AO GOSTO DO POVO





























Sombra



Senta-se à sombra hoje alguém

Porque alguém, anos atrás,

Se aplicou a plantar bem

A planta que sombra traz.





Partilhar



Se partilhar gratidão

Com quem o houver ajudado,

Vai potenciar a união,

Um com o outro interligado.





Exprimo



Quando exprimo gratidão

É que reparo nos ramos

De vida que mais me dão

E mais dão que o que pensamos.





Nacionalismo



Nacionalismo derrotas,

Por excluir, traz nas listas.

Podemos ser patriotas

Sem sermos nacionalistas.





Pedacinhos



Há pedacinhos de vida,

Pedacinhos pintalgados

Que cada dia convida

A serem saboreados.





Nuvem



É uma nuvem passageira

Todo e qualquer pensamento,

O céu só que ele peneira

É real neste momento.





Reacção



O que me deixa esgotado

Não é da vida o evento,

É a reacção que cultivado

Tenho ao acontecimento.





Aprende



Aprende a ter desafogo

Quando correr mal o voo:

Nunca ninguém perde o jogo,

- Sem tempo apenas ficou.





Ansiedade



É cadeira de baloiço

Toda a ansiedade vivida:

Algo a fazer que retoiço

Mas longe jamais é a ida.





Partilhada



Alegria partilhada

É uma alegria a dobrar,

Tristeza compartilhada

É meia tristeza, a par.





Porta



É sempre um desconhecido

Quem bate à porta de vez.

Se é um amigo, outro é o sentido:

Bate-me à porta talvez.





Melhora



Adoraria afirmar

Que o mundo melhora. Não:

Quem melhora ou não, a par,

És só tu por tua mão.





Antanho



Ao dia de hoje te entrega,

Que os de antanho te não contem,

Um barco nunca navega

Com ventos soprados ontem.





Pagas



Deu-te Deus as qualidades

Que tens nos próprios lugares.

Pagas por tais propriedades

Se as tu não aproveitares.





Mais



O que tiver mais idade

Com espírito mais jovem

Tem mesmo a propriedade

Dos jovens que o mais comovem.





Maior



Todo o acto tem efeitos.

Maiores, num jorro em bica,

Quão maior nestes trejeitos

For aquele que o pratica.





Depressa



Depressa finda, depressa,

O que à pressa se engendrar.

Não façamos, pois, à pressa,

O que for para durar.





Vazio



Será um vazio desvão

Uma casa sem ninguém.

Pois que é uma casa senão

A vida que ela contém?





Mantém-te



Mantém-te firme e com calma,

Que alma tua se não renda,

Pois quem der a frágil alma

Não vai negar a fazenda.





Maior



A maior adversidade

Engana-me de tal jeito

Que, às vezes, com que me invade

É com o maior proveito.





Cuidado



Cuidado acarreta o oiro

E cuidado a falta dele.

À falta cura-a um tesoiro;

Se este aumenta, aumenta aquele.





Perdão



Se perdão o amor alcança,

De traição é ver se há travo,

Que, onde não houver agravo,

Sempre é mau haver vingança.





Tempo



Ao tempo deixa o cuidado,

Que é mestre em achar remédio

Ao caso desesperado

Que mais te tenha em assédio.





Traidor



Sê fiel a quem te almeja,

Pareça embora de louco,

Que traidor, muito que seja,

Sempre pode muito pouco.





Igual



Quem com prazer outro engana

Não se deve lamentar

Se ao outro lhe der na gana

De por igual o enganar.





Desvendar



Melhor é da própria vida

Desvendar as açoteias

Que vasculhar sem medida

O que são vidas alheias.





Admiro



Não me admiro do que falo

Mas, olhando a escuridão,

Admiro-me do que calo,

Que é tudo, afinal, então.





Morrem



O valor a quem o preza

Requer sempre algum disfarce.

A ambição como a riqueza

Morrem por manifestar-se.





Covarde



Fica o covarde atrevido

Ao se ver favorecido



E adianta-se a ofender

Quem mais do que ele há-de ser.





Custa



O homem gosta de lutar

Por uma mulher bonita.

Se não custa a conquistar,

Que valor tem, tem que dita?





Planos



Planos não tragas à vida,

Não vás estragar aí

Os planos que, de seguida,

A vida tem para ti.





Impotência



Entendo não poder nada?

Entrego-me então aí:

Sou a impotência abraçada,

Vislumbro o Infindo dali.





Tapar



Quanto mais escondo a dor

Mais potencial ela ganha

Para surpreender, se impor

Quando à frente nos apanha.





Passos



Nós somos sempre a criança:

Sempre a querer aprender

Os passos da nova dança

Para o tempo que vier.





Vive



Vive tanto para os mais

Que já não vive por si

Nem para si? Pois jamais

Mais que o vazio anda ali.





Escolta



Durante a guerra, a verdade

É tão preciosa que a mira

É escoltar-lhe a identidade

Duma escolta de mentira.





Pondera



Entre graúdo e miúdo

Pondera bem a parada:

É que quem defende tudo

Ao fim não defende nada.





Árvores



Ruge o vento em tempestade,

Batem árvores na casa:

Querem entrar de verdade,

Tal o frio que as arrasa.





Mentira



A mentira, se bem lida,

É uma verdade invertida.



Pomo-la à frente do espelho

E é da verdade o conselho.





Glória



Cortar a linha da meta

É uma alegria espontânea.

Glória que nos acometa,

Contudo, é só momentânea.





Sigo



Não posso voltar atrás,

Também não ficar parado.

Sigo em frente, pertinaz.

Será que estou preparado?





Demais



Tarde demais jamais é

Para o amor procurar,

Jamais demais cedo até

Amor demais encontrar.





Tudo



Nunca tudo o que queremos

Conseguimos algum dia

E tudo quanto sonhemos

Nunca alguém conseguiria.





Sonho



Sonhar sempre é sonho vão

Se os sonhos só o sonho almejam.

As coisas são o que são,

Não o que quero que sejam.





Difíceis



Trarão sempre à tona

As difíceis horas

O pior que se abona

E o melhor que adoras.





Receita



A receita é de teor

Que admiro os termos banais:

Se quiser viver melhor,

Terei de produzir mais.





Difícil



Quem no-lo dera, o mais grácil,

Dançar e cantarolar!

Reclamar é sempre fácil,

Difícil é realizar.





Ajudar



Se ajudar vou toda a gente,

Não ajudo então ninguém,

Perco-os a todos à frente,

E perco-me ao fim também.





Encontra



Um homem sonha ser Deus.

Ao cuidar sê-Lo no abrigo,

Encontra nos trapos seus

Que é só e sempre um mendigo.





Fome



No morto de fome o instinto

Costuma ditar sentença

Bem mais forte, quando o sinto,

Do que a duma qualquer crença.





Vidro



Se o sentimento é demais,

É de vidro uma redoma

Dentro da qual nunca mais

Ouvimos doutro o que assoma.





Oiça



Quando eu falar com alguém

Que inteiro me ouvir a esmo,

Vejo que permite, além,

Que me oiça enfim a mim mesmo.





Parecer



Pode sempre intransponível

Parecer o que enfrentamos,

Porém forte é o nosso nível

Sempre mais do que julgamos.





Descobri-me



Descobri-me apaixonado

Quando nos olhos me olhou

E a timidez me há tomado:

A vida então me parou.





Paixão



Foi só quando ela me disse

Não estar apaixonada

Que fez que em mim eu sentisse

Da paixão a trovoada.





Vazia



Quando a mente me ficou

Vazia de pensamentos,

Que deles não precisou,

De amor me enchi dos tormentos.





Sabor



Ajuda-me!” - tem

O sabor primário

Ao me sentir bem

De eu ser necessário.





Vitória



A vitória, quando advém,

É que aguentou-se-lhe o ferro:

Sempre a vitória é de quem

Comete o penúltimo erro.





Contrário



Contrário de trabalhar

Não é nunca divertir,

Contrário sempre, em lugar,

Afinal é deprimir.







Se o mundo fenece,

Vê o que se desmembra:

O machado esquece

Mas árvore lembra.





Persiste



Quando o sonho não se alcança,

Persiste, mantendo a calma.

Viva mantém a esperança,

Real âncora em ti de alma.





Melhor



Todos nós devemos ser

A nossa melhor versão,

Sempre a crescer, a crescer,

Até ter o Infindo à mão.





Manter-me



É preciso muita fé

Para amar isto que sou,

Em mim manter-me de pé

Sem nem saber onde vou.





Troca



Toda a bênção dá sinais

A que devo estar atento:

Troca os rumos materiais,

Joga à frente em meu intento.





Trepar



O Espírito, no meu imo,

Sabe bem do que preciso

Ao trepar até ao viso

Que diviso lá no cimo.





Importa



Aquilo em que me disseram

Que sou bom é só um miasma.

Importa é o que me esconderam:

Aquilo que me entusiasma.





Ideias



Quaisquer ideias brilhantes

Começam em devaneios

E, por fim, destes enleios

Novos mundos dão gigantes.





Águias



Águias não voam em bando,

Uma a uma de encontrar

As terei, ao precisar

De horizonte ir alargando.





Fresca



Embora fresca a memória,

As memórias pouco rendem:

A maior lição da história

É que os homens não aprendem.





Significado



A liberdade o que é que há-de

Por significado ter?

Só sabe o que é liberdade

Alguém depois de a perder.





Subirem



Todos buscam os sinais

De subir em sua cota:

A vitória tem mil pais,

Órfã, porém, é a derrota.





Engole



Uma grande multidão

Engole a grande mentira

Mui mais facilmente e em vão

Que a pequena tida em mira.





Inscrita



A História tem a mania

De inscrita ficar na pedra:

Uma vez corrido o dia,

Jamais muda, jamais medra.





Extremos



A vida é de extremos:

Ou nos agarramos

Ao que mais amamos

Ou ao que tememos.





Comida



Se for só de nutrientes,

Comida deixa de lado

O melhor de seus agentes:

O de amar e ser amado.





Redor



Quando a ti te fazes bem

E de ti tal irradia,

Tudo em teu redor também

Há-de pular de alegria.