Não responde ao que nos queremos propor

E nunca alcança

A gratificação altiva

Que era nossa expectativa.



Se me sinto perturbado,

É por me terem feito sofrer.

Ora, piora a conjuntura para meu lado

Se por ali me meter.



Para mim e para os mais,

No rendilhado comum dos tecidos sociais,



Não é sensato

Insistir do veneno no prato.





Ignorando



Ignorando o perdão,

Desenrolo a passadeira vermelha

Da negatividade

Da ocasião.

Preso na infelicidade

Da vida velha,

Jamais retorno a quem sou de verdade

Nem desperto

Para o que se me antolhar certo.



O incapaz de perdoar

Afecta todos em redor,

Pois nosso humor,

Da comunidade na teia,

Ajuda a moldar

Quem nos rodeia.



Sinto-me mal?

Irrito os mais.

Sinto-me bem?

A felicidade jorra em caudal

De meus bornais

E alcança além,

Em cadeia positiva,

Quenquer que em redor viva.



Todos aprenderão

A alegria do perdão.





Somos



Somos os guardiões

Do nosso bem-estar.

Perdoar

Não são considerações

De quem anda certo ou anda errado,

É o que para nós é o acertado.



Quem for mau para nós

Não pensa em quanto nos ofende

Nem quão mal nos sentimos após,

Nunca tanto quanto connosco contende.



E, se eu estiver zangado comigo,

Serei o meu pior inimigo.



Se deixar o arrependimento me invadir,

Caio num círculo interminável a se repetir.



Odiar-me a mim ou a quenquer

Dá-me um alvo para a hostilidade

Mas ninguém quer

Os efeitos letais com que isto nos invade.



É de transpor a conjuntura

Com compaixão,

Empatia segura

E autoprotecção.



Ao preservar-me a mim,

A sorte

É que preservo outrem do círculo da morte

Até ao fim.





Reparar



Muitos que nos magoam

É de andarem a sofrer.

De reparar não deveríamos ter

Nos danos que nos doam



Só porque alguém foi descuidado,

Distraído

Ou cruel num gesto determinado,

Numa palavra sem sentido,

Numa atitude

Com que, afinal, se ilude.



O melhor, então,

É o perdão



Para nos protegermos duma cura

Futura,



Para podermos controlar, a seguir,

Como reagir



E menos vulneráveis, do perdão com esta esquiva,

Ficarmos ante gente negativa.





Fardo



O melhor é o perdão incondicional:

Perdoar primeiro,

Antes de outrem o pedir, ocasional,

Ou de que o fardo que carrego inteiro

Me arraste, infecundo,

Para o fundo.



Em toda a negativa conjuntura

Me segura:



Um mal-entendido

Com um amigo preterido,



O estranho que passa à frente

Na fila de toda a gente,



A palavra indelicada

Sobre como a família for tratada...



Incondicional perdão

Ultrapassa toda a dor e frustração



E do jeito que melhor quisermos:

Nos nossos termos.



É amor e gentileza para comigo,

Donde lobrigo



O poder de sermos bons, nas vidas reais,

Para todos os mais.



Não perdoar corrói as almas,

Por mais que no resto vivam calmas.



O incondicional perdão sara,

De imediato, a nossa cara.





Quer



Todo o imo quer o auto-perdão,

Pôr de lado a emocional

Auto-flagelação

Para fruir do bom da vida real.



Liberta-te da raiva.

Continuar zangado

É esfregar sal na ferida da saraiva

Com que o temporal me houver fustigado.



Zangado comigo,

A fúria atira-me a caminhos sem abrigo,



Desviados da procura

De cura.



Nosso íntimo quer o perdão do passado

Para que o que a vida tiver

A oferecer

Possa ser gozado,

Sem adiamento,

Neste momento.



Quando nos colamos a feridas antigas,

Vivemos com medo.

Os cumes que lobrigas

Perdes, tarde ou cedo.



Poderei trepar ao cimo da montanha,

A recordar os bons tempos idos,

O sol na cara que uma aurora ganha...

Ou fincar-me no sopé,

A gelar no lusco-fusco

Ao vento brusco,

Num túnel que, à falsa fé,

Me joga morta a beleza,

De tristeza.



O perdão é o funicular

Que à cumeeira me remete

Mas terei de comprar

O bilhete.





Evitar



Não podemos evitar que nos magoem.

O perdão incondicional pode ajudar,

Enquanto as lesões nos doem,

A alterar

A percepção que de qualquer

Delas tiver.



Ao perdoar, aceito

Que qualquer um é imperfeito



Mas também é muito mais

Que os erros dele enquanto tais.



São humanos

Como nós,

Feitos de mil enganos,

Cheios de contras em vez de prós.



Quando a perdoar me inclino

Troco o plano

Do destino,

Que, se errar é humano,

Perdoar é divino:

Aumento a parcela

De divino na sequela.



Quanta dor já provoquei,

Legítima ou ilegítima?

Portanto, sei

Que nem sempre sou eu a vítima.



Então, em reciprocidade,

Caminhemos pelo melhor que nos invade.





Continua



Perdão, sim,

Que a vida continua ao nosso lado

E pode, ao fim,

Dar sempre bom resultado.



Fechar a rua

Não é boa escolha tua:



Senão, a par,

Onde é que a Lua

Semeia o luar?





Algemado



A menos que perdoe,

Continuo algemado ao lesionador

E à lesão.

Ora, por mais que doe,

Não quero prisioneiro me pôr

Em nenhuma prisão.



O que o perdão empalma

Na discreta surtida

É restaurar alma

E devolver vida.



Principio por aceitar

O que ocorreu

E eis-me leveiro a aprender a voar

Pelo Céu.





Influem



Devemos sentir-nos gratos

Por toda a gente

E pelos factos

Que em nós influem em torrente

Permanente.



Pela família e amigos,

A saúde de que gozo,

Por meu lar cheio de abrigos,

Um emprego saboroso,

Tanto que nos põe a mesa

Que tanta alegria

Nos preza

Em cada dia.



Dádivas e bênçãos Deus tantas me oferta

E tão personalizadas

Que as dou por prenda certa

E findam ignoradas.



E é mesmo tudo,

Desde o bar de sumos e cerveja

Que me refresca a miúdo,

Ao restaurante onde eu veja

Meus parceiros de conversa

Na hora mais diversa,

Até o empregado

Discreto

Que oferta um mini-gelado

A meu neto...



Tudo me faz, a seguir,

Parte da comunidade sentir.



É de reconhecer o mais evidente

Que me agrade

E o menos aparente

Que me traz felicidade

Regularmente.



Mudo então de perspectiva,

Vejo em tudo a marca positiva,

Uma maneira excelente

De meu dia principiar

E terminar.





Pratica



Pratica a gratidão

Ao nascer e pôr do sol,

Antes e depois do turbilhão

Da multidão,

Da ida e vinda do trabalho,

Do rol

Das tarefas onde calhas e onde calho,

Dos engarrafamentos,

Dos tormentos

A elidir

De prazos a cumprir...



Basta um rápido obrigado

Por mais um dia

De magia,

Mesmo em tristeza embrulhado,

Porque há um rasto de alegria

Por dentro do pior fado.



E não nos prendamos, que nos embacia,

No prazer dos bens materiais.

Gozemo-los, sem prisões tais,

E demos uma boa gargalhada

Por tanta festa pegada.





Exprimimos



Uns pelos outros gratidão bastante

Não exprimimos pela vida adiante.



Convém

Aos mais fazê-los sentir-se bem

E elevar então

A gratidão

Connosco para o Além.



Nada de esperar, porém,

Até estarmos mortos!

É dizer ao pai, ao amigo, ao companheiro

Quão gratos andamos de abrigo pelos portos

Que nos disponibilizam o dia inteiro.



Não paga nenhum penhor

E dá prazer

A valer

A emissor e receptor.





Quer-me



Todo o mundo espiritual em meu imo

Quer-me com tanta felicidade

Quanta desta vida o arrimo

Ofertar há-de.



E o que me traz alegria

É muito pessoal,

Embora banal

Para a maioria.



Sinto-me esfusiante

A cantar e a dançar

Com uma música que, adiante,

Em ninguém mais vai tocar,



Quando, ao lado, alguém chora

Perante

Um prato de comida

Que aguardou toda a vida

E, finalmente, chegou a hora...



A felicidade é de procurá-la com afinco

E de usá-la bem,

Que da recompensa o vinco

Que tem

E nos comande

É grande.



O feliz é simpático, clemente,

Carinhoso, preocupado com toda a gente

E, com largo golpe de vista,

Fundamente altruísta.



Sente o benefício

Duma atitude agradável,

Daí a escolha do exercicio

Da felicidade,

Sem esperar, improvável,

Por ser esta que o invade.



Aproveita cada momento

E, no período difícil, celebra

O pequeno prazer,

Sem quebra,

Que vier

Nas asas do vento.



Deus não quer o custo da vida

Para celebrar após no Céu.

Quer a interioridade

A crescer desmedida

Rumo à abrangente universalidade

Que integra tudo e todos em cada gesto meu.



O que nos ensina

Leva a crescer alma

Mas também nos inclina

Pela ladeira que mais a todos nos acalma.





Brincar



A felicidade acontece,

Mas temos de a procurar.

Brincar à apanhada

A meio duma chuvada

Até o coração aquece,

Ou parar

A ver a ninhada de patos a atravessar

A estrada

É uma alegria,

Mas teremos de lhe dar

A oportunidade da magia.



Para que tudo aconteça

Temos de aceitar a felicidade

Que cada pessoa e oportunidade

Nos ofereça.





Escolher



Para ser feliz

É de escolher consciente

Principiar meu presente

Com o cariz

Do optimismo e da auto-confiança.

A felicidade que se alcança

Não cai do céu.

Nem é acordar uma manhã qualquer

E, do dia no meio do macaréu,

Decidir feliz ser.



Não depende a felicidade, em nenhum dos tramos,

Do que acontece

Mas de como o que acontece interpretamos.



A mulher com que tropece

A caminho do emprego,

Se em mim faz repicar um sino,

Em desassossego,

Ainda creio que é destino.



Se o não faz,

Cuidarei que é coincidência,

Bem capaz

É de andar de mim atrás,

Que falta de paciência!



Igual conjuntura

E que contrastante

Postura!



Ver tudo a uma luz positiva

É uma escolha constante,

Ou logo tudo se me esquiva.



Temos de nos lembrar

De que devemos lidar



Com cada evento abordável

Da forma mais agradável.



Não é o amigo que faz rir,

A namorada que faz o jantar,

O ente querido

Falecido

Ver e ouvir

- Que a felicidade

Me dão que me agrade.



Sou eu próprio, se os acolho

Em tudo o que de bom neles reparo

E que com desinibido descaro,

Recolho.





Apoiam



Para ser feliz terei de crer

Que meu imo e todo o mundo espiritual

Que através dele comigo contender

Me apoiam, âncora fundamental.



Em vez de combater

Ou lamentar

O que não puder

Mudar,

Deverei aceitar

O que estiver a ocorrer

Para empregar

Toda a energia

A lidar

Com qualquer nova via,

Como ela se apresentar.



Quando procurar apoio em alguém

Que tenho em vista,

Ele tem

De ser realista

E, sem acinte,

Positivo e bom ouvinte.



Os felizes lidam com a conjuntura

Como ela se apresenta,

Não como deveria ser dela a figura

Ou como gostariam que dela fora a ementa.



Como vítimas não se encaram

E a muda de atitude

Torna-os esperançados

De que, mal reparam,

O porvir, por igual, a contento mude

Dele os traslados.



Nosso imo,

Sem esquivas,

Atinge o cimo

Com as mudanças positivas

E melhor muda

Se do mundo espiritual requeiro a ajuda.



É murmurar-lhe, destarte:

- Ajuda-me a ajudar-te.





Cuidado



Cuidado com quem te dás em redor!

Relacionamentos que incomodam

São negatividade a se nos impor

E todos por fim nela rodam,

Mergulhando na peste todo e quenquer

Até porventura adoecer.



Quando nos rodeamos de correcto apoio,

A boa energia partilhada,

De moio em moio,

É ilimitada.





Revestiremos



Se formos felizes,

Então, fiáveis,

Revestiremos os matizes

Que melhor afectarão os que são desagradáveis.



A mão no ombro, o sorriso

Derrubarão barreiras

Que a falta de siso

Ergueu inteiras.



Idade, linguagem, estado de alma,

Tudo, enfim,

Aquilo, por fim,

Acalma.





Nunca



Serei feliz quando...”

- É o erro

Em que ando

Tropeçando

E assim nunca mais aterro.



Não é quando ultrapassar

Aquilo que me impedir

De feliz me sentir

Que encontrarei meu lugar.



É que, quando o conseguir,

Não sinto o que espero:

Outra porta vai abrir

Para novos conflitos com que de novo desespero.



É a lei da vida,

Seja em trilho ou avenida.



Qualquer alma gémea aguardas?

Pois, mas não baixes as guardas,

Que com ela irá trazer

Uma tão grande bagagem

Que nem tempo irás ter

De olhar a paisagem.



E então do feitio

Os ângulos afiados?

Vai-te correr sangue em rio

Pelos quatro costados...



E assim será sempre em tudo,

Contra isto não há escudo.



A felicidade, sem demora,

Está disponível agora:



De nós depende procurar

A escolha a realizar



Que influi

No que a aumenta ou diminui.



Tão simples, afinal,

E tão difícil no real!





Preciso



Não preciso de leituras positivas

Contra todas as expectativas,



Nem de fingir

Sentir



Prazer

Quando nenhum houver.



Tenho de me prometer a mim

Encontrar algo de bom

Para meu fardo aliviar assim

Quando lhe precisar de mudar o tom.



Não é um dever

Ou uma tarefa:

Limitamo-nos a nos comprometer

A bem fazer

A nós próprios, dos eventos na catrefa,



Como na família

Me comprometo com todo o lar,

Ou me comprometo com a vigília

Numa empresa onde laborar.



Meu imo quer-me dedicado e fiel

Ao enfrentar da vida o desafio.

É prometer alma no corropio

Do diário carrocel,

O melhor obrando que puder

No trilho a escolher.



Aí as águas turvas dão lugar

Às límpidas que eu fizer borbotar.





Viável



É mais viável a felicidade “agora”

Do que “se...” ou “quando...”.

Aquela não demora,

A paciência me cobrando.



E que bom beneficiar

De qualidades

Que usam alimentar

E encorajar

Múltiplas felicidades:

Amor, gratidão,

Bondade, perdão...!



A felicidade não dá um sinal gritante,

Nem uma onda de emoção,

Nem uma hilariante explosão

De riso...

Que falta de juízo!



Antes é uma constante

Satisfação,

É correr o dia sem perguntar porquê,

Pois já sabemos qual é.



E, quando se desmorona,

Vemos

Que podemos

De nós próprios cuidar:

Um remansoso passeio dar

Pela zona,

A saborear,

Tratar dos cabelos,

Ir adquirir nem que seja um par

De chinelos,

Com os amigos conversar,

A evocar

Momentos belos,

Ou do dia os atropelos

Desabafar...



Um êxtase todo o dia

A vida inteira

É mera fantasia,

Nem se abeira



Duma lista

Apresentável:

Não é realista

Nem saudável.



Se alguém delira

E jura que naquilo se afoga,

Ou é mentira

Ou é da droga...





Crendo



O optimista reage ao problema

Com confiança e crendo, por lema,



Que pode lidar frente a frente

Com a tarefa mais ingente.



Os eventos negativos

São temporários,

Não esgotam os sumários

Que a vida guarda nos arquivos.



No luto

Recordam os momentos positivos,

O conduto

Que os gerou dalém mais vivos.



Quando não podem mudar o evento

Que os entristece,

Os felizes mudam, a todo o momento,

O modo de olhar: tudo é benesse.





Agarramo-nos



Agarramo-nos a emoções negativas

Frequentemente,

Deixando-as fermentar,

Furtivas,

E, sem conta nos dar,

De repente,

De todos para grande mágoa,

Levantamos uma tempestade num copo de água.





Rápido



Quando estou em sofrimento,

O mais rápido afundamento

É comparar-me aos demais.



Sou sempre melhor que alguém

Que conheço pelos quintais

E quero sempre um pouco além

Do que puder ter a mais.



Cabelo encaracolado?

Pois então eu quero-o liso.

É curto, não tomba ao lado?

Do comprido é que preciso...



Quando nos avaliamos,

Nós nunca nos destacamos

Em todas as categorias.

Vale a pena desejar

Como eles talhar

Os meus dias?



Quem está bem

Com a mãe,



Se calhar, com o marido,

Sofre um inferno encardido.



Ao invejar a casada

A que é divorciada,



Inveja-lhe também o desassossego

Que lhe tira todo o emprego?



A vida tem tantas dimensões,

Umas de vantagens, outras de senões!



Temos de ser felizes connosco.

Se permitir que alguém me faça mal,

Sou eu que a mim me embosco,

Da vida a meio do pinhal.



Aceito ser quem sou,

Não quem outro qualquer

Quiser:

Não é por aí que vou,

Vou comigo.



Fora de mim nenhum abrigo

Logrará, para mim, prevalecer.



A felicidade mora ao alcance

Mas é imprescindível que nela me lance.





Culpa



A culpa é uma facada

Profundamente sentida,

Originada

Pelo que obrámos, ao correr da lida.

Remorso por uma maldade cometida,

Real ou imaginada.



A irmã castigadora é a vergonha,

Intimamente pessoal,

De me sentir mal

Comigo, pelo que de mim disponha.



A culpa lida com o acto,

A vergonha, com o impacto

De esmagar nosso valor:

Quando culpado me sinto

É que me pinto

Envergonhado de pudor.



O arrependimento, então,

É o efeito duma e doutra emoção.



É quanto me sinto mal,

Desapontado com um evento

De que fui o mentor principal

No momento.



Até pode acontecer

Por não ter acontecido:

Por eu não ter

Feito o que era devido.



Pode gerar ansiedade, constrangimento,

Depressão, aborrecimento.



Tudo, porém, pode levar

A admitir

Que andamos a errar

E, portanto, a melhorar

O comportamento, a seguir.

Como conduzir

A crescimento pessoal

E melhoria social.



Importa, pois, distinguir

E saber como reagir.



Bem lidar

Quando o trio negativo me atacar.



Ninguém é perfeito,

Portanto, erro.

Porém, não emperro

Ante o que está feito:

Reconheço a falha, aflito,

E reajusto meu agir, contrito.



Atento às novas apostas,

Atiro o mais para trás das costas.



Qualquer acto importa,

Que afecta a decisão e crescimento,

Abre ou fecha a porta

Que invento

Para o futuro

Que nele inauguro.



Há, porém, sempre lugar à melhoria,

Aqui ou no porvir que se inicia.



É, pois, prejudicial

Aprisionar-me à culpa, arrependimento e vergonha

No mundo real

De que, afinal,

Disponha,

Para o bem ou para o mal.



Só livre serei

Do tamanho que me sei.

Só então cavo

No canteiro do escravo

A minha eterna lei.





Ângulo



Uma má decisão,

Se noutro ângulo me inclino,

É uma ocasião

De ensino.



O erro cometido

Não me define

Nem acompanha eternamente

No terreno revolvido

Em que eu atine

Com a nova semente.



As nossas escolhas sábias

São apagadas

Pelas erradas?

Acabe-as,

Que o que conta é o trilho das pegadas

Renovadas.



O que importa é a melhor decisão

A tomar na próxima ocasião.



Sou lento

A aprender?

O que importa é ser,

Momento a momento:



Importa é que tente

Novamente.



Que é que espero agora

Senão a segunda oportunidade

Da minha demora

Rumo à Eternidade?





Liga



Culpa e vergonha

São sentimentos aprendidos.

Criança que a brincar se ponha

Nunca liga a tais pruridos.



Vida fora reunimos valores

Que se nos antolham correctos,

Da moralidade pautando teores

E tectos.



A vida tornam significativa,

Com o certo e o errado

Em lista que os arquiva,

Tudo em nosso peito acomodado.



Fomos influenciados

Por pais, religiões, amigos,

Eventos de vida emocionados,

Cultura ambiente, prémios e castigos

- Tudo afectou e configura

Como reagimos a cada conjuntura.



Estes padrões devêm equivocados

Se for para nos julgarmos

E martirizarmos,

Tornando-nos envergonhados.



Desonra e humilhação

Não são princípios morais,

São uma função

Do modo como optamos por usá-los enquanto tais.



As crianças não o sentem,

Até que os adultos lho inventem.



Até que assumem

Que merecem ser punidas e julgadas

Por si, por outrem, por Deus... - por quantos rumem

A perseguir-lhes as pegadas.



Precisamos de bússola moral

Para nos indicar

Quando nos desculpar

Por magoar alguém

Ou que nos dê o sinal

De parar, a bem ou a mal,

O hábito mau

Que da vida nos ande a afundar a nau.



Se me sentir mal,

Porém,

Por sentir culpa,

Não terei desculpa:

Perderei meu tempo afundado

Permanentemente

Num pântano envenenado

Da mente.



Reflectirei antes, ao invés, sobre a conjuntura,

Reagirei adequadamente

Concentrando-me sobre o que drenar-me a energia

Se me afigura,

Aprendo o que o aliviar

E, por fim, em seguida,

Reajusto em conformidade a minha vida.



Então, centrado no que prezo,

Livro-me de vez daquele peso.





Infelicidade



Culpa e vergonha são de espírito estados.

A infelicidade advém

De cuidarmos não merecer ser atropelados

Pelo que a vida tem.



A conjuntura que se não domina

Em si nunca o determina.



Quando se sentir culpado,

Repare na origem do sentimento

Para poder ser processado

De modo positivo no momento.



Se a culpa for correcta,

Não se deixe por ela definir,

Dê-lhe o melhor uso que puder,

Apontada à meta

Que tiver,

E livre-se dela a seguir.



A culpa é saudável

Se através dela amassar a boroa

For viável

De qualquer saída boa.



Se te sentes culpado

Duma noitada,

É teu imo a lembrar que não foste educado

Para uma vida

Destrambelhada.

Afina, pois, a medida.



Mas se é por um almoço demorado

Em que tão bem nos sentimos,

Se calhar é o outro lado

A avisar mas é quão

Mal medimos

Connosco a atenção.

E, em lugar de me sentir culpado,

Deverei zelar por um momento ainda mais prolongado.



Nosso imo quer escolhas que alma alimentem,

Não que a punam ou atormentem.



O sofrimento

É de cuidar que a vida é horrível,

Em vez de que está horrível.

Se este foco, ao invés, lhe incremento,

Então outra vida

Devém logo exequível,

De meus sonhos à medida.



Se me arrasto na culpa e na vergonha,

Vivo do passado

Na peçonha,

Em negativo estado.



Deste inferno em que ardo

Finalmente desperto,

Porque de vez não me liberto

De tal fardo?





Arrependido



Sinto remorso,

De arrependido ou envergonhado

Do escorço

Dum evento que se houver desenrolado.



É a viúva que lamente não ter procurado

Mais sinais do finado;



A mãe que lamente não ter trazido uma criança

Para a família que alcança;



O pai que lamente a dureza

Do trato do filho que por demais preza...



E, quanto mais velhos, mais doridos

De momentos perdidos.



Quão mais novos, mais evocam

As festas que os tocam.



Do Espírito moldado,

Devém mais fácil o arrependimento.

Em lugar de “lamento...”,

É: “aprendi do Outro Lado...”,

Quem me dera ter dito mais vezes...”,

Sinto muito os reveses...”

- E o melancólico devém logo iluminado.



É agradecer

Pelo que lhe houverem ensinado,

Partilhar quão pesaroso estiver

Por haver magoado,

Dizer o que sente

Antes de deixar de estar presente.



Nunca devo sentir vergonha

Nem pedir desculpa por quem sou.

Disponha de mim como disponha,

Deve ser sempre a partir de mim que vou.



E todo o Universo

É o lugar onde irei nascendo no meu berço.





Terreno



A mim olha-me o meu imo

Como terreno maninho

Onde devo arrotear o caminho

Até ao cimo.



Doutro modo não haveria como progredir

Emocional, espiritual nem fisicamente.

A negatividade o ânimo vai-me partir,

Distorcer a percepção na mente,

Dúvidas mil fomentar

Até a saúde me minar.



Vai-me impedir

Minhas metas de atingir,



Que as escolhas sob ela serão feitas, em regra,

Sob uma nuvem negra:



Já não pareço tão bom

À sombra deste tom.



Não obliteramos tristeza nem tragédia

Mas temos o objectivo

De iniciar cada dia comandado pela rédea

Do agrado de estar vivo,



Encontrar-me com quem me apoia

E obrar toda a matriz

De me sentir feliz,

A navegar na bóia

Funcional

De tudo o que é saudável e natural.



São as fráguas

De queimar residuais arquivos,

Removendo de antanho fardos negativos

E mágoas.



Quando a dor da perda é a mais recente recordação,

Podemos hesitar

Em nos desapegar

De tal emoção,

Mas é o que o mundo espiritual quer

De todo e quenquer.



Olha quem perdeste à tua frente,

De mala aberta aos pés.

Coloca cada revés

Que te atormente

Lá dentro,

Bem no centro.

No fim deves fechá-la,

De dores a mala,

E devolvê-la

Para que o Universo a leve de vez para a sua estrela.



Ela aqui não tem qualquer utilidade,

Sabemo-lo, no fundo.

Entregue de vez ao Outro Mundo,

Que paz nos invade!





Raiva



A raiva é perturbante.

Quando destrutiva,

Transmudamo-nos, num instante,

Na desagradável versão de nós mais esquiva.



É a resposta natural, todavia,

A conjunturas perturbadoras,

A qualquer perda que se avia

Em nossas horas.



Perdemos a cabeça

Com as patas enlameadas do cão,

Com o esquecimento da imperdível peça

Por onde começa

Uma sessão,

Com a morte devastadora

De alguém que se adora...



A raiva não é má nem errada,

É uma reacção normal

Até pelos melhores experimentada,

Afinal.



É quando cá dentro a retemos,

A ignoramos,

Julgamos,

Nos apegamos a ela,

Feita de cachorro trela,

E vingança prometemos

- Que, por nossa escolha, afinal,

Devém prejudicial.



Se evitá-la não consigo,

Consigo, porém, moldá-la.

É o que persigo

Na forma de lidar com tal cabala:



Se consumir-nos não a deixamos

E, ao invés, a corrigimos

Aceitamos

A causa do que lá vimos



E, da vida com as controladas águas,

Então libertamos as mágoas.





Descontrolo



Emoção intensa e poderosa, a raiva

Pode devir assustadora

Quando, forte demais, eu nela não caiba

E me descontrole na hora.



Contamina-nos a vida,

Quebra o humor, o apetite,

Até o poder de cura em nós fará que eu elida,

A condução viária devém perigosa, no limite,

Maltratamos o empregado de balcão...

- E vai curta a procissão.



Pode ser surpreendente,

Principiando por parecer familiar

E, de repente,

De tamanho e de feitio mudar.



A raiva por uma morte

Não é a de a gasolina subir,

De tristeza diferente transporte,

Cada qual do outro a divergir.



Se não tiver cuidado,

A explosão ocasional

Torna-se evento desmultiplicado

Regular, estrutural.



Para me libertar,

Só a raiva controlando,

De modo a não me prender quando

Me defina, singular.



Eu dono dela

Ou ela dona de mim?

- É a querela,

Vida fora, sem fim.





Aponta



A raiva aponta a mira

A um alvo qualquer:

A um médico, a nós, a um Deus em que se crer

E que parece que da vida se retira...

Até a um morto que nos deixou

Muita raiva se apontou..



Ultrapassar a raiva é meta realista.

Entretanto, enquanto o sangue ferve,

Até uma almofada serve

Para a acalmia em vista.



Chorar também liberta

A raiva que o peito nos aperta.



Após a choradeira,

Eis alguma calma, embora passageira.



Rir, sorrir, rever uma comédia que se preza

Alivia da raiva e da tristeza.



Orar, meditar,

Caminhadas pela paisagem,

Com animais brincar,

Ajudam a recuperar

Do sonho nossa íntima gratificante imagem.



Até o ginásio, a hora de canto,

A dança nos libertam da interioridade

A agressividade

Sob um sugestivo

Manto

Construtivo.



Cautela, porém,

Podemos recair.

Lá por me sentir

Bem,

O que se apura

E que a acalmia não é segura.



A raiva, quando a nós se alia,

Pode ser fatal:

Familiar companhia,

É, na realidade, um rival.

Desconfia, pois, desconfia...





Corrói



Quando a raiva nos corrói até ao imo,

Tornamo-nos menos carinhosos,

Resvalamos do cimo

Por pendores pedregosos.



Se não gerirmos o ressentimento,

Abraçando a vida,

A felicidade voará no vento,

Perdemo-nos ao longo do caminho,

No maninho

Da subida.



Ter fé e medo na vida é contraditório.

Mas a fé num Deus justo,

Das injustiças perante o somatório,

Estremece e paga o custo

Com uma zanga

Que daquele Deus manga.



E a raiva arremesso

Sobre quem de mim andar à volta

Quando o medo meço

Que em mim correr à solta.



A raiva distorce e deforma

A nossa perspectiva,

Por norma,

Da vivência humana viva.



Da raiva o lado positivo

É fazer pressão por uma causa

Do comodismo ou conformismo sem a pausa.

Ou dar conhecimento vivo

Dum problema

Que se tema

Com real motivo.



Utilizada de forma negativa

É destrutiva



De nós, doutrem ou do bem

De alguém.



Dela tal pretenso gozo

É puramente perigoso.



Não resolvida a contento,

Gera amargura

E ressentimento,

Desfigura

Qualquer relacionamento.



Prejudica, irreflectida,

Saúde, emprego e gosto pela vida.



Cuidado, pois,

Que de vez enoitece quaisquer arrebóis.





Acordar



Não é possível acordar e decidir

Jamais raiva sentir.



Apenas trabalhar, construtivo,

A emoção sombria

E hostil

No arquivo

Subtil

De cada dia.



Admitir o carácter definitivo

Da morte,

No meio da dor aguda,

Quando nada nos conforte,

Ajuda.



Ouvir um ente querido

Ou vê-lo no Além

Preenche o vazio sentido

Também.



Da raiva o problema

É que não resolve nada,

Nem aqui, por lema,

Nem no Além, mesmo em romaria pegada.



E porque, afinal, apenas nos abala,

Só nos resta superá-la.



O Céu quer que lhe entreguemos

O fardo pesado

E confiemos:

Ele sabe como pô-lo de lado.



Dali vem-nos a ajuda

Para cada qual entender

O que destinado andar a ser

E, na subtil palavra muda,

O que deveríamos aprender.



Para que o que nos enraiva

Nos não cale a voz,

Controlemos a raiva

Antes que nos controle a nós.





Sobremesa



É mais fácil aproveitar

A sobremesa que nos desafia

Que pleno, bem pleno confirmar

Que é o meu dia.



Após tragédia, crise ou doença

É que o dia aparece

Como benesse.

Porque aguardar tal sentença?



Felicidade e satisfação

Estão agora

À mão,

Não numa qualquer demora.



Não é nada vago

Nem precisa de ser avassalador.

Basta reparar no afago

Do corpo e dos afectos, ao calor



Do que pensarmos e fizermos dia além:

Nas reuniões,

Na brincadeira que se tem,

No trato com amigos à lazeira dos balcões,

Um livro ao ler

Ou ao ver um filme qualquer...



Quão mais em contacto com meus afectos,

Mais actividades e interacções gratificantes

Poderei encaminhar em meus projectos,

Nos meus instantes.



Mal deres conta,

Seremos mestres

De ser feliz no saber de ponta

Em que te adestres.



E que maravilha

A esteira por onde singra a minha quilha!





Busca



A interioridade explorar,

Na busca de nossos objectivos

Pode-nos orientar

E ajuda a percorrer os calhaus vivos

Do caminho

Onde espírito adivinho.



Mas meu imo mais os entes que acolher,

Ninguém quer

Que finde de tal modo obcecado

Com alma a crescer

Que descure o outro lado,

Agora e aqui a ser desfrutado.



Honrar o meu interior

É dedicar-me às matrizes

Do que for

Tornar-nos felizes,



Sem me magoar a mim

Nem aos mais

No pomar e no jardim

De frutos tais.



Preencher-me inteiro

De estímulos positivos

Mantém-me do íntimo o viveiro

Nos píncaros mais festivos.

Rodeemo-nos de quem

Nos faça rir e sentir bem.



Não convido para a festa um amigo

Só porque a tal contra mim me obrigo.



Imponho limites

Ao familiar desafiador,

Sejam quais forem os palpites

Que em mim queira supor.



E, no dia de descanso,

As tarefas não me atulham, vão de manso.



A dor é o corpo a avisar

Do mal-estar de saúde,

O afecto que magoa é meu imo a alertar

Para um qualquer mal que me ilude.



Há quem a fronteira mal logre traçar

Entre ajudar e prejudicar:



O cuidador trata do amigo

Mas pode findar exausto e interiorizar a tristeza

Se, descuidado, abrir o postigo

Ao que o lesa.



Faz porque quer,

Não porque tenha de o fazer?



Tem de ser, porém, na justa medida

Para a fonte não findar exaurida.



No limiar,

Faz algo a outrem e algo a ti, a par.



As próprias necessidades equilibrar

Mais realizados nos faz sentir

Do que correr até quebrar

E a aposta inteira levar a falir.



Há momentos de aproveitar o dia

Em todo o lado,

É só andar atento à folia,

Que é um folguedo pegado!





Principia



Viver o presente,

Honrar o passado

E olhar em frente,

Que o porvir principia aqui ao lado.



Recordar os bons momentos,

Entender que não há acasos,

Da intuição acolher os inventos

Permite viver o máximo em todos os prazos.



Viver no instante

Pode ser só por si gratificante.



A melhor ideia opera

Desprevenida

Quando ninguém andar à espera,

Perdido na lida.



No íntimo todos suspeitamos

Que merecemos uma vida maravilhosa,

Pejada de amor em todos os ramos.

Quem a goza



Tem de abrir-se ao exterior, onde o alvor ameia,

E confiar no que o rodeia.



Acolher o inesperado

Alimenta-nos alma em íntimo traslado.



Não é preciso saber

O que irá ocorrer:



Um buraco a mais na estrada

Que importa na heróica jornada?



Se eu tiver

Um horário louco de preenchido

E me centrar no que estiver

A fazer,

Neste momento por inteiro envolvido,

Aprecio melhor o presente onde calho

E farei melhor trabalho.



Nunca o lograrei se tentar prevenir

O que vier a seguir.



Importa parar,

Respirar

E viver o momento.

É minha sina:

Aí é que germina

O crescimento.



E é o que na História destina

Qualquer portento.





Tentar



Derrotados,

Em altura de tentar outro caminho,

Deus quer que nos rendamos, acalmados,

Dando o terreiro ao seu sestro adivinho.



Deus não me quer

Com a cabeça na parede

A bater,

Mas é o que por norma me sucede,



Por tanto apostar no meu engano

Antes de mudar de plano.



Se me rendo

A uma nova ordem do dia

Como quem confia

No ignoto de que, ao invés, me defendo,

Aí meu íntimo principia

A sarar

E a providência a se revelar.



É porque em rendição inteira me não descontraio

Que me traio.



Afinal, em toda a noite, desde que fique com ela,

Brilha uma estrela.





Render-me



Render-me é uma dificuldade,

Após tanto tempo, suor, sentimento e dinheiro

Investido

Numa ideia que até deveras persuade,

Numa busca com sentido

Por inteiro.



Desistir é a derrota, o falhanço,

Tempo perdido

Ignorar o que deveria

Acontecer algum dia

E que, por mim, afinal, não alcanço.



A rendição

Não prova, porém, o erro.

Antes é de coragem uma lição

Abandonar a empresa onde emperro

E que até ao fim me exorto

A levar a bom porto.



É preciso muita força para dizer:

Não consigo mais

Empreender,

Para mim é demais.

Agora tudo entrego, Deus,

Aos cuidados teus.”





Controlo



A conjuntura complicada

Visa desafiar

O controlo que eu acreditar

Ter sobre a vida, a cada jornada.



É difícil aceitar

Deus dar o livre alvedrio

E, a par,

Negar

O controlo total, num eterno desafio.



A intuição

Levou-nos por um caminho

E, com novos lumes,

Afinal, não,

Não faz parte dos planos que adivinho,

Nesta espada de dois gumes.



Meu imo sugere que é o trilho certo

Até que, em resumo,

Deixa de ser, que desemboca no deserto.



Quando me entreguei de coração,

É difícil então

Mudar de rumo.

E como confiar na nova direcção?



Terei de entender

Que o tempo e a energia

Que escolhi despender

Na outra via

Não foram em vão.



Quando por uma situação

Avançamos a custo

E nos leva à rendição,

A lição

E o ganho justo

Importam mais, a meio do desnorte,

Que o que te não mata tornar-te mais forte.



É gente que encontramos

Que desempenha um papel vital

De nossa vida em quaisquer ramos

Ou que, num beco transversal,

Nos ajuda a desenvolver

Um recanto qualquer de nosso ser...



O caminho errado

Pode nem ter sido o nosso

Mas o de alguém amado

Ainda impreparado

Para tirar água de tal poço...



Nossas escolhas se entretecem com as dos mais

E as engrenagens do mundo espiritual são tais



Que o efeito dum longo lance

Não há vista que o alcance.



Uma única escolha

Pode ser do espumante do mundo

A rolha

Que estoira

E que me agoira

A festa de que o inundo

E fecundo.



Terei de crer

No caminho diferente a seguir

E que o Espírito, em meu leve intuir,

Sabe o que anda a fazer.





Desapegar-me



Desapegar-me de tudo,

O mais possível depressa,

Que o apego é o mais curto e bicudo

Caminho onde começa,

A todo o momento,

O sofrimento.



É um acto de desespero

De quem perdeu o rumo do Infinito que espero.



Quando tenho problemas,

Caio facilmente na tentação

De apegar-me à familiar recordação

Ou a conjunturas minhas, mesmo extremas,

Por medo desmedido

De embarcar no desconhecido.



Ora, Deus de tudo cuida e tudo muda,

Sem a nossa persistência,

E o mundo gira na própria cadência

Sem a nossa ajuda.



Mudo o que puder mudar

Mas depois há o que não se pode alterar:



Entendo e aceito

Que esta é a regra de meu pleito.





Contra



Ao nadar contra a corrente,

Medroso,

Ansioso,

Entender tente

Se não é melhor

Deixar-se ir, seja lá para onde for.



Uma catástrofe não é requerida

Para que mude a vida.



Se o despertador não tocou,

Aceite o facto e o que dele derivou.



Para sentirmos paz,

Teremos de aceitar os eventos

À medida que no-los traz

A corrente dos acontecimentos.



Não vale a pena lutar por nada

Que venha a ser, afinal,

Toda a conta somada,

Prejudicial.





Definitivamente



Se findar definitivamente mal

E já não lutar contra a morte,

A mais genial

Sorte,

- Não é desistir,

É deixar-me ir.



Acolho

A experiência

E escolho,

Em seguida,

A melhor vivência

Da qualidade ainda possível de vida.



Decisão pacífica, positiva,

Concertada com o que ali ainda motiva.



É de lutar como um danado,

Mas mais vale ceder

Se tal sentir em paz me fizer,

Fortalecido e saciado.





Render-me



Ao render-me ao Infinito no Universo,

Liberto-me da imagem

Em que cria

De como tudo deveria

Acontecer

E, no inverso,

A triagem

É aceitar o que a vida me oferecer.



Penso no que tinha imaginado

E abandono tudo nas mãos de Deus:

Conduz-me à melhor escolha de meu lado,

Conforme os fitos teus.”



Conforto

E encorajamento

Ocorrerão em meu horto

A qualquer momento:



Ora é um atractivo por instinto,

Ora uma conversa, uma canção,

Ou dum reconhecimento a sensação,

Ou outro qualquer sinal distinto...



Deverei acolher de pronto

A resposta,

Seja embora para um confronto

De que ninguém gosta.



Render-me o que alcança

É aprontar-me para qualquer mudança.





Perderei



Talvez sinta, ao Infindo a me prender

Num gesto mero,

Que perderei poder.

Ao contrário, porém, recupero,

Que, ao escolher descontrair,

Deixo, sem meu concurso,

A vida seguir

O próprio curso.



É precisar de controlo

Que dificulta a rendição,

É o medo de que da vida o bolo

Me escape da mão.



Nem sempre é fácil explicar

Porque a dada situação

Nos andamos a apegar:

É, porventura, a crosta duma qualquer lesão...



Então,

Ao me render,

Comigo próprio terei de ter

Coração

E, de acordo com meu ritmo particular,

Avançar.



Terei de ouvir, com serenidade e calma,

Minha vulnerável alma.





Superem



A morte e a doença podem ser devastadoras.

Temos de tentar fazer

Que as boas superem as más horas,

Da melhor forma que houver.



Aí aumento, de seguida,

A duração da vida,



Bem como o encantatório teor

De seu fulgor.





Decido



A cura vem muito da perspectiva,

O meu ponto de vista

É uma escolha que em mim se activa,

Não é o real que exista.



Quando me decido curar,

Crio o meu bem-estar.



Responsável pelo corpo e pela interioridade,

Quando se me debilitam

Saúde e felicidade,

Deverei procurar,

Pelas vias que melhor o facilitam,

Melhorar.



Pode muito tempo me requerer,

Mas não é um fardo qualquer

Que terei de carregar.



Há muito fado

Predestinado,

Mas sofrermos um insuportável martírio

Não é de Deus nenhum plano,

É um delírio

De meu engano.





Afecta



Perda, doença, dor

Ou qualquer outro negativo factor

Não afectam nem altura

Nem profundidade

De minha capacidade

De cura.



O que meu imo prejudica

É o modo como deixamos

Que nos afecte o que enjarrica

Os nossos frutos nos ramos.



Perder quem amamos,

Sofrer um acidente,

Aguentar um patrão que apenas injuria...

- Por terrível que tudo isto se apresente,

É o modo como o encaro que anuncia

Se o pioro ou lhe trago melhoria.



Ao enfrentar a provação,

O fundamental

É alimentar a saúde com imaginação,

Com a palavra que propale,

Vivas,

As imagens positivas.



Correspondendo em nós os actos e a palavra,

Semeamos, pura,

Em nossa lavra,

A cura.



O canceroso

Que o cancro tome por própria identidade,

- Para lograr

Do melhor lugar

O gozo,

Da família a quantidade

De visitas culpadas,

Por antes andarem meio abandonadas...

- Leva a que a saúde

Lhe decline rápida para o ataúde.



Cultiva a doença?

Então cultiva a morte, que é dela pertença.



Ao invés, acreditar no tratamento

(Cirurgia, medicamento,

Vitaminas, ervas, sumo...)

- O que quer que funcione, em resumo,



Ajuda a melhorar

Por nos encorajar



E levar a ter fé,

- O que tende a pôr-nos de pé.



Se me sentir bem com minha escolha,

Deixo-me orientar pela intuição,

O que é de Espírito a orientação

Que em mim recolha

E, de coração,

Profundamente acolha.



Aquilo de que me inundo

É a fusão dum com Outro Mundo.





Oro



Oro para não me importar

Se Deus me levar.



Ponho da vida inteira a situação

Dele na mão.



Fico, pois, no meu lugar

Dele à disposição.

Agora é só caminhar, caminhar, caminhar,

Até que me falte o chão.





Resguardado



De nada vale ficar resguardado ao canto

E ser muito cauteloso:

Perde a oportunidade, entretanto,

De ter sorte, ditoso,

Por haver corrido riscos

Fora dos apriscos.





Grito



Amo-te.

Sei que é um grito no vazio

E o esquecimento é fatal.

Mas chamo-te.

Estamos todos condenados à enxurrada do mesmo rio

Final.



Chegará o dia em que todo o esforço

É devolvido ao pó da estrada

E o Sol terá engolido o nosso escorço

De infinita madrugada,

Toda a Terra reduzida

Ao pó de partida.



É a realidade.

- Mas amo-te de verdade.





Sonhos



Todos os sonhos são assim.

Quem gostaria de viver nas nuvens, quem?

Todos, por fim,

Mas, no fundo, ninguém.



É que nas nuvens o vento sopra

A 240Kms/h,

A temperatura dobra

Os 35º negativos sem demora

E não há oxigénio...

- Morreríamos em segundos,

Sem qualquer convénio

Para outros mundos.



É preferível assassinar o sonho

Que ingénuo cair no que tiver de medonho.





Conto



Não vos conto nossa história de amor

Porque, como todas as verdadeiras,

Dela o teor,

O fulgor,

O vigor

Nasce e morre connosco, fecundando de divinas,

Clandestinas

Jeiras.





Escolha



Embora por norma trémula,

A vida uma escolha nos há-de sempre dar:

Ou vivemo-la

Ou vemo-la

A passar.





Positivo



É saúde

Procurar activamente

Afecto, alegria, satisfação no presente,

Tudo o que em positivo me mude.



Um pensamento, um olhar, um sorriso em flor

E logo nos sentimos melhor.



No meio da noite algo alumia

E já é dia.





Angular



O pessimista não tem curiosidade,

Deixa ir

A oportunidade

De descobrir

A novidade.



E era a pedra angular do conhecimento,

O controlo do ego,

Da tentação perversa de que sabe tudo a todo o momento...



Abertura a adquirir novos horizontes,

Pontes

Para a alegria da descoberta,

Para o feliz sossego

Duma porta aberta.



Era o progresso

Que contrabalançaria qualquer retrocesso.



O pessimista ajeita o ninho

Para a frustração que lhe adivinho.





Partilhas



Não partilhas o sofrimento,

Poupando o teu ambiente?

Teu intento

Pinta o mundo negativamente:



Inflamas os medos

Do assalto, do terrorismo,

Mesmo quando eles estão quedos,

Sem sinal de cataclismo.



Até crês que o desemprego

Trepa sempre, mesmo em queda...

Ao exagero este apego

Leva a que ele a nada ceda.



Quando, afinal, a questão

É que em ti mora a solução.



Partilha a vida, partilha,

Que logo o barco a outro rumo ruma a quilha.





Presa



No reino animal

A presa foge.

Não é, tal e qual,

Teu dia de hoje?



Só fincando o pé

Cada qual

Mostra quem é,

Mostra o que vale.



Só então se somem

Os vestígios animais dentro do homem.





Tornar



Da vida a impetuosa corrente

Inclemente

Impõe a escolha legítima:

Tenho de me tornar um sobrevivente,

Nunca uma vítima.





Germinar



Andamos no mundo

Para ser felizes

E aproveitar a vida.

O modo mais fecundo

De germinar tais matrizes

Na quotidiana lida

É tornar os outros felizes

A aproveitarem a vida.





Adequar



Não temos de adequar nossos valores

A este tempo,

Temos é de fermentar este tempo

Com nossos valores,

Para que a massa, com o fermento,

Não apodreça de bolores.



E que o pão da vida

Alimente toda a ida.